00:00E quem está agora aqui no estúdio do Bom Dia Paraná para conversar com a gente é o educador Marcos Meier que vai falar sobre emoções agora nessa época, o clima de fim de ano desperta vários tipos de emoções.
00:17Bom dia. Veja, as emoções que a gente percebe que a gente pode ensinar para as crianças tem a ver com as frustrações que a gente tem das coisas que a gente deveria ter feito esse ano e ansiedade em relação ao que vai acontecer no ano que vem.
00:34E a gente pode ensinar as crianças o que a gente está sentindo e isso é importantíssimo fazer. Por quê? Uma criança que percebe, que sabe qual é a sensação, qual é o sentimento, qual é a emoção que eu estou sentindo, ela vai desenvolvendo uma percepção do entorno muito importante para que ela possa reconhecer as próprias emoções.
00:56Então, por exemplo, se eu estou com medo, ou estou angustiado, ou estou com ansiedade, eu tenho que falar para a criança, ó filho, eu estou meio ansioso, é que está, eu não sei se eu vou ser demitido ou não.
01:08Pode falar para a criança. Ah, mas isso vai deixar ela insegura? Ela fica mais insegura vendo que você não está bem, sem ter informação nenhuma, do que saber o que está acontecendo.
01:18Então, quando a gente fala isso, a criança já sabe, opa, esse tipo de comportamento é ansiedade. Aí ela própria começa a utilizar na linguagem dela, ah, eu estou ansioso.
01:29É bem bonitinho de ver isso acontecendo, mas acontece mesmo. Agora, quando a gente sempre diz assim para a criança, ah, filho, sai daqui, eu estou cansado, não quero brincar.
01:37Não é nada, não tenho nada.
01:38É, não tenho nada, não, está tudo bem, não tem nada, eu estou cansado. Sempre é cansado, cansado, cansado.
01:43Aí a criança não identifica a diferença entre frustração, ansiedade, medo, angústia, não sabe fazer diferença nenhuma.
01:51E aí ela não identifica nela própria, aí fica difícil de expressar.
01:56E quem não sabe expressar as emoções, não sabe controlar.
02:01É por isso que a gente vê tanta criança fazendo birra, manha, ou assim, tendo estouros emocionais,
02:07em situações que se pensa, mas só por isso, está fazendo um dramalhão desse, é justamente a criança que não aprende sobre as próprias emoções.
02:17E é importante também, Marcos, nominar na criança esses sentimentos, essas sensações, de repente, olha, você está assim porque você está com sono,
02:25ou você está cansado, você está bravo.
02:27É importante isso também.
02:29Exatamente. A gente tem que ajudar a criança a perceber qual é a emoção que ela está sentindo.
02:33Então, por exemplo, a criança já são 10 horas da noite, ela está cansada, irritada, com sono e tal,
02:39aí você pede alguma coisa para ela te ajudar a guardar os brinquedos, ela começa a chorar e ficar revoltada e brigar.
02:46Aí você pensa, mas eu só pedi para juntar o brinquedo, por que ela está desse jeito?
02:50É claro que nós, adultos, sabemos, por causa de tudo isso, está com sono, está cansado, está irritado.
02:55Então, o que a gente fala para a criança?
02:57Olha, você está assim, você está bravo porque você está com sono, está irritado, está cansado.
03:02Então, você fala, você expressa o que a criança está sentindo.
03:06Daí a criança vai aumentando essa capacidade de percepção sobre si mesma e sobre as outras pessoas.
03:12Inclusive, uma das características, por exemplo, do bullying, que a gente tem estudado nas escolas,
03:17é que muitas crianças praticam o bullying porque não fazem ideia da dor que a outra criança sente.
03:24Ela não se sensibiliza com essa dor do outro.
03:28Mas por que que não?
03:29Porque não entende, não consegue perceber.
03:31Ah, não é bem verdade.
03:33É sim, isso tem muito a ver.
03:36Então, a gente precisa ensinar as crianças a ter empatia pela outra criança.
03:40Mas como que a gente faz isso?
03:42Ela precisa primeiro reconhecer.
