Lucas Ferraz, coordenador do centro de negócios globais da FGV e ex-secretário de Comércio Exterior, analisa o impacto dos acordos Mercosul-EFTA e Mercosul-União Europeia em meio ao avanço do protecionismo global e à busca por novos parceiros comerciais.
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00:01Money Times de volta e entre hoje e amanhã a capital da Argentina, Buenos Aires, sedia a cúpula dos chefes de Estado do Mercosul.
00:09E o presidente Lula estará presente nesse evento que traz a expectativa de concluir o acordo do bloco com a União Europeia.
00:16E-secretário nacional do Comércio Exterior e coordenador do Centro de Negócios Globais da FGV já está aqui com a gente no Money Times e vai comentar mais sobre essa cúpula.
00:25Tudo bem? Boa tarde, Lucas. Seja muito bem-vindo ao Money Times.
00:30Estou aqui com vocês.
00:33Tudo certo. Bom, e a gente tem informação de Mercosul e EF está concluindo negociações para um tratado de livre comércio.
00:40O que você traria como destaque de principais expectativas em relação a isso, Lucas?
00:47Olha, será uma cúpula, como todas as outras, de seis em seis meses.
00:51O Mercosul, que hoje tem Argentina e Brasil com dois presidentes com linhas ideológicas claramente diferentes,
01:01mas que certamente fará um acordo, um anúncio de um acordo importante, que é o acordo Mercosul-EFTA.
01:09Eu diria que esse seria, digamos, o grande destaque de anúncio dessa cúpula.
01:14É importante também a gente fazer um retrospecto e lembrar que o acordo Mercosul-EFTA, assim como o acordo Mercosul-União Europeia,
01:22ele foi, digamos, as suas negociações foram anunciadas como concluídas em 2019.
01:28Então, o que a gente vai observar nos próximos dias é um reanúncio de um acordo que já havia sido negociado em 2019,
01:38digamos, com compromissos adicionais assumidos do lado do Mercosul na questão ambiental,
01:45reforçando a importância da preservação ambiental nos nossos países,
01:50que era, de fato, uma questão e que sempre tem sido uma questão de embate entre europeus e nós aqui do Mercosul,
01:57não só nesse acordo, mas também no acordo Mercosul-União Europeia.
02:02E, do lado do Mercosul, eu diria que compromissos, pequenos compromissos adicionais,
02:08com a característica do governo brasileiro atual, que é uma característica mais protecionista.
02:13Então, eu cito como exemplo a questão do capítulo de compras governamentais,
02:17onde o governo brasileiro pediu para os países do EFTA restringir, digamos, o nível de ambição desse capítulo,
02:25para, com isso, fazer aquilo que se acredita muito nesse governo, que é a política industrial,
02:31algo que o governo anterior certamente tinha uma visão muito distinta em relação a isso e queria, pelo contrário,
02:37ampliar o nível de ambição das compras governamentais, aumentar a competição das compras governamentais do governo
02:44e, em última instância, fazer com que o governo gastasse menos nas suas compras governamentais
02:49e também diminuindo a possibilidade de corrupção nesse tipo de compra pública no Brasil,
02:56que a gente sabe que tem um histórico que não é muito favorável.
03:00Certo.
03:00Legal.
03:01Felipe.
03:01Oi, Lucas, boa tarde.
03:03Lucas, vamos falar, então, só um pouquinho mais específico desse acordo do Mercosul e EFTA.
03:07Então, vamos lembrar, o EFTA é composto por quatro países, é uma micro União Europeia,
03:12são países ali que não fazem parte da União Europeia, mas estão ali no continente.
03:16Então, Liechtenstein, Noruega, Islândia e Suíça.
03:20O Brasil deve exportar o quê para eles e eles devem exportar o quê de volta para o Brasil?
03:25Olha, basicamente é o comércio tradicional do Brasil com países desenvolvidos.
03:32Lembrando que o EFTA é uma região entre as mais ricas do mundo em termos de PIB per capita,
03:38a gente está falando de algo como 1,5 trilhão de dólares, então, se a gente pensar no conjunto
03:43desse acordo, seria algo como 4,3 trilhões de dólares e um potencial de consumidores da
03:50ordem de 290 milhões de consumidores, que é a população que abrange os países do EFTA,
03:56mais os países do Mercosul.
03:57O país do EFTA, especificamente, algo em torno de 15 milhões de habitantes.
04:01O Brasil, certamente, vai ter ali alguma vantagem, o Brasil e o Mercosul,
04:05nas exportações de commodities agrícolas, ainda que sejam, digamos, uma oferta do lado dele
04:10sempre muito conservadora, assim como é no caso também dos países da União Europeia,
04:16no acordo do Mercosul-União Europeia, cotas específicas para produtos do nosso agronegócio
04:21e do lado deles a exportação de produtos e insumos, sobretudo para a nossa indústria
04:28brasileira, produtos industriais.
04:30Então, eu diria que é um acordo importante na medida que a região do EFTA, ela é muito
04:35conectada, obviamente, com os países da União Europeia.
