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No Só Vale a Verdade, Renato Janine Ribeiro reflete sobre a desigualdade social e as cotas na educação brasileira. De acordo com o ex-ministro, entender as diferentes oportunidades podem moldar o futuro profissional.

Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/JqjmeK4PHyQ

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Transcrição
00:00Agora, para tudo isso, dessas necessidades, num país como o nosso, tão diverso, tão plural,
00:06nós temos um plano nacional de ciência e tecnologia, alguma coisa como outros países têm,
00:12claro que são regimes políticos diferentes, o exemplo da China é clássico,
00:16mas é um regime político muito diferente que o nosso.
00:19De a gente pensar daqui cinco anos o que queremos, daqui dez anos, daqui quinze anos e assim por diante?
00:24Pois é, nós temos vários planos nacionais.
00:27E eu, quando ministro da educação, fui o primeiro ministro a aplicar o plano nacional de educação,
00:32que ficou praticamente sem continuidade por causa da turbulência política e da falta de dinheiro.
00:38Mas pelo menos ali eu lancei a base nacional curricular comum, como é só ser discutido,
00:43acabou sendo adotada com suas qualidades, talvez alguns defeitos,
00:48mas foi talvez o único resultado mesmo do PNE de 2014 que expirou no ano passado.
00:54No caso da ciência, nós temos a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação,
00:59que foi decretada em 2016, começou a ser elaborada em Dilma II e terminou já no Temer,
01:05no final daquele ano de 2016.
01:07Agora acaba de ser criado o grupo de trabalho para elaborar uma nova estratégia nacional,
01:13porque essa teria vencido em 2022.
01:16E foi muito pouco aplicada.
01:18Então nós temos que discutir o que nós queremos.
01:20Tem algumas coisas óbvias, nós queremos, por exemplo, fazer render a nossa biodiversidade,
01:25que é um tesouro gigantesco, nós precisamos fazer a transição energética,
01:31nós precisamos ter ciência para saber qual é a melhor forma de promover a inclusão social.
01:37Inclusão social não é só para fazer o bem dos excluídos, é também para fazer o bem do país,
01:42porque nós temos talentos em uma quantidade enorme que são deixados de lado.
01:47Então nós temos que elaborar isso.
01:49Eu colocaria como prioridade a questão da transição energética,
01:54a questão da biodiversidade e a questão também de que um país do tamanho do Brasil,
01:59Vila, ele tem condições, ele pode e, portanto, deve, tem a obrigação de ter pesquisa em tudo.
02:06Quer dizer, nós não podemos...
02:07Se nós fôssemos Uruguai, que é um país belíssimo, encantador, culto, etc.
02:11Você teria que escolher alguns assuntos para estudar.
02:14No Brasil você pode dizer, vamos ter gente boa em tudo, até egiptologia e assiriologia.
02:20Eu gosto de falar isso para chocar os amigos cientistas de exatos e biológicas.
02:24Mas veja, nós precisamos ter alguns assiriólogos no Brasil, não é um grande grupo,
02:29mas alguns nós temos que ter e nós temos que ter em todas as áreas que acompanhar o que está sendo feito de top no mundo.
02:34E fora isso, acho que o Brasil tem condições e tem o dever de dizer onde nós queremos ser protagonistas,
02:42com vistas adentro de algumas décadas, sermos os melhores do mundo.
02:46Quem tem Amazônia tem uma obrigação.
02:48Você não pode ter Amazônia e dizer, vamos ficar sentados em cima ou vamos fazer como aquele ministro do Bolsonaro,
02:55que queria tirar madeira e exportar.
02:57Não, você tem produtos lá que são maravilhosos, que podem curar doenças, podem aumentar a expectativa de vida,
03:06melhorar a qualidade de vida.
03:07Tudo isso está hoje na nossa mesa, diante de nós.
03:12Eu acho que a gente precisa ter essa estratégia nacional.
03:15Foi criada a comissão, o grupo de trabalho, para elaborá-la.
03:19Eu fui convidado para ser membro.
03:21São dez pessoas, a gente deve começar, acho que no fim de junho,
03:24e tem três meses para entregar a proposta ao governo.
03:27Eu espero a gente articular isso com a proposta de um Brasil,
03:30como diz a Constituição, uma sociedade próspera, justa e solidária.
03:35Mas eu pergunto o seguinte, como associar o desenvolvimento da ciência e tecnologia com a educação, concretamente?
03:44Porque, por exemplo, uma vez eu estava participando, eu estava em outro local discutindo,
03:50e falei, poxa vida, a gente precisava fazer grandes olimpíadas de matemática, química, física, biologia,
03:55das diversas áreas do conhecimento.
03:58E aí, eu falei, olha, no caso, a importância aqui é para o desenvolvimento científico,
04:02o desenvolvimento da matemática.