03:44Reconhecer nela.
03:45Reconhece nela as próprias emoções.
03:47Aí ela sabe, puxa, ela está com dor, está sofrendo, ela está triste, está revoltada,
03:51ela está se sentindo excluída, ela está se sentindo isolada,
03:55porque ela sabe o que é isso.
03:56Agora, se eu não sei que tipo de sentimento eu tenho, não vou descobrir isso na outra com facilidade de forma nenhuma.
04:04A gente falava também da questão das emoções nessa época do ano, né?
04:07Fim de ano, como a gente sabe, é cercado, dotado de expectativas, né?
04:11O que eu não fiz nesse ano, o que eu vou fazer no ano que vem.
04:15Mas como passar isso para a criança da melhor forma?
04:17A gente sabe que renovar é importante, mas também eu posso tentar fazer hoje, né?
04:22Por que eu preciso esperar para o ano que vem?
04:25Uma das características da maturidade emocional é a pessoa reconhecer a sua própria responsabilidade,
04:33tanto no fracasso quanto na vitória.
04:36Então, por exemplo, a criança passou de ano.
04:38Tem que parabenizar, que legal que você passou e tal.
04:42Mas o que a gente faz com a criança?
04:43A gente normalmente diz assim, olha que bom, Deus te ajudou, te abençoou e tal.
04:49Aí a criança fica pensando que passar de ano é responsabilidade de Deus.
04:54E aí ela não estuda de forma adequada.
04:56Você tem que dizer para a criança, olha, você passou porque eu vi você entregar as lições,
05:01você estudou, você pegou o livro, fez todas as lições de casa, parabéns.
05:04Mais uma vez, nominar.
05:06Isso, você nomina isso.
05:08Aí a criança sabe, você agradece a Deus por ele ter te permitido aprender.
05:14Aí você aprende, mas você fez todo o teu esforço para aprender.
05:17E aí você passou de ano, porque senão o que vai acontecer nesse novo ano que está chegando?
05:22Novamente, a criança não vai fazer lição, não vai estudar,
05:25deve ir ao desespero no final de ano, em aquela tentativa de correria
05:30para ver se dá para passar, ver se ainda dá para aproveitar alguma coisa.
05:34Para que tanto sofrimento?
05:35Começa desde agora já a fazer a coisa certa.
05:38E a coisa certa é responsabilizar a criança pelas conquistas e pelos fracassos.
05:44Se não foi bem nessa prova, se não estudou, você ficou no celular o tempo todo,
05:49então vamos mudar esse comportamento e vamos começar a agir de forma correta.
05:53Muito se discute em relação a presentear as crianças por essas situações, né?
05:58Como, por exemplo, você falou, uma criança que passou de ano,
06:01olha, está aqui um presente, é interessante isso?
06:03Não, porque é a responsabilidade da criança passar de ano.
06:08Por quê?
06:09Veja uma criança, por exemplo, fazendo uma prova de matemática.
06:12Ai, meu Deus, se errar isso aqui, vou perder tal presente.
06:14É uma pressão a mais, é mais um fator de ansiedade.
06:19Não precisa.
06:20Se você pedir para a criança mostrar todo dia a lição de casa,
06:24se você exigir do seu filho todo dia que sente e faça a lição,
06:28sente, estude, leia um pedaço do livro,
06:30qual é a consequência disso?
06:32Ir bem em todas as provas.
06:34E a consequência geral, passar de ano.
06:36Então, não posso ficar prometendo uma coisa lá no final do ano
06:40e não fazer nada durante o ano.
06:42Então, eu não estou nem aí com meu filho, nem olho, não acompanho, não faço nada.
06:46Aí, no final do ano, pergunto, e aí, filho, vai passar?
06:49Lembra do presente.
06:50Ah, mas aí não adianta mais, já não dá mais tempo de aprender, não faz sentido.
06:54Então, a gente tem que acompanhar o dia a dia,
06:57isso dá muito mais resultado lá no final do ano.
07:00E aí, o contrário, a criança que não foi muito bem,
07:02como ajudá-la a lidar com as frustrações, assim, nesse sentido?
