No Em Off, Fábio Rabin e Camila Pinheiro entram no complexo debate sobre os limites do humor. O comediante analisa o cenário atual da comédia stand-up e o medo do cancelamento. Rabin fala sobre Léo Lins como um exemplo nessa discussão, afirmando que ele acaba servindo de "escudo" para a classe ao assumir a frente na defesa das piadas mais polêmicas e pesadas.
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00:11Eu acho que o Léo, ele faz um papel muito importante pros comediantes, que é...
00:14Ele fica de escudo, levantando a bandeira e diz, ó, eu faço aí as piadas pesadas.
00:20É bom pra todo mundo.
00:21Porque todo comediante tem uma piada pesada dentro do seu show.
00:25Porém, o Léo, ele levanta a bandeira de ter as piadas pesadas ali.
00:28Só que, cara, eu acho que o limite é onde você tá contando, pra quem você tá contando, por que você tá contando.
00:36E essa coisa de você conseguir contar uma piada boa com um tema pesado.
00:42Essa é que é a dificuldade.
00:44Porque se fosse fácil fazer o humor ácido, o humor negro, como você quiser chamar, se fosse fácil, qualquer um fazia.
00:53Então, a arte está em você fazer a pessoa rir e depois a pessoa se ligar e falar, puta que pariu, como é que eu tô rindo disso?
01:02Porque se você contar uma piada ruim, de humor negro, uma piada rasa, aí a pessoa vai olhar e vai falar, isso não tem graça.
01:10Isso é cruel.
01:12Por quê?
01:12Porque é uma ideia simples.
01:15É uma ideia que qualquer um teria.
01:16É uma piada fácil.
01:19Então, é bom que tenha o politicamente incorreto, porque o politicamente correto, porque ele torna...
01:26Eu tô copiando agora uma frase do Anthony Jesse Unique, que é o meu ídolo no humor negro, comediante americano muito foda.
01:33E perguntaram pra ele, o que você acha do politicamente correto?
01:37Ele falou, eu acho maravilhoso.
01:39Que é o que torna o meu trabalho mais difícil.
01:41E se não tivesse, seria fácil, entendeu?
01:44Não tem ninguém reclamando.
01:46Então, como é que você faz pra criar uma piada sobre um tema delicado, fazendo o menor número de pessoas possível se ofender com isso e a maioria dar risada?
01:56Porque a intenção do comediante é sempre fazer as pessoas mais felizes.
02:00Não é deixar ninguém puto.
02:03Deixar o cara que tá com uma doença terminal, chateado.
02:06Deixar um cadeirante mais triste, deixar uma pessoa que tá passando por uma dificuldade.
02:11É sempre divertir as pessoas.
02:13Então, tem limite.
02:15Não tem limite.
02:15Você não quer ofender alguém, isso é um limite.
02:18Como assim?
02:19Se você tá colocando como critério, eu tenho que ofender o menor número de pessoas possível.
02:25Eu tenho que ter cuidado, eu tenho que ter uma sofisticação pra construir uma narrativa que se torne engraçado.
02:31Ou seja, eu preciso fazer um exercício intelectual mais apurado.
02:34Sim, sim, sim.
02:34Quer dizer, existem alguns limites.
02:37Não, mas o limite...
02:38É porque existe.
02:39Se tá te desafiando...
02:40Porque você precisa chegar no que é engraçado e o que também não ofende ou que não...
02:44É, o limite que eu tô falando é o seguinte.
02:46Não tem limite de tema.
02:48É o tema.
02:49Tipo assim, eu não vou falar sobre isso.
02:50Eu, se você perguntar pra mim, Fábio, você tem limites?
02:53Eu tenho.
02:53Tem coisa que eu não falo.
02:55Tem algumas coisas que eu prefiro não falar.
02:57Então, eu tenho.
02:59Mas o humor não tem.
03:00Não tem como você falar que tem.
03:01Não tem.
03:01As pessoas são diferentes, lugares diferentes, tribos diferentes, pensamentos diferentes.
03:07Dependendo de onde você fizer uma piada, é uma coisa.
03:09Você vai pro outro, é outra.
03:10Eu já fiz show de...
