No Check Up desta semana, o doutor Cladio Lottenberg recebe o cardiologista Leandro Echenique, que explica as causas além da relação com a genética, os novos valores de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia e o “efeito do jaleco branco” como fator de interferência dentro dos consultórios. Apresentador: Cláudio Lottenberg Entrevistado: Leandro Echenique
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00:00Hipertensão, um mal silencioso. Quais são os riscos de você não tratar a hipertensão?
00:06A hipertensão, ela realmente é um mal silencioso. Mais de 90% das pessoas que têm hipertensão não tem nenhum sintoma.
00:14Quando apresenta algum sintoma, uma cefaleia leve, um sintoma de um pouco de tontura, de zumbido,
00:20porém, a maior parte das pessoas não tem nenhum sintoma.
00:23E a hipertensão, ao longo do tempo, ela aumenta muito o risco cardíaco, tanto de infarto quanto de AVC,
00:30que são as principais causas de morte no nosso meio.
00:33Então, os estudos mais atuais mostram que, da população brasileira, 30% é hipertensa.
00:3930%, é extremamente comum. E desses 30%, 60% mais ou menos, não estão adequadamente tratados.
00:47Então, é um mal silencioso, a pessoa não sabe que tem e fica com o risco elevado
00:53até que seja feita uma avaliação adequada e o diagnóstico seja realizado.
00:57A hipertensão tem uma relação com a genética, mas, por outro lado, existem condições associadas.
01:03O que pode agravar a hipertensão ou trazer hipertensão?
01:07De todos os hipertensos, 90% nós não encontramos uma causa bem estabelecida.
01:1390% é um fator conjunto genético que nós herdamos.
01:17Então, se tem um pai, a mãe que é hipertenso, nós aumentamos o risco.
01:20E associado aos fatores ambientais. Que fatores ambientais são esses?
01:24Sedentarismo, obesidade, cigarro, etilismo, o estresse crônico, a obesidade, o sono inadequado,
01:33muitas vezes com poucas horas ou horas que não tem qualidade.
01:37Então, a junção do fator genético com o ambiental eclode a hipertensão arterial.
01:43Porém, 10% dos hipertensos, quando submetidos a uma avaliação criteriosa, nós encontramos uma causa.
01:51A gente chama isso de uma hipertensão secundária.
01:53E isso é fundamental, por quê?
01:54Ao tratar esta causa, a hipertensão desaparece em boa parte das vezes.
01:59Muitos estão sendo tratados com uma hipertensão sem causa, que a gente fala de primária,
02:03porém tem uma causa subjacente.
02:05Então, quando fazemos uma avaliação adequada, criteriosa, podemos encontrar alguns tumores
02:10que podem fazer subir a pressão, algumas doenças hormonais, por exemplo, hipertiroidismo,
02:16algumas doenças que aumentam o cortisol do sangue e faz com que a pressão se eleve.
02:20A própria apneia do sono é muito subdiagnosticada, então a pessoa está acima do peso,
02:25está com bastante ronco à noite, acorda com, fica com sonolência durante o dia todo.
02:29A apneia pode ser uma causa de hipertensão.
02:31Então, você fica tratando a hipertensão, dando remédio, remédio, sem ajustar a causa principal,
02:37a causa subjacente.
02:38E ao tratar a apneia, logo a hipertensão vai ceder totalmente ou vai diminuir o número de medicamentos
02:44que nós precisamos utilizar para controlar aquela hipertensão.
02:48Então, é muito importante que o paciente seja ciente disso e o médico também.
02:52Por quê?
02:53Para dizer que a pessoa tem uma hipertensão primária, tem que descartar essas causas.
02:57E aí sim a gente estabelece o diagnóstico de uma hipertensão primária, genética, mais estilo de vida
03:03e iniciamos o tratamento adequado.
03:05Um debate que acontecia lá atrás e parece que é presente, é a definição do que é o normal em termos de pressão arterial.
03:13Isso é fácil de ser feito ou é um dado isolado que tem que ser correlacionado com outros achados na avaliação clínica?
03:21Isso teve uma mudança recente.
03:23Primeiro, a sociedade europeia fez a modificação e agora acabou de sair esse ano aqui o consenso brasileiro
03:28com algumas mudanças na classificação e no diagnóstico da hipertensão arterial.
03:34Então, hoje nós consideramos que uma pressão é normal quando ela está abaixo de 12 por 8.
03:39Isso é a pressão normal.
