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00:01Olá, bom dia, bem-vindos a mais um Ponto de Vista.
00:05Esta semana vamos falar de um problema que preocupa cada vez mais, a violência no trânsito.
00:11É cada vez maior o número de pessoas acidentadas e até mortas no trânsito das grandes cidades brasileiras.
00:19É para chamar a atenção para essa questão que se faz todo ano a campanha Maio Amarelo,
00:25para conscientizar as pessoas para a gravidade do problema.
00:30Para falar sobre isso, convidamos o Coronel Israel de Moura,
00:34Coronel da Reserva da PM de Pernambuco e especialista em trânsito.
00:39Coronel Moura, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite.
00:43Fernando, é uma honra estar aqui, principalmente para falarmos sobre segurança viária e salvar vidas.
00:48Campanhas como essa, Coronel, do Maio Amarelo, para a conscientização das pessoas,
00:53elas funcionam? Que resultados elas trazem?
00:56Bem, o que nós temos aí? Resultados, eles acontecem, mas como nós vamos falar dentro da nossa entrevista,
01:04temos que trabalhar a educação para o trânsito.
01:06O resultado virá, juntamente com o movimento Maio Amarelo, que nós vamos falar,
01:11mas atrelado principalmente, o atrelado é a questão da educação para o trânsito.
01:15Maio Amarelo é uma forma de alertar todo mundo para que as pessoas fiquem atentas,
01:19tanto é que é amarelo, né? Atenção, amarelo a atenção para que as pessoas fiquem mais atentas
01:24à forma como dirigem, é isso?
01:26Perfeito. Foi um movimento criado pela Organização das Nações Unidas, lá em 2010,
01:31para conscientizar os países signatários da ONU para que eles desenvolvam ações
01:35para diminuir essa questão, a pandemia, Fernando, com relação às mortes no trânsito.
01:41Primeiro, nós tivemos lá em 1962, o professor Leslie Norman apresentou a epidemia no trânsito,
01:48em 1962, e em 2004, a OMS apresentou à ONU um informe mundial, dizendo,
01:54olha, nós temos uma pandemia no trânsito.
01:56Em 2010, a ONU disse, temos que fazer alguma coisa, e apresentou justamente o plano global
02:01da primeira década da segurança viária, e apresentou os cinco pilares para que os países
02:06cumpram aqueles pilares para que possam alcançar, justamente, a diminuição da violência no trânsito.
02:13O senhor foi muitos anos, né, do batalhão de trânsito, BPTRAN, batalhão de trânsito aqui de Pernambuco.
02:18Dessa sua experiência no BPTRAN, o senhor conclui que a educação é fundamental
02:24para tentar combater o problema da violência do trânsito no Brasil, de modo geral?
02:29Fernando, veja, com experiência em outros países onde eu passei,
02:31Portugal, Itália, Bélgica, França, Espanha, México, Estados Unidos e Canadá.
02:36Eu não vou dizer que é fundamental, é primordial.
02:39Na França, desde 1957, que as crianças possuem educação para o trânsito, toda quarta-feira.
02:45Nos Estados Unidos, desde 1979.
02:47E em nosso país, nós não temos essa disciplina de educação para o trânsito.
02:51Tem que ser continuada.
02:54Não basta uma palestra somente na Semana Nacional do Trânsito.
02:57Tem que ser continuada.
02:58Aí sim, nós teremos uma geração que vai ter a consciência de que são cidadãos no trânsito.
03:04Fernando, enquanto nós estivermos formando motorista, isso não vai mudar.
03:09Interessante é que mesmo sem a gente ter ainda essa tradição de educação no trânsito nas escolas,
03:16muitas vezes ainda são os filhos que chamam a atenção dos pais para alguma coisa errada que ele está fazendo no trânsito.
03:22O senhor percebe isso?
03:23Perfeito.
03:23A nossa geração, nós não tivemos educação para o trânsito.
03:26Os nossos pais também.
03:27Mas o seu filho e a minha filha já teve a palestra.
03:30E aí, quando ela começa a ter aquela conscientização de cidadania, eles começam a dizer,
03:37pai, o semáforo, pai, não estacione aqui.
03:39Não passe o sinal vermelho.
03:40Não avance o sinal vermelho.
03:41Então, isso daí já é uma demonstração clara, irrefutável, que a educação é a solução e não a fiscalização.