04:04Aí eu falei, olha, não tem.
04:05Aí alguém lembrou que tem uma associação nacional de matemática, tal, que tem até um prêmio, tal.
04:10Mas é muito pouca coisa, pelo tamanho do Brasil, porque eu gosto sempre de comparar nós,
04:14por exemplo, sempre, por exemplo, a China, mas o que a China faz pelas dimensões territoriais,
04:20claro que a população é muito superior à brasileira, mas mostrando como é que...
04:24Será que nós não temos um grande gênio da matemática, para quem nos acompanha aqui,
04:28pegar um bairro periférico aqui de São Paulo, no Capão Redondo?
04:31Podemos ter, sim.
04:32Podemos ter.
04:32Podemos ter, só que ele está perdido ali, ele precisa ter um pequeno incentivo,
04:36alguém na área de química, um poeta ali que também não saiu e por aí vai.
04:41Eu penso, como fazer essa conexão entre a necessidade e a imperiosa para o desenvolvimento
04:47da ciência e tecnologia com a necessidade da educação?
04:50Pois é, você já colocou um ponto importante que é da matemática.
04:53Quando a gente faz uma avaliação da qualidade da educação básica,
04:57a gente pega dois grandes termômetros, matemática e português.
05:01Porque quem vai bem nos dois, provavelmente vai bem todo o resto.
05:04Quem vai bem, quem vai mal, provavelmente vai mal em outras coisas.
05:08Se você for bem em português, sua chance de bem em história, geografia nas humanas
05:12é grande, matemática nas exatas e biológicas.
05:16Nós temos no Brasil a Olimpíada de Matemática, acho que você aludiu,
05:20e premia todo ano uma multidão de jovens e prepara para muitos deles um futuro voltado a isso.
05:26Porque muitos recebem bolsas ou incentivos.
05:29Mas nós temos esse problema gravíssimo que você levantou,
05:32que é dos favelados que não têm outra perspectiva de vida.
05:36Inclusive, você veja, uma pessoa que mora numa favela,
05:40quais as chances dela se projetar?
05:42Basicamente, futebol, funk e pouca coisa a mais.
05:45Agora, ser médico, ser empresário, ser dentista, ser engenheiro,
05:50medicina, isso tudo está muito barrado, está difícil.
05:53Nesse ponto, a política de cotas é muito positiva,
05:57mas tem que ser expandida, tem que ser uma coisa que valorize muito.
06:01Aliás, há um dado interessante na avaliação do Enem.
06:04O Chico Soares, que era presidente do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos,
06:09quando eu fui ministro, me passou.
06:11Dados de 10 anos atrás, mas eu creio que deve estar meio parecido.
06:15O Enep divide em sete níveis socioeconômicos as pessoas dessa idade,
06:21dessa faixa etária, 15, 18 anos.
06:23Sete níveis.
06:24No nível mais alto, mais rico, a média na nota do Enem é 610.
06:29No nível mais baixo, 420.
06:31Moral da história, não tem nada a ver com a inteligência da pessoa.
06:35É proveniência social.
06:37Então, se você é pobre e tem 500 pontos no Enem, você está acima da sua média.
06:42Parabéns.
06:43Se você é rico e tem os mesmos 500 pontos, você é meio vadio, né?
06:48Não é um bom estudante.
06:49Então, a gente tem que neutralizar esses fatores que deformam as pessoas,
06:55mas você não vai neutralizar, por exemplo, mudando a nota, dizendo,
06:59não, vou dar 100 pontos a mais.
07:01Você neutraliza na fase seguinte, na hora de entrar na universidade, na hora de calcular a nota.
07:05Por isso que é bom o pessoal que vai prestar a universidade entender.
07:09O Enem é uma coisa importante, é um termômetro.
07:11Mas o direito de entrar na universidade é o SISU, Sistema de Seleção Universitária,
07:17pelo qual você pode, então, dizer, metade das vagas das universidades federais
07:21vão para pessoas que fizeram escola pública, no ensino médio inteiro.
07:26A pessoa pode ser negra ou branca, tem essa metade.
07:28Os negros, indígenas, têm um porcentual sobre essa metade.
07:32Então, um negro, por exemplo, que fez, digamos, uma escola particular,
07:38mesmo que tenha sido como bolsa, não tem direito a cotas.
07:41Porque ele não teve as mesmas oportunidades, ele teve mais oportunidades, aliás,
07:47do que a pessoa que fez escola pública.
07:49Então, essa política é boa, mas tem que ser expandida.
07:52Isso, obviamente, custa dinheiro.
07:54Exige políticas públicas, que é uma coisa crucial, né?
