A cineasta e roteirista Sabrina Fidalgo elogia a forma como o diretor norte-americano Ryan Coogler fala de desigualdade racial no filme “Pecadores” sem reproduzir imagens realistas já tão saturadas.
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CriatividadeTranscrição
00:00Eu acho que usar outras linhas narrativas para contar uma história que trate de conflitos
00:28raciais, principalmente nos Estados Unidos, a meu ver é muito interessante, porque eu
00:35acho que existe uma saturação do realismo e do hiperrealismo no cinema, se tratando desses
00:43temas, a gente pode pensar que, sei lá, Doze Anos de Escravidão, Mississipo em Chamas,
00:47vários filmes ao longo da história do cinema, que trataram dessas questões de forma muito
00:55gráfica até, explícita, mas que eu acho que hoje em dia não cabe mais, porque eu acho
01:02que quando a gente reproduz imagens de violência, a gente está potencializando e eternizando
01:09essas imagens, a gente não está dando espaço para a fabulação, para o lúdico.
01:15Então eu acho que o Ryan Coogler, ele realmente, ele se coloca nesse filme, a meu ver, assim,
01:22como um dos grandes mestres do cinema contemporâneo, justamente pelo fato dele ter conseguido essa
01:30essa façanha, né, de contar um drama tão potente através de gêneros como terror, né, como realismo
01:42mágico, né, usando elementos de filmes de vampiro, né, para tratar dessa parte da história americana.
01:51Você continua dançando com o doido, um dia ele vai te levar embora.
01:58Porque o problema é, o que é?
02:00O que é o que está acontecendo?
02:01Ah, nós tínhamos uma história do que a festa.
02:03Legendas de pessoas, com o que é que a música é tão verdadeira,
02:09eles podem conjuntos espíritos de o passado.
02:12O blues é o grande pai da música negra contemporânea.
02:29Através do blues é que nasce tudo, né, nasce o jazz, nasce o bebop, nasce fusion, nasce o soul, enfim.
02:39Essa música que vem, né, do âmago ali, né, de um passado de escravidão, de um passado de sofrimento,
02:46de apagamento, de crueldade, e essa música que reverbera, né, ali é uma música de catarse, né.
02:52Muito interessante como o Ryan Coogler, muito inteligentemente, cria essa metáfora, né, do vampiro, né,
03:01do homem branco ou da branquitude como sendo esses vampiros que sugam, né,
03:08a cultura negra pra degluti-la de uma outra forma.
03:12Mas, ao mesmo tempo, ali nesse filme, eu percebi também que, para além da crítica em si,
03:19eu acho que tinha também um olhar, assim, empático em relação a esses personagens brancos, sabe.
03:24Eu não achei que era todo o tempo ali ele apontando um dedo pra essas pessoas.
03:29Eu consegui ver ali um olhar, assim, no sentido de entender que essas pessoas também fazem parte dessa cultura,
03:40mesmo que elas mesmas não admitam, ou mesmo que elas não saibam disso.
03:43Mas elas são fruto dessa cultura negra também.
03:46Eu acho que o filme, ele é grandioso justamente por ele conseguir essa façanha.
03:53E aí, eu não quero te preocupar.
03:58Eu pensei que você esqueceu de mim aqui.
04:00Vamos abrir a porta, deixa eu sair daqui.
04:03Stay.
04:04Isso é você?
04:06Claro, isso é eu, abrir a porta.
04:07Isso não é seu irmão.
04:10Beijo, deixa eu sair daqui.
04:24Excited.
04:26Tchau, tchau.