03:4011 por 7, 10 por 6, isso é a pressão normal.
03:43De 12 por 8 até 14 por 9 é uma pré-hipertensão, uma pré-hipertensão.
03:50E o diagnóstico de hipertensão não mudou.
03:52É a pressão ou sistólica acima de 140, acima de 14, ou a pressão diastólica acima de 90, acima de 9.
04:00Então, para o pré-hipertenso, que é essa categoria, que ainda ela fica no meio ali,
04:06algumas medidas têm que ser tomadas para se evitar a progressão.
04:10Mas o diagnóstico da hipertensão é o mesmo, é a pressão sistólica acima de 14 ou a pressão diastólica acima de 9.
04:20Ao redor do mundo, a hipertensão arterial afeta cerca de 1 bilhão de pessoas e leva a óbito aproximadamente 7 milhões todo ano.
04:29No Brasil, a condição atinge cerca de 28% da população.
04:33O levantamento do Vigitel, baseado nos dados de 2023, mostra que o ano apresentou o maior percentual desde o início da série histórica em 2006.
04:44Com relação à incidência entre os sexos, os números mostram que a prevalência do diagnóstico é maior entre as mulheres do que em homens, em todas as 27 capitais do país.
04:55E quando olhamos essa distribuição entre as regiões, em adultos acima dos 20 anos, é possível observar uma discrepância,
05:05já que a prevalência na região sudeste é de 28,5%, enquanto na região norte, 53%.
05:13Quando você vai examinar um paciente, o paciente chega até o consultório, está tenso, porque ele logicamente vai ter lá uma série de respostas,
05:22mas ele está com medo do diagnóstico.
05:25O estresse, essa tensão, ela pode fazer com que a pressão esteja naquele momento mais alto?
05:31Sim, sim. Nós pegamos com muita frequência isso, né?
05:33A primeira medida, principalmente do consultório, frequentemente ela vem mais elevada.
05:38Nós começamos a conversar com o paciente, a examiná-lo, a tirar a anamnese.
05:42Quando nós vamos repetir a segunda medida, após 10, 15 minutos, nós já verificamos que ela já cede um pouco.
05:49Porém, em alguns pacientes, ela persiste alta durante o consultório,
05:53e é aí que nós lançamos mão de dois exames que nós podemos solicitar para tirar essa dúvida.
06:00Será que aquela pressão é só pelo efeito do jaleco branco, pelo fato de estar dentro do consultório
06:05e com estresse muito agudo, subindo a pressão, ou se ele está ficando realmente hipertenso?
06:10Então, nós lançamos mão, ajuda o MAPA, que é um aparelho que o paciente coloca num horário,
06:15fica 24 horas com ele, a gente pede para o paciente desempenhar a vida normal,
06:20trabalhar, fazer todas as atividades do dia a dia para ter um cenário real,
06:24ou a medida residencial da pressão arterial.
06:26Nós orientamos ele como medir a pressão em casa, ele mede por 5 a 7 dias,
06:30mede de manhã com um aparelho que é um aparelho validado, digital, preferencialmente de braço,
06:36não de pulso, faz as medidas de manhã ou acordar, à noite, antes do jantar ou antes de dormir,
06:43e anota essas medidas e aí, baseado nesse conjunto de medidas, nós diferenciamos
06:49se ele está ficando realmente hipertenso ou se não foi só o efeito do jaleco branco durante o consultório.
06:56Então, isso é muito importante, porque tem vários pacientes que estão tomando medicamento de forma desnecessária.
07:01Nós temos dois lados dessa estatística.
07:03Nós sabemos que dos hipertensos que estão andando aí na rua, 30% não sabem que são,
07:08exatamente pelo fato de ser silenciosa, e isso é um dado extremamente alarmante.
07:14Por um outro lado, você tem um percentual aí de 10 a 20% que estão com diagnóstico de hipertensão sem serem hipertensos.
07:20Por quê? Esteve no pronto-socorro com alguma queixa de dor, cefaleia, cólica renal, a pressão estava alta.
07:26Ah, você é hipertenso, toma esse medicamento.
07:29Ou estava no consultório preocupado com algum sintoma, com alguma expectativa de doença,
07:35a pressão estava alta e sai do consultório com uma receita para algum medicamento.
07:39Então, é muito importante que essa avaliação seja feita de forma muito cautelosa,
07:44porque o diagnóstico de hipertensão, ele é um carimbo na vida do paciente.
