00:00E o que é só fazer duas perguntinhas, uma um pouquinho mais, como é que a gente fala, mais temperadinha assim, é o seguinte, existe um espaço aí, e essa é a parte mais pegadinha da pergunta, que é, existe um espaço aí para dar um pito no presidente da república?
00:18É razoável você pensar que lá na ata ou que no comunicado o Roberto Campos está fazendo um pouco de política para falar, olha, esse rumo do fiscal aí, você não devia estar fazendo assim porque você está estragando o nosso negócio aqui.
00:38E a outra pergunta, mas pode responder a segunda primeiro, existe uma, só para entender como funciona ali esse debate, existe alguma, o presidente é um chefe, percebe que no sentido de, ah, poxa, eu vou votar com ele aqui, que é para não ficar muito chato, depois vai ter o batismo da minha filha, aquelas coisas, existe de alguma forma essa pressão?
01:04Não, deixa eu ver, aí é mais complicado assim, para mim, porque a minha experiência é restrita a trabalhar com o Henrique, no caso do Henrique.
01:16Não teve?
01:17Não, não, eu desconfio que ninguém, sabe, assim, de...
01:20Não, eu acho que sim, eu só estou perguntando para tirar da frente.
01:24Muito franco e muito...
01:28Olha, minha experiência é que é um debate cordial, eu já tive em posições que foram derrotadas,
01:34no comitê, em posições que foram vencedoras no comitê, mas isso aí não me impediu de sair para almoçar ou jantar com a pessoa que estava do outro lado,
01:46nem deixar, e nem voltar para a reunião seguinte do Copom, né, e continuar a conversa, enfim, é uma questão de ser adulto.
01:55Eu ia falar isso, não seria adulto, né?
01:58Não, não, agora vou aqui, não falo mais nada porque eu estava na minoria.
02:04Não, não é assim.
02:06Agora, a questão do pito, né?
02:09Veja, o Banco Central sempre se manifesta sobre temas que podem afetar a inflação.
02:17Eu tive a oportunidade, quem quiser olhar ali na minha conta do Twitter, né, de responder à deputada Gleisi Hoffmann,
02:29em que ela falou que o Banco Central nunca deu um pio com as estripulias fiscais do Bolsonaro.
02:35E eu fui lá e levantei de outubro de 2020, não, também fui voltar tudo, né, mas eu peguei de outubro de 2021,
02:45que foi mais ou menos quando se aprovou a PEC dos precatórios, que foi já um negócio meio chute na canela, né,
02:51até o final de 2022, o que inclui, entre outras coisas, a PEC kamikaze, né,
02:59o Banco Central sempre se manifestou no que diz respeito a contas públicas.
03:04Em particular, quando ele, e naqueles momentos mais agudos, foi ali em torno da aprovação da PEC dos precatórios,
03:12em torno da aprovação da PEC kamikaze, falou com todas as letras, olha,
03:19esse tem uma ameaça ao regime fiscal, essa ameaça ao regime fiscal, às vezes, ela está, como regra,
03:27incorporada no balanço de riscos, em alguns casos o balanço de riscos se torna assimétrico,
03:32o balanço de risco assimétrico quer dizer, olha, eu estou vendo essa questão fiscal como um risco de puxar a inflação
03:38para cima, além das minhas projeções, e eu vou tomar decisão com base nisso, né,
03:43então, eu vou considerar isso, talvez eu precise subir mais a taxa de juros do que eu subiria,
03:50porque o fiscal está piorando, dentro do...
03:52Vai pecar por excesso de zero, né.
03:54Tem uma frase nessa última ata, que eu acho que, não é que ela seja nenhuma revolução teórica, nem nada,
04:04mas ela coloca a exemplo assim, a política monetária, né, é a política residual para entregar a inflação na meta, né,
04:14você vai fazer política monetária levando em conta o que está acontecendo com o câmbio,
04:18o que está acontecendo com a política fiscal, com uma série de coisas,
04:21tudo isso aqui dado, quem vai trazer a inflação para a meta é a política monetária,
04:26então, se você fizer mais de política fiscal, quer dizer, se você tiver uma expansão fiscal
04:31que pressione demanda, pressione inflação, vamos falar de outros canais por aí,
04:36a política fiscal vai se adequar a isso, nesse sentido, ela é residual monetária,
04:41ela vai reagir a esse tipo de coisa.
04:43E o Banco Central, ao fazer, ele está explicando o porquê.
04:47E não é, assim, não é pita em ninguém, se alguém está achando que está levando pita,
04:51é porque acha que fez alguma coisa errada, no caso até fez.
04:54Mas o que o Banco Central está dizendo é o seguinte, olha, assim,
04:57esta trajetória fiscal tem impacto sobre a inflação,
05:01eu vou levar isso aqui em consideração, eu tenho uma meta de inflação para entregar.
05:05Você colocou, se você der um impulso, uma expansão fiscal na economia,
05:10um impulso fiscal, tudo mais constante, você vai trazer a inflação para cima.
05:14Trazendo a inflação para cima, eu tenho que ter uma reação de política monetária.
05:18A reação, no caso do Banco Central, é falar, eu vou manter a taxa de juros mais tempo.
05:23Eu não falo em subir a taxa de juros.
05:25O Banco Central enxerga a manutenção por um período mais extenso da taxa selic no atual patamar
05:33como algo equivalente a uma elevação da taxa selic.
05:38Tem a ver, basicamente, com o fato de que a taxa selic influencia a taxa de um ano,
05:43e a taxa de um ano é a mais relevante para influenciar a demanda,
05:47mas, enfim, é uma coisa mais técnica.
05:49Mas, basicamente, a reação do Banco Central,
05:52que foi um aperto de política monetária,
05:54não foi o aperto no sentido de subir a selic,
05:57mas de avisar que eu vou ter que segurá-la por mais tempo,
06:00é, basicamente, uma reação ao fato de que você tem uma política fiscal mais expansionista.
06:06Mais expansionista de um lado, você precisa ser mais contracionista do outro.
06:10Pisou mais fundo no acelerador fiscal,
06:13vamos ter que pisar mais fundo no freio monetário.
06:15Pisou, tirou o pé do acelerador fiscal,
06:18a gente vai tirar o pé do freio monetário.
06:19E a combinação desses dois é que vai levar a uma convergência,
06:24ou espera-se, vai levar a uma convergência da inflação para a meta.
06:27E lembrando que o Banco Central não está brigando para trazer a inflação para a meta esse ano.
06:32Se ele fosse trazer a inflação para a meta esse ano,
06:34ele ia ter que fazer um deus nos acuda do ponto de vista de política monetária.
06:38Ele está estendendo, mais uma vez, o período de convergência ali
06:42para setembro, dezembro de 2024.
06:46Então, período bastante extenso,
06:50exatamente para não provocar, não dar uma freada muito forte na economia,
06:56mas a ideia é que você vá freando
06:58e vá fazendo com que a economia desacelere ao longo do caminho
07:01e com isso você consiga trazer a inflação de volta para a meta.
Seja a primeira pessoa a comentar