03:50Amor, você fiscalizou durante muito tempo no batalhão de trânsito, muito tempo participou de operações em Portugal, na França.
03:57Olha, não adianta só fiscalizar, Fernando.
03:59A base é educar, porque a educação vai fazer com que você, quando pegar o seu veículo,
04:04seja de quatro rodas, duas rodas, três rodas, sendo ciclista, um usuário do trânsito,
04:09você entenda que você, ali, é um cidadão no trânsito.
04:13Agora, o senhor acha que isso está faltando mais presença nas escolas?
04:18Qual seria, o senhor falou aí o exemplo da França, que é toda quarta-feira os alunos têm aula de trânsito.
04:26Digamos que a gente não consiga isso, mas se a gente tivesse uma vez por mês, já faria alguma diferença?
04:32Faria uma diferença, mas para termos...
04:34Porque hoje nós temos praticamente uma vez por ano, né?
04:36É isso. Agora, faria diferença, mas para obtermos resultados positivos, para começar a confrontar,
04:44a inverter essa curva de mortandade no trânsito aí, tem que ser continuada.
04:50Como diz um grande especialista, o doutor Cássio Norato, o livro dele, Trânsito em Condições Seguras,
04:54ele fala sobre isso. A educação para o trânsito, ela tem que ser continuada e não pontual.
04:59É o que está acontecendo. Agora, outra coisa importante para nós tratarmos é quanto do valor do que é arrecadado
05:07com as multas de trânsito está sendo investido em educação para o trânsito.
05:12E isso é um problema sério.
05:13Acho que ninguém faz essas contas, né, Coronel?
05:16Tem que ser mostrado, transparência, Fernando.
05:18Porque a verba da multa de trânsito, ela vai para a educação, para a engenharia, para a fiscalização,
05:26a engenharia de campo, para o policiamento.
05:28Agora, a gente precisa saber do que é arrecadado uma prefeitura X, vamos supor, em São Paulo,
05:34quanto o gestor público investir em educação.
05:36Porque se ele for investir somente em fiscalização, deixando de lado a educação,
05:41isso não vai surter efeito.
05:42Estão aí os números estourando em nosso país, lamentavelmente.
05:46Coronel, existe no Brasil uma política de segurança viária.
05:51Ela é levada a sério pelos governantes?
05:53Por que os números de violência no trânsito só fazem aumentar?
05:56A impressão que dá é que essa política não é muito levada a sério.
06:02O senhor concorda, discorda? Qual a sua opinião sobre isso?
06:04Você está me perguntando se temos ou se não temos?
06:08Temos. Eu sei que temos.
06:09Eu quero saber se ela é seguida, se os governantes levam a sério essa política.
06:14Vou fazer uma revelação a você.
06:15Nós não temos uma política de segurança viária em nosso país.
06:18Na Suécia, eles têm a mais exitosa, inclusive, a filosofia visão zero, implantada lá desde 1979.
06:26Nós não temos uma política, como temos aqui, Fernando, a política de vacinação anual.
06:31Nós não temos, o Brasil não tem uma política de segurança viária.
06:34Então, um gestor faz uma coisa, o outro gestor vem e faz outra.
06:37Nós não temos uma política.
06:38E, a partir do momento que nós não temos uma política, certo, de Estado, é o que está acontecendo.
06:44Cada um chega e faz uma coisa.
06:46E aí nós não temos os resultados.
06:47Os números estão aí.
06:48O que é que está acontecendo, Fernando?
06:49Estamos colhendo os frutos da nossa incompetência.
06:53Coronel, Recife.
06:55O trânsito no Recife tem uma fama de ser o pior do país.
06:59E já há muitos anos que a gente ouve falar isso.
07:03Alguma coisa é feita para mudar isso, para mudar esse cenário e fazer com que o Recife
07:08não fique com esse primado de ser a cidade que tem o pior trânsito do país?
07:16Fernando, excelente pergunta.
07:18Eu nasci numa encruzilhada, da maternidade da encruzilhada.
07:21Por aí você tire.
07:22Quando eu fui para lá, quando a mamãe estava em trabalho de parto,
07:26eu fui, inclusive, no carro do comissariado.
07:28O trânsito era uma coisa.
07:30Recife é uma cidade portuária.