04:38Então, ao fecharmos um acordo com o EFTA, com esses quatro países, mas, posteriormente,
04:44um acordo com a União Europeia, isso vai impulsionar em muito a competitividade da indústria
04:50brasileira ao aumentar o nível de conexão da nossa indústria às cadeias regionais
04:56e globais de valor da União Europeia.
04:58Então, pelo lado da importação, é também bastante importante justamente por dar acesso
05:05ao nosso setor industrial a insumos, a bens de capital, mais baratos, de maior variedade
05:11e melhor qualidade.
05:12Então, é um acordo que tende a ser positivo, ainda que em um grau muito menor em termos
05:17de impulso ao comércio e aos investimentos, que será, certamente, o acordo Mercosul-União
05:22Europeia, que tudo indica, será, digamos, internalizado até o final desse ano ou até o começo
05:29do ano que vem, a depender aí de como as coisas vão acontecer na União Europeia, sobretudo
05:34em relação à resistência francesa.
05:37O Lucas, esse acordo Mercosul-União Europeia, ele já tem anos aí que ele vem se arrastando,
05:43vem sendo discutido.
05:44Agora, assim, ele caminhando, como é que fica as relações comerciais do Mercosul com
05:50outros países, com outros blocos, por exemplo, Estados Unidos, Reino Unido?
05:55Olha, eu diria que é positivo, quer dizer, no momento em que você tem uma globalização
06:00que está sendo colocada em xeque hoje, com a postura, eu diria, mais assertiva dos Estados
06:06Unidos atualmente, no sentido do rompimento das regras comerciais, de um afastamento ainda
06:12maior da OMC e de um protecionismo, certamente, muito claro, com a elevação de tarifas, sobretudo
06:18a partir do 2 de abril, chamado Liberation Day, é um momento em que muitos países do mundo
06:23e blocos estão buscando diversificar os seus parceiros comerciais e, de alguma forma,
06:28diminuir a dependência dos Estados Unidos.
06:31Eu diria, inclusive, que o anúncio desse acordo amanhã na cúpula do Mercosul em Buenos
06:37Aires, o acordo, a conclusão das negociações, o novo anúncio, Mercosul-Efta e, possivelmente,
06:44também a internalização do acordo do Mercosul-União Europeia, esses dois acordos são consequências
06:51diretas, eu diria, desse ambiente internacional mais hostil que a gente está vivendo no que
06:57tange ao protecionismo americano e à busca dos países europeus pela diversificação dos
07:02seus parceiros comerciais.
07:04Lembrando que a União Europeia não só está anunciando, já anunciou em dezembro do ano
07:10passado a conclusão das negociações com o Mercosul e o Efta agora também deve anunciar
07:14amanhã, junto com o Mercosul, esse novo acordo, mas a União Europeia como um todo também negocia
07:19hoje com a Índia, né, um novo acordo, negocia, anunciou recentemente o acordo com a Nova
07:24Zelândia, está negociando também com a Malásia, né, o próprio Reino Unido também
07:29está fazendo uma aproximação maior com a União Europeia e, de certa forma, indiretamente
07:34também se beneficia desse movimento do Mercosul, né, já fez também um movimento em relação
07:39a CPTPP, que é aquele mega acordo regional asiático, compreendendo ali cerca de 15% do PIB
07:44mundial, ou seja, o mundo está se reorganizando, né, já faz algum tempo, mas eu diria que
07:50com muito mais ênfase agora em função do governo americano e das atitudes hostis, né,
07:56que estão sendo claramente tomadas pelo governo Trump no que tange a um maior protecionismo
08:01americano, digamos até um maior isolamento comercial americano e um tratamento, eu diria
08:06até de certa forma coercitivo em relação a outros países no que tange às negociações
08:10que hoje estão em curso, resultado do Liberation Day de 2 de abril.
08:14É, então esse fechamento, né, e a intransigência ali acabou servindo como um chacoalhão, né,
08:19para os outros países, opa, deixa eu me abrir aqui para outras possibilidades, né?
08:24Exatamente, exatamente, é muito em função do movimento que está acontecendo e aí esse
08:28resultado, de certa forma, nos beneficia, né, o Mercosul, que é um bloco que geralmente
08:33tem um dinamismo muito baixo, né, historicamente, agora conseguindo concluir acordos, que eu volto
08:39a insistir, né, já estavam basicamente negociados no governo passado. O acordo com
08:44Singapura, que foi anunciado em 2022, foi reanunciado em 2023 e agora os acordos Mercosul-Uni
08:50Europeia em dezembro do ano passado e o acordo Mercosul-Efta, que será reanunciado amanhã
08:55na cúpula do Mercosul. Boa notícia para o Mercosul, mas ainda precisamos muito mais,
09:01precisamos diversificar ainda muito mais e nos inserirmos muito mais no mundo, porque
09:05ainda somos uma região muito fechada, muito pouco inserida e de baixa produtividade.
09:11Pontos muito importantes trazidos pelo Lucas Ferraz, ex-secretário nacional de Comércio
09:15Exterior e coordenador do Centro de Negócios Globais da FGV. Muito obrigada, viu, Lucas,
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