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  • 12/05/2025
T1 EP.4 – Extremismo

A especialista em extremismo Sasha Havlicek explora os fatores agravantes que levam as pessoas a adotar ideologias que incitam o ódio e a violência, do nacionalismo branco ao terrorismo islâmico.

44 min
Transcrição
00:00A CIDADE NO BRASIL
00:30A CIDADE NO BRASIL
01:00É uma surpresa pensar que em 2018 nós tenhamos visto um aumento enorme de extremismos e ideologias
01:17que achávamos que talvez fossem coisas do passado já enterradas.
01:23Oi, posso?
01:25Temos visto essas divisões, o aumento das polarizações, a popularização do extremismo de uma forma inimaginável.
01:32Eu nasci e cresci em Londres, uma sociedade bastante multicultural.
01:41Meu pai era iugoslavo.
01:43E ainda pequena eu via a Iugoslávia, um lugar que eu conhecia intimamente,
01:47onde tinha família, amigos, onde passei todas as minhas férias de infância,
01:51acabar sendo destroçada pelo genocídio.
01:54E foi extraordinário assistir a essa transformação.
01:59Em 18 meses estávamos num banho de sangue.
02:03E foi arrasador para mim.
02:06Foi uma experiência transformadora para mim.
02:09E eu queria arrumar um jeito de fazer alguma coisa.
02:12Então, o Instituto de Diálogo Estratégico é uma incubadora para respostas.
02:24E esse desafio crescente do extremismo global, do ódio e da polarização.
02:29Quem vocês acham que precisaria ser chamado para uma negociação?
02:32E desde 2006, o nosso objetivo tem sido procurar estratégias que funcionem.
02:37entender a profundidade do processo de radicalização,
02:40mas também como as pessoas conseguem sair desses movimentos.
02:50Na Filadélfia tem uma coisa curiosa.
02:53Todo mundo é conhecido pela rua em que cresceu.
02:57A gente fica identificado para sempre com a turma da vizinhança.
03:00E sempre foi assim.
03:01Somos nós contra eles.
03:02Há quanto tempo você mora aqui?
03:08Há quanto tempo você está aqui?
03:10Morando?
03:1058 anos.
03:11Nesta casa?
03:12É.
03:12Legal.
03:13Olha, eu morava aqui.
03:14Eu brincava aqui na roupa do criança.
03:14Acho que eu me lembro.
03:15Talvez o seu rosto, alguma coisa.
03:16Eu sou filho da Tomazina.
03:18Da Tomazina e do John.
03:19Ah, Tomazina, tá.
03:21Eu lembro que você era um péssimo quando eu era pequeno.
03:25Esta aqui é a casa em que eu cresci.
03:27Há mais de 30 anos.
03:29Ela não era tão bonita.
03:30Não era tão ruim, mas não...
03:32Era tão legal.
03:35O meu padrasto veio pra cá quando eu tinha 9 anos.
03:37E eu morei com ele por uns 4 anos.
03:40E as surras e maus tratos começaram quase que na hora.
03:43Sabe, provavelmente na primeira semana em que ele veio morar com a gente.
03:49Eu não podia nem falar na mesa de jantar.
03:52Ele dizia que a minha voz tirava o apetite dele.
03:57Eu morava com um monstro.
03:58Eu odiava o meu padrasto.
04:03Provavelmente o primeiro ódio que eu senti no mundo foi por esse homem.
04:10O meu padrasto me expulsou, então eu tive que morar com meu pai.
04:14Aí eu fui estudar numa escola de negros no meio do ano.
04:15E eu sabia que todo dia alguém ia dizer alguma coisa pra mim.
04:23E se eu ousasse responder, sabe, era exatamente o que eles queriam.
04:27Eles queriam um motivo, que eu começasse a brigar ou fizesse alguma coisa idiota.
04:31E eles sempre usavam minha raça como desculpa pra me xingar.
04:34Sabe como é?
04:34Acho que esses garotos representavam a comunidade deles.
04:41E não era toda uma comunidade que estava me provocando, eram só esses garotos.
04:44Mas isso tornou a divisão entre nós e eles ainda mais sólida.
04:48E o ódio começou a crescer dentro de mim.
04:52Naquele verão, eu fui pra Lancaster, na Pensilvânia.
04:55O meu primo morava lá.
04:59E foi onde eu encontrei o meu refúgio.
05:00Sim, não! Sim, não!
05:02Então, quando eu fui pra casa do meu primo, em Lancaster,
05:05ele tinha artigos de jornal sobre neonazistas na parede.
05:08E ele tinha uma foto do Hitler e também tinha uma swastika.
05:12E toda noite, ia um monte de skinheads na casa dele.
05:16E eles sentavam e conversavam sobre como os judeus
05:20tinham dominado as reservas federais.
05:22E estavam contrabandeando dinheiro pra fora do país.
05:25E os judeus eram símbolo do inferno.
05:27E eles diziam que nós éramos as vítimas daquilo.
05:32Se alguém diz que eu sou vítima, na hora,
05:35eu começo a me sentir como uma vítima, cara.
05:37E aí, eu quero me defender de todo jeito.
05:40E eu me lembro de como eu gostava de quando eles apareciam.
05:44Porque eu sabia que alguém ia acabar perguntando sobre mim.
05:49Um dia, um cara deu um tapa no meu cabelo pão e disse,
05:51Quando você vai raspar a cabeça?
05:55Então, eles me levaram pro quintal e rasparam a minha cabeça.
05:58Foi assim que eu entrei.
05:59É comum algum trauma nesses casos individuais de radicalização na infância.
06:08Como com o Frank Menke.
06:10Crises de identidade, uma sensação de não pertencimento.
06:13Quem eu sou, qual o meu lugar, uma necessidade desesperada de pertencer a alguma coisa.
06:17Eu acho que, apesar de vermos manifestações de violência e ódio desses grupos para com os outros,
06:23O que eles oferecem aos seus membros é amor e apoio, família e pertencimento e cuidado.
06:30Os skinheads sempre me diziam,
06:35Frank, Deus está mostrando a verdade agora.
06:37Ele está te usando como instrumento para te revelar a verdade.
06:39Ele precisa de você.
06:41Precisa de mais soldados.
06:42Precisa de mais anjos para destruir Sodoma e Gomorra.
06:46As nossas Sodoma e Gomorra.
06:47Você quer essa tarefa?
06:48Eu sou um cara de equipe, cara, eu sou um desportista.
06:52E eles eram o meu time.
06:54Deus tinha me escolhido.
06:55Eu era um garoto pobre da Filadélfia.
06:57E ele tinha me escolhido para ser da sua equipe e dar o meu máximo.
07:00E eu dei o meu máximo.
07:02Foi o que eu fiz por anos.
07:06Eu entrei nessa com tudo que eu tinha, 100%.
07:08Eu acreditava que era o certo e eu fui convidado para ir a alguns programas.
07:12Vamos lá conversar com ele.
07:13Diz que queria falar com ele.
07:14Você não acha que tem medo das outras pessoas quando elas são diferentes de você?
07:21Não, eu não tenho medo, não.
07:23Não tenho medo disso aí.
