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NotíciasTranscrição
00:00E a gente já começa esse debate de hoje informando que foi sancionada a Lei 14.532 de 2023,
00:09que determina punição para injúria racial.
00:14Na verdade, compara a injúria racial ao racismo e prevê uma pena aumentada de dois a cinco anos.
00:20E para conversar sobre esse tema, para trazer luz a essas pautas aqui do interesse de vocês,
00:26também do interesse da sociedade, nós trouxemos aqui ao Meio Dia em Brasília,
00:32para debater esse tema, para conversar com a gente,
00:35o advogado que é especialista no assunto, o Jorge Racial, que já está aqui com a gente,
00:40e também o professor em filosofia, que também está aqui com a gente no estúdio, Paulo Cruz.
00:46Muitíssimo obrigada por vir ao Meio Dia em Brasília.
00:49Não, se agradeço.
00:50Boa tarde. Obrigado. Obrigado pelo convite.
00:53Obrigada. Obrigada, Paulo, por vir aqui conversar com a gente também.
00:59Obrigado, Fis, pelo convite.
01:02Também agradeço pelo convite, pela oportunidade,
01:05e espero poder contribuir para esse tema,
01:08que é significativo para a sociedade brasileira,
01:11especialmente para os afrodescendentes,
01:15nossos negros, nossas negras, nossos irmãos de cor no Brasil.
01:18Perfeito. Jorge e Marcos, que também é Jorge Racial,
01:23a gente chama aqui, chama pelo apelido, ora pelo nome, né?
01:27Mas eu começo já perguntando para você sobre essa lei,
01:31já que o senhor ajudou a construir essa lei que foi sancionada.
01:34O Cris, haveria possibilidade de aumentar o som um pouquinho para mim?
01:39Sim, sim.
01:41Melhorou o áudio? Está melhor?
01:42Por favor.
01:46Consegue? Está melhor?
01:47É, vamos, vamos lá.
01:50Vamos lá.
01:51Então, eu começo já conversando com o senhor sobre essa lei.
01:54Explica para a gente quais são os detalhes,
01:56já que ela prevê uma pena aumentada agora,
01:58para a questão da injúria racial.
02:02Olha aqui, sinceramente,
02:04eu como advogado garantista,
02:07eu não vejo que o aumento de pena
02:11seja a solução, né?
02:13seja a panaceia para a solução dos problemas brasileiros, né?
02:17Eu ainda apostaria numa solução educativa,
02:23numa solução de...
02:25que contribuísse, que fosse a direção
02:27de construir uma relação de respeito,
02:31de igualdade,
02:33de sentimento de fraternidade,
02:36de empatia.
02:38E não tivesse que usar do direito
02:42para corrigir situações
02:45que ocorrem na sociedade,
02:47que a mim vê,
02:49está mais ligado ao campo da educação,
02:51o campo da empatia,
02:54o campo do sentimento,
02:56das relações que nós temos que ter
02:58com nossos irmãos.
02:59mas, infelizmente,
03:02a coisa teve que caminhar nesse sentido,
03:05né?
03:05Porque muitas das condutas,
03:08mesmo tipificada,
03:10mesmo tendo já uma pena estabelecida,
03:13o que a gente percebe,
03:14e o professor Paulo,
03:16acho que concorda comigo,
03:18é que o aumento de pena,
03:20a criação de pena por si só,
03:21ela não inibe o crime.
03:23Isso é antigo, né?
03:24César de Bacaria,
03:25do seu famoso dos elitos da pena,
03:28da pena,
03:29nos ensinou isso.
03:30Mas foi importante,
03:32entendeu?
03:32Se essa é a medida
03:34que nós temos que tomar,
03:35que a sociedade brasileira,
03:36que o Estado brasileiro tem que tomar
03:38para resolver uma situação,
03:41então,
03:41que ela seja muito bem-vinda.
03:46Perfeito.
03:47Professor Paulo Cruz,
03:48qual a sua avaliação sobre a lei,
03:50e se essa pena,
03:51e aumentada,
03:53ela de fato vem para resolver,
03:54O que é isso?
03:55O que é isso?
03:57O problema do som piorou,
03:59está muito ruim aqui,
04:00agora tem um chiado,
04:01que não me deixa de ouvir nada.
04:043, 2, 1,
04:05estão me escutando,
04:06o programa ao vivo é assim mesmo,
04:07vocês também no chat,
04:08estão com dificuldade de me ouvir,
04:09estão me ouvindo bem,
04:10me escutam bem?
04:12O chat,
04:13vocês estão com dificuldade?
04:14Professor Paulo Cruz,
04:15me escuta bem?
04:16Eu te ouço bem,
04:17não, eu te ouço bem.
04:18Está me escutando bem,
04:19perfeito.
04:20Então, enquanto resolve o problema do som,
04:22para o professor Jorge Marcos,
04:25eu devolvo a pergunta
04:26para o professor Paulo Cruz,
04:27para dar a avaliação dele
04:29sobre a lei que foi sancionada,
04:31e se na avaliação dele
04:32essa pena e aumentada
04:34seria a melhor alternativa
04:35nesse momento.
04:36Bom, eu concordo com o Jorge
04:41com a questão de que a melhor solução
04:43é a educação,
04:44e eu acho que tem um agravante
04:47no caso brasileiro,
04:49porque no Brasil ainda é muita,
04:52a ideia de racismo ainda é muito confusa
04:55para muita gente.
04:56Por exemplo, de classificação,
04:58o que é racismo,
04:59o que não é racismo,
05:00então é claro que o trabalho
05:02dos movimentos negros
05:04e o trabalho inclusive
05:05daqueles juristas
05:06que trabalham com o tema
05:07é já a tentativa
05:09de tentar classificar
05:10bem o que é racismo
05:12e o que não é.
05:13Só que nós temos um agravante
05:15que é recente
05:17na sociedade brasileira,
05:18que é, por exemplo,
05:20o nosso atual ministro
05:22de Direitos Humanos,
05:23o professor Silvio Almeida,
05:25ele criou,
05:27na verdade,
05:28ele desenvolveu
05:29uma teoria social
05:30chamada racismo estrutural,
05:32que explica a sociedade,
05:34explica o modo
05:35como a dinâmica social acontece,
05:39de modo a que o racismo
05:41esteja penetrado,
05:42de certo modo,
05:44nas estruturas sociais,
05:45que seja impossível
05:46se desvencilhar dele.
05:49Então, isso causa
05:50um problema terrível para nós,
05:52porque a gente tem dificuldade agora
05:53de estabelecer
05:55quando o racismo é intencional
05:57ou quando o racismo
05:58não é intencional,
06:00porque na ideia
06:01de racismo estrutural
06:02é possível
06:03uma prática de racismo
06:04que não seja intencional.
06:07Aí complica, né?
