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  • 26/06/2025
O embaixador Paulo Roberto de Almeida analisa a diplomacia do governo Lula.

Assista à conversa completa: https://www.youtube.com/watch?v=3S2n8_pCtrw

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Transcrição
00:00Embaixador, uma coisa que me chamou a atenção,
00:05é interessante esse raciocínio que você fez
00:07entre a justiça e o crime,
00:09então não se pode permanecer neutro.
00:12E achei interessante os argumentos que foram dados
00:15pelas autoridades brasileiras e pelos diplomatas
00:20para defender essa neutralidade.
00:23A mais recente foi o Joe Biden,
00:26que fez essa cúpula pela democracia,
00:29ele faz todo ano, a primeira versão foi remota,
00:34e o Brasil não assinou o documento final
00:37e disse que é porque a cúpula da democracia
00:40não é o fórum adequado para falar essas coisas,
00:43o fórum é a ONU.
00:46Faz sentido, do seu ponto de vista, essa justificativa?
00:51Veja, a cúpula é pela democracia,
00:54não existe uma violência maior contra a democracia
00:58que é a invasão do território e a tentativa de derrubada
01:01de um governo legitimamente eleito, reconhecido,
01:05com o qual, aliás, nós temos relações diplomáticas,
01:07não apenas relações diplomáticas,
01:09mas tivemos um programa conjunto com a Ucrânia
01:12durante muitos anos,
01:13que foi o da exploração da base de Alcântara
01:16para o lançamento de satélites.
01:18Foi um acordo que sucedia a um acordo frustrado
01:20com os Estados Unidos no ano 2000,
01:21ele vigorou durante uns 10 anos,
01:25gastou meio milhão de dólares, talvez mais,
01:29e foi justamente denunciado pela Dilma
01:31porque o Brasil não conseguia cumprir
01:32os requisitos desse acordo.
01:35Ou seja, é um país com o qual nós temos
01:36relações diplomáticas,
01:38existe um adido militar, aliás,
01:40ucraniano em Brasília,
01:42ele enviou uma carta ao Ministério da Defesa
01:44no ano passado para solicitar a compra
01:46de carros blindados,
01:47foi negado, o Brasil tem essa postura
01:50de que nós não queremos fornecer armas.
01:55Ora, isso é condenar o atacado
01:57a uma atitude passiva, defensiva,
02:00e, na verdade, condená-lo a ser atacado continuamente.
02:04Se a Ucrânia cessar de se defender,
02:08ela simplesmente vai desaparecer
02:09ante a magnitude das forças russas
02:12em mísseis, em aviões,
02:15em forças humanas, etc.
02:17Então, é uma postura um pouco contraditória.
02:20Aliás, essa postura do Brasil
02:22de cessação de hostilidades
02:24é contraditória com a resolução da ONU,
02:27que pedia a retirada das forças russas
02:29do território.
02:30Quando você pede cessação de hostilidades,
02:31você está se colocando contra
02:32o objeto principal dessa resolução.
02:35Então, essa postura me parece
02:38muito contraditória.
02:40E só se explica
02:41por um objeto concreto,
02:44e o Lavrov sabe disso,
02:46o Celso Amorim também,
02:47que se chama BRIC,
02:48na origem,
02:50BRICS, a partir de 2011.
02:52É o BRIC que é a pedra
02:54no caminho da diplomacia brasileira.
02:56O senhor poderia explicar isso um pouco melhor?
03:01O senhor disse no artigo
03:03que provavelmente a principal intenção
03:06do Lavrov ir para cá
03:07era assegurar essa neutralidade,
03:10essa imparcialidade,
03:11que o senhor chama de neutralidade hipócrita,
03:13e contrária às tradições
03:15da diplomacia brasileira.
03:18Em que medida o interesse econômico
03:21do BRIC, agora BRICS,
03:23com a África do Sul,
03:24influi nessa tentativa de Brasil
03:28continuar bem politicamente
03:30com a Rússia?
03:32Veja, eu considero o original BRIC,
03:35quatro países, Brasil, Rússia, Índia e China,
03:38e o BRICS depois,
03:39com a adjunção da África do Sul,
03:41pelas mãos da China,
03:42que tinha um programa para a África,
03:44um grande erro estratégico
03:46da diplomacia brasileira,
03:48da diplomacia do Brasil,
03:50porque quem fez essa decisão
03:52foi a diplomacia lulupetista,
03:54como eu digo, não é?
03:55E por que ela o fez?
03:57Porque você tem no PT
03:58um partido que tem origens
04:00no velho esquerdismo latino-americano,
04:03nos partidos socialistas,
04:04que é pró-cubano,
04:06anti-americano,
04:07anti-imperialista,
04:08anti-hegemônico,
04:09e em suposta adesão
04:10aos que são contrários a isso, né?
04:12Só que os contrários a isso,
