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  • há 11 minutos
Hélio Giovani, de 86 anos, entrou na TV Itacolomi antes da inauguração, em 1955. Foi contrarregra, fotógrafo e, por fim, cinegrafista de estúdio e de gravações externas.

Como parte do especial "TV Itacolomi: 70 anos", o Estado de Minas apresenta depoimentos de ex-funcionários da primeira emissora de Minas Gerais que permanece na memória de muitos mineiros que, entre 1950 e 1980, puderam acompanhar uma programação de excelência na dramaturgia, no esporte, no jornalismo e no entretenimento.

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Transcrição
00:00Estamos aqui com Andy e Giovanni. Quantos anos?
00:1786 e meio, que eu fiz em março. 86.
00:2186 e meio? Tá bem pra caramba, inclusive.
00:23Tá.
00:24Acabei de ver se tá funcionando bem.
00:25Tá bom.
00:25Você entrou na Itacolomi logo antes da inauguração?
00:30Um mês e meio, por aí.
00:34Aí eu ficava lá dentro ajudando em todo tipo de serviço.
00:39Ajudava a montar a redação, os jornalistas do estado de Minas que iam trabalhar.
00:47Mas até a inauguração.
00:49Depois da inauguração, que tinha o departamento cinematográfico,
00:55e fotográfico, me levaram pra lá.
01:00Se quer aprender, vamos, vamos.
01:03Vai aprender.
01:04Tá bom.
01:05Aí me deram a câmera Leica 3M, que era um maravilhoso.
01:13Negócio assim de 500 anos na frente das roleiflex, dessas câmeras da época.
01:21Aí eu levava pra casa e ficava fotografando folha de taioba, com pingo d'água, olhando a luz, com a melhor luz e tal.
01:31Enfim, fui desenvolvendo e tal.
01:33Depois eu falei, peraí, vou montar uma produtora de comerciais pra televisão.
01:40Aí eu saí da televisão, mas já tava na alterosa.
01:44Ela nasce de Chateaubriand, já tinha mudado pra cá.
01:46Então você ficou bastante tempo na Itacolomi.
01:48É, eu fiquei 15 anos, mais ou menos.
01:53É, foi um pouco antes da televisão virar a Cores, que foi lá pro Palácio do Rádio.
01:58É, inclusive o primeiro comercial a Cores, que foi pro Rádio na Itacolomi,
02:04foi a produção nossa, de Guanabara, Inglesa Levy.
02:09O drama era revelar o filme.
02:11Mas o seu trabalho era como, exatamente?
02:15Porque, hoje em dia, as produtoras de comerciais, elas entregam os comerciais prontos.
02:20A TV só exibe.
02:21Naquela época, vocês também trabalhavam na produção dos comerciais dos parceiros?
02:25Não, não.
02:26Concorrente, né?
02:26Eu dizia assim, concorrente.
02:28Porque começou a pipocar, todo mundo virar produtor de comerciais pra televisão.
02:36Eu mineiro, né?
02:37Fiquei na minha.
02:38Falei, vamos lá, vamos ver o que vai acontecer e tal.
02:40E fui desenvolvendo.
02:44Tinha um cara que afinava piano.
02:48E ele falou, vou fazer uma mesa pra você fazer movimento com as letreiras e tal.
02:52Porque tudo você tinha que criar na hora.
02:55Não tinha essa tecnologia hoje, né?
02:59Que faz tudo.
03:02Por exemplo, antigamente você fazia jogametragem.
03:06Pô, parafernada de equipamento, tamanho de câmera, peso.
03:10Gente pra cá.
03:11Pô, aí você pega isso aqui, o celular.
03:15Faz miséria na edição.
03:18Leva pra ilha de edição.
03:20Que tem equipamentos que sustentam a edição de cores e efeitos 3D e tal.
03:28Aí, enfim.
03:30Aí, depende da...
03:32Aí, eu passei a acompanhar.
03:34Tudo que eu fazia, eu ia pra Malviola.
03:38Dirigir a edição.
03:39Era 29 segundos.
03:42Se mandava pra Globo, 30 segundos, a Globo devolvia.
03:47Hoje, você vê o comercial de 4, 5 minutos na televisão.
03:49E eu assisto televisão com o controle na mão.
03:54Mudo.
03:55Tiro o ódio, tomar café, volto.
03:58Comercial, comercial.
04:00Tudo bem.
04:01Nesse começo da Itacolomia, você, então, o pessoal te deu uma câmera, você foi aprender
04:07a fotografar.
04:08É, depois a câmera de filmar.
04:11Então, mas nessa época, você fotografava pra depois revelar e exibir como slide, né?
04:16É.
04:16As artes vinha prontinho, o pessoal da agência que criava os anúncios.
04:21Slide 1, 2, 3, 4, 5, vamos dizer.
04:24Seis slides, cada um vai ficar 5 segundos no ar.
04:28Então, são seis slides ao máximo que você vai mostrar, vender.
04:33Depois veio o comercial ao vivo.
04:35As garotas propagando.