07:32O que é que acontece?
07:33Com o passar do tempo, os veículos chegaram.
07:36O pedestre foi para a rua.
07:37E aí não se preocupou com a mobilidade urbana.
07:40E hoje, o termo utilizado, Fernando, é a mobilidade humana.
07:43Busca-se a mobilidade humana sustentável.
07:47Recife hoje tem o trânsito que aí está.
07:49E a gente viu.
07:50Isso não foi da noite para o dia.
07:52Não foi no ligar de um interruptor.
07:54Isso veio sendo construído.
07:56E aí nós herdamos aí esse título.
07:59O pior trânsito do Brasil.
08:00O mais lento.
08:02E um dos piores no mundo.
08:04Precisou o quê?
08:05O gestor público ver que a mobilidade, ela é fundamental.
08:08Um dos meus professores, professor Cânido Malta, da USP.
08:12Ele disse o seguinte.
08:12A evolução no trânsito, a imobilidade no trânsito, o trânsito parado, causa deseconomia.
08:17Professor da USP.
08:19Causa perda de qualidade de vida.
08:21E outros fatores que desencadeiam justamente a cidade não crescer.
08:26A cidade não anda.
08:28Ela não está parada, mas também não anda.
08:29No trânsito do Recife é comum a gente perder.
08:31É o que está acontecendo.
08:32Meia hora, 40 minutos para andar 4, 5 quilômetros às vezes.
08:36Causa o quê?
08:37Segundo o professor Cânido Malta, deseconomia.
08:39Aí você deixa de estar em uma cidade e vai para outra.
08:42Então, enquanto o gestor público não pensar na mobilidade como uma questão social,
08:48isso não vai mudar.
08:50Ok?
08:51O senhor acha que está sendo feito alguma coisa?
08:54Tem alguém fazendo algum esforço para mudar essa realidade?
08:59Eu vejo aí ações pontuais.
09:02Mas precisávamos ter...
09:04Veja, o Brasil não vai cumprir a meta da ONU da segunda década.
09:08Não cumprimos da primeira década, 2011 a 2020, 2021 a 2030.
09:12Nós não vamos cumprir.
09:13Nós temos ações pontuais.
09:15Vamos lá.
09:16Fortaleza atingiu a meta da ONU.
09:17Rondônia atingiu a meta da ONU.
09:19Mas temos quantos estados no nosso país?
09:21Então, o Brasil não vai cumprir a meta da ONU.
09:23Mais uma vez.
09:24E nós começamos a entrevista aí perguntando onde nós estamos errando.
09:28Temos que parar, Fernando, o que nós estamos fazendo e dizer,
09:30olha, erramos.
09:32Do mesmo jeito, aquele 7x1, lembra?
09:35Erramos.
09:35Eu não quero nem falar do 7x1, certo?
09:38Erramos.
09:39Começamos a mudar.
09:40Troca técnico, volta.
09:41É a mesma coisa.
09:41Só que no trânsito, o 7x1 são vidas que estão sendo perdidas.
09:45Crianças que estão sendo vitimadas aí, sendo conduzidas em motocicleta pelos pais.
09:50A gente tem que parar urgentemente.
09:53Um pacto pela vida no trânsito.
09:56Eu posso dizer assim.
09:57Quais as consequências para a sociedade quando o número de acidentados e mortos no trânsito só aumenta?
10:04O que é que a sociedade vai...
10:06De que forma ela vai pagar por esse aumento desenfreado, digamos, de acidentados e mortos no trânsito?
10:14Eu vou começar falando, primeiramente, Fernando, pela família.
10:18O cidadão fazendo aquela coisa chamada grau, ele sofre uma lesão.
10:23Aí vai colocar a aranha na perna.
10:25Grau, vamos explicar, é aquele movimento que os motociclistas fazem.
10:29Que ficam numa roda só.
10:30É.
10:31Então ele sofre a lesão e vai para a restauração e coloca a aranha na perna.
10:36A esposa dele, só ele e a esposa, vai ter que sair do emprego.
10:39Eu vou logo desestruturar e explicar.
10:40A aranha é o quê?
10:41A grade, porque ele teve uma lesão ali e teve que colocar justamente para ficar com os membros, certo?
10:48O osso no lugar, digamos assim.
10:50Aí, ele e a esposa.