06:08Então, quer dizer,
06:08como é que a gente vai aplicar
06:09a lei numa situação
06:10como essa?
06:12Eu sou favorável
06:13que se haja punição
06:14para casos de racismo,
06:15nem sou contra isso,
06:16acho que tem que ter mesmo,
06:18mas eu sou daquele
06:19que pensa que
06:20a lei deve nascer
06:22da cultura
06:22e não o contrário, né?
06:23Então, você não tentar
06:24mudar a cultura
06:25por conta de uma lei,
06:27porque isso não acontece, né?
06:28É como o próprio Jorge falou.
06:29Então, quer dizer,
06:30se a gente ainda tem
06:32muita dificuldade
06:33de estabelecer
06:34quais são os casos
06:36de racismo,
06:36quais são os casos
06:37de injúria, por exemplo,
06:39a gente vai ter
06:39muita dificuldade
06:41de punir as pessoas
06:44ou corre-se o risco
06:46de começar a punir
06:47as pessoas
06:48por casos
06:49de suposto racismo
06:52involuntário,
06:54digamos assim.
06:55Então, quer dizer,
06:55eu tenho um amigo
06:55no meu trabalho
06:57que faz uma brincadeira
06:59comigo que eu não gosto,
07:00como aconteceu
07:01no passado comigo,
07:02né?
07:02E eu repudiei na hora,
07:04eu fiquei um ano
07:04sem conversar
07:05com um amigo de trabalho
07:06por causa disso,
07:07mas isso seria
07:09enquadrado
07:10na lei de injúria,
07:11eu poderia denunciá-lo
07:13e ele poderia ser preso, né?
07:15Por causa de uma piada
07:16ridícula, idiota,
07:18e lhe custaria liberdade.
07:20Então, a minha dificuldade
07:21é entender
07:22se a gente não vai
07:24com isso,
07:25talvez,
07:26começar a prender
07:27as pessoas aí,
07:28porque elas fazem...
07:30Porque culturalmente
07:31o Brasil ainda é um país
07:33em que as pessoas
07:33gostam de fazer
07:34esse tipo de piada
07:36sem graça,
07:38né?
07:38e aí as coisas
07:40podem se confundir muito.
07:44Perfeito.
07:44Inclusive,
07:45o meu próximo questionamento
07:46seria justamente
07:47sobre isso,
07:48já que há um grupo
07:50de pessoas reclamando
07:51justamente,
07:52especialmente as pessoas
07:53que fazem piada, né?
07:55Reclamando justamente
07:56disso,
07:57de que se essa prisão
07:58não seria uma medida
07:59muito agravada
08:00para quem faz piada,
08:02porque pode ser considerado,
08:03não necessariamente
08:04precisa ser um crime,
08:05mas se a pessoa
08:05se sentir ofendida
08:06com isso,
08:07ela pode vir
08:08a reclamar
08:08e pedir aí a prisão.
08:10E eu devolvo a palavra
08:11para o professor
08:12Jorge Marcos
08:13para falar sobre isso.
08:15Se a medida
08:15não é muito agravada
08:17nesse sentido,
08:17especialmente
08:18para quem trabalha
08:19com humor,
08:20que está reclamando aí,
08:22pode ser preso
08:23caso alguém
08:24considere
08:24essa piada,
08:27uma piada,
08:28por exemplo,
08:28como uma injúria racial.
08:31Olha,
08:31eu como garantista,
08:35toda a pena
08:36para mim
08:37é algo
08:40que
08:40não me cai bem.
08:45Eu sou daqueles
08:47que defendem
08:47um direito penal
08:48mínimo,
08:50um direito penal
08:50mínimo,
08:51um direito penal
08:52que só interfira
08:54naquelas situações
08:56onde
08:56absolutamente
08:57nós não temos,
09:01a sociedade não tem
09:02como
09:03como resolver.
09:05Então,
09:05nesse sentido,
09:07nesse sentido,
09:08poder-se ir a pensar,
09:10poder-se ir a acreditar
09:12que esse aumento
09:14de pena
09:14é um agravante,
09:17é um agravante.
09:17mas a pergunta
09:18que eu faço
09:19no momento
09:19é o seguinte,
09:20é necessária?
09:22Me parece que sim.
09:25A lei,
09:25nesse momento,
09:26ela é necessária.
09:27com relação
09:28aos nossos
09:29amigos do meio
09:31artístico,
09:32cultural,
09:33eu fico pensando,
09:36até que ponto
09:37eles não contribuem
09:39para que esse racismo
09:40estrutural
09:41e,
09:41principalmente,
09:43o racismo
09:43velado
09:44se consolide
09:46ainda mais
09:47na sociedade
09:48a partir
09:49das piadinhas,
09:51né?
09:52A negra
09:53do cabelo
09:54duro,
09:55que não gosta
09:55de pentear,
09:57ué,
09:57quem falou isso?
10:00Isso não pode
10:01ser motivo
10:02de chacota,
10:03isso não pode ser
10:03motivo de brinquedo,
10:05quer dizer que a loirinha,
10:06ela tem o cabelo
10:07macio,
10:08ela gosta
10:08de pentear o cabelo.
10:11Então,
10:12nós temos que repensar
10:14essa situação.
10:15Eu não,
10:16o meu,
10:17o meu,
10:17o meu princípio,
10:20né,
10:20minimalista
10:21do direito penal
10:22encontra uma certa
10:24resistência
10:25nesse ponto,
10:26porque eu acho
10:27que por trás
10:28desse discurso,
10:30por trás
10:31desse discurso,
10:32né,
10:32era só a piada,
10:33era só a brincadeira,
10:35está se fortalecendo
10:37esse racismo
10:38estrutural
10:39que o professor
10:39Paulo falou
10:40e,
10:41principalmente,
10:42o racismo velado.
10:44Ó,
10:44não tenho nada
10:45contra negro,
10:46não tenho nada
10:46contra preto,
10:48eu tenho,
10:49detalhe,
10:50e aí você percebe
10:51a maldade
10:53da questão.
10:54Eu ouvi
10:54num debate
10:55de governadores
10:58lá em Santa Catarina,
11:00um candidato
11:00dizia o seguinte,
11:01não,
11:02eu não tenho nada
11:03contra negro,
11:06inclusive,
11:07inclusive,
11:09inclusive,
11:10a minha babá,
11:11a minha babá,
11:13era uma negra,
11:14ou seja,
11:16o negro,
11:16a relação dele
11:17com o negro
11:18foi simplesmente
11:19uma relação
11:20de subordinação,
11:24de empregabilidade,
11:25de uma coisa assim,
11:26entendeu?
11:27Ele se relacionou
11:29a ela
11:29para defender
11:30que não tinha,
11:31que não era
11:32racista,
11:34mas a colocou
11:35na condição
11:35de babá,
11:37só,
11:38não,
11:39na condição
11:39da pessoa
11:40que cuidava dele,
11:42ou seja,
11:42que fazia o papel
11:43de mãe
11:44com ele.