04:37Pois é, eu queria perguntar justamente sobre essa fase do comercial ao vivo.
04:42Como que era assim?
04:43Porque hoje em dia isso não existe.
04:44Hoje em dia, a empresa que tá fazendo comercial, ela quer tanto controle de luz, disso, daquilo.
04:48Ah, claro.
04:49Tinha gravação, então tinha que ser tudo na barra.
04:51É, só que o tipo de iluminação era ruim.
04:55Não existia essa filtragem de luz, botar a luz macia.
05:00Até hoje, você vê novelas, que é um excesso de luz aqui.
05:05Tradicional luz ali pra dar brilho no cabelo.
05:09Estoura a imagem toda.
05:11Não precisa disso, né?
05:13E na ilha de edição também, você tem esse recurso de mexer na imagem, criar coisas incríveis.
05:24Tem que ter um bom operador.
05:28Você fala, eu quero isso.
05:30Aí ele normalmente viaja pra dar voz.
05:34Fala, não, peraí, vamos fazer assim, assim.
05:36E aí vai.
05:37As propagandas ao vivo, como que elas eram?
05:41Tinha um estúdio normal, igual estúdio de televisão, que a gente filmava tudo lá.
05:49Se fosse externa, por exemplo, na loja, vão rodar na loja, na Inglês Alevi, na Vida.
06:00Na Guanabara, na Pepsi e tal.
06:03A gente rodava lá, inclusive, facilitava demais a produção, né?
06:07Mas aí foi, até hoje, é isso.
06:13Hoje tem empresas que têm todos os tipos de situações filmadas que eu sei comprar.
06:25Fala, eu preciso de um avião passando perto da Torre Eiffel, explodindo.
06:31Fala, tá, eu explodir aqui na ilha.
06:35Tá aqui o avião, o senador, se precisa.
06:40Pra ele estar, inclusive, a crescer custos pro anunciante, né?
06:46Então aí a gente começava praticamente do zero, mas aqui dentro tava tudo.
06:54Por exemplo, pegava uma flor, ela abrindo.
06:58Como é que faz isso?
06:59Aí a gente tinha que descobrir que ninguém ensinava.
07:04Tinha uma câmera, paiago Alex,
07:08que lançava um motorzinho, que se acoplava,
07:13de minuto em minuto ela disparava um frame.
07:17Então, você fazia uma luz fixa,
07:20num botão de rosa, por exemplo,
07:23enquadrava e deixava.
07:25Segundo, de minuto em minuto ela disparava.
07:28Quando fez ele, somou 24 frames por segundo.
07:35O vídeo são 30.
07:38Então, ele dava aquele movimento, as macias.
07:40Bicho, como é que você fez?
07:41Eu falei, mas fizemos isso.
07:42E aí, assim, deu o resultado.
07:44Tá aí, pô.
07:45E aí foi desenvolver e tal.
07:47Teve uma pessoa que eu conversei, se eu não me engano, foi o Jackson, Jackson Neves.
07:53E ele falou no seguinte, que a Itacolomi foi uma grande escola pra ele.
07:57Ah, sem dúvida.
07:58Foi pra todo mundo que nos envolveu.
08:00Isso aqui ele falou, foi uma grande escola sem professor.
08:03Porque no final tava todo mundo aprendendo ao mesmo tempo,
08:05porque ninguém sabia como fazer televisão.
08:07Sim, se quer ver, por exemplo, tinha uma cena lá, na Itacolomi,
08:13que o cara falou assim, olha, você tem que alugar um jumento no Parque Municipal
08:21e trazer aqui no estúdio.
08:24Que os atores, Lázaro Araújo, Edson José,
08:28e Nilda de Almeida, Nossa Senhora,
08:32com a criança que tinha que filmar ao vivo.
08:37Aí nós...
08:38Eu e um...
08:41Trabalhava na Esté.
08:44Ele falou, vamos lá, vamos lá, vamos alugar a mula do cara.
08:48Carvalho tem que ir lá.
08:49Tudo bem.
08:50Aí chegou na calharca.
08:52Nós entramos pelo porão.
08:54Conseguimos botar o jumento dentro do elevador.
08:58Ele levou para o 24º andar.
09:01Jumento Castinho.
09:02Falava lá.
09:04Aí estava, atenção, vou comprar tudo, tudo bem, tudo bem, tudo bem, tudo bem.
09:08Dentro do estúdio, ao vivo e a cores.
09:13Jumento.
09:15Empacou.
09:18Falei, pronto.
09:18E a gente lá no estúdio, assim.
09:22Enfim, o...
09:24Nossa Senhora, eu...
09:28Porque ele disse, puxa essa...
09:30Jumento, para se sair escoados, para...
09:33Os lados eu pego na rédea do jumento e...
09:37O jumento dá um...
09:42Uma bela...
09:44Uma bela cagada, homem.
09:50A natureza chamou.
09:54Pior que...
09:55O cara...
09:57Não lembra o câmera.
09:59O Clóvis Pratos estava lá.
10:01Eu não sei se ele tentou acompanhar, que nesse caso você não pode acompanhar.
