O presidente da Câmara, Hugo Motta, surpreendeu o Planalto ao pautar a votação para derrubar o aumento do IOF. O movimento, sem aviso prévio e com apoio de partidos da base, escancara o enfraquecimento da articulação política do governo e pode comprometer R$ 8 bilhões em arrecadação. Em meio a um recesso informal, a ação expõe um novo racha institucional e acende o alerta para o cenário fiscal. Julia Lindner analisa os bastidores e os riscos desse embate entre Congresso e Executivo.
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00:00E o que está por trás dessa decisão? Quem ganha e quem perde com isso?
00:04Então a gente vai conversar agora com a nossa analista de política, a Júlia Lindner, que também já está conosco aqui, chegando no radar.
00:11Oi Júlia, muito boa tarde pra você. O governo tomou um susto, né, porque mais uma vez o Gumota quebrou o acordo,
00:18era pra esperar aí o início de julho, a volta desse chamado recesso branco, e aí o núcleo duro do Planalto saiu contabilizando o prejuízo
00:26e tentando aí já pensar numa alternativa, porque é praticamente favas contadas que a Câmara deve derrubar o aumento do imposto sobre operações financeiras, não é mesmo?
00:36Seja bem-vindo ao radar.
00:40É impressionante, Eric. Boa tarde pra você, boa tarde pra todos que acompanham.
00:45O clima realmente é de muita instabilidade e fazia tempo que a gente não via uma reação tão forte do presidente da Câmara
00:53e que pegasse o governo de surpresa, como aconteceu nesse caso.
00:57De manhã, ninguém entendia o que estava acontecendo, e eu não estou falando nem só do governo.
01:01Vários líderes partidários não sabiam o que estava por trás dessa movimentação de Mota.
01:07Inclusive, ele agiu dessa forma, né, sem consultar os líderes, justamente pra pegar o governo desprevenido completamente,
01:14pra que a informação não vazasse.
01:16Ele mesmo acabou sendo o porta-voz dessa notícia, né, através de uma rede social,
01:20e o governo ficou completamente desorganizado.
01:23De manhã, inclusive, eu ouvi isso de governistas, que o governo não tinha nem mesmo uma forma de reagir pra essa iniciativa.
01:31E aí tem vários motivos por trás disso, pelo menos na leitura de parlamentares.
01:35Um deles, claro, é 2026.
01:37Tem muita gente que acha que os movimentos de agora, inclusive não só de Hugo Mota,
01:41mas de outros partidos, como União Brasil e PP, por exemplo, né,
01:45que, apesar de não serem o partido de Mota, são muito próximos a ele,
01:49já seria uma antecipação do que nós veremos na disputa pro ano que vem,
01:53e também uma forma, justamente, de desestabilizar o governo,
01:57e já começar a preparar terreno pra que esse grupo político acabe apoiando alguém da oposição.
02:03Vale lembrar que, quando a urgência foi pautada, já foi por iniciativa desse grupo, do Centrão,
02:09e já contava com a simpatia de partidos que são da base do governo,
02:13como o PSD, por exemplo, né, que, apesar de ter ficado um pouco em cima do muro,
02:17nos bastidores, também está insatisfeito com o governo,
02:21e vai mostrando essa falta de uma base de sustentação do governo federal.
02:25Além disso, Hugo Mota é aliado, de primeira hora, do presidente do PP, Ciro Nogueira.
02:30Ele também tem como um dos padrinhos políticos o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
02:34que, é claro, é conhecido como o grande algoz de Dilma Rousseff na época do impeachment,
02:39então ele tem essa proximidade com a oposição, mas ninguém sabia ainda exatamente como ele ia agir.
02:44E vale lembrar também, em várias ocasiões, a ministra de Relações Institucionais,
02:49Gleisi Hoffmann, vinha defendendo o Mota, o governo apoiou a eleição dele,
02:53mas sempre com aquele pé atrás, pra ver de que forma ele agiria de fato.
