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  • há 22 horas
O artista visual espanhol José Manuel Ballester provoca o olhar do espectador ao retirar digitalmente as figuras humanas de pinturas famosas.
Transcrição
00:00Música
00:00Esta obra do Zabanoa Ballester é inspirada na obra icônica de Botticelli, A Primavera,
00:26em que Botticelli compõe a cena com as três graças e as outras figuras que fazem parte da composição,
00:34e nessa obra ele apaga os figuras e a partir do vazio que elas deixam, ele recompõe a obra de uma nova imagem.
00:43Música
00:43O artista José Manuel Ballester é um artista visual.
00:48O início da sua carreira foi baseado no estudo clássico da pintura espanhola e italiana do século XV e XVI,
00:59e ele teve uma formação muito sólida como artista plástico, estudando profundamente o desenho, a pintura,
01:08todas as técnicas, inclusive de restauro.
01:10Ou seja, ele conseguiu construir um repertório técnico que deu suporte ao desenvolvimento da sua linguagem estética
01:19como artista contemporâneo, criando uma linguagem própria.
01:23Música
01:24A exposição que ele traz aqui em São Paulo,
01:33é um conjunto de obras em que ele refotografa obras clássicas da história da arte,
01:43Michelangelo, Botticelli, Leonardo da Vinci,
01:46e ele retira as figuras humanas dessas imagens digitalmente,
01:55deixando apenas o fundo, ou seja, o cenário dessas pinturas.
01:59A primeira questão que mais lhe interessa é a questão da solidão,
02:05ou seja, a solidão é um fato incontornável para todo ser humano.
02:11Tem outras questões também.
02:13A gente começa a observar melhor determinados elementos, detalhes,
02:20que com as figuras costumeiras a gente deixa passar em branco.
02:25Aqui, no fundo, você tem a famosa pintura Última Ceia, do Leonardo da Vinci,
02:31em escala real.
02:33Essa é uma exigência da estratégia do Balestère,
02:38só que sem a figura de Jesus e dos apóstolos.
02:42Aí nós começamos a perceber os detalhes dos utensílios,
02:46a toalha dobrada, enfim, os pães,
02:50coisas que não nos chamam a atenção quando a gente vê a pintura original com as figuras em cena.
03:02Nessa composição também de Botticelli,
03:06O Nascimento de Vênus,
03:07José Manuel Balestère retira a figura principal,
03:11que é a Vênus que fica pousada sobre essa concha,
03:14e ele recompõe a obra com uma técnica que remete à técnica original
03:20e a uma fotografia impressa em tela com o resgate dessa obra,
03:27como se fosse uma obra atual.
03:33O Balestère fez uma homenagem ao Brasil,
03:36pegando uma pintura icônica também do Vitor Meirelles,
03:40a Moema, só que ele retirou o corpo nu deitado na praia de Moema,
03:46e a gente vê, então, apenas os elementos deixados,
03:51o rastro, por assim dizer, da figura na paisagem.
03:55Então, é uma exposição muito instigante,
03:58é uma exposição que provoca o olhar do espectador,
04:02e as cores das obras originais,
04:05a textura das obras originais,
04:07elas estão presentes.
04:08É como se você estivesse diante da pintura real.
04:19Aqui atrás, a gente está diante de uma das principais obras
04:23presentes na exposição,
04:25que é uma releitura do Jardim das Delícias,
04:28de Hieronymus Bosch.
04:31O Jardim das Delícias é dividido em três painéis,
04:34o retábulo original.
04:36Você tem o paraíso, depois você tem o purgatório,
04:39e na outra extremidade, o inferno.
04:42Então, ele escolhe figuras, né,
04:46ao longo da história da arte,
04:47que são adequadas, de acordo com a visão dele,
04:51para habitar o paraíso, o purgatório e o inferno.
04:54Por exemplo, figuras do Guernica, de Picasso, né,
04:59que o público conhece mais, talvez seja um bom exemplo,
05:03ele recoloca essas figuras na parte do inferno.
05:06Por quê?
05:07Porque Guernica trata da guerra, né,
05:10das mazelas humanas, né, da miséria, né,
05:14que toda guerra traz.
05:16Então, ao fazer isso, né,
05:18ele também nos provoca a pensar
05:20nas questões contemporâneas, atuais, né,
05:24no que mais nos aflige, né,
05:27no que nós deixaríamos, né,
05:31se fosse eu, se fosse vocês, né,
05:34em cada um desses cantos.
05:36Faz parte também da exposição
05:43um conjunto de obras
05:44que o Balester denomina
05:46Variações sobre Maievich.
05:49O que o Balester faz
05:52é uma espécie de jogo
05:55com a trajetória do Malevich,
05:58porque o Malevich não começa suprematista,
06:00ele começa como um pintor cubista, né,
06:03e depois do cubismo,
06:06ele assimila formas do futurismo italiano,
06:10que registra, né,
06:12a velocidade das coisas,
06:14o mundo em movimento, né.
06:17Então, esse movimento, né,
06:21essa instabilidade,
06:23ela desaparece dos quadros,
06:26das pinturas do Malevich
06:28na sua fase suprematista.
06:31Então, o que o Balester faz
06:32é pegar os elementos
06:33da fase suprematista
06:36e trabalhá-los, né,
06:38com ritmo e com movimento,
06:41como se esses elementos
06:43estivessem dançando.
06:45É uma espécie de brincadeira,
06:46de jogo,
06:47que é possível
06:48graças à tecnologia,
06:52enfim,
06:52graças a essa manipulação digital.
06:55Essa provocação,
06:56essa reflexão
06:57com o tempo,
06:59com a passagem do tempo,
07:01com a presença,
07:02com a ausência,
07:03com a técnica
07:03e também a possibilidade
07:06de usar uma nova tecnologia,
07:07que é a fotografia digital
07:09e a impressão digital
07:10numa dimensão
07:11que, historicamente,
07:12isso nunca foi possível,
07:14permitiu ao Balester
07:15criar essa nova série
07:16que é inovadora
07:18no sentido de que
07:19ele faz esse diálogo
07:21entre passado e o presente
07:23e aponta para o futuro
07:24uma reflexão
07:25sobre a história da arte
07:26e sobre o tempo que vivemos,
07:28que é a função
07:28onde eu acho que só contei por aí.
07:29Legenda Adriana Zanotto

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