10:07Você tem que deixar ele entrar e sair do quadro.
10:11Porque você vai...
10:13Ele faz qualquer coisa e você perdeu a cena.
10:16Então, você tem que segurar ali e deixar sair de quadro.
10:19Ah, faltou cena.
10:20Então, vamos mudar de ângulo.
10:21Vamos fazer o contraplano.
10:22E aí vai, né?
10:23Mas, para botar esse jumento no elevador...
10:30É que foi a farra, pô.
10:32Que um segurava a pata dianteira, o outro na traseira.
10:36Puxa o rodo aí de roupa esse bicho aí no jumento.
10:40Dentro do elevador.
10:42A gente subia em cima do elevador, levando madeira para construir os cenários.
10:49As tapadeiras e tudo.
10:50Porque não cabia no elevador.
10:54Cinco metros.
10:55Aí a gente subia em cima do elevador, no meio dos cabos.
10:58Pode ir.
10:59Aí, uuuh, até o Gésio IV.
11:01Gésio III.
11:03Descarregaram o Gésio IV.
11:05Entra aqui no elevador.
11:06Eu falei, não, pode descer.
11:07É, a gente ficava velho e brincando.
11:09Mas é uma escola que desenvolveu, assim, muita coisa boa.
11:16Por exemplo, o pai do Toninho Cereza.
11:19Cereza estava começando no Atlético.
11:22Ele e o pai dele, Bolão, e a mulher dele, a mãe de Cereza, tinham um programa de circo
11:30Bombril, ao vivo.
11:32Aí levava o Cereza dentro de um balaio, dormindo.
11:39Cereza já tinha uns sete, oito anos de idade.
11:44E era noite, né, o programa.
11:46Aí botava o balaio lá.
11:48Toda hora a gente tinha que ir lá, olhar se o Cerezinho estava quieto lá e tal.
11:52Mas tinha coisas assim de...
11:56Nós pegamos uma andorinha no andar de cima, no trigésimo primeiro, que o resto para cima do vigésimo quinto.
12:04Caixa d'água, caixa de máquinas, etc.
12:06E pegamos um passarinho e soltamos dentro do estúdio.
12:14E o passarinho...
12:16Sei lá, não lembro que passarinho que era, não.
12:19Mas o pessoal da técnica ficava pé da vida.
12:23E soltava um passarinho...
12:26Falei...
12:28Quem?
12:29Ninguém.
12:30Já apareceu.
12:30Mas ia te perguntar, você começou, então, meio que um fastudo, ainda bem novo, na inauguração.
12:38Sim.
12:39Depois foi um fotógrafo.
12:40É.
12:41E aí, de fotógrafo, você foi para...
12:43Para a cinegrafia.
12:45Cinegrafia?
12:46É.
12:47E era cinegrafia de estúdio ou era de externo?
12:49Não, externo.
12:50Aí tinha um jornalista, na época, na Cidade de Minas, que fazia bico na economia também.
12:57Então, eu falei, ah, vamos na...
12:59Enfim, essas coberturas que existem até hoje.
13:02Mas era um negócio mais elaborado, sabe?
13:06A não ser...
13:07Você está na Praça 7, desce no disco voador, você está com a câmera.
13:11Só que a câmera é a corda.
13:14Aí você tem que dar a corda na câmera e disparar.
13:16Ela funciona 30 segundos e acaba a corda.
13:19Aí você...
13:19É, tá, tá.
13:20Era assim.
13:22Bota no ar, enfim, está no ar e deixa rolar.
13:25Depois se leva para a mesa de edição e corta.
13:28Não.
13:28Tinha que...
13:29Por exemplo, na assinatura do contrato, a sessão do terreno para a Fiat, a construção da Fiat,
13:39se não me engano, era governo Bias Fortes, eu acho.
13:47E para filmar, a gente não tinha ideia de abertura de diafragma.
13:51Aí tinha um aparelhinho que era medidor de luz, fotômetro.
13:58Então, por exemplo, essa é a luz que vai usar?
14:00É.
14:00Então o cara media aqui e aqui e tal, tal.
14:03Eu cheguei essa luz para lá um pouco, tal.
14:05Equilibrar a imagem e tal.
14:08E era uma corrente que eu pus aqui com o fotômetro.
14:13Então eu chegava perto do artista, medindo a luz.
14:18Tava diafragma a 6,6.
14:21Aí ia lá e tal.
14:22Só que quando eu cheguei perto do Bias Fortes, ele estava sentado.
14:26Eu fiz assim.
14:28Ele vôpia no fotômetro.
14:30E tinha a corrente aqui.
14:31Eu vôpia em cima dele.
14:32Eu falei, povo de Minas.
14:35Falei, peraí, governador, peraí.
14:36Aqui eu estou medindo a luz, peraí.
14:40Não era o microfone.
14:41É.
14:42Tinha que ter...
14:43Ah, o microfone era a girafa, né?
14:45Aham.
14:46Você esticava e botava lá.
14:47Ele andava.