11:48Então,
11:48para mim,
11:49apesar do meu princípio
11:50finalizado,
11:50apesar do meu princípio
11:51finalista do direito penal,
11:54eu ainda,
11:54nesse caso específico,
11:56eu acho que é necessário.
11:59E aí,
11:59eu aproveito o gancho
12:01para...
12:02Ok,
12:02só um minutinho.
12:03Você pode me tirar
12:04do ar um pouquinho
12:05enquanto eu tento
12:06pegar um fone de ouvido,
12:07porque eu estou ouvindo
12:08muito mal,
12:09ok?
12:09Perfeito,
12:10pode sim,
12:11claro.
12:12Professor Paulo Cruz,
12:13aproveitando o gancho
12:14na fala do Jorge Marcos,
12:16já te pergunto o seguinte,
12:18a multa
12:19não seria mais eficaz
12:21nesse momento
12:22do que para fins pedagógicos,
12:23do que a prisão?
12:25Nesse caso específico
12:26que eu fiz o questionamento
12:27para o professor Jorge Marcos.
12:30Sim,
12:30no caso de uma pena,
12:31eu acho que a multa
12:32seria muito mais pedagógica
12:34do que a prisão.
12:34Eu tenho uma dificuldade
12:35muito grande
12:36de cercear o humor.
12:38Eu acho que o humor,
12:40ele está numa escala
12:41de,
12:43digamos assim,
12:44ele está numa escala
12:45da sociedade
12:46que a gente deve
12:47encará-lo como algo
12:48diferente do normal,
12:50digamos assim.
12:51Então,
12:51ah,
12:52eu tenho dificuldade
12:53com certos tipos de piada?
12:54Tenho.
12:55Ah,
12:55então tá bom,
12:55então eu não vou assistir
12:57o show daquele humorista X
12:58e pronto.
13:00A própria sociedade,
13:01eu acho,
13:02que tem meios
13:03de equalizar isso.
13:06Então,
13:06tem que ver
13:06pelas piadas
13:07que antigamente
13:08eram engraçadas
13:09e agora não são mais.
13:11A gente mesmo
13:12vai equilibrando isso,
13:13demora um pouco mais,
13:14obviamente,
13:15mas é um trabalho
13:16educativo também.
13:17É um trabalho também
13:18de educação
13:19e também de instrução.
13:21Então,
13:21mas eu tenho
13:22muita dificuldade
13:23em a gente
13:25tentar
13:25cercear o humor.
13:28Eu acho que o humor
13:28tem que ser
13:29absolutamente livre
13:30e eu acho
13:31que a própria sociedade
13:32já tem mecanismos
13:35para rechaçar
13:36qualquer tipo de humor
13:37que seja ofensivo
13:38a ponto de
13:39prejudicar a pessoa
13:41X ou Y.
13:42Então,
13:42assim,
13:43tem determinadas piadas
13:46a respeito
13:47de pessoas negras,
13:48pessoas gordas,
13:49sei lá o que,
13:50que ofendem.
13:51Bom,
13:52tem,
13:53mas isso também
13:54vai muito
13:54da sensibilidade
13:55das próprias pessoas.
13:56Isso é subjetivo.
13:58Pode ofender a missa
13:59e pode não ofender o outro.
14:00Fala,
14:00não,
14:00eu vou,
14:01eu dou risada,
14:02eu sei que não tem nada
14:03a ver com isso
14:03e tal,
14:04e tudo bem.
14:05Então,
14:05esse é o problema.
14:07Então,
14:07se a gente não acha
14:08mais piada
14:08com o negro engraçado,
14:09a própria sociedade
14:10vai dar um jeito
14:11de falar,
14:11meu,
14:12essa piada não tem graça.
14:13Vão no show,
14:14ninguém vai rir.
14:15Essas piadas ainda existem
14:17porque elas se provocam
14:18um riso.
14:18É óbvio que,
14:19nesse contexto,
14:21isso pode se misturar
14:23com aquelas pessoas
14:24que,
14:24de fato,
14:24vão lá
14:25e se divertem
14:26com esse tipo de piada
14:27porque são racistas mesmo,
14:29porque são preconceituosas mesmo.
14:30Então,
14:31isso também acontece.
14:32Agora,
14:33como dizia a minha mãe,
14:35jogar a criança
14:35com a água do banho
14:36é um problema, né?
14:38Então,
14:38se tivesse que aplicar
14:39alguma pena
14:40que fosse a multa
14:41e não prender um humorista
14:43porque ele fez uma piada
14:45que determinada pessoa
14:46não gosta.
14:47Aí,
14:47o que vai acontecer?
14:48O pessoal da militância negra
14:50vai começar a ir nos shows
14:51de humor
14:52para começar a denunciar
14:54humoristas
14:55para o sujeito ser preso.
14:56Já pensou
14:57se isso começa a acontecer?
14:59Então,
14:59a gente começa a tornar
15:00o Estado brasileiro
15:01um Estado persecutório.
15:03Isso é muito complicado,
15:05entende?
15:06Então,
15:06assim,
15:07a gente deveria
15:08colocar o humor
15:09no lugar onde
15:09ele deve permanecer.
15:11No lugar da chacota,
15:12no lugar daquilo
15:12que não deve ser levado
15:13a sério,
15:14no lugar de que
15:15saiu da porta
15:16do teatro
15:17ou saiu do lugar
15:18onde está acontecendo
15:19um filme,
15:20sei lá,
15:21você esquece aquilo,
15:22acabou.
15:23Aquilo ali
15:24é uma situação
15:25sui generis
15:27na qual o humor
15:29é aceito.
15:30Saiu dali,
15:31todo mundo tem que saber
15:32que aquela piada
15:33não faz sentido
15:33fora daquele lugar,
15:35entende?
15:36Mas isso é um processo
15:37de educação,
15:38né?
15:38Agora,
15:38sair prendendo as pessoas
15:40porque fazem piada
15:41é um negócio,
15:41para mim,
15:42que passa um pouco
15:43do ponto.
15:45Perfeito.
15:45A gente tem até
15:46uns questionamentos
15:47aqui no chat.
15:48Deixa eu ver se o Matheus
15:49consegue recuperar aqui
15:50o nosso superchat
15:50do Heitor,
15:52que ele fala,
15:52ele até faz uma pontuação
15:54também sobre a parte
15:55dos artistas, né?
15:56Quem escreveu música,
15:57das músicas,
15:58que tem alguma ligação
15:58com isso.
15:59Matheus,
16:00você consegue recuperar
16:00para mim o superchat
16:02do Heitor?
16:05Vamos ver se a gente
16:05consegue aqui.
16:07Aqui ele botou aqui,
16:07nada impede
16:08do Ministério Público
16:09de processar alguém
16:10por direito coletivo
16:11contra uma piada
16:11ou fala.
