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  • há 2 semanas
Capítulo 33 excelente novela de época Escrava Isaura

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Pessoas
Transcrição
00:00Se soltarmos, os cachorros são capazes de fugir se tiverem a cavalo.
00:04Eu quero chegar, de repente, sem ser visto na surdina.
00:10Pegue o Benedito e mais dois escravos de confiança.
00:12Eu quero todos armados.
00:15Vamos dar uma busca no cafezal pra pegar os intrusos.
00:20É hora de caçar.
00:30Máuê, oiê, balaiá.
00:39Mas do sol que clareia a terra, novo dia, amanhã festeja.
00:45Leva toda a tristeza, abençoa toda a natureza.
01:00Eu mal posso crer que aquele Gabriel de Albuquerque teve a coragem de se meter em nossa casa à noite.
01:07Pare com isso, Henrique.
01:08Gabriel não fez nada de mal, se é isso que eu quero saber.
01:11E aí dele se fizesse, Helena.
01:13Pare com essas ideias violentas.
01:16Estava tão feliz que tinha voltado para me fazer companhia.
01:19Assim vou mudar as ideias.
01:21É, mas aquele Gabriel é muito atrevido.
01:24Ele ainda vai acabar se dando mal.
01:26Não rogue praga no meu amor.
01:28Senão vou fazer o mesmo com o seu.
01:32Tome sua canja, comendador.
01:34Eu não tenho fome nenhuma.
01:37Mas precisa se alimentar.
01:39Se o senhor quiser, fica bom.
01:40Tá bem, tá bem.
01:43Sabe, Zora.
01:45Desde que te vejo aqui, nesta casa, andando sempre de um lado pro outro.
01:50Sempre tão humilde.
01:52Sempre tão calada.
01:54Ou então vendo você com o Gertrudes ensinando o Beabá por horas e horas.
02:00Ou quando você era aplaudida pelos versos que recitava.
02:05Ou então, quando você cantava para nós com sua voz suave, afinada.
02:10É incrível.
02:12É incrível que eu nunca percebi o anjo de ternura que você era.
02:15É porque eu era só uma escrava.
02:20Gertrudes sempre vinha com a mesma conversa.
02:23Isaura encantadora.
02:25É a filha que eu não tive.
02:27Tão sensível, tão inteligente.
02:30Bondade da madrinha.
02:33Só agora eu percebo a bênção que vós me ser foi.
02:37Pra minha vida.
02:38E pra vida da minha mulher também.
02:40Isso tudo por culpa, Isaura.
02:45Eu me apaixonei por sua mãe.
02:48E quando ela me rejeitou, eu me tornei um assassino.
02:53Por favor, comendador.
02:54Escuta, eu preciso falar.
02:57Desculpa, é importante.
02:59Eu não acredito na redenção da minha alma.
03:01Mas devia acreditar.
03:03Deus, Deus é capaz de perdoar.
03:06A mim, não.
03:06Eu fui um homem cruel.
03:09Muito cruel.
03:11Não mereço perdão.
03:14Mas a morte de minha mulher me causou da minha tristeza.
03:20E só agora percebo que as suas palavras enchem de bondade meu coração.
03:27A madrinha...
03:28A madrinha era muito especial.
03:30Virtuosa como poucas.
03:32Você também é muito boa.
03:33Eu me lembro de uma vez...
03:37Eu estava triste, com saudades do meu filho.
03:40E você me alegrou.
03:43Cantando a sua música preferida.
03:45E agora...
03:47Cuida de mim.
03:49O assassino de sua mãe.
03:52Não fique assim, comendador.
03:54Não se torture.
03:56O senhor mesmo deve se perdoar.
03:59O senhor também deve se perdoar.
04:29Se tinha alguém por aqui...
04:31Esse alguém já foi.
04:33Sei não, hein, seu Chico.
04:34Acho que o Lubilson passou por aqui, hein.
04:36Não me venha com essas crentices.
04:38Eu acho que a gente devia ter trazido os cachorros.
04:41Não, seu Chico.
04:41Nós vamos procurar melhor.
04:43Tem negro escondido por aqui.
04:44Mamãe, por favor.
05:04Quer parar de andar de um lado para o outro?
05:06Se o Gabriel não voltou até agora, é porque ele me desobedeceu.
05:08Eu só permiti que o Gabriel fosse com Bernardo, porque ele me garantiu que ia apenas ajudar
05:13a recolher as pragas e os insetos.
05:14Então você não conhece seu irmão?
05:16Com certeza ele foi com o negro à fazenda do Crápula.
05:18Mas isso seria muita imprudência?
05:20Mas olha só quem fala.
05:22Por causa do seu desejo louco de vingança, é que estamos de novo aqui aflitas.
05:27E agora?
05:28Vamos à fazenda do Crápula também?
05:30Demos-me livre.
05:31Foi o que fizemos, quando o Gabriel se meteu na fazenda do Coronel Sebastião Cunha.
05:36Mas agora é diferente, mamãe.
05:39Leôncio não é como o Coronel Sebastião, que ladra, mas não morde.
05:42É capaz de nos matar a todos.
05:44Estou tão arrependida.
05:46Roguei tanta praga para que esse plano de vocês não desse certo.
05:50E agora?
05:52Meu filho pode até morrer.
