Em entrevista ao Real Time, Milad Neto, diretor-executivo da K.Lume Consultoria Automobilística, explicou como o tarifaço de Donald Trump impacta montadoras e o setor de autopeças no Brasil. Ele comentou sobre perda de competitividade, desafios na exportação e a necessidade de fortalecer o mercado interno e a eletrificação do setor automotivo.
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00:00Voltamos a falar do tarifácio dos Estados Unidos, que atingiu não só as montadoras de veículos,
00:05mas também a indústria de autopeças.
00:08E nós vamos falar sobre esse impacto com o Milad Neto.
00:11Ele é diretor executivo da Calume, uma consultoria automobilística.
00:16Oi, Milad, muito bom dia pra você, tudo bem?
00:20Maravilha, Eric, tudo bem? Um prazer estar com você aqui e com seus espectadores também.
00:25Prazer é todo nosso, uma honra tê-lo aqui no Real Time, seja muito bem-vindo.
00:29E, Milad, queria abrir essa nossa conversa, esse nosso bate-papo, te perguntando o seguinte.
00:34Quais reflexos o tarifácio de Donald Trump já provocou na indústria de autopeças?
00:40É uma mexida muito grande, né?
00:43É uma mudança constante.
00:45Lá atrás, a gente passou por dois processos e acaba impactando diretamente aqui o nosso processo produtivo.
00:54Por quê? Porque a gente, o mercado norte-americano é muito relevante pro mercado brasileiro.
01:02Só que o mercado de autopeças, né?
01:04Só que o mercado brasileiro, ele é pouco relevante pro mercado norte-americano, né?
01:10Então, existe essa questão que é muito relevante a gente chamar atenção.
01:14Essa importância que a gente tem para o mercado norte-americano.
01:20Então, a partir do momento que a gente teve aquele primeiro patamar de elevação da alíquota,
01:26a gente ainda estava competitivo.
01:27Claro, a partir do momento que você tem aí um preço elevado, a nossa indústria passa a ser menos competitiva.
01:34A partir do momento que você tem um segundo salto, aí fica bem difícil estar competindo diretamente com quem lá fabrica, né?
01:42A indústria norte-americana, não existe nenhum analista que pense diferente nisso e vai passar por uma certa turbulência, né?
01:52Falando da oferta de veículos, porque ela não é autossuficiente, né?
01:56Ela precisa comprar maquinário.
01:58Ela está concentrando novamente as operações e que não é virar uma chavinha e que de um dia para o outro você passa a ter tudo localizado.
02:08Isso demanda um certo tempo.
02:10Então, nesse contexto, a gente vai ver uma certa turbulência ainda nos próximos anos dentro do mercado norte-americano.
02:18Milad, você falava dessa fatia ou da importância do setor ali para os Estados Unidos.
02:24Então, qual que é a fatia do setor de autopeças na corrente de comércio exterior do Brasil?
02:29Olha, ela é relevante, ela é importante, a gente exporta bastante, né?
02:36O número aqui, se eu passar para você agora, eu vou estar te induzindo a erro, eu realmente não lembro.
02:42Isso acaba mudando de ano a ano, mas é uma fatia aí representativa, tá?
02:46A gente não tem, é claro que é dentro do setor industrial, se a gente falar sobre o todo, a gente tem muita coisa mais relevante aqui para atuar dentro do mercado brasileiro,
02:56como agrícola, como, enfim, uma série, não é a pecuária, o setor agropecuário como um todo, mas, enfim, dentro do setor industrial é uma fatia relevante
03:06que tem que ser levada em consideração e o fechamento desse mercado ou a diminuição da competitividade é impactante para o setor,
03:16porque o Brasil necessariamente precisa abrir outros mercados para que a gente consiga escoar a produção, né?
03:24É claro, a gente tem um mercado interno relevante, importante, mas, de qualquer forma, a gente precisa ter aí outros mercados para que a gente consiga escoar a nossa produção.
03:34Em cima disso que você falou, o Brasil tem como, então, substituir as exportações de autopeças para outros parceiros?