07:58Então, acho que a gente está nessa fase, e uma fase de muita dificuldade para isso,
08:03mas para chegar à tua pergunta.
08:04Como que a educação se articula com a ciência?
08:06Primeiro, quase toda pesquisa científica no Brasil, isso inclui patentes,
08:11inclui, portanto, a área de tecnologia, vem das universidades, vem da pós-graduação.
08:16E na pós-graduação, sobretudo, as universidades públicas.
08:19Então, você tem uma geração de conhecimento aplicado que não vem das empresas.
08:25Empresas nos Estados Unidos fazem a maior parte das patentes.
08:28No Brasil, fazem poucas, muito poucas.
08:31Então, a gente tem que entender que onde se faz a pesquisa é onde você tem que priorizar isso.
08:36E é bom também desfazer, talvez, uma ilusão que muita gente tem.
08:41Muita gente diz que os professores têm repulsa a trabalhar com empresas.
08:46Olha, eu estava no conselho do CNPq 30 anos atrás, como disseram no começo,
08:50e já tinha uma bolsa chamada RAI, Recursos Humanos Aplicados às Empresas.
08:54É uma bolsa que o governo dá para a empresa contratar mestre, doutor, doutorando.
09:01Depois teve as leis do bem.
09:02A lei do bem, acho que de 2005, que permite ao professor universitário trabalhar junto com a empresa
09:08e ter certas vantagens, certa remuneração por isso.
09:13Então, muita coisa foi feita.
09:14Eu, sim, do lado da universidade, na direção da empresa.
09:18Eu sinto que falta um pouco a recíproca, viu?
09:19A minha impressão é que falta um pouco a recíproca.
09:25Não sei se você lembra de um empresário, o Neide Araújo Bitancur.
09:29Ele foi meu amigo, era meu amigo, e ele foi meu colega no CD do CNPq.
09:34E o Neide dizia uma coisa interessante.
09:37Dizia que a cola usada do couro no Brasil
09:40é uma cola importada que não é adequada ao couro do gado brasileiro.
09:45Em função de solo, luz, calor, etc.
09:50O gado originário da Índia ou do Reino Unido se adaptou ao Brasil.
09:54Ele falava que tem que fazer uma pesquisa e gerar uma qualidade total nisso daí.
09:58Não pode ser uma cola que eventualmente desgruda.
10:02E você veja.
10:02Então, para um empresário, soa mais fácil você comprar a cola pronta,
10:08mesmo que não seja perfeita, do que você investir em pesquisa, que sempre é risco.
10:13Esse é um ponto também que quem não é da área, às vezes, não sabe.
10:16Tem gente que pensa, você pode dizer, eu vou fazer uma pesquisa para chegar a tal resultado.
10:20Ele não sabe se vai chegar a tal resultado.
10:22Pode dar tudo errado.
10:23E pode resultar em uma coisa diferente.
10:26Eu gosto da história do Aspartame.
10:28Dizem que o Aspartame foi descoberto porque um cientista colocou o dedo na substância
10:32e no outro em seguida levou a boca.
10:34Uma estupidez total.
10:35E aí achou que veio um gosto muito bom.
10:38O açúcar sem aquele negócio da sacarina, que é meio ruim, né?
10:43Então, às vezes, você não encontra o que estava procurando, encontra outra coisa.
10:47Tem duas questões.
10:48Mas antes, eu queria colocar uma questão.
10:50E essa...
10:51Não incomoda muito, quando nós estamos falando de educação, ciência e tecnologia,
10:57os números que variam, mas são em milhões, dessa geração nem trabalha e nem estuda,
11:04que é chamada geração nem-nem, se nós pensarmos em duas coisas.
11:08Primeiro, na formação da cidadania.
11:10E segundo, a questão econômica.
11:13Não é uma coisa que a gente fica angustiado quando vê esses números?
11:17Com certeza.
11:18Com certeza.
11:19Porque são talentos que estão sendo desperdiçados.
11:22O que é assustador é isso.
11:24Porque é muito difícil uma pessoa não ter algum talento.
11:26Muito difícil.
11:28As pessoas podem não ter o talento que o pai gostaria, o talento que eu ou você gostaríamos.
11:32Mas algum talento, quase todo mundo tem alguma vocação.
11:36Então, você ter gente que está absolutamente parada, sem se dedicar nada, por falta de perspectiva,
11:43o pior é isso, a pessoa não ter futuro, sabe?
11:45Eu acho que isso é uma obrigação da sociedade, fazer que os jovens e que as pessoas em geral sintam que tem um espaço que elas podem florescer.
11:54Eu gosto dessa ideia de que todo mundo tem uma qualidade diferente um do outro que pode florescer.
12:01A gente tem que fazer que a educação dê esse espaço.
12:04É...
12:05É...
12:05É...
12:06É...
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