02:57Agora, realmente, ele mostrou a que veio, tomou uma atitude muito firme essa semana.
03:01Como você disse, tem muita gente que vê um descumprimento de acordo,
03:05porque, em tese, o governo ainda teria o prazo até sexta-feira
03:08pra apresentar alguma alternativa que fosse, né, de corte fiscal,
03:12que era a exigência de Mota.
03:14Mas também vale lembrar que, da parte da cúpula da Câmara,
03:17não se viu nenhuma movimentação do governo nesse sentido.
03:20E aí tem outro pano de fundo também pra essa insatisfação generalizada,
03:24porque, como eu falei, Mota não agiria sozinho.
03:26Ele tem que ter ali um respaldo da Casa pra poder atuar.
03:29E é o caso das emendas parlamentares.
03:31O governo teve, nos últimos dias, pra começar a liberar emendas,
03:34mas foi visto como um saldo insuficiente.
03:37Lembrando que o governo não liberou ainda nem mesmo um milhão de reais.
03:41E a gente tem ali, né, um montante de 50 bilhões,
03:45nem um bilhão, na verdade, né,
03:48e tem um montante de 50 bilhões pra esse ano inteiro.
03:51A gente tá chegando na metade do ano e esse percentual de liberação está muito baixo.
03:56E isso é uma reclamação constante dos parlamentares.
03:59O governo não conseguiu reagir.
04:00E aí, uma terceira lembrança interessante pra essa semana é que, na sexta-feira,
04:05vai ter uma reunião com Flávio Dino sobre emendas parlamentares no Supremo Tribunal Federal,
04:10na qual Hugo Mota e Davi Alcolumbre do Senado devem participar,
04:14justamente pra levar esse recado muito firme de que não querem, né,
04:17não estão dispostos a aceitar nenhum tipo de suspensão das emendas
04:21ou mudança nas regras, ou até algum tipo de dificuldade pra essa liberação acontecer.
04:26Então, vira ali um estica e puxa.
04:29E também dá pra ver que Hugo Mota também não está sozinho em termos de casa legislativa,
04:34porque do Senado ele já recebeu sinalizações de que tudo que ele fizer tem o aval de Davi Alcolumbre,
04:40que também o governo fez vários acenos.
04:42Ele tem participação no governo ativa, inclusive com indicações no primeiro escalão,
04:47mas mesmo assim ele está disposto a votar esse decreto num sinal ao governo.
04:52Então, é uma situação muito desfavorável pra gestão Lula,
04:56mostra esse despreparo também da articulação política, né,
04:58porque de certa forma o fato de ter sido pego desprevenido já demonstra essa fraqueza do governo,
05:04a base também, né, que não tem ali uma sustentabilidade,
05:08até porque a gente vê que independente de quando esse texto fosse pautado,
05:11o governo seria derrotado, e esse clima de instabilidade institucional,
05:16porque a ministra Glaise Hoffman, por exemplo, ameaça o Congresso
05:19de que se o decreto cair, vai ter mais ainda conscienciamento de emendas.
05:24Mas na avaliação do Centrão, isso só vai contribuir pra um cenário muito pior no Congresso,
05:29vai dificultar o clima pra outras aprovações do Executivo daqui pra frente,
05:33então a expectativa é de um último ano, praticamente, do governo Lula,
05:37muito difícil até a eleição do ano que vem, Eric.
05:39Julia, eu conversei com alguns auxiliares ali do Núcleo Duro do Planalto,
05:44e a percepção lá dentro é que já existe aí um descontentamento e até um arrependimento
05:50da presidência da República, do governo, por ter apoiado aí a eleição, né, de Hugo Mota.
05:57E fica aquela coisa, aquela dúvida sempre agora, a desconfiança em discutir, em debater com o Hugo Mota,
06:03porque a Câmara dos Deputados sempre cobrou o governo de conversar, né,
06:08de ter diálogo antes de aprovar, antes de colocar um projeto,
06:13ou antes do governo mandar um projeto pra Casa Legislativa.