07:24Não tenho medo de ninguém.
07:26Eu só tenho orgulho da minha raça.
07:28E tipo, como eu disse, eu vivo e morro na minha raça se um dia precisar.
07:32E durante aquela época eu cometi muitos crimes.
07:35Eu vendia armas.
07:39E sequestrei um dos nossos rivais.
07:41A gente vai soltar a sua cabeça sem parar.
07:44Até você cansar.
07:46Eu ouvi dizer que ele estava tentando roubar os nossos recrutas.
07:49E eu não podia deixar.
07:51Então, cara, eu liguei para ele na época de Natal e disse,
07:54a gente vai dar uma festa, vai ser neutra, sem problema.
07:56Ele veio, mas não tinha festa.
07:59Só eu e outro cara esperando por ele.
08:02Nada aí, sem sangue, sem sangue.
08:04Eu não achei que ele fosse denunciar, sabe?
08:07Não era o nosso hábito.
08:11Eles me prenderam e me julgaram como adulto por sequestro e agressão.
08:15Aos 17 anos.
08:16A pena era de três a cinco anos e acabei ficando três anos.
08:29Boa noite.
08:31A história do Frank é uma história de transformação.
08:36É uma história de redenção.
08:38Quando saí da prisão, eu não tinha emprego.
08:42Ninguém ia contratar um cara com uma suástica e uma condenação por sequestro e agressão.
08:46Ninguém iria contratar esse tipo de gente.
08:48E um amigo meu chegou e disse que ele tinha um emprego,
08:50reformando móveis antigos numa loja de antiguidades.
08:52E eu aceitei na hora.
08:53E ele disse,
08:54Cara, o dono da empresa é judeu.
08:57Você quer mesmo assim?
08:59E eu disse,
09:00Ah, sim.
09:01Se eu não tiver que falar com ele, posso trabalhar sem problema.
09:03E ele disse,
09:04Ah, eu falei para o Keith tudo sobre você.
09:06Disse que era um neonazista, que tinha acabado de sair da prisão.
09:08E ele não dá a mínima para o que você acredita.
09:10Só não quebra os móveis dele.
09:12E o meu patrão preenchia todos os estereótipos judeus.
09:15E quando acabou a semana, eu achei que ele não ia me pagar.
09:18Mas ele veio falar comigo.
09:19E eu tentei provocar ele na conversa,
09:21esperando que mordesse a isca para a gente brigar.
09:23Eu sabia que ele não ia me pagar, que ia me roubar.
09:26Ele disse,
09:27Eu estou te devendo, né?
09:27E eu disse,
09:28Tá, sim.
09:29Tá, sim.
09:29Você tem que me pagar.
09:30E ele disse,
09:31Quanto é que é?
09:31E eu disse,
09:31300 dólares.
09:32100 paus por dia, não é isso?
09:33E ele disse,
09:34Ah, é verdade.
09:35É isso mesmo.
09:36Isso mesmo.
09:36Saca, querendo dar um monte de mané.
09:38Aí ele meteu a mão no bolso,
09:39pegou o máximo enorme de notas e disse,
09:41100, 200, 300.
09:43Aí falou,
09:43Peraí, toma mais 100.
09:44Você trabalha muito bem.
09:46Então ele me perguntou,
09:47O que você faz da vida?
09:48E eu disse,
09:48Eu não faço nada.
09:49Eu tenho uma suasca no pescoço.
09:53E ele disse,
09:54Por que você não trabalha para mim?
09:56E ele então me registrou.
09:59Eu continuava neonazista,
10:01eu usava as minhas botas neonazistas
10:02todos os dias e tudo mais.
10:04Um dia eu quebrei um móvel.
10:05E cara, aquela era a única regra.
10:06Eu não podia quebrar os móveis.
10:07Então eu fui falar com o meu patrão judeu e disse,
10:09Sinto muito, foi uma besteira.
10:11E só fiquei pensando,
10:13enquanto ele ia descontar do meu salário,
10:14e que provavelmente ia me despedir.
10:17Mas ele me deu o salário total,
10:19não abriu o maço para tirar umas notas, nada.
10:21E ele disse,
10:21Tá aqui, eu ativei a segunda.
10:24Me deu vontade de chorar,
10:25e eu disse,
10:25Tá legal.
10:26Tá, segunda, até segunda.
10:28Assim que eu cheguei em...
10:29Assim que eu cheguei em casa,
10:31eu arranquei as botas dos pés,
10:32joguei elas no porão da minha mãe,
10:34e nunca mais,
10:34nem sei onde elas estão.
10:35Tipo, nunca mais vi elas de novo.
10:39Não tem nenhuma fórmula
10:40em como transformar alguém em bom.
10:42E as pessoas jogavam garrafas na gente,
10:44bolas de neve,
10:45jogavam tijolos na gente,
10:46falavam coisas feias.
10:47Quando a gente marchava pelas ruas de Westchester,
10:50ou Spokane,
10:51ou o que seja,
10:52eu nunca pensei de desviar de uma agarrafada,
10:55e pensar,
10:55Uou,
10:56acho melhor repensar as minhas crianças.
10:59Isso não acontece,
11:00não é assim que se faz.
11:02Só que quando começaram a conversar comigo,
11:03eu não sabia como lutar contra isso.
11:05Eu podia lutar fácil contra uma garrafa sendo jogada,
11:07lá está o inimigo,
11:08lá está ele,
11:08ele está ali na minha frente,
11:09me atirou a garrafa.
11:10F*** com esse cara.
11:10Quando não interagiam desse jeito comigo,
11:13eu não sabia o que fazer.
11:15Então,
11:16a gente tem que começar a conversar de verdade com os outros.
11:20Eu sentia muita raiva durante todo o tempo,
11:23e gostava de violência.
11:25Mas ainda assim,
11:26eu achava que,
11:27lá no fundo,
11:28era uma boa pessoa.
11:30Eu ainda penso isso de mim,
11:32eu pensava no que estava certo e errado,
11:34eu achava que o que tinha me ensinado era certo.
11:36E sempre pensei,
11:37até o fim,
11:38eu realmente pensei que aquilo era 100%,
11:40a coisa certa em que se acreditar.
11:43Não são todos que conseguem
11:45deixar a radicalização.
11:47E é um processo difícil,
11:48porque muitos desses grupos
11:50provém um senso de propósito,
11:52idealista e objetivos
11:54que os membros não conseguiram encontrar nas suas vidas.
11:58Mas uma coisa que eu acho
11:59que ainda não entendemos a fundo,
12:02é o que faz com que alguém invade
12:04ter ideologias extremistas
12:07a cometer atos de violência.
12:15O experimento foi criado
12:17por um acadêmico de psicologia em Stanford,
12:19Philip Zimbardo,
12:20surgindo de um curso chamado
12:22Psicologia da Detenção.
12:25O objetivo do experimento
12:27era tentar entender e sentir
12:29como era ser um prisioneiro
12:30ou um carcereiro.
12:34O princípio central
12:36de toda a ideologia extremista
12:38é um sistema
12:39de desumanização do outro.
