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Novela Escrava Isaura
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00:01Um intrigante. É isso que ele é. Já se foi tarde.
00:05Pois eu também vou, Leôncio.
00:07Eu não vou deixar. Você é minha esposa. Me deve obediência.
00:12Eu não quero mais ser sua esposa. Eu vou voltar pra casa do meu pai.
00:17Eu a proíbo.
00:18E eu não obedeço mais ao senhor meu marido.
00:30Mãe, Mãe, Mãe, Mãe.
00:45Luz do sol que clareia a terra.
00:49Um novo dia amanhã festeja.
00:54Leva a toda tristeza.
00:57Abençoa toda a natureza.
01:11Amor, meu pai.
01:15É perigoso vir aqui.
01:18Eu precisava ver você, minha filha.
01:21Quando eu fiquei sabendo que nem o João, nem a Joaquina, nem o senhor Henrique estavam mais aí pra protegê-la.
01:26Olha, eu tranco meu quarto toda noite e ando com um punhal.
01:30O senhor Leôncio está avisado se fizer alguma violência.
01:33Meu Deus, isso não basta, minha filha.
01:34Ele tem o feitor danado do seu Chico e os capatazes.
01:38Mas enquanto em Malvina estiver aqui na fazenda, ainda há esperança, meu pai.
01:42Fiquei sabendo que o comendador chamou o mensageiro.
01:45Chega logo amanhã.
01:46Então eu vou tentar comprá-la.
01:47Mas se não conseguir isso, eu vou usar todo o meu dinheiro pra fugir.
01:50Ai, meu pai, mas é perigoso.
01:53É triste, mas eu acho que a família dos Almeida jamais vai...
01:57Jamais vai entregar você pra mim.
02:00Posso arrumar o maior tesouro do mundo que mesmo assim eles não vão deixar você vir comigo.
02:05Porque na verdade não existe neste mundo um tesouro mais valioso do que você, minha filha.
02:10É por isso que eu acho que nós só encontraremos a felicidade saindo desse lugar, Isaura.
02:18Com o dinheiro que tenho, nós podemos começar uma nova vida em qualquer lugar do Brasil.
02:23Vamos pra São Paulo, pra qualquer lugar que seja.
02:25Só sei que nós temos que fugir deste inferno, minha filha.
02:28Eu tenho certeza que jamais vão nos encontrar.
02:33Se não houver outro jeito, meu pai...
02:37Vamos fugir.
02:40Tão pouco tempo casada e já traída.
02:47Não exagere, Malvina.
02:48Eu só estava perto da escrava, mais nada.
02:52Foi suficiente, Leôncio.
02:55Viu algum beijo?
02:57Não.
02:58Alguém estava sem roupa?
03:00Não.
03:02Então acredite em mim, o que custa?
03:04Eu fui tomar um pouco de água, encontrei a Rosa na cozinha.
03:07Caiu um cisco no meu olho, ela foi assoprar.
03:10Você entrou.
03:11Foi só.
03:13Jura que é verdade.
03:17Pela nossa felicidade, juro.
03:22Vamos dormir, amanhã conversamos.
03:26Amanhã nós vamos sair cedo pra buscar o meu pai.
03:28Eu não quero saber de chororó.
03:29Não, vamos lá.
03:33Vamos lá.
03:33Amém.
04:03Amém.
04:19Comendador.
04:20Meu sogro.
04:21Finalmente, meu pai. Pensei que jamais voltasse.
04:25Que aparência, hein?
04:27O senhor está mesmo muito doente.
04:29Não.
04:33Eu sou fraco. Sinto-me tonto.
04:37Sangue. Mas o que o senhor tem?
04:39Isso é fraqueza do pulmão.
04:41Vou chamar o doutor Paulo.
04:43Eu acho que estou morrendo.
04:45Não diga isso, meu sogro.
04:47Escravos.
04:49Carreguem, meu pai.
04:53Com delicadeza, animais.
04:55Meu sogro.
04:57O senhor há de melhorar.
04:59Malvina, não.
05:01Estou mal.
05:03Muito, muito, muito mal.
05:13Vamos agir.
05:15É hoje que vamos começar a destruir a fortuna de Leôncio.
05:19Mas fui eu arrumar praga pro cafezal não arder?
05:23E vão arrumar praga de inseto pra botar na lavoura do crápulo?
05:27É o que eu já disse ontem.
05:29Tem vários jeitinhos de acabar com o cafezal do homem.
05:31Bernardo, me conte essa história da cigarrinha.
05:33Ah, eu sei onde tem um cafezal que tá cheio dessa cigarrinha.
05:37A cigarrinha é a danada, senhora.
05:39Aí tem também um tal de encarrunche, uma mariposa que eu conheço.
05:43Ah, aquilo como se espalha no cafezal.
05:47A mariposa quando é pequenininha, ela é uma largata.
05:51Uma largatinha bem pequenininha assim.
05:53E eu também sei onde é que tem um montão delas.
05:55Eu vou pegar todas, todas as pragas da fazenda de Leôncio.
05:59Se a Condessa só me der um cavalo, que eu vou lá e recuo tudo com muito cuidado.
06:03Olha que vai acabar trazendo praga pra cá.
06:07Não, não, não, não, não tem perigo não.
06:09Não tem perigo não, Condessa.
06:10Eu vou deixar tudinho lá juntinho na fazenda do seu Leôncio.
06:13Não tem perigo de pegar praga aqui na fazenda da Condessa, não.
06:15Vai é pegar um cavalo e se escafeder no mundo.
06:19Sem carta de euforia?
06:22Não.
06:23Eu já sofri muito nesse mundo, Iná.