05:54Calma, minha mãe, calma.
05:56Vamos rezar para que nenhum mal aconteça ao meu irmão.
06:00Se ele demorar um pouco mais a voltar, eu vou procurar o sargento de milícias.
06:06Seu Martinho, pela expressão, está feliz da vida.
06:10Estou mesmo, dona Violeta.
06:12A expedição ao quilombo foi um sucesso.
06:15A sorte estava reganhada para mim.
06:18Vendi os escravos por um dinheiro e tanto.
06:21E venho gastar tudo aqui no nosso jardim, com as minhas florezinhas.
06:25Hoje eu quero gastar e é com voz, Messer.
06:27É a minha despedida de solteiro.
06:30Ué, mas você vai se casar?
06:33Vou comprar amanhã uma escrava linda, que vai me servir até na cama.
06:37O nome dela é Rosa.
06:39De uma boniteza que só vendo.
06:41Então vamos comemorar como se deve, capitão.
06:43Tenho em minha casa um dos melhores vinhos do mundo.
06:45Eu nunca mais quero gastar escravo na minha vida.
06:48Foi horrível.
06:49Não paga a pena.
06:50Ah, deixe de tristeza.
06:51O Brasil só cresce e ganha dinheiro por causa das línguas.
06:55Venha comigo que vou lhe alegrar.
06:57Dá licença.
06:58Ele estava conversando comigo.
07:00O sargento sempre foi meu cliente.
07:02Calma, calma que tem pra todas.
07:03Mas ninguém gosta mais do que eu de lhe servir.
07:06Deixa de ser só, sua flor de lis.
07:07Olha que limpar tua casa.
07:08Pois venha se for mulher.
07:10Peraí, calma aí.
07:11Pera.
07:12Acho que eu ouvi alguma coisa.
07:13Ah, eu só ouvi um pio de coruça e de grilo.
07:17É o lobisomem, gente, que tá vagando por aí.
07:19Vamos pra aquele lado ali.
07:21Vamos, João.
07:26Chega!
07:26Se continuarem com essa pendenga, eu vou botar as duas pra fora.
07:30Eu estava de prosa com o sargento primeiro.
07:32O sargento era meu cliente antes.
07:33Eu tô avisando.
07:35Eu não quero mais saber de confusão.
07:37Essa ali na oginália é você, sua desgramada.
07:39Eu não quero ouvir mais nenhum pio.
07:41Desculpa.
07:42Perdão.
07:44Se continuarem com essas brigas, vão as duas procurar serviço na casa de outra.
07:48Andem, façam as pazes.
07:51Deem as mãos.
08:02Ai, tenho que ser rápida.
08:04Os capatazes saíram com o senhor Leôncio.
08:06Tava um cismado que tem gente estranha lá no cafezal.
08:09Ai, tenho medo de ser o André.
08:11Qualquer hora ele aparece por aí.
08:12Tá fazendo isso pra um modo de aliviar a culpa?
08:17Que culpa tenho eu, Rosa?
08:19Era você que tinha que estar aqui no meu lugar, Isaura.
08:24Eu te odeio.
08:27Eu odeio o senhorzinho Leôncio.
08:31Odeio assim a má vina.
08:33Eu quero que vocês morrem tudo seco.
08:43Deixa eu ir embora, antes que os capatazes voltem.
08:46Que ódio.
08:58Será que tinha gente estranha mesmo no cafezal?
09:00O nego Benedito jura de pé junto que vi uma sombra se mexendo por lá.
09:03Agora vão ficar vendo a sombração também.
09:06Tá todo mundo achando que era lubisomem.
09:08Nem lubisomem, nem mula sem cabeça.
09:10Quem faz maldade é gente.
09:12Solte os cachorros, Francisco.
09:13Agora é tarde.
09:15Se fosse aquela hora, senhorzinho.
09:17Faz o que eu tô mandando.
09:18Solte os cachorros.
09:18O senhor é quem manda.
09:20Se tiver algum negro fujão ou ladrão, os cachorros vão encontrar.
09:24Sei lá.
09:25Depois que a gente andou assuntando por lá, quem estava lá?
09:28Se é que tinha alguém, já deve ter se escapulido.
09:31Solte os cachorros, Francisco.
09:32Faz o que eu tô mandando.
09:34Sim, senhor, senhor.
09:34Sim, senhor.
09:39Pronto, minha mãe.
09:40Deu tudo certo.
09:40Desobediante.
09:42Não devia ter ido à fazenda do Crápula.
09:44Eu não podia deixar Bernardo se arriscar sozinho.
09:46E o canalha do Leôncio bem que merecia.
09:48O café fez a domba amanhecer cheio de praga, senhor.
09:50Ai, que maravilha.
09:51Então conseguiram.
09:51Eles espalharam a praga toda.
09:53Todinha, do jeito que a senhora queria.
09:55Começou a minha vingança.
09:57E que termine por aqui.
09:59Graças a Deus, não aconteceu nada ao Gabriel.
10:01Essa vingança só vai terminar, minha mãe.
10:03Quando o Leôncio estiver na miséria.
10:06No chão.
10:07Como um tapete barato para eu pisar em cima.
10:09Sem dó nem piedade.
10:12Querer e fazer acontecer uma vingança
10:14é coisa que mexe com a cabeça de uma pessoa.