12:42Então, quando se chega
12:43a um estado de espírito
12:45em que fica essencialmente
12:47nós contra eles,
12:48coisas inacreditáveis
12:49podem ser feitas
12:50em termos de dividir
12:50uma sociedade
12:51e voltar uns contra os outros.
12:53Em 1971,
12:55o Philip Zimbardo
12:56e seus colaboradores
12:58da Universidade de Stanford
12:59puseram um anúncio,
13:00acho que num jornal
13:01de Palo Alto,
13:02recrutando voluntários
13:03para participarem
13:04de um estudo
13:04sobre a vida na prisão.
13:06E foi construída
13:07uma prisão no porão
13:08do Departamento de Psicologia
13:10da Universidade de Stanford.
13:12E ele conseguiu
13:13os voluntários
13:13que eram alunos
13:14que foram divididos
13:16aleatoriamente
13:17em dois grupos.
13:17No primeiro dia,
13:23os prisioneiros
13:23foram capturados
13:24inesperadamente
13:25pela polícia.
13:25Eles ficaram
13:26em estado de choque.
13:27Foram humilhados,
13:28desnudados
13:29e desinfetados.
13:31E a ideia,
13:33segundo Zimbardo,
13:34era dividir os alunos
13:36nesses dois papéis.
13:37Ele se distanciaria
13:39e observaria
13:40o que iria acontecer.
13:43E a pergunta era
13:45quais as condições
13:46que fariam
13:46com que as pessoas
13:47odiassem
13:48e maltratassem
13:49seus semelhantes?
13:54E o que ele observou
13:56e o que ele relatou
13:57foi que durante
13:58o período
13:58de seis dias do estudo,
14:00os guardas foram
14:01se tornando
14:02cada dia mais violentos
14:03com os prisioneiros
14:04a ponto de oprimi-los.
14:06Seja bem-vindo
14:06de volta ao inferno.
14:08Os guardas
14:08amarraram os presos
14:09com correntes,
14:10os obrigavam
14:11a lavar privadas
14:12e mandavam fazer flexões.
14:13Desce, sobe,
14:15desce, sobe.
14:16Aí punham os pés
14:18nas costas deles
14:19na hora das flexões
14:20e não paravam
14:20de gritar com eles.
14:22Agora melhorou.
14:24Mais cinco,
14:24começa de novo.
14:26E os prisioneiros,
14:27por sua vez,
14:28foram se tornando
14:29cada vez mais deprimidos,
14:31desencorajados
14:32e desesperançosos.
14:33E isso foi ficando
14:37cada vez pior e pior
14:39a ponto daquilo
14:41tornar-se
14:41um verdadeiro inferno.
14:45E dizem que nesse momento
14:46a namorada do Zimbardo
14:47chegou e disse,
14:48mas o que é que está acontecendo?
14:50E aí o Zimbardo,
14:51que estava dirigindo
14:52todo o experimento
14:52e estava imerso
14:53naquela situação,
14:54caiu em si e disse,
14:55ah, meu Deus,
14:56isso é um pesadelo,
14:57temos que parar com isso.
14:58E aí o experimento acabou.
15:00Uma explicação
15:03para o que aconteceu
15:04é que as pessoas
15:05irão se conformar
15:06naturalmente
15:07aos requisitos
15:08de seus papéis.
15:09Então,
15:10quando observamos
15:10a violência no mundo,
15:12ela não está
15:12propriamente relacionada
15:14aos indivíduos,
15:15mas com os papéis
15:16exigidos deles
15:17em determinadas situações.
15:18Lá vem ele.
15:21Ovelha para o matador.
15:24O prisioneiro chegou.
15:26Um dia,
15:27em 2001,
15:28fui chamado pela BBC.
15:29Eles tinham ouvido
15:30falar sobre a nossa
15:31linha de pesquisa
15:32e disseram,
15:32olha,
15:32a gente está interessado
15:33em refazer o estudo
15:35de Stanford
15:35sobre a prisão.
15:36Você está interessado
15:37em participar?
15:38Edwards.
15:39Senhor Edwards,
15:40você é o prisioneiro
15:41número 637.
15:427.
15:44Isso foi 20 anos atrás.
15:45Nós éramos jovens,
15:46éramos tontos
15:47e nós...
15:49aceitamos.
15:53Nós começamos
15:54da mesma forma
15:55que o Zimbardo.
15:57Nós pegamos,
15:58acho que 15 homens,
15:59eles não eram alunos,
16:00eles eram membros
16:01da população em geral.
16:03E nós os dividimos
16:04entre prisioneiros
16:05e guardas.
16:06E aí assistimos
16:07o que acontecia
16:07e deixamos os guardas
16:09dirigirem a prisão.
16:11Mas foi nesse momento
16:12que tivemos
16:13a primeira surpresa,
16:14porque na verdade
16:15os guardas
16:15não se identificaram
16:16com os seus papéis.
16:18Eles ficaram meio
16:19relutantes de assumir
16:20o seu papel de guardas
16:21e pensaram,
16:22não sei não.
16:22para ser sincero,
16:24eu não queria ser um guarda.
16:25Eu também não estou gostando.
16:27Eu queria mesmo
16:28ser prisioneiro.
16:30Eles odeiam
16:30a desigualdade
16:31e eles não querem
16:32ser guardas tirânicos,
16:33violentos,
16:34não querem oprimir
16:34os prisioneiros.
16:36A gente sabia
16:37que tinha alguma coisa
16:37faltando,
16:38que tinha deixado
16:39escapar alguma coisa
16:39e pensamos,
16:40ah, estamos fazendo
16:41alguma coisa errada aqui.
16:42E justamente nesse ponto
16:43a gente decidiu olhar
16:44com mais cuidado
16:45o material que tinha disponível
16:46do estudo de Stanford.
16:47testando um, dois.
16:52E aí nós tivemos
16:53acesso a uma fita
16:54do arquivo de Stanford
16:55que tinha acabado
16:56de ser digitalizada.
16:58Muito bem,
17:00nós vimos
17:01que hoje cedo
17:02você não estava ajudando.
17:06E eu queria saber
17:07se tem alguma coisa
17:08errada com você.
17:10Nessa fita,
17:11o que ouvimos
17:12é uma reunião
17:13entre um dos responsáveis
17:15junto com o Zimbardo
17:17pelo experimento
17:18da prisão,
17:19o David Jeff,
17:21e um guarda
17:22chamado John Mark.
17:24E esse guarda
17:25estava um pouco
17:26relutante
17:27em se unir
17:28aos outros.
17:30Mas nós queríamos
17:32que você se envolvesse mais,
17:34porque os guardas
17:35deveriam ser todos
17:36de um tipo mais durão.
17:39Tem que tentar
17:39entrar nesse papel.
17:41Eu não sei.
17:44Quando eu ouvi
17:44o guarda
17:45tendo instruções
17:45de comportamento,
17:46foi um choque.
17:47essencialmente,
17:50vamos criar uma prisão
17:51aqui e estudar
17:52o que ela faz.
17:53Ao falarmos
17:54sobre a psicologia
17:55desse estudo,
17:56nós nos focamos
17:57mais nos participantes
17:58e por que eles agiram
17:59como agiram.