03:41Eu gostaria de dar alguns exemplos, por exemplo, o México é um importante player automobilístico também, né, de venda, inclusive para os Estados Unidos,
03:51a gente viu a Ásia aí com o setor automotivo, principalmente, hoje em dia, no que se refere aos carros eletrificados também, crescendo, dá para substituir ou não é bem assim?
04:04É, é difícil, porque, assim, você falando de Ásia, tem a própria China.
04:09Você falando de México, o México tem uma indústria automobilística muito forte.
04:14Eu acredito muito que a gente tem que, primeiro, fortalecer o nosso mercado interno.
04:19O Brasil tem uma frota circulante muito grande, capaz de estar absorvendo grande parte dessa produção de autopeças,
04:31mas só disso não sobrevive a indústria.
04:33Então, a gente tem que ter aí um mercado capaz de elevar a nossa capacidade de compra de mercados de zero quilômetros,
04:42desse patamar dos últimos anos de 2 a 2,2 mil, que passou o ano passado para 2,4 milhões de veículos,
04:50uma tendência para superar os 2,6 milhões desse ano, mas a gente tem que levar esse patamar para cima de 3 milhões.
04:58O número muito bom para o Brasil tem uma capacidade produtiva perto de 5 milhões, sempre falando de novos.
05:06O número interessante para o Brasil seria uma produção de 3,5 milhões, com uma venda muito perto disso também.
05:15E aí, fortalecimento da relação dentro dos nossos vizinhos da América do Sul,
05:21e aí o excedente é a gente exportar.
05:24A gente pensar numa cadeia além disso, por exemplo, a gente pode pensar também em exportar para o mercado africano,
05:35só que a gente sofreria uma incidência muito forte dos usados europeus.
05:40Na Ásia, toda a competição dentro da própria China.
05:43Então, sim, existe uma complexidade muito grande que aí a gente ficaria também muito pouco competitivo.
05:50Então, eu particularmente apostaria, primeiro, dentro do mercado, um fortalecimento dentro do nosso mercado,
05:56só que isso ensejaria aí um desenvolvimento das nossas políticas econômicas,
06:03um advento aí da economia do consumidor para que fosse comprar.
06:09Eu, particularmente, também não sou favorável a simplesmente um investimento ou uma mudança do IPI
06:13sem deixar nenhum tipo de legado, isso é uma outra discussão muito importante.
06:18Depois, a gente estabelecer acordos via Mercosul aqui para os nossos vizinhos.
06:25Lembrando, o Brasil é o maior mercado, maior potência regional dentro do setor automobilístico.
06:30Depois vem a Argentina, historicamente, com um terço do mercado brasileiro.
06:35E depois o Chile, com metade do mercado argentino, ou seja, um sexto do mercado brasileiro.
06:42Então, a gente tem aí esse escalonamento.
06:44Outros mercados relevantes, Colômbia, a gente tem Uruguai, enfim, a gente tem aí outros mercados
06:52para a gente conseguir expandir aí essa oferta.
06:55Mas tudo, claro, centralizando aqui as operações.
06:58E a gente tem aí essa dificuldade desse estabelecimento aí de relações comerciais e de produção também.
07:05A gente está aí com uma dificuldade. Por quê?
07:07Porque o Brasil sofre hoje qualquer tipo de consequência em função dessa centralidade.
07:14A gente tem qualquer tipo de crise econômica que a gente tem aqui no mercado interno.
07:21A indústria automobilística é uma das primeiras que sofrem.
07:24E o Brasil teve nos últimos anos, tantas, falando aí desde o início dos anos 2000,
07:29tantas crises econômicas que bateram diretamente no nosso mercado.
07:33O Milad, a gente sabe que o tarifácio de Donald Trump pode e deve reduzir o volume de investimentos
07:39da indústria automobilística.
07:41Isso impactaria diretamente também o setor de autopeças, né?
07:45Sim. Olha, Eric, existe uma discussão grande também, muito boa com a sua colocação.
07:51A gente tem um movimento de investimento muito grande denominado...
07:55Mover, depois do Mover, veio o Rota 2030, depois passou pelo Mover, me desculpa,
08:05e que agora teve uma reformulação do nome dele, né?
08:08Então, assim, existe uma previsão de investimento já muito grande via o Mover.