07:48Então, a partir do momento que nós estabelecemos aquele diagnóstico, ele vai seguir,
07:52e vai incorrer em várias medidas que nós vamos tomar do ponto de vista de mudança de estilo de vida
07:57ou até de tratamento medicamentoso.
07:59Nessa linha, retire o sal e faça exercício físico.
08:03O que mais você recomenda que não medicamento?
08:06Isso é muito importante.
08:07As medidas não medicamentosas, muitas vezes elas são deixadas de lado,
08:11não são dadas tanto atenção, já que é um medicamento, uma pílula mágica para controlar a pressão.
08:16Então, o paciente que é pré-hipertenso, ele não atingiu aquele valor de 14 por 9,
08:20mas ele já está com o seu 13 por 8, 13 por 8,5, é muito importante uma mudança do estilo de vida.
08:25Por quê? A gente pode reverter isso.
08:28Então, o emagrecimento, se a pessoa está com obesidade abdominal,
08:32manter a circunferência do abdômen abaixo de 102 centímetros,
08:35ou o índice de massa corporal abaixo de 25.
08:38O estresse, o controle do estresse, dormir melhor, iniciar atividade física,
08:44se não estiver fazendo, e se estiver fazendo, nós orientamos a forma adequada.
08:48É muito importante que faça o exercício físico aeróbico,
08:51e o exercício físico também resistido, o exercício anaeróbico.
08:55Não fumar, se ele estiver fumando, parar imediatamente.
08:58Um controle também da ingesta de álcool.
09:01E o sal é um pilar fundamental.
09:03Devemos reduzir.
09:04Tem um estudo brasileiro mostrando que o brasileiro come o dobro de sal
09:08do que é o que é recomendado, que são 5 gramas.
09:11A média do brasileiro são 10.
09:13Então, assim, essa redução é muito importante,
09:16e muitas vezes até a substituição do sal comum pelo sal,
09:20que tem um componente menor de sódio,
09:22substituindo pelo potássio, que é o sal dito light.
09:25Então, essas medidas não farmacológicas têm um papel fundamental.
09:29Por quê? Ou nós vamos conseguir controlar a pressão de uma vez
09:33e não se tornar hipertenso nessa categoria de pré-hipertensão,
09:36ou para aquele que é hipertenso, com as medidas não medicamentosas,
09:41nós conseguimos controlar de forma muito mais adequada,
09:44precisando de menos medicamento e de doses menores de medicamentos.
09:49E quando você entra com medicamento?
09:51Quando nós entramos com medicamento, quando ele está já acima de 14 por 9,
09:54ou seja, um hipertenso já estabelecido,
09:56ou até quando ele está quase se tornando hipertenso,
09:59que está com 13,5 por 8,5, e ele tem um alto risco cardíaco,
10:03já tem placas de ateroma, de gordura no coração,
10:07tem um histórico familiar muito importante,
10:09e as medidas não farmacológicas não deram certo,
10:12ele não conseguiu implementar todas aquelas medidas,
10:15nós entramos já com tratamento medicamentoso.
10:18Tem muita coisa nova em termos de medicamento?
10:20Tem medicamentos.
10:21A grande mudança, os medicamentos antigos,
10:24eles eram muito ruins.
10:25Por quê? Eles tinham que ser tomados duas, três vezes ao dia,
10:28porque a meia-vida era curta,
10:30e eles traziam muitos efeitos colaterais.
10:32Então era muito difícil convencer um paciente
10:34que muitas vezes não tinha nenhum sintoma da sua hipertensão,
10:37e nós tínhamos que dar um medicamento para ele,
10:38onde ele ia ter que parar a vida dele três vezes por dia
10:41para tomar o medicamento,
10:42e ainda poderia trazer efeitos colaterais.
10:45Então a aderência era muito baixa.
10:47Hoje os medicamentos atuais
10:49têm um índice de efeitos colaterais muito baixos,
10:52e têm uma grande vantagem.
10:55Muitos deles são associados.
10:56Então quando nós precisamos dar dois, três medicamentos para o paciente,
10:59porque ele é um hipertenso mais severo,
11:02nós conseguimos com o medicamento,
11:04tem os três dentro do mesmo comprimido,
11:06tomando uma vez ao dia.
11:07Então a aderência é muito maior.
11:09Facilita demais o tratamento medicamentoso,
11:13e deixa o paciente com uma vida restabelecida de forma normal.
11:16e deixa o paciente com uma vida restabelecida de forma normal.
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