Durante visita do presidente Lula à China, empresas chinesas anunciaram R$ 27 bilhões em investimentos no Brasil. O economista-chefe do Sicredi, André Nunes de Nunes, explicou os impactos geoeconômicos e destacou oportunidades no agro, indústria automobilística e energia limpa.
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00:00E ainda falando em atividade econômica aqui no Brasil, o governo federal anunciou essa semana que empresas chinesas vão investir 27 bilhões de reais aqui no país.
00:10Os projetos incluem vários setores da economia, indústria automobilística, energia limpa, mineração, combustíveis, delivery.
00:18O presidente Lula chegou à China no domingo para mais uma visita ao país asiático com o objetivo de estreitar a parceria com os chineses.
00:26Sobre esses negócios, eu converso agora com o André Nunes de Nunes, economista-chefe do Cicred.
00:33André, boa tarde para você. Obrigado pela sua participação ao vivo aqui com a gente.
00:37Antes de mais nada, o timing, o momento para conversar com a China sobre parceria é bom?
00:45Boa tarde, Fábio. Um prazer estar com vocês aqui, conversar sempre é um prazer.
00:50Eu acho que sim, o timing sempre é bom quando a gente fala em termos de estreitar relações comerciais com outros mercados relevantes e acordos comerciais, principalmente que trazem investimentos para a economia brasileira.
01:05Acredito que tenha um movimento que vai acontecer ao longo dos próximos anos, a partir dessa eclosão e aprofundamento da guerra comercial entre China e Estados Unidos,
01:17dos dois mercados quererem formar parcerias e estreitar relações, tanto as duas principais potências.
01:25E aí a gente vê o Brasil como um parceiro muito estratégico da China.
01:29É importante da gente sempre levar em conta que nesse tabuleiro da geopolítica e econômica global, o Brasil e os Estados Unidos são concorrentes.
01:40Nós, tanto o nosso país quanto os norte-americanos, eles exportam muito, são grandes potências fornecedoras de produtos, principalmente commodities alimentícias para o mundo.
01:50E na medida em que a China tem essa relação extremamente conturbada,
01:53que essas taxas de impostos de importação, em alguns casos quase que inviabilizam o comércio entre os países,
02:01a China faz um movimento de estreitamento, muito no sentido de uma diversificação de parceiros, diversificação de riscos,
02:08tentando manter a sua economia abastecida, principalmente desses bens que eles têm mais dificuldade de conseguir em outros locais.
02:17Então, uma das formas que eles entendem de moeda de troca é fazer investimento, principalmente nessas áreas mais ligadas à indústria,
02:27áreas ligadas a commodities que precisam de maior investimento, como parte de mineração,
02:33algumas coisas relacionadas à fabricação de máquinas e equipamentos para o agro,
02:37mas principalmente na indústria automobilística.
02:40A gente sabe que o Brasil gosta desse setor, de trazer e ter sempre uma indústria automobilística pujante,
02:48e a China tem sido líder nessa revolução com os carros elétricos.
02:53Então, o governo brasileiro, acredito, e a China viu como uma boa moeda de troca fazer esses anúncios.
03:00Quando a gente olha em termos de valores, 27 bilhões de reais,
03:04em termos de participação no PIB, isso não é muita coisa.
03:07Eu acho que o gesto acaba valendo muito mais do que necessariamente o impacto que o investimento vai ter.
03:14Isso não vai mudar a projeção de nenhum dos economistas com relação ao crescimento do país,
03:19ainda mais que isso é diluído ao longo dos próximos anos.
03:23Mas agora, enquanto gesto, a gente vê o Brasil numa posição que é relativamente privilegiada.
03:28A gente tem relações comerciais históricas, tem uma tradição diplomática com os Estados Unidos muito grande,
03:34que tem empresas multinacionais americanas que operam no mercado brasileiro há muito tempo.
03:39Então, a gente, com esse mercado, já tem uma boa relação e uma boa relação diplomática.
03:45E agora a gente tinha uma relação um pouco de exportação de produtos agrícolas para a China
03:52e importação de muitos produtos industrializados.
03:55Agora a gente já vê essa relação se aprofundando no sentido de receber mais investimentos chineses
04:01para produzir aqui no Brasil.
04:03Isso a gente entende, para interpretar e entender, do ponto de vista geoeconômico,
04:10como uma sinalização, como um gesto de uma relação que tende a se aprofundar
04:15e ser um pouco mais intensa e um pouco mais perene do que a gente tinha até então.
04:22Bom, já houve vários encontros entre o presidente Lula e o presidente Xi Jinping,
04:27nesses últimos, desde 2023, desde que o presidente Lula assumiu o cargo pela terceira vez.
04:35A gente nota essa afinidade, essa proximidade entre os dois líderes.
04:40No ano passado, Xi Jinping veio para o Brasil no fim do ano e o Brasil até agora,
04:44você estava falando de receber investimentos chineses, o Brasil não aderiu oficialmente
04:49à chamada nova rota da seda, que é esse projeto já de vários anos, enorme,
04:53da China em outros países, projetos de infraestrutura, o Brasil não entrou oficialmente ali
05:00e, pelo que se sabe, até para tentar manter um pé em cada canoa,
05:04não se envolver demais com a China e não se queimar com os Estados Unidos,
05:07que são o nosso segundo maior parceiro comercial.