10:16Mais do que sofrer uma ofensa.
10:18Não estou nem um pouco arrependida.
10:20Para falar a verdade, estou me sentindo até mais leve.
10:23Perdoar para ser perdoado.
10:25Foi o que ensinou o nosso senhor.
10:27O que chama de vingança, eu chamo de justiça.
10:31Ele está do lado do mal.
10:32Nós, do lado do bem.
10:35Esta é toda a diferença.
10:43Oh, mas que Deus.
10:47Da gata no cafezal?
10:52Oh, não.
10:53O cafezal está cheio de fraga.
11:06Oh, meu Deus.
11:11Tome seu xarope.
11:12Esse xarope é tão enjoativo.
11:20Eu nunca apreciei tomar remédio.
11:26Hoje o senhor está sem febre.
11:29E a tosse veio sem sangue.
11:31Graças a Deus.
11:33Ai, o comendador está melhorando.
11:35Não vai mais me chamar de padrinho?
11:40Desculpe.
11:41Graças a Deus.
11:43O padrinho está melhorando.
11:45Eu precisava mesmo era voltar para casa.
11:49Mas me sei com todo esse carinho.
11:51Com toda essa ternura.
11:52Me faz sentir muito melhor.
11:56Isaura.
11:58Voz me sei.
11:59É o meu melhor remédio.
12:00Generosidade do padrinho.
12:05Escute.
12:07Esta noite, no meio da minha febre,
12:10eu ouvi uma gritaria lá embaixo.
12:13Parecia que era a Malvina brigando com a Rosa.
12:16Aconteceu mesmo?
12:18Ou eu estava delirando?
12:21É verdade.
12:23Minha Malvina ralhou mesmo com a Rosa.
12:24Mas o senhor não deve se preocupar.
12:28O doutor Paulo recomendou fazer repouso.
12:31E esquecer os problemas da casa.
12:37Que cara é essa?
12:38O que foi que aconteceu?
12:40Encontraram o tal lubisomem do cafezal?
12:42Não.
12:43Mas eu...
12:44Eu nem sei como lhe dizer.
12:45Senhorzinho,
12:46andaria espalhando praga na lavoura.
12:48O quê?
12:49E pelo que vi,
12:50foi mais de uma praga que trouxeram.
12:52Mas que praga é essa?
12:53Quem foi que trouxe?
12:54Ah, quem trouxe eu não sei.
12:55Mas tinha de tudo um pouco.
12:57Tinha cigarra, tinha garoncho,
12:58tinha largata,
12:59que depois se transforma em mariposa.
13:00Mas até outro dia não tinha praga nenhuma.
13:02Mas não tem mesmo?
13:04Eu sempre olho
13:04e eu peço para os escravos me avisarem quando tem praga.
13:07E nunca tem.
13:07E hoje tinha.
13:08E foi da noite para o dia.
13:10Mas pode ter sido a assombração que trouxe, senhorzinho.
13:12É, pode ser, Raimundo.
13:13Mas essa assombração é de carne e osso.
13:14E atende pelo nome de gente.
13:16O que você está querendo dizer com isso, Chico?
13:19Senhorzinho,
13:20olha o que eu achei do cafezal.
13:21É isso.
13:22Esse saco aqui tem provas.
13:23Aqui está cheio de folhas, olha, com lagarto.
13:26E os escravos chamam de bicho mineiro.
13:30Já sei quem foi.
13:32Engraçada, foi ela.
13:34Ela quem?
13:36A Tomásia.
13:38A condessa de campos.
13:40Mandou chamar, não é, coronel?
13:45Sim, mandei.
13:46Soube que o comendador já voltou da viagem.
13:49E estive pensando bem nessa situação de vós-missês.
13:53Essa demanda toda, os problemas que o meu genro tem com vós-missês.
13:57E resolvi que...
13:58Que devem ficar aqui na minha fazenda por mais algum tempo.
14:01Ah, obrigada, papai.
14:03Fez um grande bem, meu pai.
14:06Meu pai é muito bom.
14:09E com tudo que o comendador lhe deve, ele não vai lhe negar, mas...
14:12Quarenta contos de réis.
14:14Obrigado, senhor coronel.
14:16Não sei como agradecer aos coronel.
14:18Ah, o que é isso?
14:19Não carece agradecer, não carece.
14:21Vós-missês já sofreram muito nessa vida.
14:24Pelo menos aqui terão um pouco de paz.
14:26Muito agradecido, meu coronel.
14:28Deus há a lhe dar em dobro pro senhor o que o senhor está fazendo por nós.
14:32Que Deus abençoa sempre essa casa,
14:36alumia só a vossa vida e dos seus filhos, coronel.
14:41Podem voltar pra cozinha agora.
14:43Com licença.
14:43Com licença, coronel.
14:45Helena, trate de se arrumar porque vamos sair.
14:49É?
14:49Pra onde vamos? Pra cidade?
14:51Não, vamos à casa de sua irmã.
14:53Temos que visitar meu cumpadre.
14:55Ele acaba de chegar de viagem.
14:56E eu, meu pai?
14:57Eu também gostaria de ir.
14:59Acho melhor não, Henrique.
15:00Depois dessa briga toda com o Leôncio.
15:03É, mas não houve agressão, meu pai.