16:12Vamos prender Chico Buarque?
16:14Esse foi o questionamento
16:15aqui do Heitor,
16:16que foi,
16:17que enviou aqui
16:17via superchat.
16:19O professor Jorge Marcos
16:21já está de volta?
16:22Me escuta melhor?
16:25Mas eu não consegui
16:26resolver o problema,
16:27não parece que o fone
16:28está descarregado.
16:30Nunca uso,
16:32nunca uso,
16:32não carrego.
16:34Mas vamos,
16:35eu acho que dá para seguir.
16:37Vocês estão me ouvindo
16:38bem, né?
16:39A gente escuta bem.
16:40Deixa eu aproveitar
16:41que o senhor está aqui,
16:42se o senhor estiver me escutando,
16:44explica para quem está aqui
16:45nos assistindo
16:45nesse momento,
16:46o que é injúria racial?
16:48Eu sei que muita gente
16:48está acompanhando aqui
16:49esse chat,
16:50tem dúvidas sobre isso,
16:51tem como explicar para a gente
16:52o que é injúria racial
16:53e por que entrou aqui
16:55na nova lei
16:56que foi sancionada agora.
16:57Bem,
16:58a injúria
16:58é a prática
17:00da desqualificação
17:01da pessoa,
17:02né?
17:03Falando em uma linguagem
17:04mais didática,
17:05sem a linguagem jurídica,
17:08para as pessoas entenderem,
17:10né?
17:10A injúria
17:12é a desqualificação
17:13que se faz
17:14de uma pessoa.
17:15É uma atribuição
17:16de desqualificação
17:18que se faz
17:19com relação
17:20a um terceiro.
17:20A injúria racial
17:22é quando essa
17:23desqualificação
17:25tem cunho racial.
17:29Né?
17:31Quando a gente...
17:33Então,
17:34quando eu uso
17:35de termos racista
17:37para desqualificar
17:40uma pessoa,
17:42então,
17:42é injúria racial.
17:43Exemplo,
17:44esse negro não presta.
17:49Entende?
17:49Então,
17:50percebe que a desqualificação
17:51tem o cunho racial,
17:53né?
17:54E eu não sei
17:56se nós vamos chegar lá,
17:57não sei quanto tempo
17:58nós temos de programa,
17:59Kis,
18:00mas é importante
18:01que a...
18:03o projeto,
18:05a lei em si,
18:06ela surgiu lá
18:07em 2015,
18:09quando...
18:10quando...
18:11antes de 2015.
18:12Na verdade,
18:13já era uma coisa
18:14que me incomodava muito.
18:15essas injúrias
18:19que aconteciam
18:20em espaços públicos
18:22ou privados,
18:24abertos ao público,
18:25teatro,
18:26cinema,
18:26cinema menos,
18:27teatro,
18:28estádio de futebol,
18:30principalmente.
18:32E aí,
18:32aquele episódio
18:33envolvendo o goleiro,
18:35eu me salvo engano,
18:35a goleira aranha
18:36que jogava no Santos,
18:37e isso me foi muito forte
18:40porque eu sou atleticano,
18:42né?
18:42E aí,
18:42nessa condição
18:43de Atlético Mineiro,
18:44eu falei,
18:44não,
18:44eu vou defender esse cara,
18:46né?
18:47E...
18:48e no jogo
18:49lá em Porto Alegre,
18:50ele era chamado
18:51de macaco,
18:53ele era chamado
18:53de macaco,
18:54com gestos
18:55e...
18:56pra ele...
18:58parece-me
18:59que identificaram
19:00a autora,
19:01tá?
19:02A autora direta
19:03da injúria.
19:05Mas quantas,
19:06quantos outros
19:07aprovaram
19:08aquele gesto
19:09com sorrisos,
19:11com aplausos,
19:13ou mesmo
19:13com silêncio?
19:16Então,
19:16nós começamos
19:17a pensar,
19:19nós vamos discutir,
19:19eu chamei a deputada
19:20Tieron,
19:21na época,
19:21a deputada Tieron
19:22e o deputado Bebeto,
19:23e nós começamos
19:24a discutir
19:25essa situação
19:26com ele,
19:27e eles falaram,
19:27Jorginho,
19:28assim que ele me fala,
19:29assim que me tratava,
19:30Jorginho,
19:31analisa isso pra gente.
19:33Foi aí,
19:34então,
19:34que surgiu a ideia
19:35de criar
19:35essa figura
19:37penal,
19:38da injúria
19:39racial
19:40coletiva,
19:42que é
19:43a injúria
19:44que é
19:46praticada
19:47em espaços
19:48públicos
19:49ou privados
19:50abertos públicos,
19:51onde haja
19:52aglomeração
19:53de pessoas.
19:55Por quê?
19:56Porque essa injúria
19:58não está sendo feita
19:59não é só
19:59para aquele jogador,
20:01mas é toda
20:02a coletividade.
20:04Eu me senti
20:05ofendido
20:06por ser negro
20:07vendo,
20:09assistindo
20:09na televisão,
20:10uma moça
20:11loira
20:12chamar o
20:12Aranha de Negro.
20:14E eu creio
20:15que esse sentimento
20:16o professor
20:16Paulo também
20:17o teve,
20:17porque
20:18é o tipo
20:21de conduta
20:23que as pessoas
20:24pensam que ele
20:25ofende só
20:26a pessoa
20:28atingida,
20:29mas não.
20:30Ele ofende
20:30cada um
20:32que se sente
20:33pertencente
20:34daquele grupo
20:35e principalmente
20:36ele ofende
20:37cada um
20:38de nós
20:39que tem
20:40como princípio
20:42de vida
20:43o respeito
20:44e a empatia
20:46pelo ser humano.
20:50Mas aí
20:51eu volto
20:51de novo
20:52antes de passar
20:52para o professor
20:53Paulo Cruz
20:53que eu tenho
20:53um novo questionamento
20:54para ele
20:55aqui no
20:55superchat,
20:56mas eu volto
20:57de novo
20:57com a seguinte
20:58pergunta.
20:59Uma multa
20:59nesse caso
21:00não resolveria?
21:01O senhor acha
21:02mesmo que a prisão
21:02é a medida
21:03mais acertada
21:04para esses
21:05casos específicos?
21:06Uma multa
21:07talvez como
21:07uma medida
21:07pedagógica?
21:10Olha que isso.
21:11Eu não vou
21:11relativizar
21:12a conduta
21:13não, tá?
21:14Eu não vou
21:14relativizar
21:15a conduta
21:15não, tá?
21:16Até mesmo
21:17porque
21:18uma multa
21:19depende.
21:21Aí nós
21:21teríamos que
21:22discutir
21:22o valor
21:22dessa multa
21:23porque também
21:24condutas
21:25penalizadas
21:26que são
21:26punidas
21:26por multa
21:27não resolve.
