O economista Roberto Giannetti, ex-secretário da Camex, analisou o agravamento da guerra tarifária entre Estados Unidos e China. Giannetti relatou o impacto de US$ 450 bilhões em produtos e o fortalecimento de alianças asiáticas, sinalizando riscos econômicos para o comércio mundial e para os agricultores americanos.
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00:00Temos aquela conversa com o economista Roberto Gianetti, que é ex-secretário da Câmara do Comércio Exterior, CAMEX.
00:07Oi, Gianetti, boa noite. Prazer falar contigo mais uma vez.
00:11Prazer é meu estar aqui com vocês.
00:14Bom, vamos lá. Mais um dia, né? Sem grandes novidades nesse embate específico tarifário entre Estados Unidos e China.
00:21O que você tem sentido? Mais alívio ou mais ansiedade, né? No chamado mercado, nessa entidade que a gente chama de mercado.
00:29E entre os agentes político-econômicos?
00:32Mais ansiedade, não há dúvida. Cada dia que passa, a situação vai se agravando, porque as empresas começam, de fato, a ter que estocar produtos finais ou faltar matéria-prima.
00:45E aí começa, tanto nos Estados Unidos quanto na China, as dores do mercado por conta desse tarifácio.
00:52Então, de fato, a ansiedade, eu diria até um pouco mais angústia, começa a tomar conta de muitos empresários nesse momento.
01:00Gianetti, a gente se falou recentemente aqui, mais precisamente no dia 9 de abril, quando você adiantou pra gente, né?
01:07Que o presidente Lula iria em maio pra China e que você iria na semana seguinte e que depois poderia compartilhar com a gente, né?
01:15O que que sentiu? Assistir do ponto de vista deles essa situação? Aconteceu essa viagem? Como é que foi?
01:22Aconteceu. Na verdade, até peço desculpa que eu não pude falar com vocês de lá, porque eu não sei se você sabe que o WhatsApp não funciona bem na China.
01:31Então, a gente poder, com o telefone celular lá, marcar uma entrevista com o WhatsApp seria muito temerário, porque não ia funcionar.
01:39Mas eu tô de volta, cheguei quinta-feira passada, tô aqui com notícias frescas ainda.
01:45De fato, a situação lá é, assim, eu diria, de muita perseverança e resiliência.
01:55Na minha opinião, eu conversei com várias autoridades chinesas, inclusive fora do expediente, quer dizer, num ambiente mais informal.
02:04Ele diz o seguinte, a China não vai mudar de posição enquanto os Estados Unidos não voltar pro ex-ante, ou seja, o que era dia 2 de abril.
02:15Então, eles estão simplesmente parados esperando os Estados Unidos cair na real, de que não tem como manter esse tarifácio.
02:26Isso foi uma medida unilateral, drástica e irresponsável.
02:30Vários países do mundo também estão contestando junto com a China.
02:33Eu diria até que, falaram aqui da Coreia, do Sul e do Japão, seria quase impossível imaginar esses três países numa aliança de objetivo comum,
02:45porque eles têm diferenças históricas muito graves.
02:49Mas, por acaso, hoje eles estão se entendendo, porque eles estão vendo que, se não tiverem uma ação coletiva junto dos Estados Unidos,
02:57eles, na desunião, os Estados Unidos prevalecem.
03:00Então, recentemente, Xi Jinping teve também no Cambódia, no Vietnã, na Tailândia, fazendo um tour pelo Sudeste Asiático,
03:12na Malásia, fazendo um tour no Sudeste Asiático, exatamente para prevenir esses países de que tem que se manter unidos
03:19para que haja uma manifestação, um retrocesso dos Estados Unidos em reduzir essas tarifas,
03:28vendo que elas não vão ter sustentabilidade ao longo do tempo.
03:33E a reunião que vai ter agora, em 12 de maio, dos países latino-americanos na China,
03:40eu não tenho a menor dúvida que a China vai tirar proveito para reforçar essa aliança.
03:45Hoje mesmo, eles estão fazendo um discurso da soja brasileira, mostrando para os Estados Unidos,
03:51e dizem, olha, nós temos a soja do Brasil, do Mercosul, Argentina, Paraguai, não precisamos da soja americana.