06:16Foi feito isso, apresentou o projeto do IOF, a Câmara não gostou,
06:20o ministro Haddad aí acabou alinhando, né, reuniões aí com as lideranças do Congresso,
06:26também com líderes partidários, estava tudo certo, né,
06:29deram um tempo, uma alternativa pro governo pensar em relação ao aumento do IOF.
06:34Estava praticamente tudo certo, houve aquele encontro no domingo,
06:38aí no fim do domingo uma entrevista coletiva com todos, afagos de ambos os lados.
06:44Quando parecia tudo certo, no dia seguinte o Hugo Mota veio e falou,
06:46ó, mas não é certeza que nós vamos aprovar não, né.
06:50Então agora criou essa desconfiança em relação ao diálogo,
06:53essa percepção por aí também, Júlia?
06:56Então, Eric, eu acho esse ponto muito interessante,
07:01eu acho que ele é fundamental pra gente entender esse contexto que o governo se encontra no momento,
07:05porque o governo sempre quis reforçar que apoiou o Hugo Mota,
07:08mas a verdade é que se a gente for olhar já desde esse cenário político,
07:12o governo não tinha condições de ter um candidato próprio,
07:15então não teve outra alternativa que não fosse apoiar a Mota,
07:18que era o nome favorito e era o nome indicado, escolhido e apadrinhado por Arthur Lira,
07:23o seu antecessor. Então, desde o início da gestão Lula,
07:27o governo apoiou candidatos do Centrão que tinham chance de vencer,
07:31justamente pra não repetir exatamente o que aconteceu, por exemplo, com o Eduardo Cunha,
07:35no caso de Dilma Rousseff, que o governo tentou enfrentá-lo,
07:38tentou ter um candidato próprio e o resultado a gente sabe que aconteceu, né,
07:42com a saída forçada de Dilma Rousseff.
07:44Então, o governo, desde o início, teve que apoiar Arthur Lira já em duas ocasiões
07:49e agora o Hugo Mota também, né, nessa situação acaba sendo uma dobradinha também com o Lira.
07:54Então, eu vejo, na verdade, que o governo tenta ter ali, né,
07:57uns gestos de proximidade com o Mota, mas, na verdade, ele nunca foi, né,
08:01esse fiel escudeiro, os aliados dele, inclusive, como eu falei, são da oposição,
08:06mas ele tem tentado se equilibrar e a aposta do governo é que ele tentaria ficar mais alinhado,
08:11justamente por causa do cenário dele local na Paraíba,
08:14que é um estado que tem mais apoio ao presidente Lula,
08:17ele vai tentar, né, se candidatar em 2026 também,
08:20então, para ele poderia ser estratégico, ficar muito próximo ao governo,
08:25mas a verdade é que a gente vê que os partidos e os comandos das casas
08:28acabam tendo muita força, o governo faz vários gestos,
08:31tenta ali, né, trazê-los para perto, mas, no final das contas,
08:35como eles já têm uma sustentação por si só nas duas casas,
08:38já têm ali uma base deles própria,
08:40aí eles conseguem, nessas horas, impor as votações e é isso,
08:44não tem muita escapatória, então, para o governo acaba ficando refém também
08:47desse modelo agora, esse modus operandi do Congresso.
08:51Tá certo, Júlio, enquanto você falava, a gente está vendo também
08:54a imagem já ao vivo do plenário da Câmara,
08:57a sessão aberta, devem começar aí os discursos, né,
09:01e depois orientações de bancada, enfim, todo aquele trâmite
09:04para a votação do projeto que pode derrubar, então,
09:08o aumento do IOF, o decreto que aumenta o IOF.
09:12Júlia, qualquer novidade, você volta a chamar a gente, tá bom?
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