15:04Foi só uma discussão.
15:06Acontece entre cunhados.
15:08E eu não estou proibido de voltar lá.
15:09O Leôncio até disse que eu poderia aparecer pra jantar ou almoçar.
15:11Só que...
15:12Desta vez eu converso com ele
15:15e o senhor não se mete na conversa.
15:17Entendeu bem?
15:19A Condessa é uma pessoa que tem muita vontade de me prejudicar.
15:24Eu vou mandar os escravos parar com a colheita pra catar as pragas.
15:27Não, não tem tanta praga assim.
15:29Mas, senhorzinho, as pragas se espalham.
15:31Quero café nas sacas.
15:32Vamos fazer logo esse carregamento.
15:34É, o senhor que manda.
15:36Papai, podemos passar na cidade na volta?
15:42Pra que isso?
15:43Ela quer ver o mancebo.
15:45Para com isso, Henrique.
15:47Vamos e voltamos sem parar na cidade.
15:51Vamos à fazenda do comendador.
15:52Vem te vir, vem te vir
16:08Andar por um jardim em flor
16:11Chamando os bichos de amor
16:14Com a boca pingar o vanel
16:17Vem te quis, vem te quis
16:22E ainda quero muito mais
16:25Maior que nem...
16:26Você não levanta, moleca
16:28Eu tô me sentindo melhor
16:29É, você tá sem febre, sim
16:33Ai, que eu não aguento mais ficar aqui
16:35Eu quero passear na mata
16:37Melhor descansar mais um pouquinho
16:40Não, André
16:41Vamos mais eu dar uma volta no riacho dos diamantes?
16:45Então se nós vai
16:46E eu quero é ver você feliz, moleca
16:49Vim aqui pra falar com os senhores, seu pai
16:54Que pena, seu Miguel
16:57Perdeu a viagem
16:58Meu pai está doente e não vai poder recebê-lo
17:00Mas o comentador disse que eu podia vir
17:02Francisco
17:04Acompanhe o seu Miguel até a porteira
17:06Não é necessário, seu Chico
17:08Ele jurou que ia vender a carta de alforria da minha filha
17:10Assim que voltasse de viagem
17:12Pai?
17:14Isaura, minha filha
17:15Meu pai, que saudade
17:17Eu vim aqui pra comprar a tua liberdade, minha filha
17:19Pelo preço combinado
17:21Venda, senhor meu marido
17:23É só o que eu lhe peço
17:24Tenho todo o dinheiro que o senhor pai pediu
17:27Os 20 contos de reais
17:28Está tudo no banco
17:29Posso fazer a ordem de pagamento
17:31E o senhor me dá a carta de alforria da minha filha Isaura
17:33Nem por 100 contos eu venderia Isaura
17:35Não há dinheiro no mundo que pague a sua filha
17:38Leôncio
17:39Guarde o seu dinheiro, seu Miguel
17:42Talvez vai precisar dele pra alguma outra coisa
17:44Leôncio, você não pode se esquivar
17:46De fazer a vontade do seu pai
17:47E eu que sou sua esposa
17:49Lhe rogo
17:49Termine logo com isso
17:51Acerte a liberdade da Isaura
17:52Respeite o último desejo da sua mãe
17:54Eu não sou o dono de Isaura
17:57Só o meu pai pode dispor dela
17:58Pois então eu mesma vou falar com meu sogro
18:01E vou pedir pra ele uma autorização por escrito
18:03Pau
18:04Acha que vou incomodar o meu pai doente como ele está?
18:08Por causa de uma escravinha
18:09Não é preciso incomodar o seu pai
18:12O senhor é o seu único herdeiro
18:14Receba o dinheiro do seu Miguel
18:15E passe a carta da alforria de Isaura
18:17Não, Viana
18:19Eu vou esperar meu pai melhorar
18:21Seu desejo é me magoar, não é Leôncio?
18:23É me fazer infeliz
18:24Maldita hora em que me casei com o senhor
18:27Quantas vezes vim aqui com a esperança de levar a minha filha comigo
18:32E é sempre uma desculpa diferente
18:33Ou uma exigência diferente
18:35Mas dinheiro ou coisa parecida
18:37A ter roubado já fui
18:39Para não terem que vender a liberdade da minha filha
18:41E agora é a doença do comendador?
18:45O senhor comendador está mesmo doente, meu pai
18:47Mas já está melhorando
18:49Diz que martir, minha filha
18:51Que sina
18:51Será que vai ter sempre alguma coisa para atrapalhar?
18:54Isaura, leve o seu pai para tomar um copo d'água com açúcar na cozinha
18:59Lá, vocês vão poder conversar mais à vontade
19:02Sim, senhora
19:03Vamos, pai
19:21É aqui mesmo
19:23Mas será que tem mesmo diamante?
19:27Ah, isso eu não sei
19:28O Bernardo diz que tem
19:30Mas se tem, é bom que é perto do quilombo
19:32É, mas nós não sabemos tirar diamante do cascaio?
