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  • há 2 dias
Chargista, caricaturista e ilustrador reflete sobre a transição do nanquim ao digital e a complexidade de fazer humor e política na imprensa paraense.

Reportagem: Gabriel da Mota
Imagens: Cláudio Pinheiro
Edição: Bia Rodrigues (supervisão: Tarso Sarraf)

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Transcrição
00:00Entrei 1º de outubro de 1988 para diagramar e para ilustrar o jornal.
00:19Ilustrar dois cadernos, um de política e um de economia, porque não tinha foto.
00:25Então o material era muito maçudo e precisava de ilustração.
00:31Só que essa ilustração virou charge. Ela estava ligada aos textos políticos.
00:38Então o diretor de redação na época pediu para fazer charge inserida nos textos.
00:45Eu dividia a charge com o Luiz Pinto na época.
00:49Depois ele saiu do jornal e aí eu continuei. Fiquei de lá para cá fazendo tudo.
00:58Fiquei diagramando até em 5 anos, 5, 6 anos.
01:02Aí depois eu não dava mais, estava muito carregado.
01:05Eu dava dois horários, aí eu tive que sair e ficar só na parte da ilustração, charge, caricatura.
01:14Aí você pode ver que tem aqui charge, caricatura e também tem ilustração.
01:22A ilustração, ela é carregada com o texto, que pode ser abstrato, pode ser uma pintura ou pode ser só um traço.
01:36Então ela não é crítica.
01:39A ilustração, ela é bem diferenciada.
01:43Ela pode ser mais artística do que a charge.
01:46A charge não é artística.
01:47A charge é um texto jornalístico, é um desenho editorial.
01:52Então, e muita gente, ah, o Jota Bosco é um artista.
01:56Não, eu não me considero artista.
01:59Eu sou um jornalista do desenho, né?
02:02Eu venho para a redação, acompanho o noticiário.
02:07A caricatura, ela vai para o lado artístico também.
02:10Mas esse lado está mais para a exposição.
02:16Aí eu tenho esse lado também da caricatura, quando eu participo de Salão de Humor.
02:22Quando eu entrei no jornal, eu fui convidado porque eu já participava de Salão de Humor,
02:27de Pernambuco, de Piracicaba e eu já tinha alguns prêmios.
02:32Olha, o futebol, eu acho que ele tem um público fascinante.
02:38O futebol, ele te traz uma alegria, um ódio.
02:43Ele tem uma encrenca, essa encrenca é legal.
02:46Não dá tanto processo quanto política, né?
02:50Então, política, você tem que ter muito cuidado, que agora qualquer coisa é processo, né?
02:57O politicamente correto, ele foi te empurrando para a parede.
03:01Aí você escolhe agora os temas para poder ter cuidado, né?
03:07E as ideias, elas... você caça, né?
03:12Tem todo um processo criativo de juntar peça por peça para enquadrar,
03:19para não ficar um desenho aleatório do tipo, não entendi o que significa isso.
03:26Então, as coisas, elas vão se encaixando, né?
03:30Teve uma pessoa que não entendeu o machado do Pai Sandu,
03:37que o Pai Sandu estava com uma figa, uma bíblia, com os trabalhos de macumba,
03:46estava com uma cruz, estava com um trevo de quatro folhas e tal, blá, blá, blá.
03:53Ele não tinha entendido aquela machagem.
03:55Mas em cima estava escrito o dia do ecumenismo.
04:00Quando ele... ele não sabia o que era ecumenismo.
04:02Quando ele descobriu o ecumenismo, ele disse,
04:04nossa, a coisa está toda inserida, toda encaixada, né?
04:10Que ecumenismo é a junção das crenças.
04:14Tem essa coisa, sabe?
04:15E charge a gente não inventa.
04:18Você vai procurando elementos, elementos para se encaixar.
04:22Tem que pensar, pensar, pensar, né?
04:24Eu já tenho uma certa experiência, né?
04:27De onde vêm as ideias.
04:28Dos grandes cartunistas, né?
04:31Eu sempre acompanhei os grandes cartunistas, meus mestres, né?
04:36Os Iraldo, Jaguar, o Angeli, Laerte, Glauco.
04:42E de fora também, né?
04:46O Boligão.
04:47Tem o Biratã Porto, nosso maior cartunista que já partiu.
04:53Ele foi meu maior mestre, meu maior parceiro e incentivador aqui.
04:59Nas redes sociais, Remy e Paissandu ficam divididas, né?
05:04Remy e Paissandu é uma das maiores torcidas do Brasil.
05:08É flaflu, é grenal, né?
05:11Não tem jeito.
05:12E o Paissandu está sofrendo.
05:14Vai ser rebaixado.
05:16Ou já foi.
05:17E essa presença, essa postura que eu coloquei o Paissandu num sofrimento da corda,
05:25sendo esmagado pelo Z4,
05:29que daqui ele não tem saída.
05:30Então, o sírio é isso também, né?
05:34A corda do sírio.
05:36Eu só retirei a santa pra não ficar...
05:39Ah, olha, não se pode mexer com a santa.
05:42Mas o resto se enquadra tudo.
05:45E a corda é exatamente essa situação.
05:48É um esmagando o outro.
05:50E o Paissandu foi se meter aí, sobrou por dele, né?
05:54E aí foi o maior sucesso.
05:56Tanto dos picolores quanto dos remistas.
05:59Tinha muita gente.
06:01Foi mais de quase 4 mil curtidas.
06:04Eu disse, nossa, não esperava tudo isso.
06:07Não, não esperava.
06:08Eu pensei que ia ter um engajamento negativo.
06:14Mas não teve.
06:14Pelo contrário.
06:16Teve gente, ah, eu sou o Paissandu, mas eu gostei da charge.
06:20Eu sou bicolor e eu estou sentindo que o meu time está sofrendo e não sei o quê.
06:26Então isso me deu, assim, um certo orgulho de, poxa, acertei.
06:34Vocês entenderam.
06:35Entenderam.
06:36Tchau.
06:37Legenda Adriana Zanotto
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