03:58Então, isso deixa também o agronegócio dos Estados Unidos de cabelo em pé.
04:02Eles vão vender aonde essa soja deles?
04:04E, Janete, me marcou bastante que naquele dia em que a gente se falou, na véspera da sua viagem,
04:11você comentou, ah, Donald Trump pode esperar sentado, porque a China não vai tomar essa iniciativa de procurá-lo para negociar.
04:18E aí, de fato, foi isso que você sentiu estando lá presencialmente, conversando com autoridades,
04:24enquanto isso, o presidente Donald Trump diz que está conversando, né?
04:28Tem uma guerra de narrativas aí acontecendo.
04:30Quem que acredita nele? Pelo visto, nem o secretário do Tesouro.
04:37Difícil acreditar que ele esteja negociando.
04:39Eu acho que ele usa muito bem a mídia, fala às vezes num tom meio sutil, né?
04:45Ele não fala com uma afirmação categórica, ele fala, não, quando estiver falando, ou se falei, ou vou falar,
04:53ele sempre tem uma linguagem, uma narrativa um pouco obscura, dando a entender que falou,
04:59pô, mas não falou nada. Tenho certeza que isso não está acontecendo, não há nenhuma negociação nos bastidores,
05:06e de fato vai esperar sentado, porque a China não muda de posição enquanto não voltar para o 2 de abril.
05:12E, Janete, a gente escutou uma reportagem anterior, né, a correspondente da CNBC falando ali de um certo impacto, né,
05:21de algumas indústrias ali segurando a produção, de uma sensação também de incerteza dentro da China,
05:28quero ouvir sua percepção em relação a isso, e a China também tem falado em estímulos econômicos
05:33para apoiar indústrias exportadores, né?
05:35Como é que você avalia essa intenção e o potencial efeito, benefício dela?
05:42Olha, uma coisa que a China tem demonstrado nesse período agora da crise é uma racionalidade econômica muito forte,
05:50porque é o tal negócio da sabedoria de 5 mil anos.
05:54Não adianta esbravejar, entrar em pânico, xingar o outro, isso não adianta nada.
05:59O que adianta é tomar medidas realmente que possam suavizar ou minimizar os efeitos,
06:06e eles estão fazendo isso.
06:08Inclusive, até muitos me perguntaram, não, mas eles já estão cedendo, vão baixar a tarifa de alguns produtos.
06:15Ao contrário, eles não estão cedendo nada.
06:18Essa tarifa que eles estão baixando de alguns produtos, são produtos que não têm similares na China,
06:24não têm outros países que possam exportar para a China, além dos Estados Unidos,
06:28são alguns itens muito específicos, eu não sei relacionar exatamente qual,
06:32mas acredito que sejam peças de avião, turbinas, equipamentos ligados à indústria de armamento, aeroespacial.
06:41Então, vendo que não há substituto para os Estados Unidos,
06:45eles simplesmente baixam a tarifa desses produtos para não prejudicar a indústria chinesa e o consumidor chinês.
06:52É olhando para o interesse da China que eles estão fazendo isso.
06:55Não estão nem ligando o que os Estados Unidos acham, se eles estão capitulando ou não.
07:00Não tem capitulação nenhuma.
07:03Simplesmente estão olhando o interesse da China.
07:06Janete, vou passar agora a bola, a vez, para o Vinícius Torres Freire,
07:10que certamente tem pontos interessantes para a conversa.
07:12Vini.
07:14Janete, uma coisa, a gente está falando um pouco da China,
07:16sobre que medidas eles vão tomar, porque é uma coisa muito séria, muito grande.
07:19Você tem 450 bilhões de dólares de produtos para os quais você não vai ter destino imediato.
07:26Agora, vamos voltar um pouco para os Estados Unidos.
07:28Você mencionou aí o caso da agricultura.
07:30O pessoal está em pânico, o pessoal está reclamando.
07:34Agora, a influência política deles não é tão grande e econômica menos ainda.
07:38Agora, vamos supor que a China realmente pare com as importações de combustível, carne e grãos chineses.
07:46Os agricultores americanos aguentam quanto disso?
