Em entrevista ao Jornal Jovem Pan, o professor de relações internacionais, Danilo Portírio, avalia que o Hamas é o grande perdedor do acordo de paz em Gaza, apesar da libertação de reféns. Portírio destaca que o grupo terrorista "perdeu os principais aliados" no processo de negociação e é forçado a abdicar do poder em Gaza.
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00:00E quem analisa os resultados dessa cúpula no Egito é o professor de Direito e Relações Internacionais, Danilo Porfírio de Castro Vieira.
00:09Como sempre, professor, muito obrigado por estar aqui.
00:12Aliás, hoje cedo, quando a gente definir alguém que a gente convidasse para falar sobre o que nós tivemos nessa segunda-feira,
00:19eu falei, a gente tem que chamar o professor Danilo, que desde o início desse conflito conversa com a gente,
00:24faz uma análise profunda, um dos maiores especialistas em Oriente Médio.
00:27E eu já começo te perguntando o seguinte, há dois anos eu perguntava para o senhor, professor,
00:32como que era possível conversar com um grupo terrorista para tentar acabar com o conflito, amenizar o conflito.
00:39E por causa disso, hoje, nós temos um Hamas envolvido prometendo baixar armas e tudo mais.
00:46Mas é possível confiar, professor? Pessoalmente, o senhor é otimista, mais ou menos, ou pessimista?
00:52Boa noite, muito obrigado mais uma vez por estar aqui, professor.
00:54Boa noite, Tiago. Há dois anos tratando sobre isso e, nesse momento, eu vou dizer para você
01:04que eu sou um otimista com freios e contrapesos, com um certo pragmatismo.
01:12E te digo por quê. Eu estava ouvindo agora há pouco a Dora Kramer, né, dizendo sobre a questão que o Hamas,
01:23mais do que o movimento, é uma causa. Concordo, invermo e número, causas não são destruídas no estalar de dedos,
01:32ainda mais num longo período de ódio, alimentando o ódio. Eu não estou falando apenas de 2023, mas muito antes.
01:44Então, o Hamas se alimenta dessa frustração, desse ódio, desse rancor da população palestina local.
01:54É um movimento que eu sempre disse a vocês que é jihadista, ele tem uma visão de verdade triunfalista e universal.
02:04Eu não sei se vocês perceberam, né, recentemente, um repórter britânico acabou tendo uma entrevista com
02:12Khalil Al-Hayá interrompida porque ele não queria mais responder as perguntas,
02:19porque as verdades da causa do Hamas foram defrontadas, confrontadas, melhor dizendo, com a realidade, né, com a realidade.
02:28Mas uma coisa é certa. Aqui está meu certo otimismo.
02:34O Hamas foi o grande perdedor desse processo.
02:37Ele perde os seus principais aliados ao longo do conflito, Irã, Líbano com o que?
02:43Com o Hezbollah, a jihad muçulmã, a jihad islâmica, o movimento Hut no Iêmen e, obviamente, com esse ataque israelense,
02:55com a desativação, inclusive, do sistema Patriot no Catar, ficou muito claro que o Catar tinha que rever as suas posições
03:06quanto à proteção de integrantes do Hamas e à sua forma de mediação.
03:11Então, o Hamas, nesse momento, tem que deporar-nos, continua a ser internacionalmente reconhecido como um movimento terrorista,
03:22não participará do processo político, abre-se espaço para uma autoridade palestina,
03:32autoridade liderada pelo Al-Fatar, por Mahmoud Abbas,
03:37que precisa ser reformulado, mas está no projeto, e vemos uma coalizão árabe em torno da liderança norte-americana
03:50na composição de uma força de segurança na região.
03:55Então, nós vemos, sim, um enfraquecimento momentâneo, um período de enfraquecimento do Hamas,
04:03mas o futuro é que determinará se as causas também foram vencidas.
04:11Professor, vou trazer os nossos comentaristas, a Dora Kramer, a Deise Chocari, o Vilela daqui a pouquinho aqui.
04:16Comece por você, Dora Kramer.
04:18Boa noite, professor.
04:21Eu quero...
04:22Tem zilhões de perguntas, tá?
04:24Mas eu vou fazer a mais básica que está na minha cabeça, porque eu queria entender mesmo.
