O presidente Lula (PT) defende a América Latina como "zona de paz" e critica abertamente as intervenções estrangeiras na região.
O alerta do presidente acontece em meio à crescente tensão entre EUA e Venezuela, com movimentação militar extra-regional próxima à costa. Lula afirma que tais interferências podem causar "danos maiores do que se pretende evitar". Reportagem: Matheus Dias.
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00:00Meio às tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, o presidente Lula criticou o que ele chamou de intervenções estrangeiras na América Latina.
00:08Girando a nossa reportagem, agora, Matheus Dias chegando, o presidente Lula voltou a defender a soberania de países em relação às ações de Donald Trump
00:17às vésperas do encontro entre eles na Malásia. É isso, Matheus, bem-vindo.
00:25É isso, Tiago. Boa noite pra você, boa noite a quem nos acompanha.
00:28Lula, então, voltou a criticar, mas sem citar diretamente Trump, Maduro ou até o conflito entre Estados Unidos e Venezuela.
00:36Mas Lula falou em um evento hoje dizendo que intervenções estrangeiras nos países da América do Sul podem causar mais conflitos do que os que eles tentam evitar.
00:45Essa é a segunda vez que Lula critica as intervenções dos Estados Unidos aqui, mas não cita novamente Donald Trump.
00:52Isso porque Lula está numa certa situação delicada, né, Tiago?
00:56Nesse momento, então, o governo Lula, que é aliado de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, e também de Gustavo Petro, presidente da Colômbia,
01:05ambos que estão atualmente rivais de Trump.
01:08E, ao mesmo tempo, Lula tenta negociar com o presidente norte-americano os efeitos do tarifácio aqui no Brasil
01:14com uma reunião que deve acontecer essa semana, como você bem disse, na agenda de Lula, que viaja pra Malásia,
01:20onde ele e Trump vão participar da Convenção, da Cúpula das Nações do Sudeste Asiático.
01:28Então, esse encontro deve acontecer essa semana.
01:31Então, sem citar Trump, sem citar Maduro, Lula preferiu evitar as críticas e adotar um discurso de paz, viu, Tiago?
01:38Vamos ouvir.
01:39Na América Latina e Caribe, também vivemos um momento de crescente, polarização e instabilidade.
01:47Manter a região como zona de paz é nossa prioridade.
01:52Somos um continente livre de armas, de destruição em massa, sem conflitos étnicos e religiosos.
02:00Intervenções estrangeiras podem causar danos maiores do que o que se pretende evitar.
02:08Pois é, Tiago, essa fala de Lula aconteceu hoje em Brasília, quando ele participou da cerimônia de entrega das cartas
02:18para 28 novos embaixadores no Palácio do Itamaraty.
02:23Além de falar do conflito de Estados Unidos e Venezuela, Lula também disse que espera, em breve,
02:28resolver o acordo comercial com a União Europeia, parado já há 20 anos,
02:32e também puxou a sardinha para o Brasil, lembrando da COP30, que acontece no mês que vem, viu, Tiago?
02:38E aí, Matheus, diferentemente em relação à Venezuela, a Argentina vive uma espécie de lua de mel com Donald Trump.
02:46O país recebeu hoje um empréstimo bilionário dos Estados Unidos. Qual o valor? Qual o objetivo?
02:51Pois é, um cenário completamente diferente, né, Tiago?
02:57Javier Millet, então aliado de Trump, anunciou hoje que recebeu um empréstimo de 20 bilhões de dólares do país norte-americano.
03:06Esse empréstimo será feito numa espécie de troca de moedas, isso na tentativa de proteger a Argentina,
03:13é restaurar o crescimento econômico e também realizar pagamentos ao redor do mundo,
03:17em que a Argentina pode realizar com dólares, moeda essa que, segundo o governo argentino, está em baixa no país.
03:24Eles têm baixas reservas de dólares.
03:27Trump, então, prometeu essa ajuda, ajuda essa anunciada hoje por Millet.