06:26Muito.
06:27Cada vez que fugi, fui pego de novo.
06:29Agora eu quero é ser livre.
06:31Acredito na sua palavra, Bernardo.
06:33Se conseguir de algum modo destruir o cafezal de Leôncio,
06:37será um homem livre.
06:39Eu posso ir com o Bernardo.
06:41Pelo menos pra recolher as pragas.
06:43Não, Gabriel!
06:44Desde que não entre na fazenda de Leôncio,
06:46não vejo problema nenhum de Gabriel acompanhar Bernardo.
06:49E agora eu que sou mãe?
06:52Eu não mando mais nada nesta casa?
06:54Manda quem tem dinheiro, não é, senhora Condessa?
06:58Mamãe!
06:59Desde, Tomásia.
07:00Conhece nossa mãe?
07:04Enfim...
07:06Só mais uma coisa, Bernardo.
07:08Além das pragas, eu quero que coloque fogo nas sacas de café.
07:13Esteja certo, Condessa.
07:15As sacas do homem vão arder.
07:20Deixem as malas, seus molengas.
07:22Ajudem o meu pai.
07:23Vamos!
07:30Me largue!
07:32Estou mal, mas ainda posso andar.
07:40Eu quero ir direto pro quarto.
07:43Meu sogro logo vai ficar melhor.
07:45Eu posso te fazer alguma coisa pelo senhor, conendador?
07:47Não, obrigado, Malvina.
07:50Isaura vai cuidar de mim.
07:52Acompanhe.
07:53Eu soube aqui, ó.
08:04A senha Malvina não vai me perdoar.
08:06É.
08:07A senha Malvina está muito ocupada cuidando do sogro.
08:11Ela não vai atajanar você, não.
08:14Então se não vai.
08:16Aquilo ali é uma peste.
08:18Igual a minha mãe.
08:20A senha Antônia, que matou a minha mãe.
08:23Coitada da finada Josefa, sua mãe, né?
08:27Nossa.
08:28Morreu numa agonia de cortar o coração, né?
08:32Ai, meu Deus.
08:34Então se ela vai querer me matar?
08:35Não.
08:36Não, você é mofini, Rosa.
08:41Minha Malvina, ela não tem coração ruim.
08:44Ela é boa.
08:45Ela é má.
08:46Ai, meu Deus.
08:47O que vai se suceder com eu?
08:49Obrigado, minha filha.
08:50Sente muito a sua falta.
08:57Eu também, do senhor.
08:59Agora vou preparar uma canja.
09:01Do jeito que minha madrinha gostava.
09:03Fiquei preocupado.
09:05Que algo pudesse acontecer.
09:08Eu estou bem, comendador.
09:10Não se preocupe.
09:11Melhor agora que o senhor está de volta.
09:13Que bom.
09:15Que bom.
09:16Eu não parei de pensar em vós, missê.
09:18Até por isso, eu abreviei minha volta.
09:22Eu estou morrendo, Isaura.
09:25Voltei antes também por causa disso.
09:28Estou piorando a cada dia que passa.
09:31Não, não fale assim.
09:33Estou muito fraco.
09:35Logo, logo, vou me encontrar com as minhas virtudes.
09:40Ou não.
09:42Ela deve ter ido pro céu, não é?
09:44Eu, com os meus pecados, mereço mesmo o inferno.
09:47O arrependimento é capaz de milagres.
09:50Até mesmo o perdão.
09:52A minha única alegria é saber que sua liberdade está próxima.
09:59Não por isso, comendador.
10:01Não desejo ganhar minha liberdade por causa da doença do senhor.
10:06No que depender de mim, o senhor vai tomar muito xarope e muito chá.
10:12Eu vou buscar todas as plantas boas para o pulmão.
10:17Alcaçuz, agrião...
10:19Não, não, não.
10:21Eu odeio essas receitas de xaropes e chás que você prendeu com aquela velha feiticeira da Joaquina.
10:27Mas se quiser ficar bom, vai ter que tomar sim.
10:32Meu Deus, o comendador voltou muito pior do que foi.
10:36Já mandei chamar o doutor Paulo.
10:38Está mesmo tísico, será?
10:40Essa doença é terrível.
10:42Só espero que ele não nos contamine.
10:44Meu Deus, Leôncio.
10:46Como vós me ser egoísta e mau?
10:48Só pensa em si mesmo.
10:50Que os outros morram, sofram, danem-se.
10:53Nada é capaz de sensibilizá-lo?
10:56Acha que para demonstrar o amor ao meu pai eu tenho que me contaminar?
11:00Não foi isso que eu disse.
11:03Essa doença pega, hein?
11:05Acho melhor fazer como eu. Fique bem longe.
11:07Longe.
11:09Seu pai moribundo e você me diz uma coisa dessas?
11:12Impressionante como me decepciona cada vez que abre a boca.
11:15Não comece, Malvina.
11:18Não pense que com a chegada do meu sogro e a doença dele,
11:22eu me esqueci do que eu vi ontem de noite.
11:24Não é hora para essa prosa.
11:27Respeite a doença do meu pai.
11:29Tanto respeito que eu vou ficar em consideração a ele,
11:32mas não pense que eu engoli aquela história do cisco no olho.
11:34Mania que tem de duvidar a minha palavra, não?
11:38Eu vi muito bem a rosa grudada em você.
11:41É um insulto, uma traição.
11:43Quer dizer que agora não se pode nem ter um cisco no olho?
11:47De madrugada, na cozinha, a escrava dependurada em você é vergonhoso.
11:52Eu tinha um cisco no olho.