07:48Porque os chineses estão dizendo que eles vão aguentar muito tempo.
07:51E os agricultores americanos?
07:52Em que ponto isso começa a dar muito problema?
07:55Porque vai ser difícil desovar tanta soja.
07:58Exato.
07:59Eu acho que vai ter que ter algum programa, alguma saída,
08:02que o governo americano vai ter que fazer para esse setor.
08:06Veja que no setor de petróleo, por exemplo, a China passou a importar muito do Canadá.
08:11O Canadá é grande produtor de petróleo.
08:13Também foi punido pelos Estados Unidos.
08:15A aliança Canadá-China está reatada.
08:18O Canadá está vendendo um monte de petróleo para a China.
08:21E acredito que a China vai comprar mais petróleo do Brasil também.
08:24Por sinal, o ministro Alexandre Silveira esteve por lá semana passada.
08:28E acho que até a presidente da Petrobras, Magda, também andou por lá.
08:32Então, as conversas estão rolando.
08:34Acho que a China tem muitas alternativas.
08:37Vai buscar outros fornecedores.
08:39Tudo aquilo que os Estados Unidos pode ser substituído, eles vão substituir.
08:43E isso vai trazer para os produtores americanos uma situação de sinuca de bico.
08:48Vamos chamar assim uma expressão analógica.
08:51Por quê?
08:52Para quem que eles vão vender se não há outros grandes compradores nesse volume?
08:57Soja, milho, etanol, petróleo mesmo.
09:03Petróleo talvez seja até o mais fácil de sair.
09:06Mas nesses outros produtos é bem complicada a situação.
09:10O água e a carne, não há dúvida.
09:11A carne vai ter uma dificuldade grande.
09:13Então, o governo americano vai ter que fazer um programa parecido com esse chinês.
09:18De dar subsídio, dar financiamento, financiar estoque, fazer algum tipo de subsídio para o trabalho,
09:29porque vai ter um desemprego também forte.
09:32Essa medida foi muito insensata, Vinícius.
09:35É de uma insensateza absoluta, porque só traz prejuízo para o mundo.
09:39Mas especialmente para os americanos.
09:42E o pior é que o problema não é só no trading.
09:44Você fala dos 450 bilhões de dólares, mas tem que lembrar também que a China tem centenas de bilhões.
09:51Parece que são 700 bilhões de dólares de títulos do Tesouro Americano.
09:55790.
09:55Na hora que eles começam a vender esses títulos no mercado, o que acontece?
10:00Dá um deságio no título.
10:02Isso significa um juro implícito mais alto.
10:05Na hora que os Estados Unidos vai rolar a dívida, está pagando um juro maior.
10:09E isso são trilhões de dólares, 36 trilhões de dólares de dívida que o americano tem que rolar.
10:16Olha só que situação que eles estão se metendo.
10:19Agora, você acha que...
10:20Você tem experiência no setor.
10:22O setor agrícola americano aguenta uma safra dessa situação?
10:25Eles planejam?
10:26Tem como planejar para plantar?
10:28Se essa situação ficar para...
10:30Se tiver perspectiva de que isso dure uma safra, tem como o setor aguentar isso?
10:34Eu acho difícil, porque aí é um problema até físico.
10:37Não tem estoque para 500, 600 milhões de toneladas de grãos?
10:43Milho, soja, cevada, trigo, etc. que eles produzem?
10:47E também muito menos de carne em câmara frigorífica.
10:50Vão guardar aonde o excedente de produção?
10:53E aí vai começar a cair.
10:55Talvez até...
10:55Veja só, estou até pensando em voz alta aqui.
10:57Eles vão começar a exportar carne para o Brasil, para que o Brasil tenha maior excedente,
11:02aquela triangulação, swap de produtos, que o Brasil tenha até mais excedente de carne brasileira
11:08para poder exportar para outros países.
11:11Porque, sem dúvida, o Brasil é o segundo maior consumidor de um dos maiores,
11:14segundo ou terceiro maior consumidor de carne do mundo.
11:18E, certamente, a gente, por ser exportador, pode absorver importação e tem mais para exportar.
11:23É simplesmente uma questão de pagar um frete a mais.
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