03:31E agora, então, outro problema, que é realmente esse, da baixa reserva de dólares,
03:36Trump disse que promete ajudar ainda com mais.
03:39Depois desses 20 bilhões adicionais, Trump promete outros 20 bilhões de dólares,
03:44outra remessa bilionária, caso Javier Millet vá bem nas eleições que estão prestes a acontecer,
03:50as eleições legislativas na Argentina, que há poucos dias vão acontecer.
03:55Nesse cenário, então, de alta inflação, queda do peso argentino em relação ao dólar,
04:01Trump promete mais essa ajuda.
04:03Então, a gente, por enquanto, fala de 20 bilhões, mas esse valor pode dobrar dependendo do resultado das eleições, viu, Tiago?
04:09O Trump, inclusive, disse que, quando questionado do porquê essa ajuda, ele só se falou a seguinte frase,
04:16eles não têm dinheiro, estão lutando para sobreviver.
04:20Pois é, sem dúvida, aí as eleições são importantíssimas para o futuro de Javier Millet,
04:25na Argentina, para o futuro do governo dele, né?
04:27Apoio legislativo é fundamental.
04:29Você volta daqui a pouquinho, Matheus, deixa eu perguntar para a Dora Kramer,
04:33também para a Deise.
04:34Odora, essa fala do presidente Lula falando sobre essas questões da América Latina,
04:39mas ele não cita Donald Trump.
04:41Será que isso pode estremecer um pouco esse possível encontro do domingo que vem?
04:47Olha, se estremecer, realmente, é uma falha.
04:50Acho que a diplomacia coloca, compreende perfeitamente,
04:55a diplomacia dos Estados Unidos compreende perfeitamente essa situação.
04:58Presidente Lula, presidente do Brasil, até agora não tinha falado mais longamente
05:05disso que está acontecendo aqui, que a gente não sabe se é só um misancene do Trump,
05:13se há realmente alguma intenção de fazer uma intervenção mesmo,
05:19mas de qualquer maneira, como o maior país da região,
05:22essa omissão pareceria exatamente o contrário, que ele estaria com medo do Trump.
05:29Mas ele fez, eu acho que houve aí, quando entra o Itamaraty,
05:33quando entram os diplomatas, realmente a coisa caminha muito bem, né?
05:38Porque ele falou, marcou uma posição, né?
05:42E a única posição possível, e não fez ataques ao Trump, né?
05:48Nem citou, enfim, fez hoje, teve hoje uma frasezinha dele,
05:54mas muito menos agressiva do que aqueles que ele fazia anteriormente, né?
06:00Então eu achei que esse posicionamento do presidente Lula era necessário,
06:05e também achei que o equilíbrio no tom foi muito adequado.
06:09O sábado ele tinha falado, né?
06:11Que ninguém ouse a mexer com o Brasil, alguma coisa nesse sentido, não é desse.
06:15Mas de qualquer forma, foi uma fala mais diplomática, evidentemente, né?
06:22É, eu concordo com a Dora, é impressionante.
06:24Quando entra o Itamaraty, as coisas se assentam.
06:28Sobre esse discurso do presidente Lula,
06:31eu acredito que as consequências dele até,
06:33elas vão depender muito mais do que virá agora, né?
06:36A gente tem a COP30, tem essa reunião dele com o presidente Donald Trump.
06:41Então, às vezes, o que pode parecer, né?
06:43E aí a gente tem que entender que é uma questão de diplomacia,
06:46mas pode soar também como se esse discurso do presidente Lula
06:50tivesse sido muito complacente com regimes autoritários.
06:54Às vezes, essa tentativa de neutralidade,
06:57ela pode soar um pouco ao contrário, né?
06:58Então, como se tivesse sido equidistante
07:01em relação a regimes autoritários da América Latina.
07:05Mas, como eu disse,
07:06as consequências desse discurso que tentou essa neutralidade,
07:11elas vão depender muito mais dos atos futuros do presidente Lula.
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