11:54Estava doendo, ardendo. Você queria que eu não fizesse nada?
11:57Ainda insiste nessa mentira deslavada?
12:00Não quero mais a rosa nessa casa!
12:05Eu quero falar com o Vosmezer Rosa.
12:20É, com licença, senhora Marginha.
12:22Ontem, Rosa, aqui na cozinha, por que estava tão próximo ao meu marido?
12:34É...
12:36Tinha um fiapo descosturado na roupa dele.
12:40Ah, um fiapo.
12:43E não tinha nada no rosto dele?
12:47No bigode tinha um pouquinho de creme de leite.
12:51Mais nada.
12:53Eu não me alembro, senhora.
12:56Nos olhos, por exemplo.
13:00Nos olhos tinha uma lágrima.
13:03Por causa do pai dele, eu fiquei com pena dele.
13:05Desgraçada, mentirosa!
13:15Ah, Isaura.
13:17Aposto que está pensando em sua carta de alforria.
13:21A cada cesso de tosse do meu pai, o seu coraçãozinho deve bater mais forte pensando...
13:26Vou ser livre. Vou ser livre.
13:28Não passa pela minha cabeça desejar a morte do comendador.
13:33Ainda que minha liberdade dependa disso.
13:36Ora, confesse.
13:38Você não suporta o meu pai.
13:40Foi um tirano com você.
13:42Sem dizer que mandou matar sua mãe.
13:45Ele a mandou para o tronco durante o resguardo.
13:49O comendador se arrependeu de todo o mal que fez.
13:54Hoje é um homem de bons sentimentos.
13:56Quer dizer, então, que se eu pedir perdão pelos meus pecados, você me aceita?
14:02Com licença, senhor Leôncio.
14:04Tenho que preparar a canja para o senhor seu bem.
14:06Por que não se preocupa com os vivos?
14:08Meu pai já está morrendo.
14:10É só olhar para ele.
14:12Eu tenho tanta vida, tanto vigor para lhe oferecer, Isaura.
14:17No que depender de mim, o senhor comendador vai ficar bem, se Deus quiser.
14:21Se meu pai ficar bom, você continua escrava.
14:26Pois que seja assim.
14:28Não posso querer um bem, sabendo que depende da morte de alguém.
14:33Ele vai morrer logo.
14:35E você vai ser só minha.
14:38Se o comendador morrer, que Deus permita que isso não aconteça.
14:45Eu serei livre.
14:47A minha carta de alforria já está no testamento do senhor seu pai.
14:50Sonhe, linda menina.
14:53Sonhe.
14:55Só assim você vai ser livre.
14:57Nos seus sonhos.
15:00Deixe-me passar.
15:02Espere, Isaura.
15:04Espere.
15:06Será que não percebe o quanto sofro com a sua indiferença?
15:11Se você me quiser, Isaura.
15:14Eu me separo de Malvina.
15:15Malvina, é só falar.
15:25Eu fico impressionado como você sabe tanta coisa, Bernardo.
15:28É, eu gosto de assuntar, Iozinho.
15:31E saber das coisas desse mundo.
15:34Não tem ninguém nesse cafezal?
15:35Não, diz como era muito velho.
15:38Ficou doente, ó. Morreu.
15:40Não cuidou de tudo isso aí e ficou assim, ó.
15:43Cheio de praga.
15:45Esse pé tem muita lagarta.
15:47É, é verdade.
15:50Mas aqui, ó.
15:51Isso de esposa, Iozinho, vai virar uma mariposa.
15:54E até acaba com todo o cafezar.
15:56Toda folha que você encontrar, que tiver uma larva dessa,
16:00você coloca aqui na saca.
16:01Hoje de noite, o cafezal do Leôncio vai ficar cheio de praga.
16:10Despacho Malvina para a casa do coronel sem pensar duas vezes.
16:15Senhor Leôncio, por quem é?
16:17Dona Malvina é tão, tão formosa e boa.
16:20É uma aborrecida.
16:23A voz dela me irrita.
16:25Eu a acho em tudo superior a mim.
16:28Sou só uma escrava.
16:30É só uma escrava.
16:32É minha escrava.
16:34E é de ti que depende a minha felicidade.
16:38Eu sou capaz de cometer um desatino pra tê-la, Isaura.
16:41Isaura.
16:49Como se atreve cozinhar em casa?
16:52Isso é dela mesmo que eu quero me livrar.
16:55Isaura, se você quiser, vai ter só sua carta de euforria.
16:59Vai ser a deusa desta casa.
17:01Quero abandonar uma mulher linda e virtuosa por causa de uma escrava.
17:04Eu não acredito que nenhuma mulher seja tão fiel e virtuosa assim.
17:09Que péssimo conceito o senhor tem das mulheres.
17:12Que horror o que acaba de dizer.
17:14Você não merece confiança, Rosa.
17:16Muito menos respeito.
17:18É uma escravinha abusada que não sabe o seu lugar.
17:21Com azar de aprender.
17:23Nem que seja por mal.
17:25Ele manda pro tronco.
17:27Eu não fiz nada pra ser cachifa.
17:29Não fez nada?
17:31Como não fez nada se eu a peguei toda se insinuando pro meu marido aqui na cozinha?
17:34Eu só tava vendo uma mancha na roupa dele.
17:37Uma mancha.
17:38Não era um fiapo, Rosa?
17:40É...
17:41É que eu me atrapalhei.
17:43A mancha foi no outro dia.
17:45A senhora deve se alimbrar.
17:47Isaura fez ambrosia e ele gostou tanto que até repetiu.
17:50Então, se ele sujou um pouco o paletó e eu tive que limpar...