05:10Estamos fazendo certo até aqui em não aderir à nova rota da China,
05:14até porque, mesmo assim, continuamos recebendo investimentos da China?
05:18Eu acho que, de certa forma, parece que sim.
05:22É sempre difícil a gente fazer uma previsão tão certeira com relação a algo que tem várias nuances
05:29e que a gente vai, de fato, saber a resposta muito mais no longo prazo.
05:33Mas conseguir manter essa autonomia é algo extremamente saudável.
05:38A gente sabe o que tem por trás da ideia dessa nova rota da seda,
05:43que é uma dificuldade, por exemplo, de transpor uma certa barreira que a China tem ali no Pacífico,
05:50principalmente quando desce ali a partir de Taiwan,
05:53tem uma barreira em termos de bases militares americanas.
05:58Então, é sempre, estrategicamente, a China tem que pensar em outras saídas.
06:02E aí tem desenvolvido tanto por terra quanto rotas alternativas por mar
06:08e aí gerando portos para também conseguir abastecer e desabastecer os seus produtos
06:13em diversos outros pontos, tentando fugir um pouco daquelas rotas tradicionais.
06:19O Brasil, de fato, ainda não aderiu.
06:22O que muitos países, e principalmente países um pouco mais pobres,
06:26tem de incentivo a essa adesão,
06:29é que se recebe um volume muito grande de investimentos chineses,
06:32mas também fica uma dívida ali a ser paga,
06:36o que acaba meio que prendendo essa relação entre esses investimentos,
06:40que são mais longo prazo, e também uma dívida com a China
06:45por conta de todos esses volumes de investimentos.
06:49Isso é importante, principalmente para consolidar a moeda chinesa,
06:52é um país que tem a balança de capitais que é muito fechada,
06:57ou seja, é difícil fazer investimentos, tirar investimentos,
07:00investir em empresas dentro da China para quem é de fora,
07:03então a moeda chinesa acaba não conseguindo ter esse protagonismo,
07:06como tem dólar, como tem franco, euro,
07:10e de certa forma também é uma maneira de deixar esse mercado de demanda
07:16por moeda chinesa, de certa forma, aquecida.
07:18Acredito que o Brasil tende, até por uma tradição diplomática muito neutra,
07:24sempre foi de se manter disposto a conversar, a negociar com todos,
07:28não deve fazer adesão, e eu acho que a gente não viu manifestações desse governo,
07:35por exemplo, no sentido de estreitar esse tipo de relação.
07:40Agora, esses projetos, esses investimentos já foram anunciados
07:43nessas áreas todas que a gente citou, indústria automobilística, mineração, energia,
07:48agora seguem ali negociações com parte da comitiva que está na China
07:52sobre o agro, que é sempre uma frente muito promissora para ser aberta.
07:57Então, existem negociações sobre carne de frango, carne suína do Brasil para lá,
08:02sorgo, o próprio etanol, o DDG, que é um coproduto da produção do etanol de milho.
08:07Existe ainda um potencial a ser explorado na venda do nosso agro para os chineses?
08:12Existe sim, existe bastante potencial, se estima-se ali que fica entre 25 e 30 bilhões,
08:21o que está sendo negociado lá em termos de potencial de produtos,
08:25e para a gente também é muito importante fazer esse processo de diversificação.
08:30Hoje em dia, grãos de soja acabam se concentrando grande parte das nossas vendas do agro para a China.
08:38Seria importante, tanto do ponto de vista do produtor brasileiro, quanto do ponto de vista do chinês,
08:43ampliar esse leque de possibilidades de consumo.
08:46A gente viu que ao longo dos últimos anos, existiu de fato uma preferência da China
08:52por importar, por exemplo, o grão e fazer o óleo de soja, fazer o farelo lá no seu território.
09:00Então, ela preferia importar o produto o mais bruto possível para fazer um processo de industrialização no seu território.
09:09O que, por exemplo, fez com que as nossas exportações, por exemplo, de óleo e de soja caíssem muito nos últimos 10 anos.
09:17O que a gente talvez está vendo com esses acordos é uma volta a essa possibilidade da China já importar um produto um pouco mais elaborado,
09:28como a carne de frango, alguns tipos de miudezas e talvez outros produtos derivados do agro
09:34e não deixar para fazer toda a produção lá no território chinês.
09:38Isso vai gerar valor agregado para a exportação brasileira se a gente conseguir fechar algum acordo nesse sentido.
09:45Vai provavelmente ser muito benéfico ali para os dois países,
09:48na medida também que a China já começa a ter dificuldade em termos, em alguns setores e cidades de mão de obra.
09:55Então, vai ter que começar a escolher aqueles setores em que ela tem mais produtividade,
10:00em que ela tem mais capacidade de trazer mais retornos para a sua economia
10:06e apostar mais vantagens comparativas e apostar um pouco mais neles
10:10do que comprar um produto mais elaborado da economia brasileira.
10:18André Nunes de Nunes, economista-chefe do Cicred.
10:21Obrigadão, André, pela sua participação aqui.
10:23Valeu, muito obrigado, sempre à disposição, Fábio. Grande abraço.
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