19:36O Bernardo é que sabe
19:37Ih, vai ver que nem sabe
19:38Aquele nego é muito falador
19:40Coitado
19:42Estava todo contente com a vida no quilombo, livre
19:45E foi para o mercado de escravo
19:46O Bernardo sabe onde nós está
19:48Se é verdade que aqui tem diamante
19:50Esperto que nem ele é
19:52Logo dá com as cara por aqui
19:53Tomara, moleca
19:54Olha, logo que eu conheci o Bernardo
19:57Eu não gostei dele, não
19:59Mas depois peguei a amizade
20:02Ai, como é bom que eu não vejo assim a floresta
20:06As mata
20:08Me dá uma paz
20:09Mesmo sabendo que o Capitão do Mato tirou a vida do meu pai
20:13Eu tenho fé, André
20:14E deve de ter, moleca
20:16Olha, Deus não fez esse mundão bonito
20:20Punhou nós nele
20:21Para atirar e levar
20:23Se não ser, para outro lugar
20:25É isso que eu penso
20:27É nisso que eu acredito
20:28E aquela história que o seu pai era príncipe lá na África
20:31É verdade?
20:33Meu pai disse que é
20:33No reino de Gabon
20:35Mas ele vê criança para cá
20:38E como é que deve de ser lá?
20:43Tem montanha
20:44Tem serra
20:45Diz que é muito bonito
20:47Tudo cortado de rio
20:49Que nem aqui no Brasil
20:51E é lá que nasce um rio muito famoso
20:54O Rio de Benin
20:56Que dá nome ao mesmo reino
20:58Meu pai
21:00É água de flor de laranjeira
21:02O senhor precisa se acalmar
21:03Não, minha filha
21:04Eu não quero me acalmar
21:05Eu quero é fugir com você daqui
21:08O mais rápido possível
21:09O quanto antes
21:10O dinheiro que tenho é mais do que o suficiente
21:12Para a gente sair daqui
21:13E para um outro lugar, Isaura
21:15Mas, meu pai, vamos para onde?
21:18Para São Paulo, Isaura
21:19Para uma cidade do interior
21:20Perto da capital
21:21Ninguém vai nos encontrar lá
21:23Vamos procurar um lugar
21:25Seguro, minha filha
21:27Um sítio bonito
21:28Onde a gente possa criar bichos
21:30Cultivar uma horta
21:31Uma lavoura
21:33Uma nova vida, minha filha
21:34Longe dessa maldita escravidão
21:37E o que vai fazer quando for livre, Bernardo?
21:39Você é muito rico
21:39Como é que você vai fazer isso?
21:41Vou garimpar
21:42Vou tirar os diamantes do cascalho
21:43E você entende dessas coisas de garimpo?
21:45Eu já fui ajudante de garimpeiro, meuzinho
21:47Eu já tirei muita pedra da Gupriara
21:49Eu também preciso muito arrumar dinheiro
21:51Para o amor de quê?
21:52Para
21:53Meuzinho já é irmão da Condensa
21:54Quer mais dinheiro para quê?
21:56Para fugir com a minha amada
21:57Ai, carece fugir, meuzinho
21:58É, nossas famílias se odeiam
22:01Nosso amor é proibido
22:02Dependendo, dependendo, dependendo
22:04Se eu ficar realmente livre
22:06Se eu conseguir a minha liberdade
22:07E eu conseguir pegar uma pedra boa
22:09Um diamante grande, bonito
22:10Eu vou entrar e fazer meu sócio
22:13Ué?
22:14Jura?
22:15É, então
22:16Eu vou fazer, você vai ser bom
22:17Vai ser bom
22:18Ter um sócio como eu faço ser
22:19Irmão da Condensa
22:20Vai facilitar os negócios
22:21Vai ajudar
22:22Para o amor de vender as pedras
22:23E ainda mais eu vou poder ter mais proteção
22:26Eu fico impressionado, Bernardo
22:27Como você é inteligente
22:27É
22:28Como você prevê as coisas
22:29Antecipa o que vai fazer
22:30Como vai fazer
22:31É, para ser feliz, meuzinho
22:33A gente tem que viver agora
22:34E pensar em amanhã
22:36Temos que esperar
22:40O comendador está melhor
22:42Eu tenho certeza
22:42Que ele não vai se negar
22:44Eu vou falar com ele
22:45E a Malvina também
22:46Meu Deus, minha filha
22:48Eu não sei como é
22:48Que você pode confiar nessa gente
22:50Tirando assim a Gertrude
22:52Que Deus a tenha
22:52Essa família não presta
22:54Não vale absolutamente nada
22:55O comendador é um assassino
22:57Que matou covardemente
22:57A sua mãe, minha filha
22:58E o filho é essa coisa
23:00Que todo mundo já sabe
23:00Por favor, meu pai
23:02Vamos esperar só mais um pouco
23:04Até que o comendador melhore
23:06E honre o combinado
23:07Esperar, minha filha
23:09Eu espero
23:10Desde que você nasceu
23:11Então
23:13Então, por favor
23:15Não custa
23:16Vamos esperar só mais um pouquinho
23:18Eu tenho certeza
23:19Que o comendador
23:19Não vai se recusar
23:21Ele já deu
23:22Minha euforia no testamento
23:23Não
23:23Então está bem
23:25De duas, uma
23:26Ou o comendador melhora
23:28E me vende para o senhor
23:30Ou então
23:31Eu não gosto nem de pensar
23:33Mas
23:34Ele morre
23:35E você fica livre
23:36Por força do testamento
23:38Entendi
23:39Entendi, minha filha
23:41Vai ser como você quer
23:42É que eu vivo
23:44Tão preocupado
23:45Minha filha
23:46Preocupado
23:48Com a sua segurança
23:49Isso me deixa
23:51Até realmente desesperado
23:52Pai
23:58Fique assim
24:01Calma
24:01Sua benção
24:13Sua benção, meu pai
24:14Vá com Deus
24:15Fique com Deus, minha filha
24:17E não se desespere
24:18Você vai ser livre
24:20Agora você namora bem aqui
24:40Do lado do diamante
24:42Para a moda me sentir uma princesa
24:45Princesa você já é, moleque
24:49Lipaleza
24:50Fia de Vachof
24:52Chefe do quilombo
24:53Então e se nós namora?