21:28Por exemplo,
21:29vou dar um
21:30exemplo aqui.
21:30Eu defendo,
21:31eu sou um
21:32defensor
21:32fervoroso
21:33do voto
21:34facultativo,
21:35mas o voto
21:36do Brasil
21:37é obrigatório.
21:38Então aí
21:39fica logo
21:39aí uma discussão
21:40filosófica
21:41e jurídica.
21:42é direito
21:43ou é dever.
21:44E
21:45por ser
21:45obrigatório
21:46as pessoas
21:46que não votam,
21:48o que acontece
21:48com elas?
21:49Elas recebem
21:50uma multa.
21:51Uma multa,
21:52recebe uma multa.
21:53Multa,
21:54acho que não são
21:54cinco reais.
21:56Aí eu pergunto
21:57para você,
22:00as pessoas,
22:02milhares e milhares
22:03de pessoas
22:04por diversos
22:05motivos
22:05não vão
22:05exercer
22:06aquele que
22:07para mim
22:08é um dos maiores
22:09direitos da
22:09cidadania
22:10que é
22:10o voto.
22:13E é o voto.
22:14Uma coisa
22:15ela ia exercer
22:15por vontade
22:16ou por obrigação,
22:17isso é outra discussão.
22:19Mas não vão exercer,
22:20hoje é obrigatório,
22:21ela não vai exercer,
22:22ela pagou a multa.
22:23E nós sabemos
22:25o quanto
22:26o professor Paulo
22:28talvez tenha mais
22:29informações sobre isso.
22:30Nós sabemos,
22:31professor,
22:32o quanto a ausência
22:33do eleitor
22:34nas urnas
22:35contribui
22:37para ter
22:37esse processo
22:38dessa democracia
22:40meia fragilizada
22:42que nós temos
22:43no Brasil.
22:46Então,
22:46eu ainda
22:48apesar
22:49reforço
22:50aqui
22:50o meu caráter
22:51minimalista
22:53da ação penal.
22:55Direito penal
22:56para mim
22:56é mínimo.
22:59Direito penal
23:00para mim
23:00não pode ser
23:01direito penal
23:02de inimigo.
23:03Eu não quero,
23:04não gostaria
23:04que pensasse
23:05porque quando eu
23:06defender isso
23:07eu sou adepto
23:08à teoria
23:09do direito penal
23:09do inimigo.
23:10Não,
23:11eu sou adepto
23:12do direito penal
23:12mínimo.
23:13Mas eu acho
23:14que nesse caso,
23:15pela gravidade
23:16do caso,
23:16pela ofensa,
23:17pelo bem jurídico
23:19que ele atinge,
23:20a multa
23:21só é pouco.
23:23Podemos até
23:24passar para a multa
23:26daqui a um tempo,
23:28daqui a uns anos,
23:28para a gente sentir
23:29que essa medida
23:30mais coercitiva
23:31está fazendo efeito.
23:32Porque,
23:33a meu ver,
23:34o que soluciona
23:36essa questão
23:36é a educação,
23:38é a educação,
23:39é a educação.
23:43Perfeito.
23:44Professor Paulo Cruz,
23:45devolvo a palavra
23:46para o senhor
23:47comentar também
23:48a fala do professor
23:49Jorge Marcos
23:50e para perguntar,
23:51o senhor acha
23:51que a lei
23:51trouxe algum prejuízo?
23:55Não,
23:56eu acho que ela
23:56não trouxe
23:57nenhum prejuízo
23:58ainda,
23:58eu acho que a lei,
24:00agora,
24:00o modo como ela
24:01era aplicada,
24:02eu entendo
24:03a dificuldade,
24:04quer dizer,
24:05o modo como ela existia
24:06anteriormente,
24:07essa separação
24:08entre injúria
24:09e racismo,
24:10colocando injúria
24:11dentro do código penal
24:12e tal,
24:13e aí todos os casos
24:14eram enquadrados
24:15como injúria
24:15e não havia punição
24:16de racismo no Brasil,
24:17então isso é um problema,
24:19então eu reconheço
24:20o problema
24:21e a dificuldade
24:22de se enquadrar,
24:23então por exemplo,
24:24aquilo que o Jorge
24:25acabou de dizer,
24:26o doutor,
24:26ah, negro não presta,
24:28para mim isso é racismo,
24:29falou negro não presta,
24:32você já está condicionando
24:34a existência
24:34daquela pessoa
24:35à inferioridade,
24:37então para mim
24:37isso é racismo,
24:38não é nem injúria,
24:39por outro lado,
24:40então por exemplo,
24:41no estádio de futebol,
24:43o mesmo exemplo
24:44que o doutor Jorge usou,
24:45chega no estádio
24:46a pessoa xingando
24:47a outra de macaco
24:48e não sei o que
24:48e tal,
24:48então isso para mim
24:50tem uma série
24:51de questões subjetivas
24:53que envolvem
24:53um jogo de futebol,
24:56a pessoa pode estar
24:57simplesmente xingando
24:58daquele modo,
24:59porque ela quer
25:00ofender mesmo
25:01a pessoa,
25:01ela quer atingir
25:02a pessoa,
25:03desestabilizá-la
25:04em campo,
25:05etc e tal,
25:05então eu enquadraria
25:07isso como injúria
25:08no sentido de que
25:10ela não está
25:11desqualificando
25:12a existência
25:13da pessoa
25:14e prejudicando
25:15essa pessoa,
25:16sei lá,
25:16para conseguir
25:16um emprego,
25:17mas ela está
25:18simplesmente ofendendo,
25:20então nesse caso
25:21se encontra
25:21em injúria,
25:22aí se a gente
25:23salta dessa
25:24qualificação
25:25da injúria
25:25pessoal
25:27para uma injúria
25:27coletiva,
25:29aí o que a gente faz?
25:29A gente prende
25:30todas as pessoas
25:31que estão ali
25:31em volta,
25:32que não falaram nada
25:33ou que sorriram,
25:35então o meu problema
25:36é exatamente esse,
25:38como é que a gente
25:38vai equilibrar isso?