17:54Chega, Rosa! Chega!
17:56E o cisco?
17:58O cisco? Mas...
18:00Que cisco?
18:01Que eu pego os dois numa peta.
18:04Um diz que foi cisco.
18:05A outra diz que foi um monte de coisa menos um cisco.
18:09Ah, o cisco.
18:10É que eu me atrapalhei de novo.
18:12Mentirosa!
18:14Mentirosa.
18:15E o meu marido também.
18:17Mas com ele eu me acerto depois.
18:19Agora é aqui, Rosa.
18:21Entre nós duas, eu vou me acertar com você.
18:23Não foi à toa que eu te tirei de dentro de casa.
18:27É impressionante.
18:28A minha intuição não falha.
18:30Um cisco.
18:32Mentiroso!
18:34Mas foi um cisco.
18:35Chega, Rosa! Chega!
18:37A minha raiva já é suficiente pra mandá-la para o tronco.
18:39Lago eu, meu Deus, que sempre fui contra esses castigos.
18:43Oh, senhora Malvina.
18:45É que a senhora é boa.
18:46Não me manda pro tronco, não.
18:49Oi!
18:50Chega, Rosa! Chega, Rosa!
18:52Para de mentir!
18:53Cala a boca!
18:54Eu não suporto mais mentiras.
18:56Eu vivo nessa casa cercada por mentirosos.
19:00Mas isso vai lhe custar muito caro, Rosa.
19:02Eu não tive culpa.
19:04Eu vou lhe vender pra um homem horrível, Rosa.
19:08É isso que eu vou...
19:09Mulherzinha ordinária que você é.
19:12Me traindo descaradamente dentro da minha própria casa.
19:16A senhora deve desconfiando.
19:18Deu.
19:19Mas devia prestar mais atenção na santa do paoco da Isaura.
19:22Por causa que é dela que o senhor Zio Leôncio gosta.
19:26Mentirosa!
19:28É verdade.
19:30Você me manda o que fazer?
19:32Não!
19:33Volta aqui!
19:34Volta aqui!
19:35Volta aqui!
19:39Não parecia ser Malvina!
19:40Não!
19:41Volta aqui, Rosa!
19:42O que é isso, Malvina?
19:43Eu vou açoitar essa escrava ordinária!
19:45É que eu me atrapalhei e eu me esqueci que tinha soprado o cisco dos seus olhos.
19:51Ela teve a coragem de dizer, Leôncio, que vós-me-cê gosta da Isaura.
19:55Isaura?
19:57Isaura é uma escrava de luxo, um traste de salão que eu acostumei até em casa.
20:03Diga a verdade, Isaura!
20:05Ela é fingida e é mentirosa!
20:07Cale-se!
20:09Eu estou esperando, Isaura.
20:10Vós-me-cê teve alguma relação amorosa com meu marido?
20:13Não, senhora!
20:14Não!
20:15Não!
20:16Fala a verdade, Isaura!
20:17Os senhores em Leôncio e a velha cercando vão-me-cê.
20:20Isso é verdade?
20:21Eu vou matar você, Rosa!
20:22Eu vou matar você!
20:23Eu vou matar você!
20:30Francisca!
20:32Segura a Rosa!
20:33Coloca ela no tronco!
20:35Carga!
20:36Larga!
20:38Solta!
20:40Achou que eu fugi!
20:41Solta!
20:42É verdade, não é Isaura!
20:45O devasso do meu marido também tentou alguma coisa com você!
20:48Por favor, Rocia, Malvina!
20:50Não quero piorar as coisas entre a Sinai e o senhor Leôncio!
20:54Leôncio vai se viver comigo!
20:57Mas antes eu vou castigo a Rosa!
21:00Deixa estar, Malvina!
21:02Eu vou mandar aquela mentirosa para o tronco!
21:04O tronco não basta!
21:06Quero que a Rosa seja vendida para alguém muito horroroso!
21:10Mas quem, Malvina?
21:13Venda-a para o seu Martinho, capitão do mato!
21:15Que dizem ser muito cruel!
21:17Venda-a para qualquer um, Leôncio!
21:19Deixe que seja monstruoso!
21:22Não é uma má ideia!
21:26Estou abismado com essas últimas notícias sobre o Leôncio!
21:30Sonífero para Malvina?
21:32Tentativa de matar os velhos escravos?
21:35Assédio à Isaura?
21:36Indecência com Rosa e impertinência com Helena?
21:38É!
21:39E eu não quis lhe dizer nada ontem na presença dos escravos, mas...
21:44A coisa está pior ainda!
21:46O que pode ser pior?
21:49Leôncio chegou a ameaçar a minha vida, meu pai!
21:53Como?
21:54Quando eu frustrei a tentativa dele de deflorar a Isaura, ele...
21:57Ele me contou que matou a mãe daquele escravo que fugiu...
22:01Com veneno!
22:02E ele disse para eu tomar cuidado!
22:04Meu Deus!
22:05Meu Deus!
22:06Com quem fui casar minha filha?
22:08Não foi por falta de aviso!
22:11Mas a escrava assassinada era a mulher do João e irmã da Joaquina!
22:14Sim!
22:15Compreendo, compreendo!
22:16E ele teme a vingança deles dois!
22:17Por isso, ele quer matá-los também!
22:20Mas o combinado foi que assim que o comendador voltasse de viagem...
22:24Eu deveria devolvê-los à fazenda dele!
22:26E eu sei que ele já voltou!
22:28Mas, meu pai...
22:30Se eles voltarem para Lally, eles vão correr risco de vida!
22:34E eu, meu pai...