24:56E quem sabe um dia nós faz mais um príncipe
24:58Assim eu não vou resistir, moleque
25:02Bom dia
25:21Senhor Martinho
25:24Bom dia
25:25Eu vim falar com o senhor Leôncio
25:27Vou anunciar que o senhor está aqui
25:29Com licença
25:30Com licença
25:38O senhor Martinho está aí
25:40Ótimo
25:41Mande eu entrar
25:42Assim a gente acaba logo com esse assunto
25:44Da venda da Rosa
25:45Sim, senhor
25:45Está vendo como eu faço tudo
25:49O que a senhora me pede?
25:52Já sei que andou amofinando a Isaura
25:54Com propostas imorais
25:55Chega de ciúme, Malvina
25:57Até a Isaura agora
25:58Não se contentou com a Rosa?
26:00Tinha que ir também amolar a Isaura?
26:01Como é que vós me se acredita na palavra de uma escrava e não acredita na minha?
26:05Se não confia em mim
26:07Volte para a casa do seu pai
26:08Com licença
26:10Senhor Martinho
26:13Dias
26:15Que bom que o senhor chegou
26:17O senhor conhece bem a escrava rosa, não conhece?
26:21Conheço
26:21Já a vi por aqui mais de uma vez
26:24É uma morena muito bonita
26:26Ela é uma peça excelente
26:28Tenho certeza que o senhor vai gostar muito
26:30Isaura vai com o senhor Francisco buscar a escrava rosa
26:33Com licença
26:34Com licença
26:35Rosa
26:41Agora você vai conhecer o seu novo senhor
26:44Mas não se meta besta com o capitão
26:47Porque ele não respeita nem a própria mãe
26:50Ele deve ser um cão igual o senhor
26:52Mas tinha que ser
26:55Tinha que ser você
26:57Para me levar para o meu novo dono, não é mesmo?
26:59Eu não tenho culpa, rosa
27:00Foi o senhor Leôncio que me mandou vir
27:03Vida miserável
27:06Não blasfeme
27:07Tenha coragem
27:09Já perdi as esperanças
27:12Quem é que vai me socorrer?
27:14Rosa, reze
27:15Reze para o nosso senhor
27:18Eu prefiro morrer
27:21Do que ser a escrava daquele capitão do mato
27:24Vamos
27:26Não, não, não
27:27Vamos, vamos
27:28Eu prefiro
27:54Então, Sr. Martinho, não é uma ótima peça?
28:05Bonita.
28:07Muito bonita.
28:09Abre a boca.
28:13Com os dentes.
28:16É, Sr. Leôncio.
28:18Acho que podemos fechar o negócio.
28:20E dou dois contos de reais.
28:22Eu quero três.
28:23Não vende eu não, Sr. Leôncio, por favor.
28:26Gostei da Cafuza.
28:27Eu não sou Cafuza? Eu não sou Cafuza, não está vendo?
28:30Eu sofri de branco.
28:32E o meu pai é o Coronel Sebastião.
28:33Calle a boca, Rosa.
28:35Eu vou lhe quebrar os dentes, eu mesma.
28:37Não, minha Malvina, com todo respeito.
28:41Mas se ela vai ser minha, eu a quero inteira.
28:44Vai me servir muito bem na minha alcova.
28:49Pelo amor de Deus.
28:51Me manda embora.
28:53Eu juro pelo que é mais sagrado.
28:58Eu faço tudinho que a senha quiser.
29:00Nunca mais eu chamo o Coronel de pai.
29:03Pelo amor de Deus, não me manda embora.
29:06Não me manda embora mais o Capitão do Mato.
29:08Olha, eu estou te pedindo.
29:10Oh, meu Deus.
29:13Oh, meu Deus.
29:14Me manda uma ajuda.
29:16Me manda um socorro, meu Deus.
29:18Me ajuda.
29:19Bom dia.
29:20Descansa.
29:22Pai, é o Coronel.
29:23Bons dias.
29:26Malvina.
29:27Bom dia.
29:28Como vai, meu genro?
29:31Só viemos fazer uma visitinha.
29:36Meu compadre, como está?
29:37Meu pai está de cama.
29:39Pai.
29:39Minha filha.
29:45Tenho os olhos vermelhos.
29:46O que foi?
29:47Andou chorando?
29:47Depois eu lhe conto.
29:49E vós me seis, Aura.
29:51Tem passado bem?
29:51Sim, senhor.
29:53Eu estou bem.
29:55Eu vou passar um café bem fresquinho.
29:57Com licença.