18:00Mas uma peça crítica
18:01do quebra-cabeça,
18:02assim dizendo,
18:03é o que o Zimbardo
18:04fez para que os participantes
18:06quisessem fazer
18:07o que eles fizeram.
18:08Vamos criar o tédio,
18:09uma sensação
18:10de frustração,
18:11deixá-los com medo.
18:12O experimento de Stanford
18:14mostra que ninguém
18:15é essencialmente
18:16violento em específico.
18:19Pode ser qualquer um.
18:20Pode ser qualquer um.
18:22No contexto certo.
18:25A autoridade tem um papel
18:27e a liderança também,
18:29com certeza.
18:31E o que é realmente chocante
18:32é a velocidade
18:33com que isso acontece.
18:34Isso foi o que
18:36mais me chamou
18:37a atenção
18:37ao ver a Iugoslávia
18:39passar de pacífica
18:40à genocida
18:42em 18 meses.
18:43E eu acho que isso
18:44é o que vemos
18:45no experimento de Stanford.
18:46A velocidade com que
18:48se pode incitar
18:50esse tipo de comportamento
18:51em pessoas comuns.
18:53Elas não são malucas.
18:55Elas não têm problemas mentais.
18:57São pessoas normais.
18:58O Zimbardo
18:59imediatamente divulgou
19:00os dados obtidos
19:01no seu trabalho
19:02e contou ao mundo
19:03sobre eles.
19:04Ele participou
19:04de várias audiências
19:05no Congresso.
19:06E eu acho que
19:07muita gente se interessou
19:09pelo experimento
19:10por um longo tempo
19:11e na guerra do Iraque
19:12houve uma grande comoção
19:14por causa da prisão
19:15de Abu Ghraib
19:16porque, na verdade,
19:17o que se viu lá
19:18foram imagens
19:18que pareciam estar
19:19totalmente alinhadas
19:20com as imagens
19:21do estudo de Stanford.
19:23E a história
19:24que ele contou
19:24sobre o que houve foi
19:26olha a brutalidade
19:27vista em Abu Ghraib.
19:29Não foi porque
19:29os guardas eram violentos,
19:31não teve nada a ver
19:31com as pessoas envolvidas,
19:33mas tinha tudo a ver
19:34com a situação.
19:36E na época,
19:36eu e outras pessoas
19:37estávamos começando
19:38a dizer,
19:40na verdade,
19:41a liderança tem um papel
19:43importante aí.
19:44No contexto de Abu Ghraib,
19:46eu perguntaria
19:47aos soldados,
19:48na sua cabeça,
19:50quem te deu
19:50essa ordem?
19:52Todo o seu treinamento
19:53foi para obedecer
19:55ordens.
19:56de onde você acha
19:58que partiu
19:59essa ordem?
20:07Como você acha
20:08que isso se justificaria?
20:11Você pensou
20:12na repercussão?
20:14Você achou
20:14que perderia o cargo
20:16por esse comportamento?
20:18Você achou
20:18que era certo?
20:20E você ainda
20:20continua achando
20:21isso certo?
20:22A forma como os líderes
20:38mobilizam os seus seguidores
20:40é criando uma sensação
20:42de ameaça existencial
20:45imediata,
20:46ou uma grande recompensa
20:48emocional.
20:48eles ganham
20:50um propósito nobre.
20:52Então não importa
20:53se a vida deles
20:54foi triste
20:55ou insignificante,
20:57agora eles são
20:58alguém.
21:00Eu sempre vi
21:01o mundo como
21:02preto ou branco.
21:03Desde bem pequeno,
21:04eu não procurava
21:05uma verdade
21:06que fosse específica
21:07minha,
21:09mas uma verdade
21:10única e objetiva.
21:13Eu passei
21:13por um abuso severo
21:14nos primeiros estágios
21:15da minha vida.
21:17Isso me levou
21:18a fugir aos 16 anos
21:20para me livrar
21:21do abuso.
21:23Comecei a vender
21:24drogas para sobreviver
21:25e fui pego
21:28com um monte de drogas,
21:29tenho que dizer a verdade.
21:31Então eu acabei
21:32cumprindo pena
21:32por 11 meses
21:33e não tinha nada
21:35para fazer na cadeia,
21:36a não ser ler.
21:37Então foi o que eu fiz,
21:38aí encontrei a autobiografia
21:39do Malcolm X
21:40e foi isso que me levou
21:41ao islamismo.
21:42Eu nunca tinha lido
21:43o Al-Qurão,
21:45mas me identifiquei
21:45com a história do Malcolm.
21:47Ele tinha tido
21:47uma infância traumática,
21:48mas foi educado
21:49em boas escolas,
21:50como eu.
21:51Eu queria ser
21:52tão radical
21:52quanto o Malcolm.
21:55Levou quase um ano
21:56para me converter
21:57e eu me tornei
22:00Yonus Abdullah Mohamed.
22:01Qual o seu nome?
22:02Mohamed?
22:03Mohamed do quê?
22:04Yonus Abdullah Mohamed.
22:05Qual o seu nome
22:06de nascimento?
22:06Yonus Abdullah Mohamed.
22:08Esse é o meu nome.
22:09Você representa quem?
22:10Eu represento o islam.
22:11A minha vida foi
22:15completamente transformada
22:16pelo islamismo.
22:18Eu não usei drogas
22:19e álcool por 14 anos
22:21e eu descobri
22:23que o islam
22:24era uma coisa pura
22:25para mim.
22:27E aí eu aprendi
22:28sobre uma nova filosofia,
22:30o jihadismo
22:31salafista
22:32ou ideologia
22:33e comecei
22:34a me aprofundar.
22:35O ódio
22:36e a inimizade
22:37se estendem
22:38àqueles que apoiam
22:39o Estado judeu
22:40com a sua riqueza,
22:41a sua voz
22:42e as suas armas.
22:44Nós temos
22:44o seguinte manifesto...
22:45Aí eu decidi começar
22:46a minha própria organização.
22:47Essa é a irmandade
22:48da Revolução Islâmica.
22:50Que todos os muçulmanos
22:51se levantem.
22:52Eles estão recrutando
22:54bem na frente
22:55de uma mesquita
22:55em Nova Iorque.
22:56Esses são os mandamentos
22:57do Alcorão
22:58que vocês
22:59desorram
23:00trazendo o ódio
23:02e a inimizade
23:03para a democracia.
23:04A minha organização
23:05iria ser diferente.
23:06A minha organização
23:07sairia para as ruas
23:07dizendo sim,
23:08eu amo Osama Bin Laden
23:09e eu apoio ele.
23:11Para todos verem
23:12os Estados Unidos
23:13como inimigo que ele é.
23:14Foi a primeira vez
23:15nos Estados Unidos
23:16depois do 11 de setembro
23:17que alguém fez isso
23:18abertamente
23:19em público.
23:21Toda sexta-feira
23:22os muçulmanos
23:22se reúnem
23:23no que seria
23:24a sua igreja
23:25onde o imã
23:26faz um sermão
23:27de uns 45 minutos
23:28e aí todos rezam juntos.