03:11Eu faço muito show de stand-up em inglês também lá fora.
03:15Humor americano que é muito mais aberto pra você falar qualquer merda.
03:19Que todo mundo ri.
03:20Cara, fazer o mesmo texto na Alemanha.
03:23Uma plateia em inglês.
03:24A Alemanha é o país mais woke do mundo.
03:27A galera em várias piadas falando, mano, o que você tá fazendo?
03:30Por quê?
03:31Eles são um país que rolou um nazismo ali.
03:34Então, mano, pra eles qualquer coisa é motivo de...
03:38Opa, isso aqui não pode.
03:41Entendeu?
03:41Aqui você tá mexendo com minoria.
03:43Aqui não.
03:43Aqui não.
03:44Então, são lugares diferentes.
03:46É muito amplo isso.
03:48Mas eu acho da hora fazer uma piada sofisticada, sabe?
03:51Eu acho um desafio.
03:53Dá mais trabalho.
03:54É mais chato de fazer, mas é um desafio.
03:58Eu não sei se dá, mas eu entendi o seu ponto de vista.
04:02É tipo assim...
04:02Eu quero ver qual piada de tema delicado você vai fazer pra entender se é possível que isso fique engraçado.
04:09Dá pra fazer no ar, mas eu tenho dúvidas.
04:11Não, mas eu tenho...
04:11Entende assim, eu tenho dúvidas de se é possível você fazer uma piada dentro de um tema muito delicado e isso ficar engraçado.
04:19Se você conseguir, realmente, você é um gênio.
04:21Eu fiz um texto bem legal do Câncer da Camila, né?
04:24A gente fez isso.
04:25Tá no ar no stand-up, no meu show.
04:27É muita treta.
04:29E, cara, em nenhum momento foi desmerecendo ninguém, né?
04:32Foi um texto sobre a minha experiência casado com a Camila desde que aconteceu até todo o processo, né?
04:38Da gente indo no hospital, escolher o peito novo da Camila.
04:42Tudo isso, mano.
04:43Aí, tá vendo que você já tá...
04:44E é um tema muito delicado.
04:46E, tipo assim, tem caminhos, entendeu?
04:50Só que é o que eu tô te falando.
04:51Não é o caminho fácil.
04:53Eu gosto muito de uma analogia que você fazer uma piada, dependente do tema, você fazer uma piada muito pesada, é mais ou menos como um esporte radical.
05:02Sabe, você faz uma manobra, é um triplo carpado ali.
05:06A chance de você se ferrar é muito grande, mas se você acerta, é muito legal, entendeu?
05:11Sim.
05:12Mas eu tenho um ponto sobre isso.
05:13Você tava falando de um lugar de quem estava vivendo aquela situação.
05:17Sim.
05:17O que é diferente...
05:18Você é judeu.
05:19Sim.
05:19Então, você fazer uma piada sobre o judeu é diferente de eu, que não sou judia, querer fazer uma piada com esse tema.
05:26Você que é casado com ela, que viveu uma experiência delicada e que tem a sua vivência, transmutar e conseguir transformar isso em arte ou leveza, ou fazer disso algo que possa tirar um sorriso dos outros, uma gargalhada, é diferente de você tocar num ponto delicado onde você não tá sendo parte, né?
05:45Claro, eu concordo.
05:47Parte, né?
05:47Eu concordo e isso é um dos princípios do stand-up também, da gente falar um pouco da nossa experiência, das nossas questões, da nossa vida.
05:55Essa é a alma do stand-up, porém...
05:57Se tudo der certo na vida de um humorista, já é tudo bem, ele consegue ser engraçado, porque só as desgraças que viram piada, né?
06:05Mas eu acho que também, também, só vou voltar, acho que também dá pra fazer piada com aquilo que a gente não viveu.
06:10Também dá.
06:11Mas é aquela dificuldade, assim, como que você vai fazer?
06:14Estarei aguardando.
06:15É isso.
06:16Quero, quero, quero receber esse...
06:18Já tá no ar, né?
06:19Olha, o desafio está lançado, hein?
06:22Vamos lá pra uma sua.
06:24Olha só, essa é muito boa.