04:30Aí fico supondo que as pessoas também queiram entender.
04:33Queria que o senhor explicasse para a gente o que é um acordo de cessar fogo, o que é um acordo de paz.
04:40Embora o Trump chame de acordo de paz, a gente sabe que é acordo de cessar fogo, né?
04:46O que é um e o outro.
04:47E diante desse critério, o quão distante estaríamos num acordo de paz?
04:54Ótimo.
04:55A diferença entre o acordo de cessar fogo e um acordo de paz, Dora, está na cessação.
05:02No fim, na extinção de um conflito.
05:05No cessar fogo, temos uma suspensão.
05:08Numa suspensão e num processo de composição, cujo compromisso é o fim das hostilidades.
05:17É o fim dos conflitos.
05:18Ou seja, o estado de beligerância ainda existe, só que está suspenso.
05:25O acordo de paz, não.
05:27É a conclusão.
05:28É a extinção.
05:29Mas nós temos que entender que o Trump tem uma retórica midiática.
05:35Uma retórica, primeiro, de virilidade.
05:38Muito próprio do seu perfil, né?
05:41O populista.
05:42Como eu estava ouvindo a Deise também, é uma questão de poder, sim.
05:47De hegemonia.
05:48De afirmação.
05:49De hegemonia.
05:50Então, ele quer se mostrar como o grande pacificador do mundo.
05:55Ele tem ambições pessoais.
05:56Nós sabemos disso.
05:58Teremos que ver o ano que vem.
05:59Na nova premiação do Nobel.
06:01Mas essa é a pretensão do Trump.
06:04Então, o cessar fogo é uma suspensão que está condicionada ao cumprimento de certas regras.
06:12Então, entrega de prisioneiros, recíproco, deposição de armas, desocupação de áreas, né?
06:21Observação do cumprimento de certas cláusulas, de certos compromissos, no sentido da manutenção da ordem, de uma regra de estabilidade que será implementada.
06:37E, a partir dali, falaremos de paz.
06:40Só que há um detalhe, né?
06:43Em regra, dentro do direito internacional, desculpe, tratados de paz se fazem entre estados.
06:51Aqui eu estou fazendo entre estados e um movimento de cunho jihadista, na perspectiva do direito internacional, de cunho terrorista.
07:00Mas o próprio líder do Hamas, Khalil al-Hayat, hayat quer dizer vida, né?
07:08Espero que ele valorize a vida mesmo, né?
07:10Ele disse que as hostilidades cessarão definitivamente.
07:17Espero que a palavra empenhada seja a palavra cumprida.
07:21Daisy?
07:22Boa noite, prazer em falar com o senhor.
07:27Eu também, como a Dora, tinha uma lista de perguntas para o senhor, mas eu vou tentar ser mais objetiva aqui.
07:33Mas, a partir desse contexto que a gente tem, o senhor mencionou aqui, brevemente, o que deve ser discutido agora.
07:40A partir dessas discussões, tem mais algum ponto importante que precisa ser tratado para efetivamente chancelar a paz?
07:48E aí eu lhe pergunto, e como que fica a ONU no meio dessa história toda?
07:54Ainda nós não temos um papel claro sobre a ONU nessa questão.
08:00Nós sabemos que o Trump tem uma visão tanto crítica sobre a organização das Nações Unidas.
08:08O que eu acho é que, pelo que nós vemos do passado, é que a ONU terá um papel imprescindível nas ações humanitárias.
08:18Mas, você estava mesmo dizendo, tá, como nós vamos ver todo esse processo caminhar para a paz definitiva?
08:25É que o Hamas, como também o Estado israelense, obedeçam os planos, os pontos de implementação de um governo provisório,
08:41apoiado por uma força internacional, em grande parte árabe, muçulmana.
08:50Então, nós vamos ver Catar, países do Golfo, Arábia Saudita, Egito, Turquia participando desse processo,
09:00e ver esses agentes, Hamas e o governo israelense,
09:06respeitando a implementação do tal governo de notáveis palestinos,
09:13e, em um último momento,
09:17vermos essa transição passar para as mãos de uma autoridade nacional palestina.
09:25Que esse é o ponto.
09:26Reformar a autoridade, sanear a autoridade e fazer com que ela assuma.
09:34Não consigo vislumbrar ainda o Estado palestino.
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