04:14a isso podem ser de esquerda,
04:16como são talvez no caso de Cuba,
04:17da Venezuela, da Nicarágua,
04:20e pode ser de direita,
04:21como é o caso hoje da Rússia,
04:23não é?
04:23Não é nada mais de direita
04:24do que o Putin,
04:26a xenofobia,
04:27o racismo,
04:29a misoginia,
04:31a homofobia,
04:33tudo mais que você pode imaginar,
04:35contrário aos valores e princípios
04:37do PT e da esquerda em geral,
04:39não é?
04:40Então,
04:41o BRIC foi concebido
04:43como um grão
04:45de uma nova ordem mundial.
04:46O petismo acha que
04:48tem aquela versão antiga
04:50de que nós somos explorados
04:52pelas antigas potências
04:54coloniais europeias
04:55e pelas potências imperiais
04:57do século XX,
04:58Estados Unidos lá na frente,
05:00as veias abertas
05:01da América Latina,
05:02essa é a tese esquerdista,
05:04então nós temos que nos livrar
05:05da dominação imperialista
05:07e nos aliar aos que são
05:09contrários a isso.
05:10É uma concepção muito equivocada
05:14do que seja a ordem internacional,
05:16não é?
05:17A ordem internacional
05:17não se firma por vontade
05:19de estadistas,
05:20por mais poderosos
05:21que eles sejam,
05:22e sim decorre de alterações,
05:24transformações estruturais
05:26na economia mundial,
05:27na relação de forças,
05:28evidentemente.
05:29E ela só se dá
05:30ao cabo de rupturas dramáticas
05:32na história do mundo,
05:34não é?
05:34Nós tivemos as guerras
05:35napoleonas,
05:36congresso de Viena
05:36e uma certa ordem.
05:38Tivemos a grande guerra,
05:39a primeira guerra mundial,
05:40Conferência da Paz de Paris,
05:43Liga das Nações,
05:44uma nova ordem mundial,
05:45frustrada pelos fascismos,
05:47pelos regimes expansionistas
05:49dos anos 30,
05:50uma guerra terrível,
05:51a maior guerra,
05:53a maior mortandade
05:54da história da humanidade,
05:55não é?
05:56Mais de 40 milhões de mortos,
05:57destruição completa da Europa,
06:00de metade da Ásia, etc.
06:03E uma nova ordem mundial
06:04que começou em Bretton Woods,
06:06aliás, durante a guerra,
06:07na ordem econômica
06:08e depois a ordem política
06:09da ONU e suas principais agências.
06:11Essa ordem é uma ordem
06:12liberal, multilateral.
06:15Você querer uma ordem
06:16alterna, alternativa,
06:18diferente,
06:19que não seja a ordem
06:20de Bretton Woods
06:21e da ONU,
06:23significa confrontar-se
06:24a uma ordem
06:25que nos últimos 70 anos,
06:27digamos,
06:27trouxe prosperidade ao mundo.
06:29Tanto é que os regimes
06:30socialistas implodiram,
06:32não é?
06:32Por ineficiência própria,
06:33eles não foram vencidos
06:34em nenhuma guerra
06:35contra o capitalismo.
06:37Os regimes socialistas
06:38desapareceram por completo,
06:39com exceção de duas ilhas
06:41ou duas antípodas,
06:44lá, Coreia do Norte e Cuba,
06:46não é?
06:47E alguns poucos outros.
06:48Não existe mais socialismo.
06:50A China é um capitalismo
06:51com características chinesas,
06:53é um regime de mercado,
06:54até mais do que o da Rússia.
06:56Então, o socialismo falhou.
06:57A ordem que nós temos
06:58é a ordem,
06:59não tanto das democracias
07:01de mercado,
07:02mas das economias
07:03de mercado.
07:05Vale tanto para a Rússia
07:06quanto para a China,
07:07não é?
07:08Com graus diferentes
07:10de estatização.
07:11Então,
07:12querer uma ordem antípoda,
07:14alterna,
07:15diferente da ordem atual,
07:16é querer desmantelar
07:17um sistema
07:17que,
07:18mais ou menos bem,
07:21permitiu a paz
07:22e a prosperidade
07:23nesses últimos 70 anos,
07:24não é?
07:25A Guerra Fria acabou,
07:26entramos num regime
07:27de acalmia,
07:29e agora aparece
07:31uma nova Guerra Fria
07:32e, novamente,
07:33esses chamados
07:34a multipolaridade.
07:36Isso é um pouco
07:36enganador,
07:37não é?
07:38A multipolaridade
07:39significa o mundo
07:40não de Bretton Woods,
07:41o mundo não da ONU,
07:43o mundo não dos Estados Unidos
07:44ou da Europa Ocidental,
07:45com o qual nós temos
07:45vínculos históricos
07:47de 500 anos,
07:48digamos,
07:49e um mundo
07:50de duas grandes autocracias,
07:52não é?
07:52Que podem até trazer
07:54uma certa prosperidade
07:55em termos de comércio,
07:56investimentos,
07:57financiamento,
07:58mas certamente
07:59não corresponde
07:59aos nossos valores
08:00e princípios em termos
08:01de liberdades democráticas
08:02e de direitos humanos.

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