10:52A esposa vai ter que sair do trabalho.
10:53Então eu já desestruturo a família quando não há separação.
10:56Para o Estado, eu estou subindo a escada.
10:59O Estado, o cidadão vai passar de três a quatro meses ali na restauração.
11:03Alguns na UTI.
11:04Aí a gente vai para o INSS e a Previdência.
11:08Aquele cidadão vai ser sustentado por nós.
11:10Aí vem os custos.
11:12Então, tudo vai desaguar onde?
11:14Primeiro, na família, a responsabilidade do Estado e a questão do INSS e a Previdência.
11:21O que é que acontece?
11:21As consequências são alarmantes para o nosso país.
11:26As motos ou os motociclistas são os responsáveis por grande parte dos acidentes no trânsito.
11:32A gente tem aqui no Recife, o Hospital da Restauração, que tem uma ala inteira só de acidentados com moto.
11:39Essa situação é irreversível.
11:42Eles passam muitas vezes meses para recuperar os movimentos da perna,
11:46quando não perdem parte da perna até por causa do acidente.
11:49Essa situação é irreversível, na sua opinião, que acompanha já há vários anos esse quadro?
11:56Fernando, veja, eu não quero ser tão pessimista.
11:59Moura, você dá entrevista, você só fala de coisa ruim.
12:02Não.
12:02Eu sou realista.
12:03Eu trabalho com evidência científica, com artigo científico.
12:06Eu quero dizer que pode se reverter e tem que se reverter, para o bem do nosso país.
12:12Tem que se reverter.
12:13Agora, se isso não acontecer, vai ser construída uma nova restauração, Fernando,
12:18atrás da restauração, só para motociclista.
12:21E aí é a preocupação.
12:22Por quê?
12:23Essas pessoas que estão sendo lesionadas lá, Fernando,
12:25é aquela faixa etária de 19 a 35 anos, que é a faixa etária economicamente ativa.
12:29Estamos gerando aí, Fernando, uma geração de amputados por causa da motocicleta.
12:36Saindo da região metropolitana, nós vamos para o interior.
12:39E eu trabalhei no sertão.
12:41Eu comandei o 8º Batalhão em Salgueiro.
12:43Um homem ia pegar água, Fernando, no jumento.
12:46Agora não é mais.
12:47É no jumento mecânico.
12:48E ele não é, na grande maioria, lá no sertão, habilitado.
12:51Por isso que aumentou, na região nordeste, em muito, os sinistros de trânsito com motociclistas.
12:57O que é que está acontecendo?
12:58Não sei se você lembra daquele filme, na época da gente, A Morte e Pé de Carona.
13:02Foi da época da gente.
13:04Pediu carona para onde?
13:05O sinistro de trânsito para dentro do sertão.
13:08Aumentou muito, muito, se você perceber.
13:10O que é que acontece?
13:11Um homem saiu do jumento e subiu no jumento mecânico.
13:15E aí ele sofre o sinistro lá em Serra Talhada.
13:16Vem para onde?
13:17Para a restauração.
13:18E está super lotado.
13:20O que é que acontece?
13:21Uma geração economicamente ativa, perdida.
13:24Uma família desestruturada.
13:25E o bu, que acontece onde?
13:27E a nossa previdência vai insuflar.
13:29Há um grande perigo, e aí eu já estou alertando, do sistema único da gente, a nossa previdência
13:35é colapsar.
13:36Por quê?
13:37Dados do DataSus, Fernando, a cada 5 milhões a partir de 2020, 5 milhões de politraumatizados
13:43entrando na nossa previdência ao ano.
13:45Vai colapsar.
13:47Agora, Coronel, a culpa é só dos motociclistas?
13:51Os motoristas de carro não têm culpa nisso?
13:54Qual a avaliação?
13:56Pelo que o senhor está falando, parece que só são os motociclistas os responsáveis.
14:00Mas, muitas vezes, os próprios motociclistas reclamam que não são respeitados pelos motoristas
14:05de carro.
14:06Isso acontece também?
14:08Vamos lá.
14:08A culpa de todos.
14:11Pedestre, veículos, condutores de veículos, duas rodas e quatro rodas.
14:15Mas aí eu queria separar e criar um termo novo aqui.
14:18Motociclista e morteciclista.