06:28Cadê ela?
06:29Peraí, um segundo.
06:30Eu perdi.
06:32Não é essa que eu queria.
06:34Aqui.
06:35Aspas.
06:35Eu fazia um quadro no programa do Faustão quando descobri que estava grávida do Rabin e era bem na época em que eu queria terminar o meu namoro com ele.
06:44Sacanagem, mano.
06:46Nossa filha tá aqui, pessoal.
06:48Tudo bom?
06:48Cara, maravilhoso!
06:49É isso.
06:50É isso mesmo?
06:52Pois é.
06:53Ele tava...
06:54Eu nunca tinha namorado ninguém conhecido.
06:57Nunca gostei.
06:58Sempre tive medo.
06:59Continuou sem namorar.
07:00É.
07:01É verdade.
07:02Você tava na...
07:03Você tinha acabado o CD no TV, né?
07:04Foi.
07:04Quando a gente começou.
07:07E...
07:08Cara, foi...
07:09Peraí, qual que era a pergunta mesmo?
07:11É pra você comentar essa fala sua de que você ia terminar com ele e na verdade você achou o homem na sua vida e casou.
07:17Exatamente.
07:17E teve uma filha maravilhosa.
07:19Então, exatamente.
07:20Então, ele tava numa fase que ele tava cobrindo rodeios.
07:24Ele tava fazendo...
07:26Tava sendo repórter, né?
07:27Pra rodeios.
07:28E aí eu falei que não é isso que eu quero.
07:30Porque eu sempre fui muito caseira.
07:32Eu sempre namorei muito sério.
07:33Nem era o que eu queria.
07:34Nunca fui de balada.
07:35Nunca...
07:36Nunca.
07:36E aí ele apareceu na minha vida.
07:38E aí eu falei, ah, vamos...
07:40Vamos se divertir aí, né?
07:41Porque eu nunca fui de festa nem nada.
07:43E com ele eu encontrei isso.
07:44Eu falei, nossa, que legal.
07:45É animada a vida com ele.
07:46Só quando eu vi que era animada demais, eu falei, ó, deu pra mim, hein?
07:50É.
07:51Bacana, tranquilo.
07:52E aí eu decidi que eu ia terminar com ele.
07:55E aí tava tudo certo.
07:57Dormi na casa de uma amiga minha e tal.
07:59E aí eu acordei e passei mal.
08:01Aí ela falou, vamos fazer um testezinho de gravidez?
08:06Falei, ah, será?
08:09Eu falei, não é possível.
08:10Não é possível.
08:10Porque estava tudo em dia.
08:12Remédio.
08:12Tava tudo acontecendo.
08:13Até o meu quarto mês.
08:14Tava tudo tranquilo com a, né?
08:16Com a natureza em mim.
08:18Então, eu falei, não, é impossível, é impossível.
08:21A gente fez, nós fizemos três ou quatro testes, alguma coisa assim.
08:23Você descobriu que você já tava com quatro meses de gravidez?
08:25Não, não.
08:26É que continuou.
08:28Eu continuei.
08:29Você continuou menstruando?
08:30Continuei menstruando.
08:31Eu não queria, eu não sabia se podia falar palavrão.
08:32Pode, aqui a gente pode falar tudo.
08:34A gente, é, aqui eu não sou muito do time na censura, entendeu?
08:37Eu acho que mulher pode falar palavrão, eu acho que tem que falar as palavras.
08:40Então, beleza.
08:41A gente tem que estar livre pra falar.
08:42A não ser que você não queira.
08:43Não, não, tá tudo bem.
08:45E aí, eu continuei menstruando, depois que eu descobri.
08:47Eu tava com um mês, eu acho.
08:49Um mês e pouquinho.
08:50Enfim, e aí eu fiz os testes e tal, e a gente tinha um bat mitzvah do sobrinho dele.
08:54E eu falei, é um bat mitzvah, né?
08:56Desculpa, é que eu sou católica, gente.
08:58Eu não sei diferenciar muito bem as coisas ainda.
09:00Mas aí, a gente ia ter essa festa e eu falei, meu.
09:02E tava tudo planejado pra eu terminar com ele depois dessa festa.