23:30E sexta provavelmente
23:31é o dia mais movimentado
23:32na mesquita.
23:33Então para conseguir
23:34levantar fundos
23:35para fazer recrutamento
23:36e também para mostrar
23:37que somos ativos
23:38na comunidade
23:38o que a gente fazia
23:39era vir aqui fora
23:40bem na frente
23:41e ninguém podia impedir
23:42porque é uma rua pública
23:43não é uma propriedade privada.
23:44Eles não podem fazer nada
23:45numa rua pública
23:46e apesar deles não quererem
23:47que a gente pregasse aqui
23:48a gente usava
23:50a lei
23:52para esfregar
23:53na cara deles.
23:55Aí a gente ficava
23:55na esquina
23:56bem na frente da mesquita.
23:57A gente montava uma mesa
23:58trazia uma faixa
23:59distribuía DVDs
24:01com palestras
24:02ou das nossas
24:03aulas semanais.
24:04A gente também
24:05tinha um manifesto
24:06chamado de revisão radical.
24:08Tinha uma papeleta
24:08com o endereço
24:09da internet.
24:10Era assim que a gente
24:11recrutava membros.
24:12Mas você define terrorismo
24:13como ir lá
24:14e matar a gente inocente.
24:15Não é assim que você define?
24:16Espera aí isso.
24:17Eu defino terrorismo
24:18como deixar todos
24:19com medo
24:19pensando duas vezes
24:21antes de virem
24:22estuprar as nossas mães
24:23ou matar os nossos irmãos
24:24ou pegar as nossas terras
24:25e tentar roubar
24:25as nossas riquezas.
24:26Por tentativa e erro
24:27nós descobrimos
24:28que existem certas coisas
24:29que são facilitadores incríveis
24:31para conseguir novos recrutas
24:32e a radicalização deles.
24:34A gente tem que prestar atenção
24:35para o que acontece
24:36com os jovens nas ruas
24:37porque um recrutador
24:38de 40 anos
24:39ainda consegue convencer
24:40jovens de 22 anos
24:42sobre o jihadismo
24:42salafesta.
24:43Então é preciso entender
24:44como os jovens pensam
24:45e agora o que atrai eles
24:46são palavras de ordem
24:48memes
24:48e violência.
24:50Se tem alguma coisa
24:52que atrai
24:53os jovens
24:54é a violência.
24:55O Alcorão tem uma expressão
24:57muito clara em árabe
24:59que determina
25:00que a gente aterrorize eles.
25:02O Jesse deve ter sido
25:03o recrutador
25:04mais prolífico
25:05da Al-Qaeda
25:05nos Estados Unidos
25:06durante o período
25:07de tempo
25:08em que ele esteve ativo.
25:12Várias conspirações
25:13foram associadas
25:14ao site que ele criou
25:15e que ele moderava.
25:19Então ele estava bem envolvido.
25:20Onde está as nossas terras?
25:21Roubá-los!
25:22E a propaganda deles
25:23basicamente começava
25:24com a seguinte mensagem
25:25o mundo está em guerra
25:27com o Islã.
25:32E eles conclamavam
25:34outros muçulmanos
25:35para virem
25:36defender seus irmãos e irmãs.
25:37Esses jovens
25:38não suportam mais
25:39ver os soldados
25:40norte-americanos
25:41virem perpetrar
25:42as atrocidades
25:43mais horrendas
25:43contra os nossos
25:44irmãos muçulmanos.
25:45Nós queremos
25:46que vocês se levantem.
25:47Um dos erros que eu acho
25:48que as pessoas fazem
25:50em suas ideias
25:50sobre os extremistas
25:51é que eles seriam
25:53figuras patéticas.
25:56Mas não é esse o caso.
25:57Existem pessoas
25:58inteligentes, carismáticas
25:59e organizadas
26:00como o Jesse
26:01nesses movimentos.
26:02E essa combinação
26:03as tornam
26:04extremamente efetivas
26:05e também bem-sucedidas.
26:07Então eu acho
26:08que o Jesse
26:08é um ótimo exemplo
26:09do que seria
26:10o papel típico
26:11de liderança
26:12no movimento extremista.
26:13A história de hoje
26:14é sobre um trecho
26:15do programa South Park,
26:16um programa satírico
26:17polêmico
26:18que zomba da religião.
26:19Na semana passada
26:20o alvo foi o profeta
26:21Maomé.
26:21Eu queria muito
26:22conhecer alguém
26:23em pessoa.
26:25Pode chamá-lo aqui?
26:27Claro!
26:27Quem é?
26:28Podemos chamar qualquer um.
26:30Maomé,
26:31o profeta do islamismo.
26:36O seguinte aviso
26:37apareceu num site
26:38jihadista
26:39ameaçando os criadores
26:40de South Park.
26:42Queremos avisar
26:43o Matthew Trey,
26:44eles são os criadores,
26:45que o que eles estão fazendo
26:46é idiota
26:47e provavelmente
26:47irão acabar
26:48como o Theo Van Gogh
26:49por apresentar
26:50esse programa.
26:51Isso não é uma ameaça
26:52mas um aviso
26:53sobre a realidade
26:54do que pode acontecer
26:55a eles.
26:56Como vocês sabem,
26:57Theo Van Gogh
26:58era um cidadão alemão
26:59que foi assassinado
27:00depois de criticar o islã.
27:01Foi uma ameaça real
27:02e eu fiz isso
27:03para gerar
27:04uma grande quantidade
27:05de controvérsia
27:07e atenção ao site
27:08da Revolução Muçulmana.
27:09Temos que lidar
27:10com a realidade.
27:11Essa gente assassina
27:12e podem nos matar.
27:13Havia uma operação
27:15do governo federal
27:16e da polícia
27:16de Nova York
27:17que poderia me processar
27:20como resultado
27:21da postagem.
27:22Eu não fui indiciado
27:23ou preso
27:24imediatamente.
27:25Um colega meu
27:26do grupo acabou
27:27sendo preso
27:27seis meses depois
27:28e eu sabia
27:30que ele iria pegar
27:31bastante tempo por isso.
27:33E aí eu decidi
27:33pegar um avião
27:34para sair do país
27:35sem saber
27:35se iria conseguir.
27:37Juntei toda a minha família
27:38e a gente fugiu
27:39para Casablanca
27:39no Marrocos.
27:45E lá eu dava
27:45aulas de inglês
27:46e de administração
27:47numa universidade
27:48em Casablanca
27:49até que estourou
27:50a primavera árabe.
27:56Aí eu comecei
27:57a fazer umas reuniões
27:57com os meus alunos
27:58depois das aulas
27:59e eu descobri
28:00que o que eles queriam
28:01eram coisas
28:01que eu sempre tive
28:02a vida inteira.
28:04Poder dizer
28:05o que pensavam
28:05e a possibilidade
28:06de eleger
28:07seus representantes.
28:09Mas por outro lado
28:10eu via neles
28:11um forte sentimento
28:12anti-americano.
28:14Eles xingavam
28:14os norte-americanos
28:15dizendo que eram gordos
28:16que não ofereciam comida
28:17para os seus convidados
28:17e pela primeira vez
28:19na minha vida
28:20eu comecei
28:21a defender
28:21os Estados Unidos.
