Acervo da Biblioteca Pública Arthur Vianna, em Belém, guarda edições desde a fundação, em 1946, servindo de fonte primária para pesquisadores que reconstroem o passado político e social do estado.
REPORTAGEM: Gabriel da Mota IMAGENS: Wagner Santana EDIÇÃO: Karla Pinheiro (Supervisão Tarso Sarraf)
00:00A realidade é o seguinte, ele começa em 15 de novembro de 46, então nós temos desde o primeiro número até atualmente,
00:06mas ele foi microfilmado de 46 a 89, então esse período microfilmado não é que nós não tenhamos o físico, nós temos,
00:15mas a pesquisa é feita no microfilm, nesse período de 46 a 89.
00:21De 90 para cá, nós temos em duas situações, o físico, o papel e no terminal, o jornal digital.
00:30Nós já tivemos no passado o leitor diário, digamos assim, vinha por vários motivos pesquisar o jornal, notícia diária e tal.
00:37Hoje o nosso público é composto, uma grande maioria, por pesquisadores, para TCC, para doutorado, mestrado,
00:45esse é o pessoal, é o nosso público, o público que procura o acervo, são mais esses aí, acessa gratuitamente no horário normal de funcionamento da biblioteca.
00:59De nove às dezoito, com entrada até às dezessete e trinta, segunda a sexta.
01:03Pesquiso muito o liberal, principalmente no período do início do liberal, porque o liberal surge para dar um suporte político
01:14para o partido do general Magalhães Barata, esse foi o objetivo do liberal.
01:21Então, aqueles que pesquisam a política nesse período, eles costumam pesquisar, um dos jornais é o liberal,
01:28porque o liberal fazia oposição a um outro jornal, muito forte na época que era a Folha do Norte.
01:33Um acontecimento, ele foi algo que aconteceu naquele momento daquela campanha política,
01:41que foi a morte do redator, do Paulo Eleutério Filho, que era redator do liberal.
01:47Mas toda a campanha, ela é pesquisada, porque foi uma campanha que foi muito tumultuada, muito violenta, em 1950,
01:55inclusive não só foi a morte do Paulo Eleutério, mas também do Paulo Cícero, que tem nome de rua,
02:04que foi um assassinato no Largo do Redondo, num comício, para essa campanha política desse período de 1950.
02:12Nos jornais, eu estou há mais de quarenta anos.
02:15Eu ingressei no arquivo público, então funcionava a biblioteca e arquivo público, na Campo Salles, com 13 de maio,
02:22e em 12 de fevereiro de 1975.
02:25Em 1983, nós viemos para cá.
02:27Lá, o atendimento, ele era normal, tudo junto, digamos assim, porque só tínhamos um espaço de pesquisa.
02:37Com a vinda para cá, em 1986, nós passamos mais ou menos uns dez anos também nesse formato, no segundo andar.
02:44Depois, foram desmembrados os setores, e um deles foi o de jornal, porque cresceu muito, não só o acervo, como o público de pesquisa.
02:56Então, foi necessário se fazer um desmembramento, e o jornal passou a funcionar separadamente.
03:05Então, eu sempre trabalhando com jornais.
03:08Olha, é muito gratificante.
03:12Por quê?
03:13Não só você ter um contato direto com as pessoas, quando você trabalha assim.
03:21Como você, eu tenho uma satisfação muito grande, quando eu auxilio alguém.
03:27Aquilo que eu falei agora, sobre esses acontecimentos, é porque eu li, eu já tive contato.
03:37Então, às vezes, a pessoa chega e diz, olha, eu queria pesquisar, por exemplo,
03:42rebelião do presídio de São José, em 98, que deu, praticamente, acabou com o presídio de São José.
03:51Ninja e tal, né?
03:53Então, tudo isso, eles já vêm de lá de fora com uma referência.
03:58Eu quero falar com o Ranu, porque alguém já falou pra eles que me procurar, que eu tenho condições de ajudá-los.
04:07Então, isso é o que move, isso é o que me move, é isso ainda que faz com que eu ainda esteja aqui.
04:13Entendeu?
04:15Porque já poderia estar aposentado e tal, mas eu sinto, me sinto bem, me sinto prazer em estar aqui.