14:48Tudo bem.
14:49Até aí tudo bem.
14:50Só que...
14:51Coitado.
14:53Mas aí acontecia coisa assim.
14:56Mas para ir para a rua, ia ter quantas pessoas?
15:00Eu e o motorista.
15:01Um cinegrafista e um motorista.
15:06Por exemplo, o microfone era a girafa.
15:07Quem que...
15:08Tinha um operador da girafa?
15:11Não.
15:12Só cenas internas.
15:15Produzidas para aquilo.
15:16Por exemplo, na Revolução de 64,
15:20aquela secretaria que tem perto do mercado ali,
15:23DCE, não sei o que e tal.
15:26O cara, alguém da ID4,
15:30ligou para a televisão falando
15:32que eles iam botar os estudantes para correr.
15:37Só que os estudantes
15:38encheram não sei quantos sacos
15:41de rolha de garrafa.
15:44E veio a cavalaria lá do Prado.
15:47Pra já.
15:48Mas não ficou um cavalo em pé.
15:50Caia tudo.
15:53E eu estou lá.
15:54Corda na cama.
15:59Então, no começo da década de 60,
16:01você era cinegrafista, então?
16:03É.
16:04Aí eu trabalhei de freelancer como fotógrafo.
16:07Porque eu ia cobrir cinema.
16:10E andava com a rola e flex também.
16:13Pra última hora.
16:14Manchete, o Cruzeiro.
16:17Essas revistas do Rio também.
16:18Última hora, jornal Última Hora e tal.
16:21E aí, era a câmera de cinema que vocês usavam, não era?
16:24É, a câmera de cinema.
16:25Que gerava rolinho 16 milímetros.
16:2716 milímetros, tal.
16:29O que tinha gravado era isso.
16:30Porque como não tinham gravar programa,
16:32a única coisa que era gravada na TV
16:33era essas externas.
16:34É, as externas.
16:36Agora, por exemplo, em 64, na Revolução,
16:40eu estava em Brasília, filmando.
16:43O céu coalhado de aeronaves, paraquedista,
16:48embaixo no centro nervoso ali de Brasília.
16:57Tanques de guerra e tudo e tal.
16:58Por exemplo.
17:00Aí, eu sei que o Adel Kiziner,
17:03eu era um jornalista,
17:06e ela foi até da diretoria do Atlético também.
17:10Enfim, ele falou assim,
17:10olha, aquele cara de terno ali,
17:12onde você vai, ele está te acompanhando.
17:14Eu estou filmando, eu não vou.
17:16Multidão, aquele clima e tal.
17:19Eu falei, olha, tudo bem, deixei ele olhar.
17:20E eu, pá, pá, pá, pá, pá e tal.
17:23Aí, eu falei, agora vamos embora para o aeroporto.
17:26Porque a gente vai dar um jeito de embarcar
17:29esse filme para a televisão,
17:31para dar um furo, né?
17:34Furo jornalista e tal.
17:36Aí, o Adel Kiziner acelerava,
17:38bicho, cem, cento e vinte.
17:39Eu falei, os caras estão aqui atrás,
17:41aqui atrás.
17:42Chegou ou não, o aeroporto.
17:43Aliás, dentro do carro,
17:45eu tirei o paletó,
17:47cobri a câmera,
17:48tirei o filme operado,
17:50o semi,
17:52botei no bolso de dentro do paletó,
17:54e peguei um outro rolo de filme virgem,
17:57e coloquei,
17:58que é o...
18:00dentro da câmera.
18:01O rolo virgem está aqui,
18:03ele registra a imagem e vai enrolando no rolo de baixo.
18:08Aí, eu desci do carro.
18:10Eu assisti o filme de cantar pneu no aeroporto,
18:13e entrei correndo no banheiro.
18:16Corri para o banheiro.
18:17Aí, veio o cara da...
18:18da ID4, lá.
18:23Enfim.
18:24Ele falou assim,
18:25me dá o material que você filmou.
18:26Eu falei, não, pelo amor de Deus,
18:27eu trabalho,
18:28isso é um trabalho,
18:29você vai passar em Belo Horizonte,
18:30ninguém vai ver isso.
18:32Me dá isso aqui, não sei o que e tal.
18:34Aí, peguei,
18:35abri a câmera.
18:37É esse aqui, eu falei,
18:38é esse aqui,
18:39enrola ali quando a gente filme.
18:41Pegou, fez assim.
18:41E eu e o cara dentro do banheiro lá,
18:48jogou tudo no chão,
18:49pegou o cartel vazio.
18:50Então, boa viagem.
18:52Eu falei, muito obrigado.
18:54Entramos no avião,
18:57revelei, eu revelei o filme.
18:59Eu falei,
19:00olha, não tem jeito de passar dados,
19:02fazer texto, não.
19:04Aí, afinal,
19:05então você vai narrar
19:07ao lado do apresentador,
19:09do Repórter S,
19:11era a Repórter S.
19:13Aí eu falei,
19:13ah, próximo dos três poderes,
19:15aí,
19:15aí,
19:17serviço de alto-falante.