25:40Eu tenho medo
25:40que as pessoas
25:41comecem a ser presas
25:42e meio
25:43indiscriminadamente,
25:45porque a gente
25:45vai ter que,
25:46isso é tudo
25:47interpretação,
25:49a gente vai precisar
25:49interpretar isso,
25:51porque os casos
25:52de racismo
25:53de fato,
25:54eles são
25:54em grande medida,
25:56como o próprio
25:56doutor Jorge falou,
25:57escamoteados,
25:58é difícil a gente
25:59perceber quando ele
26:00está acontecendo,
26:01às vezes é numa
26:02entrevista de emprego,
26:03você não percebe,
26:05a pessoa que está
26:05te entrevistando,
26:06ela está olhando
26:06para você e está
26:07olhando para a pessoa
26:08branca que está lá
26:09junto na entrevista
26:10e já está
26:11te descartando,
26:12mas você não percebe,
26:14você pode perceber
26:14pessoalmente
26:16algum desdém,
26:17alguma coisa,
26:18mas até você conseguir
26:19provar que aquilo
26:19foi um caso
26:20de racismo,
26:21é muito complicado,
26:22então,
26:23tentando ser,
26:25mesmo não sendo
26:25do direito aqui,
26:27não sendo advogado,
26:27tentando ser
26:28o mais garantista
26:29possível,
26:31eu tenho um problema
26:32com esse equilíbrio,
26:34eu acho que a gente
26:34está num momento
26:35que a discussão
26:38de racismo
26:39está muito acalorada,
26:41então,
26:41a gente pode,
26:42com isso,
26:43cometer excessos,
26:44então,
26:44eu não acho
26:45que a lei
26:45não deveria existir,
26:47eu não acho
26:47que ela,
26:48eu entendo
26:49o problema
26:49de se qualificar
26:51injúria e racismo,
26:53mas eu tenho
26:53um problema
26:54com essa aplicação
26:55agora,
26:56tão rigorosa,
26:58para situações
26:58que são tão
26:59confusas
27:00nesse nosso Brasil,
27:02tão miscigenado,
27:03tão misturado
27:03e tão complexo
27:05que é
27:06no nosso país.
27:08O senhor avalia,
27:09professor Paulo Cruz,
27:10que precisava ter
27:11um debate maior
27:12sobre essa lei,
27:13até para não ter
27:13um encarceramento
27:14em massa?
27:16Eu acho que o debate,
27:17assim,
27:18o debate já passou
27:19da hora,
27:19então, assim,
27:20eu nem acho que,
27:21ah, precisamos
27:22debater mais,
27:23eu acho que a gente
27:23tem um problema
27:24grave no Brasil,
27:26que é a gente ainda
27:27hoje tem que ficar
27:27discutindo esse assunto,
27:28mas a gente precisa
27:29discutir esse assunto,
27:31eu acho que,
27:32e nós concordamos
27:33aqui,
27:34eu acho que os três,
27:35que a solução
27:36é a educação.
27:37Agora,
27:38como a gente
27:39trabalha
27:39esse tipo de educação?
27:40Eu acho que a gente
27:41tem um problema
27:42de como aplicar
27:43medidas pedagógicas
27:45que de fato
27:45eduquem.
27:46Então, por exemplo,
27:46ah, nós temos
27:47uma lei
27:47que agora obriga
27:49o ensino
27:49de cultura afro-brasileira
27:51nas escolas.
27:52Ah, tá bom,
27:53beleza,
27:53eu assino uma lei,
27:54aí você não tem
27:54professor qualificado,
27:56você não tem
27:56material didático,
27:58você não tem
27:58ninguém capaz
27:59de fazer isso,
28:00então aí complica.
28:01Então,
28:02uma medida que eu acho
28:03que seria importantíssima
28:05e eu repito ela
28:05sempre que eu vou
28:06falar sobre isso
28:07em algum lugar.
28:08Então,
28:08eu não sei se quem
28:09está assistindo a gente
28:10percebeu,
28:11eu tenho uma caneca
28:11aqui do André Rebouças,
28:13que para mim
28:13é o maior brasileiro
28:14de todos os tempos,
28:15disparado,
28:16sim.
28:17E é uma pessoa
28:18que ninguém conhece,
28:19então assim,
28:20algumas pessoas conhecem,
28:21algumas pessoas sabem
28:21o nome da rua
28:22aqui em São Paulo,
28:23mas foi um grande engenheiro,
28:25foi um gênio brasileiro
28:27que pouca gente conhece.
28:29Agora,
28:29você tinha que pegar
28:30essa história
28:31do André Rebouças
28:32e levar para uma escola
28:33de elite,
28:34onde aquele menino
28:35que nasce dentro
28:36de um círculo
28:36que só tem pessoas brancas,
28:38ela vive a vida inteira
28:39dentro de um círculo
28:40de amizade só
28:41de pessoas brancas
28:41e ela só vê negro
28:42trabalhando para os pais dela,
28:44é o empregado,
28:45é o motorista,
28:46não sei o quê,
28:47então ela coloca já
28:48no imaginário dela
28:49o negro na posição
28:50de subalternidade,
28:51ela nunca vê um negro
28:52numa posição de destaque,
28:54então a educação
28:56dessa criança
28:56vai ser prejudicada
28:57nesse sentido
28:58porque ela nunca vê
29:00um negro
29:00que não na posição
29:01de subalterno.
29:02Agora,
29:03começa a levar
29:03essas histórias
29:04para a escola,
29:05olha,
29:06nós tivemos aqui
29:06um médico
29:07como Juliano Moreira
29:08que foi um gênio brasileiro
29:11que recebeu prêmio
29:12no Japão,
29:13recebeu prêmio na Alemanha
29:14na virada do século XIX
29:15para o século XX,
29:16ninguém conhece,
29:18ninguém conhece
29:18o Teodoro Sampaio
29:19aqui que foi
29:20um dos fundadores
29:21da Escola Politécnica
29:22de São Paulo
29:23que era negro,
29:24ninguém sabe,
29:24os gente estuda na Poli
29:25e não sabe
29:26que o Teodoro Sampaio
29:27foi um engenheiro negro
29:28brasileiro
29:29que foi um dos fundadores
29:30da Politécnica.
29:31Então,
29:32esse processo de educação
29:34que é muito necessário,
29:36ele vai ficando
29:37para trás
29:37e a gente vai tentando
29:39resolver o problema
29:40que está lá na ponta,
29:41que é o problema
29:41que a lei
29:42está tentando solucionar.
29:44Então,
29:44acho que a gente
29:44vai ficar patinando nisso,
29:46a lei vai acabar
29:47não resolvendo o problema,
29:48vai acabar punindo pessoas
29:50à torta e à direita.
29:52E o problema
29:52que é o problema
29:53de fato,
29:54o problema de origem,
29:56a gente está tratando dele
29:57com um certo desdém
30:00ou com uma certa
30:01leniência com o assunto
30:03e não resolve
30:04onde é o problema está.
30:05E eu falo isso
30:06como um professor
30:06de escola pública,
30:08eu sou professor
30:08de escola de ensino básico,
30:10então eu sei
30:11que essas coisas estão lá,
30:13eu sei a falta
30:13que isso faz da escola
30:15e eu sei
30:15que pouquíssimos professores
30:17têm preparo
30:18para lidar com isso
30:19em suas aulas.
30:20Então,
30:21é um problema grave
30:22de educação para mim.
30:26Eu tenho que concordar
30:28com o senhor,
30:29professor Paulo,
30:29sobre justamente isso.