30:01Como vai, Capitão?
30:03Rindo, senhor Coronel.
30:05Eu vim comprar essa escrava.
30:09Por isso ela está assim.
30:11Me salva, senhor Coronel.
30:13Eu não quero mais essa escrava, meu pai.
30:15Quero a Rosa longe da minha casa.
30:17Ela é mentirosa, não é de confiança.
30:20Isso insinua para meu marido.
30:21Pai, ela foi açoitada.
30:28Fez por merecer.
30:30Fica me intrigando com a minha esposa.
30:32Eu não quero mais essa atrevida na minha casa.
30:35Está bem.
30:37Meu genro, eu quero comprar a Rosa.
30:39Não!
30:40Isso, papai.
30:41Compre a Rosa.
30:42É, compre logo os três.
30:43A Rosa, o João e a Joaquina.
30:44O preço dos três escravos será abatido da dívida que vós me setem comigo.
30:50Pai, deixe que o Leôncio venda a Rosa para o senhor Martinho.
30:54Respeite a vontade de seu pai.
30:56O senhor capitão, o senhor me desculpe.
31:04O senhor é que me desculpe, senhor Coronel.
31:07Mas o caso é que a venda já estava quase acertada.
31:10Quase.
31:11Quase.
31:12Eu lhe pedi três contos e o senhor só quer me pagar dois.
31:14Mas eu lhe pago três contos pela Rosa e dois pelo casal de escravos velhos.
31:18Cinco contos a menos na dívida que o senhor tem comigo.
31:23Quanto ao senhor, senhor capitão.
31:24Passe minha fazenda que eu lhe darei um troco como compensação pela sua viagem perdida.
31:29Sim, senhor.
31:31Com licença.
31:32Eu vou levar o senhor Martinho até a porteira.
31:47Deus abençoe o senhor.
31:50Ele dá muita luz e alegria, viu?
31:55Obrigado.
31:56Agora me espere na cozinha.
31:58Sim, senhor.
31:59Cabelo branco é saudade da mocidade perdida.
32:16Às vezes não é da idade, são os desgostos da vida.
32:20Gostou?
32:23Nossa!
32:24Mas por que essa felicidade toda?
32:27Uai, meu pai.
32:29Coronel Sebastião.
32:31Me defendeu eu, Isaura.
32:33Ele mandou o capitão do mato embora e deixou-se a mavina com cara de vitasma.
32:37Eu estou com uma felicidade.
32:39Rosa!
32:40Isso significa que o coronel já tem algum afeto por voz em si.
32:43Claro.
32:44Ele me tem como fia, Isaura.
32:46Isaura, você acha assim que ele vai me fazer virar senhazinha igual em A Gertrudes fez com você?
32:51Ah, quem sabe?
32:53Você deve estar se ruindo de inveja, né, Isaura?
32:57Caso que eu sou filha de um homem rico, um coronel e você é filha de um simples feitor.
33:02Ei, mas voz em si não toma jeito, hein, Rosa?
33:06Mas nem com essa felicidade toda é capaz de me tratar como amiga?
33:10Eu não sou sua amiga.
33:13Eu só não sou amiga de voz em si.
33:15Porque voz em si não deseja.
33:17Ai, Rosa, eu nunca me esqueço que nós éramos companheiras de brincadeira quando a gente era criança.
33:24Hum, eu brincava com você, mas eu tinha uma raiva que você vivia toda linda, sentada no colo da senhazinha e eu uma escorraçada na senzala.
33:37E eu, que sempre fui melhor que você, porque eu sou filha de um coronel, de homem muito rico.
33:48O senhor me humilhou na frente daquela escrava ordinária.
33:51Tenho o direito de comprar a escrava que eu quiser.
33:53Parece que minha irmã não tem mais sentimento em entregar a Rosa nas mãos daquele ogro.
33:58Nem parece a minha mana, sempre doce e gentil.
34:01Malvina está um feixe de nervos. Deve ser a doença do meu pai.
34:06O senhor sabe muito bem por que eu estou nervosa.
34:09Me preocupo com a doença do meu sogro, sim.
34:11Mas a minha infelicidade é toda por sua conta, meu marido.
34:14Finalmente acordou.
34:15Eu não preciso das suas ironias, meu cunhado.
34:19Já não era sem tempo, Malvina.
34:21Chega dessa prosa, Helena e Henrique.
34:23Quero saber por que vós me ser, Malvina, mandou a Rosa para o tronco.
34:30Porque ela estava se insinuando para o meu marido na cozinha.
34:33É verdade, mas eu estava resistindo.
34:35Eu vi muito bem como é que resisti outro dia lá no celeiro com a Rosa.
34:38Chega de intrigas, Henrique.
34:40Isso vós me ser não me contou, Henrique.
34:42Eu não queria magoá-la, Malvina.
34:43Henrique está irritado comigo porque não aprovo o assédio dele à Isaura.
34:48E ainda assim, meu pai, o senhor vai guardar e favorecer aquela serpente da Rosa dentro da nossa casa?
34:53Faça-me um favor.
34:55Saia um pouco com os seus irmãos.
34:57Converse com eles.
34:59Eu tenho que ter um particular aqui com o meu gênero.
35:02Vamos, Malvina.
35:03Nós também precisamos conversar.