19:19É, Giovanni,
19:20compareça a portaria.
19:22Dois caras,
19:24da ID4,
19:25quarta divisão,
19:26não sei de a quarta ali.
19:28Falei,
19:28cadê o material?
19:29Eu falei,
19:29tá no andar de baixo,
19:31no Telecine,
19:32eu sou Oswaldo.
19:34Ele falou,
19:34vai lá buscar.
19:34Eu falei,
19:34não, não vou não.
19:37Aí,
19:37então vai lá com a gente.
19:39tava aí,
19:39ó,
19:40mas os Oswaldo,
19:41o pessoal da polícia,
19:42que é o filme da...
19:44Ele já exibiu,
19:45mas...
19:46Os caras,
19:47pô,
19:47você tem umas ideias?
19:48Não,
19:49eu tenho direito de...
19:52Não tô falando fulano,
19:53ciclano,
19:53não tô entregando ninguém,
19:55eu tô mostrando jornalisticamente
19:57o que aconteceu,
19:58pô.
19:59Mas,
20:00agora,
20:01produção,
20:03de...
20:04tinha um ator lá e...
20:07tinha a garrafa do diabo,
20:09era a novela que tinha lá.
20:11O Clóvis sabe disso.
20:13O Clóvis comentou que essa garrafa do diabo
20:16foi um fenômeno.
20:17É.
20:18Só que o...
20:19o Baldino Guimarães
20:21fazia um papel importante.
20:22e nós...
20:23Tinha que filmar em...
20:26Ah,
20:28não sei,
20:28indo pra Ouro Preto ali,
20:30ficava num lago,
20:31vamos lá fazer.
20:33Uma cena dele entrando dentro da água.
20:37Aí eu fiquei com água até na coxa e tal,
20:41no tripé.
20:42Falei,
20:42pode vir.
20:43Aí ele vem andando pela praia,
20:45câmera fixa.
20:46Ele vem andando pela praia,
20:47entra e tal,
20:48e sumiu.
20:49Aí eu parei de filmar,
20:53para esperar.
20:55Aí borbolha,
20:56eu fui lá e tal.
20:57Ele caiu no buraco,
20:58e afundou.
21:01Eu não sei.
21:03Aí eu puxei ele,
21:04o pessoal que estava lá no...
21:07fora do enquadramento,
21:09ele bebeu água pra cá assim.
21:12Falei assim,
21:13não vai por aqui,
21:14nós vamos repetir.
21:15Manda pra lá.
21:16Mas acontecia coisa assim,
21:18imprevisível,
21:19que levava tudo.
21:21E funcionava, bicho.
21:22Os caras...
21:25Tinha muito telefonema na...
21:27Tinha um jornal,
21:29tipo,
21:30uma hora da tarde,
21:31aí.
21:32E tinha um redator,
21:33que era do Estado de Minas,
21:34e era o redator chefe da televisão.
21:37DT na TV,
21:38Diário da Tarde na TV.
21:41Aí é onde tem,
21:42ó,
21:42aquele abrigo de Boa de Santa Tereza,
21:44ali na Fosso Pena com Bahia.
21:46Bahia.
21:48Carro passou em cima da cabeça do cara lá.
21:51Matou o cara,
21:52um acidente.
21:54Aí eu falei com o meu assistente,
21:56que era o motorista,
21:57ele falou,
21:58bicho,
21:58compra um.
21:59Diário da Tarde ali pra mim.
22:01Aí eu,
22:02a ideia.
22:04No meio fio,
22:05sangue passado.
22:06Fui,
22:07fui,
22:08fui,
22:08fui.
22:08Na hora que eu vou chegando na cara,
22:11coco estourado,
22:13fiz assim pra...
22:14O cara joga o jornal,
22:15Diário da Tarde.
22:17Pá!
22:18Falei,
22:18tá,
22:18cortou.
22:20Aí levei,
22:21mostrei,
22:22Afonso Torres,
22:24que era o redator chefe.
22:26Ele,
22:26caca,
22:27caca,
22:27caca.
22:28Vamos botar no ar.
22:30Tá bom isso.
22:32Cara,
22:33o que choveu de telefone,
22:34sádicos,
22:36de tudo que eu tenho nome,
22:38mostrar isso na hora do almoço,
22:40não sei o que e tal.
22:42E a audiência da Itacologia era violenta.
22:44Pois é,
22:45até te perguntar o seguinte,
22:47nessa fase da...
22:51Porque assim,
22:51eu imagino que a edição desse material
22:53era muito complicada,
22:54tinha que cortar a fita,
22:56emendar a fita na outra.
22:59O problema é esse aqui.
23:02Você ia,
23:02filmava,
23:03no meu caso,
23:04né?
23:05Tinha um laboratório,
23:06tudo isso e tal,
23:07mas se eu estivesse fotografando
23:09slide,
23:10que é anunciante,
23:11né?
23:12Televisão tem que faturar,
23:13etc.