30:31A educação é primordial
30:33nesse momento
30:33e infelizmente,
30:35a essa altura
30:35do campeonato,
30:36a gente tem que estar
30:37voltando a discutir
30:38algo que é primário,
30:39que é para ter
30:40de ser ensinado
30:41logo nos primeiros anos.
30:43Enfim,
30:43devolvo a palavra
30:44para o professor
30:45Jorge Marcos
30:46para comentar também,
30:47inclusive,
30:47a fala do professor
30:48Paulo Cruz.
30:49É muito interessante
30:50ouvir o professor
30:51Paulo Cruz,
30:52muito interessante.
30:55Eu tendo também
30:57a concordar
30:58com as posições dele.
31:01Só que a lei,
31:02professor,
31:03a lei
31:03muito recente,
31:05né?
31:06Vamos,
31:07eu acho que seria
31:09prudente
31:09que nós aguardássemos
31:10um pouquinho,
31:11né?
31:12Para ver o desenrolar
31:13das coisas
31:14e para ver
31:16essa outra questão
31:17que o senhor coloca
31:18de que até que ponto
31:20ela não é uma lei abusiva.
31:22Eu acho que nós temos
31:23que estar abertos
31:24para isso,
31:25né?
31:26Da mesma forma
31:27que nós temos
31:28que estar abertos
31:29a acompanhar
31:34essa questão
31:36da efetividade
31:38da norma,
31:38né?
31:39A norma tem
31:40que ter efetividade
31:41porque se não
31:42ela vai acabar
31:43caindo no descrédito
31:44da sociedade
31:45e não vai ser
31:47aplicável,
31:48né?
31:49Não vai ser
31:50aplicável.
31:50Então,
31:51antes mesmo
31:52de,
31:53antes mesmo
31:54de aferir
31:56o resultado
31:57da norma,
31:57o que se tem?
31:58Se tem,
31:59é um movimento
32:00para poder
32:01acabar com a lei
32:02e diminuir a lei.
32:04E isso acontece
32:05muito,
32:05por exemplo,
32:06professor,
32:06com o Estatuto
32:07da Criança e do Adolescente.
32:09O Estado
32:10não efetiva
32:11as medidas.
32:13O Estado
32:14é omisso
32:15com relação
32:16à implementação
32:17das medidas
32:18previstas
32:18da norma.
32:19e hoje
32:20o que acontece?
32:21É,
32:22absolutamente
32:23em descrédito,
32:25a sociedade tem
32:25absoluto descrédito
32:26pelo Estatuto
32:27da Criança e do Adolescente.
32:28Então,
32:29eu acredito
32:30que seria prudente
32:31que se aguardasse
32:34mais um pouco,
32:35né?
32:37Eu acho
32:38que se houver
32:39abuso,
32:40se a lei
32:41de alguma forma
32:42trazer
32:43para o Estado
32:45um poder
32:46maior
32:46do que
32:47a sociedade
32:48originalmente
32:50concebia
32:52ou pretendeu
32:53conceber,
32:54eu acho
32:55que nós devemos
32:56voltar a discutir,
32:57sim.
32:57para mim,
32:58eu sou daquele
33:00que eu acho
33:00que a sociedade
33:01vive
33:03uma dinâmica
33:04evolutiva
33:05efervescente,
33:07né?
33:07Nada deve ser eterno,
33:09tudo tem que ser
33:09repensado.
33:11Eu até acredito
33:11e defendo
33:12que eu deveria
33:13ter no Congresso
33:14Nacional
33:15uma comissão
33:16de revisão
33:17de normas,
33:19sabe?
33:20Uma comissão
33:21de revisão
33:21de normas.
33:22Olha,
33:22isso aqui
33:22não se aplica
33:23mais.
33:24Então,
33:25não tem sentido
33:26estar no
33:27ordenamento
33:27jurídico.
33:28Isso aqui
33:28não está.
33:29A efetividade
33:30pretendida
33:31não é essa.
33:33Está exacerbando.
33:34Então,
33:35que revise
33:35essa norma.
33:36Eu acho
33:37que seria
33:37interessante
33:38nós termos
33:38no Congresso
33:39Nacional
33:39uma comissão
33:40de revisão
33:41de normas.
33:41Não aquela
33:42esporádica
33:43que tem lá
33:43que não dá
33:44nada.
33:45Um outro
33:45ponto
33:46do amigo
33:46professor
33:47Colóquio,
33:47eu só queria
33:47reforçar,
33:48professor,
33:49é a questão
33:50do desconhecimento
33:52de grandes
33:53brasileiros
33:55e brasileiros
33:56negros
33:57e negras
33:58que
33:58são
34:00ou são
34:00absolutamente
34:01que contribuíram
34:02muito para o país
34:03e que são
34:04absolutamente desconhecidos
34:05ou ignorados.
34:07É Luiz Gama.
34:08Quase ninguém
34:09sabe quem foi
34:10Luiz Gama
34:12e a contribuição
34:13que ele deu.
34:13Dandara.
34:15Essa,
34:15então,
34:16eu acho que são,
34:17pode contar os dedos,
34:18um, dois, três,
34:18sabe?
34:19Aqueles que sabem
34:20quem foi Dandara
34:21e a contribuição
34:21que ela deu
34:22e outras.
34:23Nós sabemos
34:23que tem outras
34:24e muitos outras.
34:26Aquela deputada,
34:26me falha a memória
34:27que agora o nome dela,
34:29primeira deputada negra
34:30eleita em Santa Catarina,
34:32gente,
34:33isso é um marco
34:33fantástico
34:34e,
34:35sabe,
34:37as nossas escolas
34:38não,
34:39não,
34:40não,
34:40não discutiam isso.
34:42E porque o professor
34:43também colocou
34:44com muita propriedade
34:46essa questão.
34:47Não adianta.
34:48Ah,
34:48é,
34:49é,
34:50creia-se,
34:51o instrumento,
34:53mas não tem quem,
34:55as escolas
34:56não tem quem,
34:57quem efetiva
34:58esse instrumento.
34:58Então,
34:59não adianta,
34:59não adianta.
35:00Cai no descrédito.
35:02É pior do que criar,
35:03é cair no descrédito.
35:06Professor Paulo Cruz,
35:07para as suas palavras finais,
35:08esse debate
35:09é um debate curto mesmo,
35:10a gente tenta lançar a luz
35:11de uma maneira breve
35:12sobre os temas
35:13que mais impactam,
35:14que mais importam
35:15para a sociedade
35:15e eu devolvo a palavra
35:17para o professor Paulo Cruz
35:18para as considerações finais.
35:21Bom,
35:21eu agradeço o convite,
35:23obrigado,
35:24Kis,
35:24obrigado,
35:24Antagonista,
35:26foi um prazer conhecer
35:27o doutor Jorge,
35:28é sempre bom conversar
35:30com pessoas que são
35:31inteligentes e capazes
35:32de expor o seu pensamento,
35:35eu como professor de filosofia
35:36fico sempre feliz
35:37quando encontro alguém
35:37que consegue expor
35:39o que pensa
35:39e a gente entende.