04:22Fiz amizades imensas com muitas pessoas, pesquisadores.
04:27Então, é uma satisfação muito grande.
04:30Não só pra mim, mas eu acho que pra aqueles que me procuram.
04:37Tem gente que chega aqui e diz assim, olha, eu pensei que tu não estivesse mais aqui.
04:42Eu digo, não, destou, destou.
04:45Então, é isso aí, eu acho que satisfaz a gente você fazer aquilo que você gosta de fazer,
04:51aquilo que você tem prazer em fazer.
04:54Muito importante, por quê?
04:56Principalmente já no século XX, foi um dos jornais mais importantes.
05:00É um dos jornais mais importantes, todo mundo sabe disso, né?
05:04É claro que temos ainda outros jornais, hoje já temos menos, né?
05:09Nós temos três jornais que circulam na cidade, no Estado.
05:12Mas o liberal, sem dúvida nenhuma, é um dos mais importantes, talvez, na atualidade, mais importantes.
05:18Bom, ela é importante porque é um espaço de memória, né?
05:22Eu acho que, além dos jornais, a gente tem livros, tem a questão das obras raras.
05:27Então, ela é muito importante pra manter essa memória, pra gente lembrar de onde viemos,
05:31quem somos, pra onde vamos, né?
05:34O curso de história, o curso de humanas, no geral, é muito importante,
05:37porque ele traz a gente pra cá, né?
05:39Pra gente se lembrar.
05:40É sempre importante a gente lembrar.
05:43É claro que esquecer também faz parte do processo de memória, né?
05:47A manipulação também faz parte do processo da memória.
05:50Mas lembrar também é muito importante.
05:52Eu acho que o Centur, ele traz essa lembrança, né?
05:55Pra gente lembrar quem passou por aqui, e quem ficou, né?
05:58O povo ficou, né? E como ele lembra daquilo que já se foi.
06:02É assim que eu vejo o Centur, pelo menos.
06:04O meu período de pesquisa é entre 30, que é o início do governo do Magalhães Barata,
06:09até o final do seu primeiro mandato, como votado pelo povo, né?
06:14Que seria uma... foi o voto direto pelo povo, né?
06:18Que quando se inicia o processo de redemocratização.
06:22Bom, a partir disso eu tento entender um pouco o índice de criminalidade durante esse período.
06:28Porque durante o primeiro mandato do Magalhães Barata,
06:33houve uma extinção da polícia militar, né?
06:35Ele extinguiu a polícia militar.
06:37Então, a partir disso, eu tento entender como foi...
06:41Como a polícia lidou com essa extinção e como a sociedade em si lidou com isso, né?
06:48Levando em consideração que a gente estava passando por um período de repressão.
06:52Porque a gente tem o Getúlio Vargas, o golpe do Getúlio Vargas, né?
06:55E a subida dele ao poder.
06:57Então, é...
06:59E ele é um fascista, extremista, autoritário, né?
07:04Então, como o Barata, ele tem ideias bem parecidas com o Getúlio Vargas,
07:11eu tento entender como funcionava a cabeça do Barata aplicado na sociedade mesmo.
07:16Como a sociedade via o Magalhães Barata.
07:19Bom, especificamente do liberal, como ele foi comprado pelo Magalhães Barata, né?
07:26Há um saudosismo muito grande, né?
07:29Porque a gente tem que levar em consideração que o Barata, ele era um governador extremamente populista, né?
07:34As pessoas gostavam do Barata, né?
07:37Mesmo que ele tivesse suas ideias, pelo menos na minha percepção,
07:41um tanto quanto fascistas, autoritários, né?
07:44Como eu já disse, o povo gostava dele.
07:46Então, há um saudosismo muito grande do liberal quanto ao governo do Magalhães Barata.
07:52E é por isso que eu pesquiso a Folha do Norte para entender como a oposição também via ele, né?
07:58Porque, é claro, não é tirando mérito, ele fez coisas importantes para Belém, né?
08:03Mas também é importante a gente ter um outro olhar, né?
08:06Uma outra perspectiva diante de um período que estava passando por um novo processo, né?
08:11O Brasil estava entrando nesse processo de modernização, democracia.
08:16São vários conceitos que entraram junto com o governo do Barata.
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