23:14Eu já chegava,
23:15ia direto para a Câmara Escura,
23:17revelava o filme,
23:19a gente usava uma lata de filme vazia,
23:23enchia de algodão,
23:24álcool,
23:25e era um...
23:28uma roda de madeira
23:29que a gente rolava o filme,
23:30e ia rodando,
23:33e passando fogo de baixo
23:34para secar o filme,
23:35que ele...
23:36slide está no ar,
23:37cadê o material,
23:38não sei o quê,
23:39e tal.
23:39Peraí.
23:40Aí levava para a mesa de cortes.
23:44Aí era um negócio rápido,
23:45porque tinha a coladeira,
23:47né?
23:47Se puxava aqui a imagem e tal,
23:49tinha um visorzinho assim.
23:51Essa cena estava ruim,
23:52tuf, tuf,
23:53colava,
23:54pá,
23:54tá.
23:54Voltava o filme,
23:56entregava no telecine,
23:57foi a poupa,
23:57tá no ar.
23:58E, como era negativo,
24:00no projetor tinha uma chavinha lá
24:03que virava para positivo.
24:05Mas era um negócio assim,
24:06você fazia tudo,
24:08de tudo.
24:09Você tinha que
24:11pensar assim mil vezes,
24:14mil coisas, né?
24:18Porque tem muito assunto
24:20que fica devagar demais,
24:23que fica cansativo.
24:24tinha sensor na redação,
24:26tinha um controle
24:27daquilo que era publicado,
24:29mas não era
24:29que você estava na rua,
24:30você também tinha que ter
24:31preocupação do que pode filmar,
24:33o que não pode.
24:33Não, não,
24:34era liberado.
24:35Eu tinha que ficar esperto
24:37para o estudante
24:38não tomar a minha câmera,
24:39porque aí a polícia
24:41não vai descer o cacete
24:42no câmera.
24:45Por exemplo,
24:45eu fui entrando lá
24:46nesse dia das ruas,
24:49o cara falou assim,
24:52ele até fazia um bico
24:54na televisão,
24:55ele era do Dorps,
24:56de fazer um bico
24:57na televisão de vez em quando.
24:59Ele falou assim,
25:00molha o seu lenço
25:01e põe no bolso do paletó,
25:03porque nós vamos estourar
25:04a bomba aqui
25:05e vai arder para cacete.
25:07Você mete o lenço
25:08e não abre os olhos,
25:10porque vai arder e tal,
25:12não deu outra.
25:12eu e o Antônio Nascimento,
25:18que era expedicionário,
25:20eu puxava da perna.
25:23Aí ele molhou o lenço dele,
25:26molhou o meu,
25:26me deu,
25:27aí era a brisola
25:29que veio aí,
25:30aí eu com uma maleta
25:32na mão
25:34e sobrando um cano
25:36de uma metralhadora
25:37ficando mais de 20 centímetros
25:39fora da embalagem.
25:42E eu acompanhando aqui,
25:44daí a pouco o palco quebra,
25:46as mulheres com guarda-chuva,
25:49sombrinha,
25:50invadiram o palco
25:51onde estavam as autoridades
25:53e fui um quebra-quebra
25:55lascado e tal.
25:56E aí, como é que não estourou
25:58e tal,
25:58eu rupo,
26:00lenço molhado
26:01e fui assaindo
26:02de fininho,
26:03tal,
26:03tal.
26:05Onde era Guanabara,
26:06tinha um negócio de DCE ali,
26:08Pia do Minas.
26:09Falou,
26:09gente,
26:11vocês estão aqui,
26:12agora mesmo a polícia
26:12chega aqui.
26:14Eu dedurava, né?
26:16Eu falei,
26:16esse povo vai chegar aqui,
26:17o pau vai quebrar.
26:19Aí eu falava assim,
26:21fica esperto com a câmera,
26:23porque alguém pode tentar...
26:25O cara tem que se virar, né?
26:27Para salvar a pele dele.
26:29Pô,
26:30eu estou registrando o acontecimento,
26:32pô,
26:32não tem nada a ver
26:33com essa bagunça
26:34que vocês estão aprontando,
26:35pô.
26:36Mas era legal, pô.
26:39Tínhamos um negócio bom demais.
26:42Você tem alguma lembrança, assim,
26:45de qual foi a cobertura mais marcante,
26:48o evento mais marcante
26:49que você cobriu
26:50enquanto cinegrafista?
26:51Foi um...
26:54Logo depois da inauguração
26:55em Brasília,
26:57em Paracatu,
27:00o ônibus
27:00veio,
27:03entrou na ponte,
27:04a ponte,
27:04o rio levou um pedaço,
27:05o ônibus mergulhou
27:06no rio de madrugada.
27:10Aí eu fui
27:10no carro
27:12do corpo de bombeiro
27:13para lá.
27:13Aí chegamos lá,
27:16nesse rio,
27:17eles estavam tirando
27:18os corpos
27:19de dentro
27:19dos ônibus.
27:22Dois ônibus
27:23e tinham um pendurado.