22:35Se eu morrer...
22:36Envenenado ou em uma emboscada...
22:38Pode ter certeza que foi obra daquele leonço!
22:41Pois amanhã mesmo!
22:42Iremos lá!
22:43Esse leonço terá que mescurar!
22:46Não!
22:48Não, não!
22:49O troco não!
22:52Eu quero que ela seja açoitada!
22:55Francisco, dez chicotadas na rosa!
23:08Olha, moleque!
23:15Achei umas folhas de mamoeiro, afavaca e guaco...
23:19E fiz essa bebeiraz por você!
23:21Sonhei que eu ser um rei africano!
23:24E tinha um monte de mulher!
23:26Ai, ai! Quem dela!
23:28Ai, eu tô com calafrio!
23:31Você tá fraca assim?
23:33Por causa de que você ainda não se acostumou com a perda do seu pai!
23:36A tristeza é tão grande...
23:39Que tem hora que dá vontade de ir junto!
23:42Não, moleque!
23:44Você não pode ficar assim, não!
23:46Se seu pai estivesse vivo...
23:47Ele ia querer você feliz e bem, com saúde!
23:50Bebe, vai! Bebe!
23:57Hum, que coisa ruim!
23:59Mas vai te curar! Você vai ver!
24:01Onde é que você aprendeu a fazer essa desgraça?
24:04Minha tia Joaquina!
24:06Olha!
24:07Ela sabe tudo do segredo das plantas!
24:12Me dá um chicote aí, mano!
24:13Meu Deus, Renato!
24:14Meu Deus, Renato!
24:33Uma!
24:34Duas!
24:38Duas!
24:41Três!
24:42Mais forte, Francisco!
24:46Quatro!
24:49Cinco!
24:52Seis!
24:54Pode parar, Francisco!
24:55Duas!
24:56Mesmo duas últimas!
25:05Sete!
25:08Oito!
25:11Nove!
25:14Dez!
25:15Ela desfaleceu!
25:23Deixa a exaura.
25:25Vaso ruim não quebra.
25:27Raimundo, fica aí tomando conta dessa desgraçada.
25:30Não quero que ninguém dê nada de beber nem de comer.
25:33Sim, senhor.
25:45Eu vou ensinar para a sinhazinha como faz água perfumada para o amor durar a vida toda.
26:11Essa receita é danada de boa.
26:14A minha Manoela fez preu.
26:16E foi minha Jaquina que ensinou.
26:19E quando o senhorzinho Gabriel sentir o cheirinho da água de fulô, não vai sair dos seus pés.
26:28Me ensina, minha Jaquina.
26:30Me ensina, meu João.
26:32Eu quero o Gabriel para sempre, para toda a minha vida.
26:36A sinhazinha faz assim.
26:38Pega cinco rosas vermelhas, cinco amor prefeito.
26:43É.
26:44E um toco de canela em pau.
26:47E um cadinho de mé.
26:49Bota tudo para frever e deixa para ficar um cheiro bem forte.
26:56E depois a sinhazinha tem que tomar um banho com essa água de fulô.
27:00Tomando banho, reza para o nosso senhor, para o moço Gabriel, que está sempre na sua vida.
27:12Eu vou fazer isso.
27:13Eu vou anotar essa receita.
27:15Deve ficar um perfume ótimo.
27:17Cinco rosas vermelhas, amores perfeitos, mel, canela.
27:22Mas nós conseguimos, foi juntar muita lagarta, Inhãozinho.
27:31Qual o nome desse bicho aqui?
27:34Tem nome complicado, em latim.
27:36Eu não sei dizer isso não.
27:38Mas os escravos chamam isso aí de bicho mineiro.
27:42É.
27:42Ah, apareceu faz poucos anos.
27:44Diz que veio de fora.
27:45Mas se espalhou mesmo foi em Minas.
27:49Mas eles não vão entender nada, Inhãozinho.
27:52Quando vê esse tanto de praga se espalhar no cafezar deles.
27:55Vão achar que é mal olhado.
27:57É.
28:00Inhãozinho Gabriel?
28:03Assim é a condensa e assim é a sua mãe?
28:07Ela não quer que vá sunseva mais iu na fazenda do mardito.
28:10Mas eu vou levar você lá, Bernardo.
28:12A justiça está do nosso lado.
28:13Vamos com fé que vai dar tudo certo.
28:21Vivi minha vida inteira com o coração aos pulos.
28:26E agora você e Gabriel vão pelo mesmo caminho.
28:30Há de ficar tudo bem, minha mãe.
28:32Estamos do lado certo.
28:34Acha certo destruir uma lavoura?
28:37E expor seu irmão ao risco?
28:40A lavoura vai ser sacrificada
28:41para impedir que Leôncio continue fazendo mal às pessoas,
28:45aos seres humanos.
28:47Tudo isso porque você se envolveu com aquele rebotalho de gente.
28:51Não podia ter caráter de pior qualidade, minha filha.
28:54A senhora sabe por que eu me envolvi com ele, não sabe?
28:59Você já me contou uma vez.
29:02Minha ama de leite, Inácia.
29:05Lembra dela?
29:07Aquela mandingueira.
29:09Claro que me lembro.
29:11Uma vez ela leu na borra de café
29:12que quando eu fosse moça e estivesse precisando.
29:16Um homem ia aparecer.
29:19Ele ia ser um príncipe na minha vida
29:21e ia me fazer uma verdadeira princesa.
29:24Ah, nisso ela acertou.
29:26Era o conde.
29:28Sem dote eu não consegui me casar.
29:32Ninguém queria se casar com a filha de um bêbado
29:34que devia a todo mundo.