07:06Normalmente, essas frustrações são resultado de falta de responsabilidade e de planejamento.
07:15Eu tenho uma ilustração nas minhas palestras para pais que é assim,
07:18a minha empregada diz, acabou o gás.
07:21Ah, vamos trocar, pega o outro.
07:22O outro botijão também está vazio.
07:25Ninguém me avisou antes e tem que esperar acabar para daí pensar em comprar.
07:31E aí, a gente vai nas lojas.
07:32A lógica é a mesma.
07:33Ela é a mesma.
07:34Você vai nas lojas, vai pedir um...
07:36Por exemplo, tem muitos quiosques de sorvete, você pede um sorvete lá.
07:40Ah, eu quero um com creme e chocolate.
07:43Ah, e chocolate não tem.
07:45Ué, acabou como?
07:47De repente, quando está um certo tempo, assim, já não dá para fazer o pedido,
07:51é total falta de planejamento.
07:54E aí, você vê isso direto em todos os lugares.
07:57Por quê?
07:57Porque as pessoas não aprendem a se planejar.
08:01E isso a gente pode ensinar para as crianças.
08:03Vai ter que aprender a planejar.
08:05O que você quer?
08:06Que nota você quer tirar?
08:07Eu quero tirar 10.
08:08Então, vamos fazer um planejamento de como que a gente tira 10.
08:12E aí, essas frustrações de quando não deu certo, a gente tem que fazer uma revisão.
08:17Por que que não deu certo?
08:18Esse ano, qual era o teu objetivo?
08:20Ah, o meu objetivo era tal.
08:22E deu certo?
08:23Funcionou?
08:23Não.
08:24Fiquei abaixo do que eu gostaria.
08:25Por quê?
08:26Você estudou bastante, não estudou, você fez a tua parte, não fez.
08:31Essa revisão é muito importante para fazer o quê?
08:35Mudanças no futuro e não para buscar culpado.
08:39Nos relacionamentos a dois, a tal da DR, discutir relação, tem um objetivo, buscar culpado.
08:47Vamos trocar isso, vamos mudar para AP, acertar os ponteiros.
08:50Daqui para frente, vamos acertar.
08:52Filho, daqui para frente, vamos fazer certo, em vez de ficar pegando no pé, criticando, dando castigo por causa do passado.
09:00Não, deixa para trás.
09:02Daqui para frente, vamos acertar?
09:03Vamos.
09:04Então, vamos planejar como vai ser.
09:06E aí, dá certo.
09:07Adorei.
09:08DR não mais, é AP.
09:09AP, a partir de água por causa.
09:10Isso, AP, exatamente.
09:11Você falou da questão das consequências, isso é interessante também, mostrar tanto no lado bom, quanto no lado que não é tão bom, as consequências de algumas atitudes e trabalhando isso na criança.
09:21É, exatamente.
09:22Veja, uma criança que deixa os brinquedos todos espalhados, aí um dia você está andando, pisa em uma esmaga.
09:29Eu não quero fazer isso, eu não quero trazer uma tristeza para o meu filho.
09:32Daí qual a minha tendência?
09:34Substituir o brinquedo porque fui eu que quebrei.
09:36Não, eu quebrei porque ele deixou no lugar errado.
09:38Então, chama o meu filho e digo, olha filho, me desculpe, eu quebrei, não vou trocar porque você sabe, você que deixou fora do lugar.
09:45Aí a criança começa a perceber que as decisões que ela toma ou a falta de decisão tem consequência.
09:52Mas a criança está chorando pela perda de um brinquedo, não é hora de ficar dando bronca, pôr o dedo no nariz e aumentar esse problema.
10:00Pega no colo, deixa chorar, deixa chorar, ela já está sofrendo por causa da perda.
10:06Não amplie esse sofrimento, mas faça ela perceber que aquilo aconteceu por causa dela.
10:11Tá certo, então. Muito obrigada pela sua participação.
10:13Foi um prazer.
10:14No estúdio do Bom Dia Paraná. Bom dia, Marcos.