28:23O nome dele
28:24é Jesse Morton
28:25nasceu na Pensilvânia.
28:26Em 2010
28:27ele fugiu
28:27para o Marrocos
28:28onde foi preso.
28:32E aí de repente
28:33um dia
28:34eu fui preso
28:34em Casablanca.
28:36Eu devia ser extraditado
28:37de volta
28:38para os Estados Unidos.
28:42Mas quando me puseram
28:43no avião
28:43eles me pentaram
28:44eles tamparam
28:45os meus ouvidos
28:46o serviço secreto
28:47os ruseleiros
28:48um monte de autoridades
28:49me vestiram
28:49como vestiria
28:50uma pessoa
28:51indo a Guantanamo
28:52ou Bagram.
28:53Eles me levaram
28:54pela pista
28:54acorrentado.
28:56Quando me puseram
28:57no avião
28:57um agente
28:58do serviço secreto
28:59a primeira coisa
29:00que ele fez
29:01foi colocar um alcorão
29:02na minha frente
29:03e disse
29:03você quer ficar com o livro
29:04enquanto voamos?
29:05E aí ele me perguntou
29:06ele disse
29:07tecnicamente
29:08eu tenho que te perguntar
29:09você quer que eu te chame
29:10de Jesse
29:10ou quer que eu te chame
29:11de Yunus?
29:12E acho que ele esperava
29:13que eu dissesse Yunus
29:14eu mesmo esperava
29:15dizer Yunus
29:16mas por algum motivo
29:17eu disse Jesse Morton
29:18eu queria ser chamado
29:19de Jesse Morton
29:19e acho que essa foi
29:20pra mim
29:21acho que esse foi
29:22o passo
29:23mais importante
29:25de todos
29:25pra eu começar
29:26a me livrar
29:27do meu radicalismo.
29:28ele saiu da prisão
29:31e logo conseguiu
29:32um emprego
29:33na Universidade
29:33George Washington
29:34num programa
29:35sobre extremismo
29:35as coisas pareciam
29:37ir muito bem
29:37por alguns meses
29:38mas aí ele recaiu
29:39e começou a usar drogas
29:40outra vez
29:41e foi imediatamente
29:42demitido da universidade
29:43era difícil
29:44ele percebeu
29:45que a sua ideologia
29:46estava desmoronando
29:47não era uma coisa passageira
29:48ela estava firmemente
29:50impressa
29:50no seu DNA
29:51ele realmente
29:52achava que estava
29:53fazendo a coisa certa
29:54e era muito assustador
29:56perceber que a sua visão
29:58de mundo
29:58estava desmoronando
29:59a sua volta
30:00e ele começou a perceber
30:01que tinha levado
30:02um monte de gente
30:03a ser presa
30:04a conspirações
30:06e a violência também
30:08e que podia estar errado.
30:11Pra nós
30:12como europeus
30:14a normalidade
30:15é sermos grandes
30:17outra vez.
30:19Veio Trump
30:20veio europeus
30:21veio vitória.
30:24A extrema direita
30:26e o radicalismo islâmico
30:28são ideologias
30:29que na verdade
30:30compartilham
30:30da mesma narrativa
30:31o certo é o meu jeito
30:33e não o deles
30:33eles se veem
30:34como incompatíveis
30:35e agora isso está
30:36se tornando mais comum
30:37de formas que não
30:38poderíamos ter imaginado antes
30:39e nós precisamos
30:40nos organizar agora
30:41eles têm se organizado
30:42em todo o mundo
30:43e num espectro ideológico
30:45cada vez maior
30:46e o maior objetivo
30:49desses grupos
30:49é a divisão
30:51é a polarização
30:52uma espécie
30:53de polarização profunda
30:54somos uma organização
30:57norte-americana
30:58e é por isso
30:59que nós lutamos
31:00quando Donald Trump
31:01chegou ao poder
31:02alguns pensaram
31:04uau
31:04é a ascensão
31:04de uma nova era
31:05não
31:06isso sempre esteve aqui
31:07e sabe
31:08a primeira grande ascensão
31:09foi em 2008
31:10agora anunciamos
31:12a vitória
31:14do candidato democrata
31:16isso foi quando
31:16o movimento cresceu
31:17do dia pra noite
31:18havia um cara negro
31:20na casa branca
31:21que nossas ações
31:22mostrem a todas
31:23as crianças
31:24que sua vida
31:24é importante
31:25eu vou fazer um muro
31:28e ninguém faz muros
31:29melhor do que eu
31:29e eu vou construir
31:31sem gastar muito
31:32o Donald Trump
31:34disse a todo racista
31:35que se assumiu
31:35em 2008
31:36ele falou a cada um deles
31:37eu acredito no mesmo
31:38que vocês
31:39e todos saíram das tocas
31:40dizendo
31:40é isso aí
31:41nós estamos no poder
31:42como candidato
31:48e agora como presidente
31:49o Trump canalizou
31:51esse medo de mudança
31:52nós temos que reagir
31:53nós temos que reagir
31:55a noção de mudança
31:56cultural
31:57acabou sendo
31:58distorcida
31:59para ser chamada
32:00de genocídio cultural
32:01branco
32:02não seremos
32:03substituídos
32:04não seremos
32:05substituídos
32:07não seremos
32:08substituídos
32:10na marcha das tochas
32:12de Charlottesville
32:13no dia 17 de agosto
32:14eles acharam
32:16que poderiam
32:17usar o debate
32:18sobre o monumento
32:19confederado
32:20como uma forma
32:21de serem ouvidos
32:22pela mídia
32:22com a noção
32:24de que o verdadeiro
32:25cidadão norte-americano
32:29seria aquele
32:30de pele branca
32:30e todo o resto
32:31seria um inimigo
32:33tentando tomar o poder
32:34nossos monumentos
32:37estão sendo derrubados
32:38eles estão sendo
32:39removidos
32:40e substituídos
32:41e o nosso povo
32:42está sendo
32:43substituído
32:44e removido
32:45orgulho branco
32:45tudo bem ter orgulho
32:46de ser branco
32:47não seremos
32:47substituídos
32:49não seremos
32:50substituídos
32:50com todos esses
32:51supremacistas brancos
32:52nacionalistas brancos
32:54grupos nazistas
32:55simpatizantes
32:56nós nunca vimos
32:57nada assim antes
32:58certamente nunca
33:00em toda a minha carreira
33:01e faço isso
33:02há mais de três décadas
33:04os brancos
33:04são importantes
33:05nós somos
33:06importantes
33:07quando o charlotte
33:12estourou
33:12eu fiquei sabendo
33:13que muita gente
33:14estava xingando
33:14os judeus
33:15na primeira noite
33:16e isso acabou
33:17chamando a minha atenção
33:18eles estavam dizendo
33:18os judeus
33:19não vão nos substituir
33:21eu pensei
33:21quem?
33:22quem está liderando isso?