08:13parte desses recursos são destinados ao desenvolvimento local de tecnologia, de P&D, né?
08:22De pesquisa e desenvolvimento.
08:24Então, assim, eu espero que esse tipo de recurso seja destinado ao mercado brasileiro de fato, né?
08:30E que será?
08:31Estou falando da parte do recurso em si, né?
08:33E que isso daí não seja atrapalhado em função de qualquer tipo de diferença, de diferente cenário.
08:39Existe uma estimativa de que existe uma...
08:43Todas as empresas estão com vultuosos investimentos programados para o mercado brasileiro até 2030.
08:51Por quê?
08:51Porque a gente está passando por um momento de transição na indústria, né?
08:55Em função da eletrificação.
08:57Não digo que o mercado brasileiro é o mercado de veículos elétricos, digo que é o mercado de híbridos.
09:03E a gente passou desde 2015 até 2023 sem investimentos substanciais nessa área, né?
09:10Então, a indústria está agora tendo que se mexer, né?
09:13Entre aspas, a ponto de ter que desenvolver e correr atrás aí do prejuízo de tempo, né?
09:19E não ter investido muito nessa área.
09:22O mundo andou nessa área com ênfase ao mercado chinês.
09:27E aí o Brasil está tendo que correr.
09:29E aí a gente está desenvolvendo, existe uma montadora muito grande, uma fabricante muito grande,
09:34que tem um conglomerado de outras empresas juntos, que já lançou dois produtos.
09:39Tem a previsão de lançar aí mais dois produtos.
09:42Os produtos que eu falo são veículos, tá?
09:44E a tendência é que aí exista para 2026 uma série de outros lançamentos
09:49que vão aí para essa área de início da eletrificação aqui no mercado brasileiro.
09:54E tudo isso em seja claro investimento.
09:57Desculpa.
09:57Imagina que isso, só para a gente finalizar então, você falou uma coisa importante, né?
10:00Do mercado de eletrificados.
10:02O setor de autopeças vai ter que se reinventar também em relação a isso?
10:07Olha, o mercado de autopeças, ele depende da indústria, de quem lança, de quem produz.
10:15Existe uma correlação.
10:17Existem muitas empresas, inclusive, que a gente chama das principais, o Tier One,
10:21que são as empresas principais, são maiores até do que muitas fabricantes locais, né?
10:28Você vê aí grandes autopeças, não vou citar nome de nenhuma aqui, mas de qualquer forma,
10:35elas são muito maiores do que várias fabricantes, até em nível global.
10:38Mas, assim, essas fabricantes, e aí se a gente colocar aí Tier 2, Tier 3, que são abaixo da cadeia,
10:46elas dependem, de fato, da indústria automobilística principal, né?
10:50Se você não tem lançamento, se você não tem desenvolvimento local,
10:55essa indústria tende a desaparecer, porque você não tem o que fomentar.
11:00Você vai fomentar a indústria de usados, que não seja um desenvolvimento tão grande.
11:05Então, essa logística é muito importante e é muito relevante.
11:09Essa logística não, esse processo é muito importante e é o processo que eu não vejo
11:13como qualquer risco no médio e longo prazo o Brasil tem.
11:17Muito pelo contrário, eu vejo uma empresa, uma área que tem aí uma longevidade muito grande
11:23dentro do mercado brasileiro.
11:25É claro, com atenção, por quê?
11:27Porque existe uma movimentação global, existe uma indústria expoente,
11:31que é a indústria chinesa, existe o mercado norte-americano mudando as tarifas aí
11:36para proteger a indústria local, é muito grande.
11:39Então, assim, a gente tem que fomentar essa indústria, a gente tem que se preocupar
11:43e a gente não pode esquecer que lá em 1957, com Juscelino Kubitschek,
11:48foi onde a gente iniciou a nossa indústria automobilística nacional.
11:52Foi com o plano de metas que ele lançou, foi essa indústria que conseguiu
11:58da base de sustentação para o que nós temos hoje.
12:02Miladir Neto, queria muito agradecer a sua participação aqui no Real Time.
12:06Obrigado, viu?
12:07Uma ótima segunda-feira e uma boa semana para você.
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