14:21Morteciclista, Fernando, é aquele rapaz que usa moto para colocar em risco a vida dele
14:26e os demais usuários do trânsito.
14:27É o que eu chamo hoje e classifico, inclusive vou dar uma palestra, dia 26, no Batalhão
14:31de Trânsito, e vou apresentar pela primeira vez o termo morteciclista.
14:35É aquele rapaz que não está preocupado em seguir as normas e aí coloca em risco as
14:39vidas dele e dos demais.
14:41Todos são responsáveis a partir do momento em que eles não cumprem e não respeitam
14:45o papel do Estado.
14:46Qual é o trânsito seguro?
14:48Coronel, vamos fazer um rápido intervalo.
14:51Você que está acompanhando a gente, não saia daí.
14:53A gente volta já, já.
14:56O Ponto de Vista está de volta.
15:09Hoje estou recebendo aqui o Coronel Moura, especialista em trânsito.
15:15Coronel, a ONU fala, como a gente já falou no primeiro bloco, de uma pandemia de violência
15:21no trânsito.
15:22O que é que ela propõe para mudar essa realidade, não só no Brasil, já que o
15:26problema é da ONU, quem diz, quem fala dessa pandemia é a ONU.
15:33O que é que ela propõe para acabar com essa pandemia no mundo, ou pelo menos enfrentar
15:37essa pandemia?
15:38Vamos lá.
15:39Antes da pandemia, eu vou falar da epidemia.
15:42Professor Légez Norman, do Hospital de Trauma em Paris, em 1962, Fernando, constatou lá em
15:48Paris, em 1962, 90% dos sinistros de trânsito, atrelado como causa ao homem, 6% os veículos
15:54e 4% as vias, 1962.
15:57Em 2004, a ONU convocou a OMS e disse, olha, faça um levantamento para mim, ONU, para mostrar
16:04como está a problemática das mortes no trânsito do mundo.
16:08A OMS trouxe e disse, olha, a situação está séria, preocupante.
16:11Nós passamos de uma epidemia para uma pandemia.
16:15Então, desde 2004, que nós temos a pandemia do trânsito com mortes, matando, só em 2004,
16:221 milhão e 200 mil, no caso, cidadãos em vários países do mundo.
16:27A ONU apresentou, então, os pilares da segurança viária.
16:30Os países que cumpriram os pilares para alcançar a segurança viária reduziram e bateram
16:35a meta.
16:35A questão é, o Brasil está cumprindo, Fernando, o que está previsto no código que
16:42foi apresentado pela ONU, o manual, o plano global, vou dizer assim, tecnicamente falando,
16:47o plano global para a primeira década.
16:49O Brasil não fez o dever de casa.
16:51Essas metas a ONU estabeleceu, nós não cumprimos.
16:55Por que a gente não conseguiu atingir essa meta?
16:57Quem foi que deixou de fazer a sua parte, digamos assim?
17:00A princípio, cinco pilares.
17:01Primeiro pilar, criar um organismo para centralizar a estatística, certo?
17:06Como tem nos Estados Unidos a NHTSA.
17:09Centralizar a educação, centralizar convênio.
17:11Nós não temos no Brasil um organismo.
17:14Nós temos uma Secretaria Nacional de Trânsito.
17:16Para começar, o primeiro pilar não é cumprido.
17:18Vias seguras, o segundo pilar.
17:20Nossas vias não são seguras, mal projetadas, mal elaboradas e antigas, com péssimo asfalto.
17:25Aí nós temos carros seguros.
17:26Nossos carros não são seguros.
17:27Nós não temos em nosso país nenhum organismo que certifique que os nossos veículos são seguros.
17:33Como tem a sua geladeira.
17:34A minha geladeira tem lá o selo do Inmetro.
17:36Nós não temos nenhum carro no país, no Brasil, tem um selo dizendo que ele é seguro.
17:42Aí nós temos condutores.
17:43Aí tem a questão de cadeirinha.
17:45Aí tem capacete.
17:46O quarto pilar da segurança viária.
17:47O que nós trabalhamos mais foi a questão do quarto pilar da segurança viária.
17:51A questão da alcoolemia.
17:53Mas aí trabalhamos e já voltou a subir.
17:55O quinto pilar da segurança viária é o post-crash.
17:59E olha que a lei seca, pelo menos aqui no Recife, é bastante atuante.