27:24Então,
27:24registrei,
27:25deu uma gerada,
27:26falei assim,
27:26agora eu vou ajudar
27:27a tirar os corpos.
27:29Eu era meio doido.
27:30E mergulhava,
27:31entrava no ônibus,
27:32assim,
27:33palpando,
27:34achava o corpo,
27:35puxava,
27:36toma uma aqui,
27:38sei o quê.
27:40Para mim,
27:40foi uma grande cobertura,
27:43porque tinha neguinho
27:45agarrado
27:46em cerca
27:46de arame farpado,
27:48morto.
27:50O rio baixou,
27:51aí olhava a cerca,
27:53assim,
27:53tinha esse negócio pesado.
27:55Só que a televisão
27:57não estava nem aí,
27:57botava no ar,
27:58assim,
28:00e ria,
28:01ficava rindo,
28:02se telefonava,
28:04testando,
28:05né,
28:05a imagem
28:09da televisão.
28:11Essa preocupação
28:12com o sensacionalismo
28:13e tudo
28:13foi uma coisa
28:13que surgiu
28:13muito tempo depois.
28:15Na época,
28:15não tinha...
28:16Ah, foi, foi.
28:19O...
28:20Quer ver?
28:23Por exemplo,
28:24aí foi até
28:25a sacanagem
28:26que eu fiz
28:26com o Neném,
28:28que era fotógrafo
28:28do Diário de Minas.
28:31Eu falei,
28:31o bicho,
28:32nós tocou o avião,
28:33aí eu não sei,
28:34não lembro
28:34onde que foi.
28:35O piloto vai embora
28:36agora,
28:38vai chegar na Papulha,
28:39levando material
28:40para dar o furo.
28:42Aí o Neném
28:42me deu
28:43quatro ou cinco
28:44filmes
28:45fotografados,
28:46falou,
28:47manda para mim,
28:47para o Diário de Minas.
28:49Eu não mandei, não.
28:50Falei, não,
28:51vai dar o furo
28:51primeiro,
28:52o Diário de Minas,
28:52dia da tarde.
28:54Aí depois,
28:54eu fui lá,
28:55no Diário de Minas,
28:57era na Praça
28:57de São Paulo Soares.
29:00Falei,
29:00ah,
29:01o Neném
29:01mandou isso aqui
29:02para vocês.
29:03Isso é matéria
29:03lá do acidente.
29:06Aí ele
29:07me xingou
29:08para caramba.
29:10Naquela facorreria
29:11era para dar o furo
29:12antes de todo mundo.
29:12mas nunca
29:14ninguém saiu
29:15assim,
29:16na violência
29:17nem nada.
29:18Falei,
29:18não,
29:18você me sacaneou
29:19demais,
29:20não sei o quê,
29:20papapá,
29:21e ficava por isso mesmo.
29:22Não havia
29:23agressão física.
29:27Aí eu fiquei,
29:27se tiver a goela maior,
29:28engole o outro,
29:29pô.
29:30Então,
29:32teve muita coisa
29:33que...
29:34Tinha um programa
29:35que viu
29:36Carlos Gaspar
29:39de
29:40Esta Sua Vida,
29:42não tinha
29:44esse programa lá.
29:45Tinha no livro
29:46da Itacolome Conta,
29:47que era um programa
29:48que homenageava
29:49professores,
29:50não é?
29:50É,
29:51muitas autoridades.
29:52Inclusive,
29:53por exemplo,
29:54fui servir exército
29:56por livre
29:57e espontânea pressão
29:58no dia,
30:00uma semana antes,
30:01pegou fogo
30:02no 12RI.
30:03Eu fui lá,
30:04fiz a cobertura
30:05para o papai e tal.
30:08Gravamos
30:08uma sonora
30:09lá com o comandante
30:11do 12RI e tal.
30:14Aí eu fui para lá
30:15e o cara...
30:18Ah,
30:19não,
30:19nessa mesa não,
30:20você tem que ir naquela mesa,
30:21mesa 7.
30:22Aí eu fui lá,
30:22o cara...
30:23Ah,
30:23você vai para Agulhas Negra
30:24no Rio de Janeiro.
30:25Eu falei,
30:25pô,
30:26eu moro aqui em Belo Horizonte,
30:28é para o Rio?
30:28Ele falou,
30:29é,
30:29eu estou aqui no seu...
30:31que você é telegrafista.
30:38Eu falei,
30:38não,
30:38eu não sou telegrafista,
30:39eu sou cinegrafista.
30:42Ah,
30:42então é aqui a mesa lá.
30:46Aí eu tive,
30:47tinha que sair do exército,
30:49porque eu não podia
30:49porque eu estava aí.
30:50Arrimo de pai e mãe
30:52e...
30:53estava ruim para mim,
30:55financeiramente.
30:56Aí eu fui lá,
30:58falei com o comandante
30:59da nossa equipe,
31:00nosso pelotão,
31:02uns 10 dias depois.
31:04Falei,
31:04eu quero falar com o comandante,
31:05pô.
31:07Ah,
31:07ah,
31:07ah,
31:07falar com o comandante.