35:40Então, isso é uma coisa
35:42muito louvável.
35:43E eu acho que é isso,
35:44o debate ainda é um debate
35:45efervescente,
35:47eu acho que a gente está
35:48num momento do país
35:49que essa discussão
35:50é necessária,
35:51então dizer que não é necessário
35:53também é colocar o programa
35:55para debaixo do tapete,
35:56é uma discussão
35:57que está presente na sociedade,
35:59as pessoas negras
36:00continuam sofrendo com isso
36:01e as pessoas que não são negras,
36:04elas têm que ter
36:05a compreensão
36:06de que esse debate
36:08ainda é importante.
36:09Então, todo mundo
36:10tem que se informar,
36:11todo mundo tem que participar,
36:12todo mundo tem que colocar
36:13aquilo que pensa,
36:14mas a gente tem que entender
36:15uma coisa,
36:16não é algo que a gente
36:17deve diminuir.
36:18A gente pode discutir,
36:19a gente pode discordar,
36:21mas diminuir o problema,
36:22achar que ele não existe,
36:23o que é mimimi,
36:24como se diz atualmente,
36:26isso é de fato um erro.
36:27Então, peço que me acompanhe
36:29quem gosta
36:30nas minhas redes sociais,
36:32onde eu estou sempre dando
36:33alguns pitacos
36:34a respeito disso.
36:36Obrigado aí a todos.
36:38Perfeito.
36:38professor Paulo Cruz,
36:39até porque ninguém
36:40entende a dor do outro,
36:41por mais que a gente
36:42tente se colocar
36:43no lugar do outro,
36:44é impossível você ter certeza
36:46de que o outro
36:46está sentindo assim
36:47ou de outra forma.
36:48Eu falo isso também,
36:50que a gente enfrenta isso
36:52enquanto mulher,
36:53enquanto nordestina também,
36:54que sou,
36:55e a gente sabe
36:56das dificuldades
36:56que a gente enfrenta,
36:59nunca é mimimi,
37:00e eu tenho que concordar
37:01com o professor Paulo.
37:02Devolvo a palavra
37:03para o professor Jorge Marcos,
37:05para as considerações finais.
37:06É isso que isso.
37:07A dor é de quem tem,
37:08né?
37:09A dor é de quem tem.
37:10E essa dificuldade
37:11de se trabalhar,
37:13de se discutir,
37:15de debater na sociedade,
37:16ela ocorre
37:17até nas mais altas esferas
37:19das instituições brasileiras.
37:21Por exemplo,
37:22a OAB.
37:23Eu,
37:24eu,
37:24eu,
37:25esse ano,
37:26eu me ofereci
37:28para ser candidato
37:29à Comissão de Diversidade Sexual
37:32da OAB
37:33ou a Seccional
37:33lá de Brasília.
37:35A,
37:35a candidata a presidente,
37:37ela comemorou
37:38como se tivesse,
37:40sabe,
37:40recebido um prêmio fantástico.
37:43Eu perguntei,
37:43mas por que motivo
37:44da colaboração,
37:45doutora?
37:45Ela me disse,
37:46porque nunca,
37:47em nenhum momento
37:48aqui da nossa Seccional,
37:50alguém quis
37:51presidir,
37:53se ofereceu
37:53para presidir
37:54essa comissão.
37:55Aí eu encarei
37:56esse desafio
37:56de presidir
37:57a Comissão de Direitos,
37:59de Direito
37:59à Diversidade Sexual
38:00da OAB.
38:01da Seccional
38:02de Samambaia,
38:03que é onde eu moro.
38:05Mas não conseguimos
38:06avançar.
38:08Lá da nossa
38:09Seccional,
38:09eu não sei exatamente
38:10o número de advogados
38:11e inscritos,
38:12mas são muitos,
38:13são muitos,
38:14passam dos milhares.
38:15Eu tenho
38:16outros dois colegas
38:18comigo,
38:19com uma proposta
38:20de trabalho interessante,
38:21mas que eu não
38:21consigo desenvolver
38:23por absoluta
38:24falta de
38:25resguardo.
38:27E isso acontece,
38:28né?
38:29Isso acontece
38:29também no movimento
38:31negro,
38:33isso acontece
38:34no movimento
38:36de mulheres,
38:37apesar de estarem
38:38mais estruturados,
38:39né?
38:39Mas é isso,
38:40a dor é de quem tem,
38:42tá?
38:42Quem sente a dor
38:43é que tem que procurar
38:45os meios
38:45pelos quais
38:46deve saná-la.
38:47Eu agradeço
38:48profundamente
38:49a participação,
38:51foi um prazer enorme
38:52conversar com o senhor,
38:53Paulo.
38:53autorizo aqui
38:55a Cris passar
38:55o meu contato
38:56para o senhor,
38:57que eu acho que
38:58pessoa como você,
38:59a gente tem que estar,
39:00tem que estar na nossa
39:01listinha de agenda,
39:03e eu me coloco,
39:04Cris,
39:04à sua disposição,
39:05sempre que você achar
39:06que posso contribuir.
39:08Quero pedir desculpas
39:09aos nossos,
39:10a quem está nos vendo
39:11pelo enquadramento,
39:13porque hoje foi tudo
39:13muito improvisado,
39:15eu estou aqui,
39:16eu estou aqui
39:17abaixo de alguns zeros,
39:19tá?
39:19caindo neve,
39:21eu tive que improvisar
39:22o teu fuso horário,
39:23as crianças
39:24ainda estavam dormindo,
39:25eu vi vários locais
39:27aqui onde eu poderia
39:27ficar melhor enquadrada
39:29para poder fazer
39:30essa fala,
39:31mas essas crianças,
39:32elas não,
39:33se não for um lugar
39:34trancado,
39:35onde elas não têm acesso,
39:36elas não vão deixar
39:37eu falar.
39:39Então,
39:39peço desculpa
39:40aos nossos,
39:41quem está nos vendo
39:42por isso,
39:43e dizer que da próxima vez
39:44a gente vai fazer
39:45um enquadramento perfeito
39:46e com estilo cultural
39:48e acadêmico,
39:48como o professor Paulo fez.
39:50Muito obrigado.
39:52Perfeito.
39:53Os dois falaram muito bem,
39:55muitíssimo obrigada
39:55pela participação,
39:56é sempre bom trazer
39:58essas fontes aqui
39:58para quem está nos assistindo
40:00ter opinião sobre os dois lados,
40:02né,
40:02e formar a sua própria opinião.
40:03Obrigada pela gentileza.
40:18Obrigada pela gentileza.
40:20Obrigada pela gentileza.
40:21Obrigada pela gentileza.
40:22Obrigada pela gentileza.
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