18:04A gente vê quase todas.
18:07A partir da quinta-feira, digamos assim, você sempre vê bastante pontos de blitz na cidade.
18:15Eu veja, eu tenho a minha ressalva.
18:18Perfeito?
18:19Claro.
18:20Veja, vou explicar a questão da fiscalização da Operação Lei Seca.
18:24Eu sou a favor da fiscalização.
18:25Eu trabalho fiscalização, fui batalhão de trânsito.
18:27Mas eu sigo um princípio, um princípio que vem antes da norma do policiamento.
18:32Todos têm que fazer tudo.
18:33Nos Estados Unidos, onde você esteve, não existe policial que é do trânsito e policial que não é do trânsito.
18:38Vou dar um exemplo.
18:39Se você avançar um semáforo hoje na frente, ao lado de uma viatura da rádio-patrulha,
18:44o policial da rádio-patrulha não vai poder fazer nada.
18:45Porque ele não é um agente da autoridade de trânsito.
18:49Nos Estados Unidos, faça isso na frente de qualquer policial.
18:52Na França, na Itália, na frente de um carabinieri lá, do policial da Bélgica,
18:56do policial do Canadá, na Real Polícia Montada.
18:59Lá todos fazem tudo, Fernando.
19:00Porque existe um princípio do policiamento que é a universalidade.
19:03No Brasil, veja, no Brasil com o código novo,
19:07se eu não for um agente da autoridade de trânsito, eu não posso fiscalizar.
19:10Então, é uma situação complicada.
19:13Mais uma vez, a gente está naquela situação de que temos boas leis, mas não são cumpridas.
19:19É por aí. Boas leis, mas não são cumpridas.
19:21A questão da fiscalização da alcoolemia.
19:23A principal inflação hoje não é mais alcoolemia.
19:25A gente tem que mudar o foco.
19:27Tem que continuar fazendo a questão da alcoolemia.
19:29Agora que todos façam, não só uma operação.
19:32Todos. Vou lhe perguntar.
19:33Se uma pessoa tomar conta da sua casa, é diferente de 10 tomando conta?
19:39Claro.
19:39Claro. Por que a gente não coloca para todos como era antes?
19:43Antes do Código de Trânsito, todo policial da Polícia Militar do Estado de Pernambuco
19:46podia lhe parar e fiscalizar trânsito, porque era um agente do Estado.
19:50Hoje, nem todos são.
19:52Vou dar um exemplo.
19:53Um policial do 6º Batalhão, um policial da Cavalaria, não pode fiscalizar trânsito.
19:57Nos Estados Unidos não tem isso, não.
19:59O policial a cavalo lá, certo? Fiscaliza você.
20:01Eu vi isso. Eu estive no Departamento de Polícia de Nova Iorque.
20:04Eu vi o cidadão a cavalo parando, desceu do cavalo e autou o cidadão que estava em local proibido.
20:08Então, quanto mais fiscalizar, mais segurança nós teremos, concorda?
20:13E hoje a principal infração não é mais a questão da alcoolemia.
20:16O celular está aí, é seis vezes mais perigoso conduzir o veículo utilizando isso aqui.
20:19Seis vezes.
20:20Pesquisa norte-americana, viu?
20:22Eu trabalho...
20:22Muita gente faz uso, né, Coronel?
20:24Isso.
20:25E isso é pouco fiscalizado, né?
20:27Mas aí é que está...
20:27É até difícil, talvez, de fiscalizar.
20:29Ou não?
20:30Não.
20:31Agora, é seis vezes mais perigoso conduzir o veículo utilizando isso aqui do que é sobre a influência de SPA, substância psicoativa.
20:37Muitas vezes a pessoa que pega o celular acha que é rapidinho, vou só olhar aqui a tela rapidinho, de repente...
20:43Pronto.
20:44Bate no carro que está na frente.
20:45Veja, quando a lei entrou em vigor, essa infração aqui, olha lá, Fernando, isso é infração média, certo?
20:52Quatro pontos, 130 e 16.
20:54Aí, evoluiu, chegamos aos aplicativos.
20:57Aí, agora, eu estou aqui, olha, Fernando, eu vou para uma entrevista.
21:00Essa infração agora é gravíssima, porque houve a evolução.
21:04O que é que a gente precisa?