09:06Olha, calculista.
09:07Tudo.
09:07Porque eu falei assim, não, porque tava tudo combinado já.
09:10Eu falei, não, eu vou então.
09:11Você já tava sentindo que você ia tomar um pé na bunda?
09:13Já, porque eu ia dar também.
09:15Ele também.
09:16Eita!
09:18Não.
09:19A gente não tava bem.
09:20Não dá pra dar um pé na bunda numa mulher dessa, meu querido.
09:24Olha que Deus tá te dando uma segunda chance, de um jeito.
09:29A gente não tava legal, né, cara?
09:32Tava viajando muito.
09:32Ele tava viajando muito.
09:33Eu peguei um, ainda era muito moleque.
09:35A gente tava começando o namoro.
09:38Sim.
09:38E eu tava fazendo repórter de rodeio, carnaval, essas porras.
09:42Ele tava na gandaia.
09:43Ele gostava dessa vida e eu não.
09:46E aí, não tava legal pra nenhum dos dois.
09:48E aí, já tava tudo planejado na minha cabeça.
09:50Falei, eu até que tinha combinado com a minha amiga.
09:51Falei, vou dormir na sua casa.
09:53Aí, eu acordo, vou pra festa.
09:54Depois, eu converso com ele.
09:56Só que aí, aconteceu isso.
09:57A gente fez o teste.
09:58E eu falei, meu Deus do céu, mudou totalmente o contexto.
10:01Só que eu falei, vou continuar, né, com essa ideia, mas preciso conversar com ele.
10:05Só que a ideia é que eu demorasse um pouquinho pra falar isso, porque eu queria entender o que tava acontecendo.
10:10E aí, a gente chegou na festa, no Bar Mitzvah.
10:13E aí, tinha um tio dele que tava mal de saúde, né?
10:16Ele tava doente, tava bem doente, bem debilitado.
10:19Tinha pouco tempo.
10:20E tava todo mundo se cumprimentando.
10:22E na hora que eu cumprimentei ele, pra conhecer ele, você lembra?
10:25Como é que era o nome dele?
10:26Schneier.
10:27Schneier.
10:28Ele colocou a mão na minha barriga e falou, essa criança vai ser a coisa mais linda desse mundo.
10:31E é mesmo, vocês puderam ver, Bia, maravilhosa.
10:35E aí, a hora que eu tava do lado, assim, daí eu olhei e falei, mano, você tá louco, tio?
10:39É.
10:40E aí, essa aqui começou a chorar.
10:41Eu saí correndo, chorando, e aí todo mundo...
10:44Ele não sabia ainda?
10:45Ninguém sabia.
10:46Nem você sabia?
10:47Não, ninguém sabia.
10:48Aí eu fiz assim, viu?
10:48Eu cheguei na festa e eu falei, ok, eu vou aguentar a festa.
10:51E aí, depois eu converso com ele.
10:53E aí, o tio dele falou isso na frente de todo mundo.
10:55Aí, ele disse, tá louco?
10:56Aí, eu olhei.
10:57É, Camila saiu correndo, chorando.
10:58Aí, eu falei, meu Deus.
11:02Aí, eu comecei a chorar também, brincadeira.
11:04Eu fiquei meio desesperado.
11:05Aí, meu pai já veio, veio o tio e o irmão.
11:06Mas eu tô, já bateu o chão.
11:08É.
11:09E eu, trancada no banheiro, na hora que eu abria a porta, tava todo mundo, assim, em volta.
11:14Eu virei o evento, né?
11:15Virou o evento.
11:15Eu virei o evento da festa.
11:17Aí, minha sogra, você tá grávida.
11:19Aí, eu, ai, chorando.
11:21Eu tô, ai, sei o que.
11:22Aí, virou a maior festa.
11:23E aí, foi isso.
11:24A gente ficou, pra eu esconder da minha mãe, eu passei umas duas, três semanas.
11:28Você não sabe dessa história, né, filha?
11:30Passei umas três semanas na casa dele, porque eu não queria voltar pra casa, porque eu tinha
11:33certeza que minha mãe olhava pra minha cara e ia falar, você tá grávida, que eu sei.
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