Leonardo Paz Neves analisa o novo relatório do Banco Mundial que mostra o fracasso iminente da meta de erradicação da pobreza extrema até 2030. Conflitos, crise econômica e avanço da extrema direita estão entre os entraves.
🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!
Siga o Times Brasil nas redes sociais: @otimesbrasil
📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:
🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais
🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562
🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube
🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings
00:00Esse quadro que a gente viu aí no VT todo, né, torna cada vez mais distante a meta de erradicar a pobreza extrema até 2030.
00:08É o que mostra um relatório divulgado hoje pelo Banco Mundial, que destaca os impactos da insegurança alimentar e da baixa capacidade dos governos.
00:17Sobre esse tema, eu converso agora com o Leonardo Paz Neves, que é analista da FGV.
00:22Oi, Leonardo, boa noite pra você, seja bem-vindo ao Conexão.
00:26Boa noite, sempre um prazer estar com vocês aqui.
00:28Obrigada pela sua participação.
00:30Bom, Leonardo, o relatório confirma, na sua opinião, a leitura de Guterres de que a gente vive perigosamente aí fora dos trilhos?
00:39Sim, lamentavelmente não é uma notícia nova, a gente já sabe disso já tem algum tempo.
00:45A gente já veio assistindo, na realidade, uma piora sensível nos últimos anos, especialmente em função da pandemia.
00:51A gente está num contexto em que você tem um aumento expressivo de dívida dos países de maneira geral,
00:56não só dos países em desenvolvimento e menos envolvidos, mas também dos países mais ricos.
01:00Isso afasta com que eles tenham dificuldade maior de poder fazer todas e implementar as reformas que o Banco Mundial sugere,
01:07como investimento em educação, infraestrutura, saúde, entre outros.
01:10A gente tem um cenário em que, no contexto da guerra da Ucrânia, e desde então, a gente tem visto um aumento na inflação,
01:21especialmente de combustível e de grãos, o que pressiona a inflação desses países em termos de combustíveis,
01:26de maneira que irriga toda a economia, e grãos que vai, no final das contas, impactar na inflação sobre o alimento,
01:32o que, obviamente, vai gerar mais pressão sobre os mais pobres.
01:36E nesse contexto de que já está ruim os mais pobres, os países mais ricos, obviamente, estou falando de Europa e Estados Unidos,
01:45reduzem a quantidade de ajuda que eles costumavam dar, porque também enfrentam dívida da Covid,
01:50também enfrentam desafio energético em função da crise da Ucrânia.
01:54E agora, a gente tem visto com o governo Trump, basicamente, o corte fundamental no USAID,
02:00que é a grande agência de cooperação internacional dos Estados Unidos,
02:03coloca, mais uma vez, os países em desenvolvimento, na realidade, os menos desenvolvidos,
02:08numa situação cada vez mais dramática.
02:10É, então, era exatamente essa a minha próxima pergunta.
02:13A gente sabe que a meta é uma meta difícil, é uma meta complicada de se atingir,
02:18mas a suspensão da ajuda humanitária por Trump foi, de fato, decisiva também, né,
02:23para distanciar o mundo dessa meta do Banco Mundial.
02:28Sem dúvida. Eu acho que desde a Covid, a gente está em uma situação, como eu coloco, muito difícil,
02:32países endividados, países ricos, inclusive, se endividando,
02:36reduzindo, então, sua capacidade ou vontade política de destinar mais dinheiro para esses países
02:42e menos desenvolvidos.
02:43O contexto da guerra também faz com que você bote menos dinheiro em ajuda humanitária,
02:49em ajuda para desenvolvimento, em cooperação técnica, que me parece super importante nesse contexto,
02:53para levar recursos até, no caso, para a Ucrânia, agora para a Israel,
02:58para poder financiar o conflito que eles têm armado.
03:01E os Estados Unidos, em torno da ideologia, maga, de make a great great again, de isolacionismo,
03:07obviamente, é a pá de cal dentro dessa lógica, porque não é só a questão do tem pouco dinheiro.
03:14Simplesmente não vamos fazer por uma questão de decisão política.
03:18Obviamente, isso deixa esses países, como eu coloquei, muito pressionados e muito vulneráveis.
03:22E, obviamente, eu acho que a capacidade de atingir essas metas é virtualmente zero nesse momento.
03:28Com certeza. E, assim, na sua opinião, você acha que ainda há um certo tempo aí
03:34para reverter, pelo menos que minimamente, as projeções e frear o avanço da fome e da pobreza extrema?