21:05Continua fazendo a fiscalização, agora que todos façam a fiscalização, porque aumentando o poder de fiscalização,
21:11garante-se maior segurança viária e um princípio é cumprido, a universalidade.
21:15E a gente tem que migrar urgentemente, Fernando, e começar a combater as principais infrações.
21:20O excesso de velocidade está aí, olha, nas nossas avenidas.
21:23A contramão de direção, motociclistas hoje, os morteciclistas transitam na contramão de direção.
21:29Aí, eu quero falar para você e para os ouvintes a questão da síndrome da buzina irritante.
21:35O que é isso?
21:36A síndrome da buzina irritante, SBI.
21:39Algumas pessoas, principalmente mulheres, Fernando, estão começando a ter traumas.
21:43Veja, eu estou escutando colegas que, ao escutar a buzina da moto, elas começam a entrar em pânico.
21:49É a síndrome da buzina irritante.
21:51Ela não sabe para onde vai com o carro.
21:53E aí?
21:54Os motociclistas, muitas vezes, usam as buzinas para que o motorista não mude de faixa.
21:59Exatamente, para demonstrar que ele tem um direito de passagem ali.
22:04E aí, só para mostrar, fazendo um estudo comparado, na Flórida, onde eu estive também,
22:09não é permitido transitar com moto ao lado de veículo, não.
22:12É um atrás do outro.
22:13Se a gente quiser, de fato, Fernando, resolver, vamos lá, tem que acabar urgentemente isso
22:19aqui, ó.
22:20Celular em guidom de moto.
22:22Bem, o trauma, a campanha era, use o capacete para você não morrer.
22:27Capacete não evita, Fernando, que o cidadão avance o semáforo.
22:30Não evita aquele transito.
22:31Você viu o sinistro que teve hoje, o cidadão sobre a calçada, transitando de capacete sobre
22:37a calçada.
22:38Cole e Dio.
22:38O que evita que ele cometa o sinistro é a educação para o trânsito.
22:43O trauma mudou, Fernando.
22:44Antes, o trauma era na cabeça.
22:45Agora, o trauma mudou para aqui, ó, para a cervical, porque ele está de cabeça baixa
22:49assim, ó, Fernando, para ver onde é que vai fazer a entrega.
22:51Está entrando de cabeça no ônibus, no veículo parado.
22:55O trauma está onde?
22:55Aqui na cervical.
22:57Ele está ficando agora tetraplégico.
22:59É pior do que se ele morrer.
23:01Coronel, além desses motociclistas que fazem isso que o senhor está falando, ainda tem
23:06os exibicionistas, né, que usam a moto para se exibir, para ganhar aplausos entre
23:12sua turma.
23:13Esse é um problema grave também, tá?
23:16Já dá para sentir que essa questão de fazer grau, né, se equilibrar num pneu só
23:23na moto, isso pode provocar acidentes também e pode provocar até mortes.
23:28Bem, um tópico muito atual, a questão do exibicionismo, perdão.
23:34Ali, naquele momento que ele pratica aquela, aspa, manobra, ele está querendo se agrupar
23:38ao grupo social dele.
23:41A manobra mais exibicionista dele vai torná-lo dentro do grupo social, ele ter o maior respeito.
23:48E ele está, inclusive, trazendo as moças para irem com ele na garupa, inclusive sem
23:54capacete.
23:54Tivemos aí um caso emblemático lá em São Paulo, quando ele levantou e empinou a moto,
23:59a menina que estava atrás, ela foi projetada e traumatismo crânicefálico, afundamento
24:04do crânio e morreu.
24:05Então, não concordo com isso, é crime, está lá, tipificado no artigo 308, o Estado tem
24:12que intervir urgentemente.
24:14Vamos fazer o seguinte, do mesmo jeito que a Lei Maria da Penha, vamos utilizar os princípios
24:19da Lei Maria da Penha para a questão do trânsito.
24:22Aumentar e apertar, certo?
24:24Lá, no caso da Lei Maria da Penha, vai ter, usa agora a tornozeleira e a gente vai apertando
24:29no trânsito, enquanto a gente ficar cômodo, sentado e observando, se o Estado não for
24:36para cima, educando e fechando o cerco, isso não vai mudar.
24:41Os números que foram apresentados hoje, inclusive, aumentou, né, 16,5%.