35:05Tem muito que a minha irmã ainda precisa saber.
35:07Está certo, meu pai.
35:12Vamos para o quarto.
35:14Eu só lhe peço uma coisa.
35:15Que insista com o meu marido para que ele venda Isaura o mais rápido possível.
35:20Ou vamos ter mais problemas.
35:21Mas que ideia, Estapafúrdia?
35:40Destruir o cafezal com pragas?
35:44Mamãe, as lagartas, mariposas e carunchos também precisam se alimentar.
35:49Por algum motivo, Deus fez com que elas existissem.
35:54E também me deu essa sede de vingança.
35:57Bom, agora que você conseguiu botar as pragas no cafezal do Leôncio,
36:01eu espero que você se dê por satisfeita.
36:04Ah, eu ainda tenho esperança de fazermos aquela viagem à Europa.
36:08Ainda não.
36:09As pragas vão se espalhar por lá.
36:11Mas isso não basta.
36:12Ai, ai, ai, ai, ai.
36:14Ainda temos mais loucuras.
36:16O próximo passo, minha mãe, vai ser queimar todo o carregamento das sacas de café.
36:23Não, Tomásia!
36:25Sim, minha mãe.
36:26Eu vou acabar com a colheita desse ano.
36:28E no ano que vem, o cafezal não vai nem florir.
36:31Ai, minha irmã.
36:39Antes que continuasse na minha ignorância.
36:41Eu tenho sofrido tanto.
36:43Ontem, quando eu entrei na cozinha, eu peguei a Rosa e o Leôncio.
36:46Eles estavam num passo de se beijarem.
36:49Ele me disse que era um cisco no olho dele que ela soprava.
36:52Ela me disse que tirava uma mancha do seu paletó.
36:56Cisco, mancha, sei bem.
36:58Não, e pior não foi isso, Helena.
36:59Quando eu me interroguei a Rosa pra ser safar, ela me disse que o Leôncio gostava da Isaura.
37:04E por isso, mandou a Rosa pro tronco.
37:06Mas o que mais eu podia fazer, Henrique?
37:08Traiu-me, desacatou-me e ainda jogou veneno sobre a Isaura.
37:10Isso é verdade, Malvina.
37:12Eu vi quando o Leôncio estava importunando a Isaura no salão.
37:17Depois ele veio com indiretas pra mim.
37:20Dizendo que queria uma amizade íntima comigo.
37:24O quê?
37:25Por que nunca me contou, Helena?
37:29Não queria estragar sua felicidade, minha irmã.
37:33Essa maior interessada aqui sou eu.
37:38Tinha que ser a última a saber de tudo, Henrique.
37:45A culpa disso tudo é do seu filho, Henrique.
37:49Desde que colocou na cabeça essa ideia de casar com Isaura,
37:52a minha vida virou um inferno.
37:55Depois me intriga com Malvina e agora com o senhor também.
37:58O meu filho não é homem de intrigas.
38:01Mas ele exagera os fatos.
38:04E a minha filha caçula, Helena, também exagera os fatos quando diz que o senhor a importunou,
38:10que desejava ter com ela uma amizade íntima.
38:14O senhor não pode acreditar nisso.
38:16Imagina, coronel, por quem me toma?
38:19Helena está enciumada porque perdeu a companhia da irmã.
38:22Não quero ver Malvina infeliz.
38:25E a cada dia que passa, ela me parece mais triste.
38:29Malvina está com saudades do pai e dos irmãos.
38:33Depois, a morte da minha querida mãe.
38:37Que Deus a tenha, coronel.
38:39E agora a doença do meu pai.
38:40É natural que Malvina esteja assim.
38:43Mas o injustiçado aqui sou eu.
38:45Senhor Leôncio, não esqueci a emboscada que o senhor preparou ao Conde de Campos.
38:51Só pedi ao doutor Paulo que mentisse ao juiz para evitar que minha filha sofresse a humilhação de ter o marido na cadeia.
38:58Eu acho lamentável o fato do Conde de Campos, mas não é como falam.
39:04Eu não coloquei um capataz para atirar nele.
39:09O senhor está tendo uma segunda oportunidade, meu genro.
39:12Espero que saiba aproveitá-la para redimir-se.
39:16Como demonstração, quero que venda Isaura ao pai dela, ao senhor Miguel.
39:21Isso nunca! Jamais!
39:24Isaura é escrava do meu pai.
39:26Ele está doente, precisa dela, cabeceira.
39:28Eu não quero desculpas, eu quero a alforria.
39:31Não!
39:33O senhor me dá licença, mas eu vou cuidar da praga na lavoura.
39:36Se eu perder essa safra, eu não vou ter como lhe pagar a dívida.
39:39Os 35 contos.
39:42Ele pode ficar com a Rosa e com aqueles escravos velhos, mas a Isaura não.
39:47Eu não venho do coronel!
39:49Com licença.
39:58Vida de negro é difícil, é difícil como o quê?
40:13Vida de negro é difícil, é difícil como o quê?
40:17Eu quero morrer de noite, na tocaia me matar.
40:22Eu quero morrer de açoite, se tu negra me deixar.
40:26Vida de negro é difícil, é difícil como o quê?
40:31Vida de negro é difícil, é difícil como o quê?
40:35Vida de negro é difícil, é difícil como o quê?
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