Presidente da SPTuris em 2005, o diretor executivo do Arte1 Caio Luiz de Carvalho, e o idealizador da Virada Cultural José Mauro Gnaspini relembram momentos históricos do evento paulistano que, todo ano, promove 24 horas de atrações culturais ininterruptas pela cidade.
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CriatividadeTranscrição
00:00Legendas por TIAGO ANDERSON
00:30A Virada Cultural, ela começa em 2005, eu tive orgulho de estar presente, na época eu era presidente da SP Tours, né?
00:39E era um desejo do então prefeito José Serra de trazer para São Paulo um evento que era um sucesso já em Paris, em Roma,
00:46que eram as chamadas Noites Brancas, onde durante 24 horas a cultura e seus artistas se faziam presente nas ruas dessas grandes cidades.
00:56São Paulo é uma cidade muito multifacetada, então valeria a pena a gente juntar um milhão de pessoas de mil em mil.
01:07A gente não precisava querer juntar um milhão de pessoas todas olhando para a mesma coisa,
01:10porque a gente em São Paulo tem mil tribos diferentes, mil interesses, né?
01:15Então a gente poderia fazer com as diferentes linguagens, com os diferentes estilos musicais, né?
01:21Um evento múltiplo, né? Um festival de artes, assim, bastante amplo.
01:27O nosso grande headliner naquele ano era a Elza Soares.
01:30Choveu, né? A primeira virada em 2005, no meio da madrugada, deu uma chuva torrencial,
01:44porque foi em novembro e aí depois disso a gente acabou fixando a data da virada ali, final de abril, começo de maio.
01:53Que agora completa 20 anos e nós só tivemos apenas uma única que aconteceu de forma virtual por conta da pandemia.
02:10Tivemos histórias incríveis, porque a primeira virada aconteceu depois que o prefeito assumiu, em questão de oito meses, né?
02:19E foi uma conquista ela ter acontecido.
02:24E algumas coisas curiosas.
02:26Ele tinha um sonho, por exemplo, de colocar o João Nasher, na época, o regente da orquestra, da OSESP,
02:33abrindo a virada cultural no Museu do Ipiranga, né?
02:35Depois de marchas e contramarchas, o maestro acabou tendo que fazer um evento, embora confirmado, no exterior
02:44e acabou cancelando a sua presença.
02:45Você sugerou aí um mal-estar muito grande, que foi notícia de jornal por muito tempo aí.
02:50E no final, o regente da orquestra municipal, Jamil Malufia, que fez a apresentação lá no Museu do Ipiranga.
02:58No ano de 2007, a gente começou a fazer um programa especial dentro do teatro municipal,
03:14voltado para discos clássicos, discos históricos, né?
03:18Então os artistas eram convidados para apresentar o repertório de um determinado momento da carreira,
03:24de um determinado disco, e que normalmente eles apresentavam ali, na ordem do disco, da primeira faixa até a última.
03:30Uma história interessante foi que o primeiro show desses foi do Luiz Melodia, tocando Pérola Negra.
03:38E ele estava descendo para o teatro municipal ali, descendo a consolação, e parou a avenida,
03:44porque, lógico, o centro já estava cheio de gente, já estava lotado, então já não passava carro ali,
03:52e ele não conseguia chegar no teatro, lá do meio da consolação, mais ou menos.
03:58E aí o Melodia, o que consta, ele desceu do carro e foi descendo a consolação a pé,
04:05até a porta do teatro municipal, que já estava fechada com o público para dentro,
04:10faltava ele, e ele bateu na porta, assim, e alguém disse, pois não?
04:15Ele falou, então, eu vou cantar.
04:17Aí deram a volta com ele, e ele entrou direto para o palco e fez, fez o Pérola Negra na íntegra.
04:25Vamos circular a praça, prenda-me este cansaço, não vou passar o espaço, o estágio pode lhe querer.
04:36Durante a virada, nós tivemos coisas fantásticas, como o João Donato no Teatro Municipal,
04:45que foi um momento muito especial.
04:47Tivemos a Maria Rita praticamente voltando a atuar para grandes plateias na Avenida São João,
04:53com um público gigante, com todo o charme e o talento da Maria Rita.
04:59Tivemos a Elza Soares, saudosa Elza Soares, tivemos cantores esquecidos, tivemos a presença de Calbi Peixoto,
05:07que hoje já nos deixou, e, obviamente, Zé Amálio, que veio lá do Nordeste para se apresentar aqui também,
05:15Tom Zé, que se apresentou justamente na Avenida São João.
05:20E mais, não eram só atrações musicais, nós tínhamos as bibliotecas do Centro da Cidade abertos,
05:26nós tínhamos as unidades do Sesc abertas, os teatros funcionando 24 horas, né?
05:32Foi um abraço à questão da cultura que aconteceu na cidade de São Paulo, né?
05:38O Zé do Cachão, o cineasta, ele era, assim, um freguês da virada cultural, né?
05:54Ele já tinha feito mostras, né?
05:57Assim, 24 horas de filmes de Zé do Cachão,
06:00ele já tinha feito uma performance dentro do cemitério da Consolação, né?
06:06E isso já vinha vindo todos os anos, né?
06:08O ápice disso foi muito interessante.
06:11Foi em 2010, a gente construiu um caixão voador para o Zé do Cachão.
06:17E aí a gente fez uma adaptação que esse caixão, o guindaste,
06:20conseguia passear com o Zé do Cachão por cima da cabeça das pessoas.
06:25O caixão, ele tinha umas asas de morcego, assim, soltava uma fumaça atrás,
06:29e o Zé, com o microfone, nos intervalos dos shows,
06:34voava por cima da cabeça das pessoas, assim, fazendo lá de novo as suas maldições.
06:40Quase chegaram os olhos!
06:44Segura as pessoas!
06:49São Vândalo!
06:52Malfado!
06:53Posso dizer que São Paulo é, sim, uma cidade criativa
06:57por conta dos talentos criativos que ela abriga.
07:00E, de certa forma, a virada cultural,
07:03ela faz com que a gente se lembre um pouco
07:07de todas as grandes histórias aí da música brasileira
07:11e grandes artistas, Semana de 22, Mário de Andrade e tudo mais,
07:16que, de certa forma, tiveram em São Paulo o seu berço.
07:19Música