03:40Essa pergunta tem que estar ancorada em uma dimensão de tempo.
03:46Eu acho que no curto prazo, não. Eu acho que a gente não vai conseguir melhorar isso no curto prazo.
03:51Eu acho que no médio prazo, uma vez mais ou menos resolvida a questão desses dois conflitos importantes
03:57e reorganizado a situação política dos Estados Unidos, a gente volta pra um grau que eu vou chamar de normalidade
04:05no sentido que a gente vinha vendo antes do governo Trump.
04:11Se forças políticas mais nacionalistas na Europa também não ganham muito terreno,
04:16a gente vai olhar pra um cenário ali mais do início dos anos 2000,
04:19aí sim eu acho que com alguma estabilidade econômica você pode ter uma reversão desse quadro
04:24que a gente vive hoje, mas eu estou olhando pra médio prazo.
04:28No curto prazo, eu acho que a probabilidade me parece muito baixa.
04:31Agora, você acha que o crescimento da extrema-direita dificulta também esse tipo de ambição?
04:37Dificulta porque a lógica da extrema-direita, enquanto ideologia, é uma ideologia mais nacionalista,
04:42é uma ideologia mais isolacionista, ela tende a ter a temática de cooperação internacional,
04:48de ajuda humanitária, tem menos apelo.
04:52Ao contrário, quando se olha pros países menos envolvidos, você não vê uma oportunidade
04:57de tentar melhorar a vida daquelas pessoas, melhorar com aquele país se desenvolvendo,
05:01pode até se tornar um novo mercado pros seus produtos, não é essa lógica.
05:06Quando você olha pra países menos envolvidos, você vê um imigrante,
05:09você vê um imigrante perigoso, terrorista, criminoso e quer vir pro seu país.
05:13Então, a ideia é você isolar, de certa maneira, o seu país em quase todos os aspectos.
05:16Então, dentro da lógica ideológica dos movimentos nacionalistas de extrema-direita,
05:22sim, eu acho que esse quadro se permanece como está hoje.
05:26Leonardo, você tem algum outro, algo que você destaca desse relatório que de repente
05:31te chamou a atenção ou não, na sua opinião, claro, apesar dos números serem alarmantes também,
05:36né, assustadores aí, algo te chamou a atenção ou foi tudo como já estava previsto, basicamente?
05:42Tudo está mais ou menos como previsto, o que eu acho que é dramático no contexto do relatório,
05:48que ele indica, o que me parece que a gente já tinha expectativa, no ponto de vista de quem estuda isso,
05:53é, obviamente, o drama dos conflitos, né, e eu acho que uma coisa que não está exatamente no relatório,
05:57que é mais uma análise política, é a dificuldade que a gente tem de conseguir encerrar mais ou menos alguns conflitos.
06:04A gente tem visto o conflito, especialmente na África, e, bom, em alguns no Oriente Médio,
06:07como a gente viu da Síria recentemente, muito prolongados, o que faz com que a probabilidade
06:11de você conseguir reestruturar o país é muito baixa, né, quando você tem grupos armados,
06:17obviamente, disputando poder com o Estado dentro de um determinado país,
06:23a probabilidade é quase zero de você conseguir alavancar, de fato, a economia do país,
06:27criar um grau de estabilidade mínimo e romper um pouco o fluxo de refugiados,
06:33e quando a gente pensa no refugiado, a gente pensa muitas vezes no refugiado,
06:35uma pessoa super pobre que vai sair do seu país para lavar prato, coisa parecida.
06:41Quando explode um conflito, as primeiras pessoas que saem são as mais capacitadas,
06:45é justamente o que a gente chama de fuga de cérebro, nós somos melhores capacitados,
06:49que têm mais condições de achar emprego, outros países saem primeiro,
06:52e são justamente essas pessoas que a gente precisa para poder alavancar e melhorar esses países.
06:57Então, eu acho que o prolongamento dos conflitos, de maneira geral,
07:00me parece um drama particularmente complexo, que, obviamente, impede
07:04com que tudo o que a gente está pretendendo para atingir essas metas de desenvolvimento
07:07seja concluído.
07:09Que é o grande desafio geopolítico hoje, né?
07:12Muito obrigada, viu, Leonardo Paz Neves,
07:14pela sua participação ao vivo com a gente aqui no Conexão.
07:17Uma ótima noite para você, bom fim de semana.
Seja a primeira pessoa a comentar