33:23e aí eu comecei a ver
33:24que tinha uns neonazistas
33:25de verdade ali
33:26gente que entrou
33:27na mesma época
33:28que eu tinha entrado
33:28os caras do movimento
33:30que cuidavam da internet
33:31eu pensei
33:32nossa
33:32tem uns caras
33:33bem embarrabesadas
33:34os brancos
33:34são importantes
33:35os brancos
33:36são importantes
33:37sai fora daqui
33:39que ele é
33:39sai fora
33:40que ele é
33:40sai fora daqui
33:41que ele é
33:42você corre aqui não
33:44volta pra pousada
33:45vocês não podem ficar aqui
33:46vai, vai, vai
33:47vai, vai
33:47vai, vai
33:48o que está acontecendo
33:50agora com todos
33:50esses grupos
33:51é que eles estão reciclando
33:53o que a gente vendia
33:53nos anos 90
33:55reciclando o medo
33:56reciclando o ódio
33:57os policiais chegaram
33:59a uma hora
34:00meia hora
34:01depois que a nossa permissão
34:02começou
34:03às 10 da manhã
34:04dizendo que era um movimento
34:06ilegal
34:06e eles não podem fazer isso
34:08nós, o nosso povo
34:10nós não estamos sendo violentos
34:11eles que estão sendo violentos
34:12com a gente
34:13o medo é uma dança
34:14coreografada
34:15que existe
34:15entre grupos contrários
34:17os antifascistas
34:18e os nacionalistas brancos
34:21nós substituímos
34:22vocês
34:23é
34:23é
34:24é
34:24é
34:25é
34:26é
34:26os antifas
34:27desculpam
34:28ou aceitam a violência
34:29em vários níveis
34:31não daria para compará-los
34:34ao Martin Luther King
34:35de forma alguma
34:36mas
34:38quero deixar claro aqui
34:40que
34:40além de não haver equivalência moral
34:42os antifas
34:43não tem uma
34:45conexão direta
34:46com
34:46o pessoal da Casa Branca
34:48os supremacistas brancos
34:50tem
34:50teve gente naquele grupo
34:52que foi protestar
34:54contra a retirada
34:55de uma estátua
34:55muito importante
34:56vocês estão mudando
34:58a história
34:58mudando a cultura
35:00no final de semana
35:01o ex-líder
35:02da Ku Klux Klan
35:03David Duke
35:04postou um tweet
35:05de agradecimento
35:06às palavras do presidente
35:07obrigado presidente Trump
35:08pela sua honestidade
35:10e coragem
35:10de dizer a verdade
35:11sobre Charlottesville
35:13com um novo governo
35:14eles veem Trump
35:15como alguém
35:16que pode trazer
35:17uma agenda
35:18pró-brancos
35:19ele abriu uma porta
35:21o movimento dele
35:22abriu uma porta
35:23foi o que aconteceu
35:24eu tenho orgulho
35:26é o meu país
35:27eu sou norte-americano
35:29eu nasci nesse país
35:31por...
35:32por...
35:33os imigrantes
35:34por... os imigrantes
35:35enquanto a violência
35:36é um dos aspectos
35:38mais prementes
35:39de organizações
35:40e movimentos extremistas
35:41temos visto
35:43vários grupos extremistas
35:45se suavizarem
35:46eles começaram
35:47a suavizar
35:48a linguagem
35:49que usam
35:49de maneira geral
35:50de forma
35:51a atingir
35:52audiências
35:53mais tradicionais
35:54temos visto isso agora
35:56com a direita alternativa
35:57que tem escondido
35:58a sua faceta racista
35:59preferindo falar
36:00sobre ameaças culturais
36:02oferecendo um caminho
36:03para a radicalização
36:04não são movimentos espontâneos
36:06eles são movimentos
36:07orquestrados
36:08manipulados
36:08de cima para baixo
36:09não só aqui
36:10no ocidente
36:11mas também em todo o mundo
36:12de maneira geral
36:13a minha reação
36:15ao fato de ter
36:16tanta islamofobia
36:17e tanto medo
36:18da comunidade islâmica
36:19norte-americana
36:19é colocar a culpa em mim
36:22vamos lutar
36:22e destruir vocês
36:23se for necessário
36:24não completamente
36:25mas tivemos
36:27um papel importante
36:28dá licença
36:33desculpa
36:33e aí tudo bem
36:35como você está
36:35já nem sei
36:35como você faz
36:36muito bom
36:38é
36:38muito bom
36:39muito bom
36:39e uma das coisas
36:40que eu mais gostaria
36:42de compensar
36:44é o fato
36:46de que eu trai
36:47a religião
36:48em que eu acreditava
36:49e que me ajudou
36:50tanto a ajeitar
36:50a minha vida
36:51eu trai
36:53o ideal
36:54dessa religião
36:55compensar isso
36:56me motiva
36:57mas verdade seja dita
36:58também me traz
36:59muita culpa e vergonha
37:00não consigo ver
37:01os antigos vídeos
37:02do Ionus Abdula
37:03Mohamed pregando
37:04eu fico mal
37:05que bom te ver
37:07é bom ver você também
37:08é
37:09como é que
37:11tudo bem
37:11eu estou muito bem
37:12é
37:13o que começamos
37:14a descobrir
37:14ao conversar
37:15com as pessoas
37:15que conseguiram
37:16sair dessas organizações
37:17foi
37:18como as suas jornadas
37:19pessoais eram parecidas
37:20suas trajetórias internas
37:22e externas
37:22mesmo com uma
37:23ideologia diferente
37:25e a maneira
37:25como trabalhamos
37:26com eles
37:27nós começamos
37:27a procurar maneiras
37:28de ajudá-los
37:29a passar isso adiante
37:31a grande questão
37:32agora
37:32é para onde
37:33ir daqui
37:33se a gente
37:35deixa essa pessoa
37:35independente
37:36sozinha
37:36isolada
37:37e se ela não tiver
37:38uma sensação
37:38de pertencimento
37:39ou outra rede
37:40alternativa
37:41ou outros caminhos
37:42alternativos
37:43para trilhar
37:43pode ter complicações
37:46e o problema
37:47é tipo
37:48a gente não tem
37:48essa nova
37:49comunidade formada
37:50por isso
37:52por isso que eu acho
37:52que o meu
37:53principal objetivo
37:54seria arrumar
37:55outra comunidade
37:56o que tem acompanhado
37:57a minha cura
37:57do extremismo
37:58é essa constatação
37:58de que existem
37:59vários padrões
38:00parecidos
38:00entre o jihadismo
38:01e o extremismo
38:01de extrema direita
38:03oi Jason
38:03e aí Jason
38:05legal finalmente
38:05te ver em pessoa
38:06muito prazer
38:07parece que já te conheço bem
38:08mas vamos botar um papo
38:10como é que você chegou aqui
38:10me conta
38:11no ano passado
38:12quando houve a marcha
38:13de Charlottesville
38:13eu escrevi
38:15uma crítica
38:16então você sabe
38:17que a gente está conversando
38:18já faz um tempinho
38:19sobre como as ideologias
38:20são parecidas
38:21mas eu também escrevi
38:22sobre Jason Kessler
38:23como uma figura
38:24que é menos radical