29:36Até que apareceu Leôncio, minha mãe.
29:39E me envolveu com falsas promessas.
29:44E eu achei que ele era o cavalheiro
29:46que teria estendido a mão para me amar.
29:50Mas não.
29:52Eu estava enganada.
29:54Eu me apaixonei.
29:56Me entreguei a ele.
29:59E ele me abandonou.
30:03Ele não era o homem que eu esperava.
30:06O príncipe que eu tanto sonhei.
30:12Mas a Inácia, antes de morrer,
30:15ainda me disse mais uma coisa.
30:18Ela disse que o meu verdadeiro amor
30:20ia chegar
30:22para me salvar, minha mãe.
30:29Pena que o conde viveu tão pouco tempo comigo.
30:32É por isso
30:35que eu tenho que me vingar de Leôncio.
30:40A qualquer custo.
30:42Malvina!
30:57Malvina!
31:00Malvina, ouve isso aqui.
31:03Vai, Belchior, repita para minha esposa o pedido.
31:04Eu conheci essa Inácia Marvina,
31:07mas eu queria pedir a mão da Rosa
31:09para a morte casar com eu.
31:12Isso não é ótimo?
31:14A Inácia Marvina
31:15que disse que queria vender ela
31:18para um homem bem horrível.
31:20E isso
31:21eu sou até demais.
31:23É um castigo perfeito.
31:26Vaidosa, do jeito que a Rosa é,
31:27vai querer se atirar num ribeirão.
31:29Eu não estou para risos, senhor Leôncio.
31:32Eu sinto muito, senhor Belchior,
31:33mas eu não posso atendê-lo.
31:35Mas por que não?
31:37E a Sambai
31:38está dando um castigo
31:39para a Rosa.
31:41Ela tem nojo
31:42da minha corcova
31:43e dos meus dentes.
31:46A questão, senhor Belchior,
31:47é que eu quero a Rosa longe daqui.
31:49E o senhor,
31:50o senhor é nosso jardineiro,
31:52é colono dessa fazenda.
31:54Eu quero distância
31:55daquela petulante.
31:56Ainda por cima
31:57eu tenho a coragem
31:57de ficar dizendo por aí
31:58que é minha irmã.
32:00Não sendo assim,
32:01então,
32:02não está mais aqui quem falou, né?
32:05Gosto de ser.
32:09É, o monstrengo
32:10saiu com lágrimas nos olhos.
32:12Impagável.
32:14Está muito feliz,
32:15não é, Leôncio?
32:16Mas não pense
32:17que eu vou perdoá-lo
32:18por essa traição.
32:19Mas que traição, Malvina.
32:20Não se faça de desentendido.
32:22A mentira tem perna curta
32:23e manca, meu querido.
32:24Eu não menti.
32:25Não houve cisco no olho
32:27coisa nenhuma.
32:28Sua história simplesmente
32:29não bate com a daquela mentirosa.
32:31Claro,
32:31é porque ela mentiu,
32:33eu não.
32:34Leôncio,
32:34eu não sou idiota,
32:36apesar de parecer
32:36que você me acha uma.
32:38Ah, tá bom.
32:39Eu vou falar a verdade.
32:41A Rosa estava se insinuando
32:42quando eu ia repelir
32:43e a voz me centrou na cozinha.
32:45Meu Deus do céu.
32:47Mente como quem respira.
32:49Eu não vou suportar
32:51a sua desconfiança, Malvina.
32:52Nem eu vou suportar
32:53as suas traições.
32:55Se a senhora quiser,
32:55vá embora.
32:56Não se faça de rogada.
32:57Eu vou.
32:58Eu vou sim.
33:00Biltre.
33:01Vai viver sozinha
33:02pro resto da vida, hein?
33:04Quem é que vai querer
33:05se casar com uma mulher
33:06que se separou do marido?
33:07Eu vou-me embora, Leôncio.
33:10Eu vou sim.
33:11Mas por respeito
33:12ao meu sogro,
33:13eu vou esperar
33:13que ele melhore.
33:16Ou morra.
33:21Escreva o que eu vou lhe dizer,
33:22Leôncio.
33:23Do mesmo jeito
33:24que a Rosa foi castigada,
33:25voz me seu no dia
33:26também vai ser.
33:28E se não for por mim,
33:29vai ser por Deus.
33:30Vai arder um pouquinho, Rosa.
33:41Mas depois passa.
33:43Agora me diga,
33:44o que você fez
33:45pra Inhá Malvina
33:45ficar tão nervosa
33:46daquele jeito?
33:48Ela me pegou
33:49de converseio
33:50com o Miozinho Leôncio.
33:54Que converseio, Rosa?
33:57Eu tava me achegando
33:59eu tava tentando ele.
34:04Mas...
34:04Mas que imprudência!
34:06Ai...
34:07Um homem casado, Rosa.
34:09Nosso dono e senhor
34:10dentro da própria casa.
34:13Você deveria ficar agradecida.
34:16Não ralhar comigo.
34:18Ele tava prontinho
34:19pra ir pro seu quarto.
34:22Ele não me percura mais.
34:25É que você atenta a ele.
34:28somente de passar
34:30pelo salão.
34:32E por que
34:32voz me seu
34:33tinha que dizer isso
34:34pra Inhá Malvina?
34:36Não é verdade?
34:39É verdade.
34:39Ele ama o ser.
34:42Vive berrando
34:43na porta do seu quarto.
34:45Tá vendo só?
34:46Agora voz me seu
34:47ganhou dois inimigos
34:48de uma vez só.
34:49Nem o senhor Leôncio
34:50nem Inhá Malvina
34:51vão perdoá-la por isso.