24:46O Observatório Nacional de Segurança Pública mostrou aí um cenário preocupante e a tendência,
24:52Fernando, não falando má notícia ou pregando coisa ruim.
24:56Como eu disse a você, eu sou um estudioso do trânsito, eu pesquiso.
24:59Eu trabalho com evidência científica e a tendência, se a gente não fizer o dever
25:03de casa, Fernando, vai piorar.
25:05Esses números aumentando sempre, Coronel, isso significa que a gente está enfrentando
25:10o problema de forma errada ou simplesmente não estamos enfrentando o problema, na sua
25:16opinião?
25:17Vamos lá.
25:18Estamos enfrentando.
25:19A grande pergunta, e eu volto a perguntar a você, onde estamos errando?
25:23A gente tem que parar, nós estávamos conversando ali, nos bastidores, temos que fazer um pacto
25:28urgente, certo?
25:30O Estado tem que ir para cima, o papel dele tem que ser cumprido e tem que ser transformado
25:35urgentemente.
25:36Tem que se investir, Fernando.
25:37Já tivemos três gerações.
25:38A primeira geração, certo?
25:40Foi a nossa geração de Home Simpson.
25:42Lembra disso, Fernando?
25:43Home Simpson dirigindo, tomando cerveja.
25:45Lembra daquele cenário?
25:47Pronto.
25:47A segunda geração, a geração da galinha pintadinha, que as crianças estavam indo
25:51para a escola cantando assim, vai bater, vai bater, motorista, olha o poste.
25:55A terceira geração é a geração do grau, que está indo para as ruas agora.
26:00A quarta geração, essa que está chegando, que vai ser a mais violenta, viu?
26:03É a do pós-grau.
26:06E as crianças, ou são as crianças que estão vendo os pais fazendo isso.
26:09E segundo Freud, Fernando, os pais são espelhos dos filhos.
26:12Se nós não pararmos, travar agora, através da educação, a quarta geração que vem
26:17aí, que é a pós-grau, vai ser a mais violenta.
26:20O senhor falou educação, vamos, estamos já quase acabando a nossa entrevista, mas
26:24eu queria voltar à questão da educação.
26:26Ela, existe a educação no trânsito, mas a gente vê que ela não é aplicada nas
26:31escolas com a frequência que deveria.
26:34Por quê?
26:35Ela tem que voltar, as crianças têm que voltar a ter aulas sobre educação no trânsito?
26:42Vou citar Sócrates.
26:44Eduque as crianças que no futuro fecharemos as prisões.
26:49Nossa geração teve aula de OSPB.
26:51Lembra disso?
26:52Sim.
26:53Pronto.
26:53Hoje a gente falta, né?
26:54Sentimos falta de OSPB.
26:56Ou nós investimos diariamente, como disciplina, na educação para o trânsito, ou nós não
27:03vamos mudar.
27:05Não adianta fiscalizar.
27:06Se fosse assim, teremos países, perceba, como os Estados Unidos, o mais seguro no mundo.
27:12E não é.
27:14Eles melhoraram.
27:15Agora, investiram na educação.
27:17Como o Japão.
27:18O Japão saiu.
27:19Acabaram da Segunda Guerra.
27:20Investiu, Fernando.
27:21Na educação.
27:22A gente tem que parar e dizer, olha, já perdemos três gerações.
27:26Estamos próximos aí para perder a geração do pós-grau.
27:28Ou a gente para agora, ou nós vamos ter mais uma geração perdida com crianças não
27:35sendo cidadãos no trânsito, sendo meramente motorista.
27:39Muito bem.
27:40Coronel, obrigado pela entrevista.
27:42A gente espera que a população, o brasileiro de modo geral, a brasileira que dirige, que
27:47anda de moto, eles se conscientizem da importância de dirigir olhando para a sociedade, para a
27:54comunidade toda e não só para si, para chegar antes de qualquer outra pessoa, chegar na
28:00frente.
28:01Muito obrigado pela entrevista.
28:03Eu agradeço a sua presença.
28:05Agradeço também o convite.
28:06Estou à disposição.
28:07E dizer a todos que transo seguro é um direito de todos.
28:10Muito bem.
28:10Obrigado, Coronel.
28:12Você que está em casa, obrigado pela companhia e audiência.
28:15A gente volta na semana que vem.
28:24Obrigado.