38:25mas que representou
38:26um papel parecido
38:27com o que eu tive
38:28no Revolução Muçulmana
38:29o que eu queria saber
38:30é o que você achou
38:31quando recebi um e-mail
38:32dizendo
38:33oi eu sou um ex-jihadista
38:34e queria falar com você
38:35sobre as suas ideias
38:36então eu fiquei
38:37de cabeça aberta
38:38porque você parecia
38:39realmente interessado
38:41sobre a minha vida
38:42porque nesse momento
38:43com a percepção
38:44do que aconteceu
38:45no ano passado
38:46tem umas pessoas
38:47que simplesmente odeiam
38:48os conceitos
38:49de que falamos
38:50e eu entendo isso
38:51as pessoas brancas
38:52não tem permissão
38:53de terem organizações
38:54o que eu estou querendo fazer
38:55é um movimento
38:56por direitos civis
38:57e sempre que eu tento isso
38:58eu vejo outras raças
38:59reclamando de usar
39:00o termo direito civis
39:01e eu sou acusado
39:03de ser supremacista branco
39:04e pra mim
39:05na minha cabeça
39:06eu fico pensando
39:07em exemplos
39:08de gente como
39:09Martin Luther King
39:10que liderou marchas
39:11e eu acho que
39:12minhas são por direitos civis
39:13e eu estou liderando isso
39:15e aí vem
39:16e me acusam
39:17de ser extremista
39:18mas
39:19meus simpatizantes
39:21são fundamentalmente
39:22pessoas do bem
39:22mas aí vem gente
39:24e aponta o dedo
39:25dizendo
39:25você é mal
39:26por tentar defender
39:26pessoas brancas
39:27e aí eles acabam
39:28desistindo
39:29dizendo
39:29isso é demais
39:30eu não vou arriscar
39:31minha família
39:32o meu emprego
39:33o meu futuro
39:33para lidar com isso
39:34então
39:35aqueles que continuam
39:36costumam ser
39:38aqueles mais radicais
39:39no seu pensamento
39:40cerca de dois meses
39:41depois do movimento
39:42de Charlottesville
39:43ele disse que seria
39:44uma melhor estratégia
39:45criar o que chamou
39:45de uma plataforma
39:46pelos direitos civis
39:47dos brancos
39:48ele realmente acredita
39:49cognitivamente
39:50que conseguiu separar
39:51a sua imagem
39:52da ligação
39:53em vários níveis
39:54a outros grupos extremistas
39:55mais radicais
39:56que existem
39:57dois meses depois
39:59que a gente se encontrou
40:00houve bastante atividade
40:01está faltando
40:02três dias
40:03para
40:03acho
40:04que a gente pode chamar
40:05de aniversário
40:06do Unite the Right
40:07muita gente gosta
40:08de chamar de
40:08Unite the Right 2
40:10desde Charlottesville
40:11até agora
40:12a plataforma
40:13tem mudado um pouco
40:14você abrandou
40:15o discurso
40:17e agora está organizando
40:18uma plataforma
40:18de direitos civis
40:19dos brancos
40:20o que é
40:21bem diferente
40:21do que houve
40:22ano passado
40:23e eu vi que você
40:23tem tido alguns
40:24conflitos com neonazistas
40:25a ponto de você ter dito
40:26que eles não são
40:27bem-vindos
40:27na sua manifestação
40:28o que eu acho
40:29maravilhoso
40:29acho que no final
40:30das contas
40:30não vale a pena
40:31desistir do Jason
40:32ele está
40:33num estágio inicial
40:34de apropriação
40:35de ideias extremistas
40:36e eu acredito
40:38de verdade
40:39que seja
40:39mais benéfico
40:40de acordo com a minha filosofia
40:42de combater o extremismo
40:43violento
40:44promover o diálogo
40:45em vez de rejeitar
40:46ou isolar
40:48o governo da Virgínia
40:51declarou estado
40:52de emergência
40:52para o aniversário
40:53da marcha de Charlottesville
40:54desde a manifestação
40:56dos supremacistas brancos
40:57um ano depois
40:59de Charlottesville
41:00temos uma cena
41:01bem diferente
41:02aqui na capital
41:03do país
41:03meu nome é
41:04Jason Kessler
41:05eu organizei a marcha
41:06Unite the Right
41:07do ano passado
41:08e organizei a marcha
41:09deste ano também
41:10um pequeno número
41:11de nacionalistas brancos
41:12umas duas dúzias
41:13se reuniam em frente
41:14da Casa Branca
41:15mais amor
41:16uma legião
41:17de manifestantes
41:18contrários
41:19invadiu a cidade
41:20mais amor
41:21mais amor
41:23mais amor
41:24nós podemos filmar
41:31esse movimento
41:32e fazer piadas
41:33sobre o Kessler
41:34e a sua inabilidade
41:35de conseguir
41:36reunir multidões
41:37a não ser
41:39os que protestam
41:40contra
41:41mas há um detalhe
41:439% da população
41:45norte-americana
41:45diz que a filosofia
41:48nazista
41:48é aceitável
41:49tem um movimento
41:50um pouco mais disfarçado
41:52que diz
41:52nós não queremos
41:53um genocídio cultural
41:55não queremos mudar
41:56as tradições
41:56e usam isso
41:58como uma armadilha
41:59para atrair o público
42:01o grande problema
42:03é que
42:05estamos olhando
42:06somente
42:07para o que chama
42:07atenção
42:08sem perceber
42:11que estamos
42:14diante
42:14de um
42:15retrocesso político
42:16que explora o medo
42:18e isso
42:19não é só
42:20nos Estados Unidos
42:21esse nacionalismo
42:22se tornou
42:22um movimento
42:23internacional
42:24fechar as fronteiras
42:26da Holanda
42:26para países islâmicos
42:28polarização
42:29divisão
42:30como lidamos
42:31com isso
42:31na sociedade
42:32eu acho que
42:34estamos diante
42:35de uma grande mudança
42:36a paz
42:38e harmonia social
42:39que
42:40temos tido
42:41a sorte
42:42de ter
42:43em vários
42:44dos países ocidentais
42:45são precárias
42:47cada um
42:49desses grupos
42:50possui uma estratégia
42:51bem clara
42:51de atrair
42:52aqueles que
42:53ainda não fazem
42:54parte
42:54das suas bases
42:55e também
42:56de diminuir
42:57aqueles que se opõem
42:58a eles
42:59e também
43:00possuem
43:00instrumentos
43:01à sua disposição
43:02que permitem
43:03que alcancem
43:04audiências
43:05em todo o mundo
43:06em frações
43:07de segundos
43:08mas nós temos
43:10esses instrumentos
43:11também
43:11precisamos envolver
43:12empresas
43:13cidades
43:13organizações
43:14precisamos
43:15de vozes
43:15confiáveis
43:16precisamos
43:17de influenciadores
43:17precisamos
43:18que toda a sociedade
43:19responda a isso
43:20e eu acredito
43:22que podemos mudar
43:23a maré
43:23e temos que fazer isso
43:25versão brasileira
43:26voxmund
43:27de vozes
43:29de vozes
43:30de vozes
43:30de vozes