34:53Ai!
34:54Me ajuda, Isaura.
34:56Não deixa ele me casar
34:58com um homem horroroso.
35:00Eles vão querer me casar
35:02com o seu Belchior.
35:04Cruz Credo,
35:05me ajuda, Isaura.
35:06Ai!
35:07Rosa!
35:08Rosa!
35:10Rosa!
35:10Rosa!
35:11Eles não vão
35:12deixar o ser
35:13se casar mais eu.
35:15Eles vão
35:16se entregar
35:17pra outro.
35:18Ai, graças a Deus.
35:19Pode ser que ele
35:24não seja
35:25tão feio
35:26como eu.
35:27Mas tomar
35:28que ele te faça
35:30sofrer ainda mais.
35:32Eu...
35:33desgramada.
35:38A culpa é toda
35:40sua, Isaura.
35:42Toda sua.
35:44Ai...
35:45Senhorzinho.
35:48Eu pago
35:48dois contos de réis
35:50daquele dinheiro
35:51que eu ganhei
35:51por conta do serviço
35:52que fizemos contra
35:54o seu Miguel.
35:56O problema
35:57é que Malvina
35:58quer que eu entregue
35:59a Rosa
35:59pra alguém
36:00que more
36:00bem mais longe.
36:02Eu também posso
36:03montar uma casa
36:03pra Rosa
36:04longe daqui
36:05da casa grande.
36:07Não, Francisco.
36:08Eu vou vendê-la
36:09mesmo pro seu Martinho.
36:11Eu já mandei
36:12até recado pra ele.
36:13Eu já mandei
36:14até recado pra ele.
36:15Sessão.
36:38Agora eu quero saber
36:39tudo, Isaura.
36:41O que a senhora
36:42quer saber?
36:42Eu quero que você
36:44me diga
36:45exatamente
36:46o que meu marido
36:48tem falado
36:48pra vós me ser.
36:50Sobre amores
36:51com escrava.
36:52Pra quê?
36:53Se ferir mais,
36:54senhora?
36:55Fale, Isaura.
36:56Leôncio tem feito
36:57propostas indecorosas
36:59a você?
36:59O que os olhos
37:00não veem
37:01e os ouvidos
37:01não escutam
37:02o coração
37:03não sente.
37:05Eu quero ver
37:06até onde vai
37:07a canalícia
37:07do meu marido.
37:09Eu preciso saber, Isaura.
37:10O senhor Leôncio
37:14não é diferente
37:16de muitos outros
37:17que juram
37:18a fidelidade.
37:21Mas eu não vou
37:22tolerar adultério
37:23e traição
37:23dentro da minha
37:24própria casa.
37:26Rosa já foi
37:27castigada.
37:28Eu custo a crer
37:29que vós me ser
37:30tenha cedido
37:30aos apelos
37:31devassos do Leôncio.
37:32Não, nem pense
37:33isso, senhora.
37:35Pois a senhora
37:36já não me conhece.
37:37não seria capaz,
37:39não é, Isaura?
37:41Jamais!
37:42Pela felicidade
37:43de meu pai.
37:45Eu lhe juro,
37:46senhora.
37:47Ainda bem.
37:49Eu sei que
37:50o seu temperamento
37:51é bem diferente
37:53daquela oferecida
37:54da Rosa.
37:56Eu rezo
37:57para que a senhora
37:57ainda seja feliz
37:59com o senhor Leôncio
38:00apesar de tudo.
38:01Do jeito que a coisa vai.
38:04Eu só vou esperar
38:05para ver
38:05como é que fica
38:06essa doença
38:07do comendador.
38:08Mas por minha vontade,
38:09Isaura,
38:10eu arrumava as minhas coisas
38:11e ia embora
38:11dessa fazenda
38:12hoje mesmo.
38:13Não, não, por favor,
38:14não faça isso.
38:16Estaria perdida,
38:17não é, Isaura?
38:19Ai, Deus,
38:19me livre e guarde.
38:21De qualquer maneira,
38:22é mais um motivo
38:23para eu querer logo
38:24a sua emancipação.
38:25Vou insistir
38:26com meu marido
38:27para que a venda
38:28para o seu pai
38:28sem mais tardança.
38:29o comendador já voltou,
38:56Belchior?
38:57Ah, hoje cedo.
39:00Ele está tossindo o sangue,
39:02coitado.
39:04Se ele for um homem
39:05de palavra,
39:06agora ele vai ter que vender
39:07a liberdade
39:07da minha filha Isaura.
39:09O senhor acha
39:10que é isso mesmo
39:12que vai acontecer?
39:14Ele vai ter que fazer sim,
39:15Belchior.
39:16Prometeu isso
39:16e quando ele voltasse,
39:18ele faria.
39:19Eu já tenho todo o dinheiro
39:20e dessa vez
39:20eles não vão conseguir
39:21me roubar, não,
39:22porque eu só faço
39:23pagamento no banco
39:24onde está tudo bem guardado.
39:26Não sei não, né?
39:27Ele sempre arranja
39:29um jeito de
39:30não vender
39:31a Minisaura
39:33para a voz micilio.
39:34Ele pode arranjar,
39:35mas dessa vez
39:35não vai ter desculpa
39:36nenhuma, Belchior.
39:37Ele vai ter que vender
39:38porque a paciência
39:39de todo o homem tem limite.
39:43Respire pela boca,
39:44comendador,
39:44por favor.
39:44Está bem, está bem, está bem.
39:58O senhor voltou
39:59muito cedo
39:59da corte, comendador.
40:01Não aguentava mais.
40:03Só fiz piorar
40:04com o cansaço da viagem.
40:06Bem, e o que mais
40:07está sentindo?
40:09Essa tosse cansativa,
40:11rouca,
40:12para mais um mês já.
40:14Ah, e de uns dias
40:16para cá
40:17começou a sair sangue.
40:18E de noite
40:19eu tinto
40:19suor, escalafrios.
40:22Ah, e estou
40:23perdendo peso.
40:25Pois é,
40:26tudo indica
40:27que é mesmo
40:28tísica.
40:30Eu sinto
40:31muito fraco.
40:33O ar me falta,
40:35essas crises
40:36de tosse.
40:37Bem, comendador,
40:38eu não vou enganar
40:39o senhor.
40:40O seu estado
40:41é bastante preocupante.
40:43Eu vou morrer, doutor?
40:45Não, também não é assim.
40:47Isso varia
40:48de paciente
40:48para paciente.
40:50Agora, o mais importante
40:51é repouso absoluto
40:53e evitar aborrecimentos.
40:55Nesta casa,
40:57isso é muito difícil.
40:59Com licença.
41:01Seu chá, comendador.
41:04Bem,
41:05com licença, então.
41:06Até mais liga, comendador.
41:08Passaram bem.
41:10Igualmente.
41:11Com licença.
41:19Nós estamos bem próximos
41:20da fazenda do Crácula.
41:21É.
41:22Mas quando nós chegarmos lá,
41:23Eusino,
41:25deixa que eu vou
41:26entrar sozinho.
41:26Não, Bernardo.
41:28Nós estamos juntos
41:28nesta missão.
41:29Agora eu vou até o fim.
41:31Mas se a condensa
41:31não dá gostar
41:32de saber, Eusino.
41:33Ela não precisa saber.
41:35Mas eu vou entrar com você
41:36e ajudar a espalhar
41:36as pragas na lavoura.
41:38Com as minhas próprias mãos.
41:41Vamos deixar a noite cair, então.
41:45Bem, eu tive que mentir
41:47para animá-lo.
41:48Ai, meu Deus.
41:50O quadro é péssimo.
41:52É o pior possível.
41:55Então é a tísica
41:56e meu pai está mesmo morrendo.
41:59Sim.
42:00Ele tem muito pouco
42:01tempo de vida.
42:02Milagres acontecem.
42:04Não vamos perder a esperança.
42:06Que esperança?
42:08Vá se acostumando
42:09com a ideia
42:09de que meu pai vai morrer.
42:12Deve estar feliz, não é?
42:14Jamais.
42:16Com licença, senhor.
42:17Eu vou preparar
42:19a canja do senhor, seu pai.
42:20Ele precisa se alimentar.
42:21E bem.
42:23Com licença.
42:25Bem, o senhor Leôncio
42:27é o único herdeiro.
42:29Dentro em breve
42:30será o dono
42:30disso tudo aqui, não?
42:47Pronto.
42:48Soltei já todas as pragas
42:49de insetos
42:49que a gente recolheu hoje.
42:50É isso.
42:50Agora vamos parar
42:51todas as folhas com praga
42:52e vamos sair passando em tudo.
42:53Eu vim.
42:54Vai.
42:58Não estou gostando
42:58nada desses latidos.
43:01Estão farejando nós.
43:03Vai.
43:03Vamos rápido.
43:04Vai.
43:04Passa rápido em tudo.
43:05Vai.
43:06Tem tudo.
43:06Vamos.
43:08Juno, os cachorros
43:09estão latindo demais.
43:11Deve ser raposa,
43:13lobo-guará,
43:14onça,
43:14quem sabe.
43:15Ou um escravo fugido
43:16rondando por aí.
43:18Faz o seguinte, Francisco.
43:20Solte os cachorros.
43:21Seus eleições.
43:23Com licença.
43:23Fala, Raimundo.
43:24O Benedito disse
43:25que tem gente
43:26lá por lá do cafezar.
43:28O quê?
43:29É, ele estava rondando
43:30por lá e viu mais sombras.
43:31Mas não quis se aproximar
43:32porque ficou pensando
43:33que fosse assombração.
43:35Ficou com medo.
43:37Eu não tenho medo
43:37de assombração.
43:39Isso deve ser escravo fugido.
43:41Ou alguém lá da senzala
43:43que resolveu namorar
43:43escondido no mato.
43:45E eu já proibi escravo
43:47de ficar passeando
43:47na fazenda à noite.
43:49Então eu vou soltar os cachorros.
43:51Não, Francisco.
43:52Nós vamos fazer diferente.
43:55Se soltarmos,
43:56os cachorros
43:56são capazes de fugir
43:57se tiverem a cavalo.
44:00Eu quero chegar
44:01de repente
44:02sem ser visto na surdina.
44:06Pegue o Benedito
44:06e mais dois escravos
44:07de confiança.
44:09Eu quero todos armados.
44:11Vamos dar uma busca
44:12no cafezal
44:13para pegar os intrusos.
44:17É hora de caçar.
44:18Vida de negro é difícil
44:26É difícil como o quê?
44:28Vida de negro é difícil
44:31É difícil como o quê?
44:34Eu quero morrer de noite
44:36Na tocaia me matar
44:38Eu quero morrer de açoite
44:41Se tu negra me deixar
44:43Vida de negro é difícil
44:46É difícil como o quê?
44:49Vida de negro é difícil
44:51É difícil como o quê?
44:54Meu amor, eu vou-me embora
44:56Nessa terra vou morrer
44:58O dia não vou mais ver
45:01Nem jamais eu vou viver
45:03Amém
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