31:09Enfim,
31:09fui,
31:10ele me reconheceu,
31:12porque na época eu filmei ele,
31:13ele apareceu na televisão,
31:15talerê,
31:15aquilo era.
31:17Aí eu saí do exército,
31:19voltei para a televisão,
31:20aí eu já voltei em Chezada.
31:22Chezada assim,
31:23falei,
31:23agora eu vou ganhar dinheiro,
31:25vou trabalhar,
31:26vou fazer comerciais,
31:28e fiz,
31:31rodei com um cara de São Paulo,
31:33dois longas metragens,
31:34equipamento 35,
31:36que é muito pesado,
31:39mas é...
31:42na televisão,
31:44realmente,
31:44foi assim,
31:45uma faculdade
31:46que não acontece mais.
31:48Você comentou
31:50um momento
31:50que teve
31:51teledramaturgia filmada.
31:53Sim.
31:54Teve a garrafa do diabo,
31:55tudo,
31:56e aí você chegou
31:56a trabalhar nisso também,
31:57de filmar novelas.
32:02A gente era,
32:04acho que,
32:06oito cinegrafistas.
32:07eu lembro que eu estava
32:14em Ouro Preto
32:15filmando o julgamento
32:17de Edina
32:18e até o Pônei,
32:20duas damas de lá
32:22que mataram o marido,
32:25alguma coisa lá,
32:26e estava no julgamento.
32:28Aí,
32:29de Ouro Preto,
32:30não sei por quê,
32:32me deu um estalo,
32:33que eu falei assim,
32:34vai estourar
32:34uma confusão
32:35essa que estourou aqui
32:39também,
32:40em 64.
32:41Aí falei com o Gessido,
32:42que era o subchefe
32:43do departamento
32:44de cinema,
32:45e eu era o chefe.
32:47Aí falei,
32:48Gessido,
32:49ninguém
32:49sai hoje,
32:52segura todo mundo
32:53que nós vamos precisar,
32:54que vai estourar
32:55alguma coisa ali.
32:57Mas eu não sei,
32:58não lembro,
32:59por quê,
33:00não tenho ideia.
33:00peguei o carro,
33:03parei de gravar
33:04o depoimento,
33:05peguei o carro,
33:06rural,
33:07tinha uma rural Willis
33:09ou uma caminhonete
33:10internacional,
33:12era o nosso carro
33:12de reportagem.
33:15Aí chega aqui,
33:16bicho,
33:17pau quebrando,
33:18falei,
33:20mas não sei por quê.
33:23Mas teve muita coisa
33:24assim de...
33:25Mas daqui
33:26você foi para Brasília?
33:27Não,
33:27eu fui fazer
33:28a cobertura
33:29do movimento lá,
33:30por exemplo,
33:31caiu um jato
33:32que é de água limpa,
33:34matou o senador
33:36de noite,
33:38o Elio vai lá
33:39e filma.
33:40Onde é que eu vou
33:41ligar a luz?
33:42Aí eu fui de manhã
33:42filmar,
33:43avião estraçalhado,
33:45não sei o quê e tal.
33:47E aí,
33:48esqueci o nome
33:48do dono
33:49da última hora,
33:51pediu para ele
33:51fazer uma foto
33:52para ele publicar.
33:55Enfim,
33:56de noite,
33:58eu fui lá
33:58no...
34:00lá no...
34:02lá no...
34:03Escola de Medicina,
34:04lá onde bota
34:05na gaveta
34:06o corpo,
34:08um aluceno,
34:09florescente,
34:12piscando,
34:13corredor,
34:13um cara aqui,
34:14falei,
34:14ó bicho,
34:15onde é que está
34:15o corpo
34:16do senador e tal?
34:18Eu falei,
34:18está lá no final,
34:19número 87.
34:22Falei,
34:22vão lá comigo?
34:23Eu falei,
34:23eu não,
34:23você é doido.
34:24aí eu fui,
34:26andei,
34:27em 87,
34:28caramba,
34:31cega a cabeça.
34:34Aí eu vim,
34:37eu tinha que revelar
34:38o filme,
34:38levaram a sucursal
34:39da última hora,
34:41a foto,
34:43entreguei,
34:45esqueci o nome
34:46do chefe
34:46que estava ali
34:49na época.
34:50Eu falei,
34:50eu mandei
34:52para o fulano
34:54lá em Ouro Preto,
34:55no Rio,
34:57na última hora,
34:58e ele está
34:58perguntando
34:58pela cabeça.
34:59Eu falei,
34:59ah,
34:59você quer um corpo
35:00com a cabeça?
35:01É,
35:01não,
35:01tudo bem,
35:02eu vou lá.
35:03Eu falei,
35:03a cabeça fica onde?
35:05Está debaixo da maca,
35:06dentro do balde.
35:09Já fodeu tudo mesmo?
35:11Peguei a cabeça
35:12e botei em cima
35:13da barriga
35:13do senador.
35:16Explode.
35:18A gente foi lá,
35:19ampliei a foto,
35:20toma.
35:21Ele mandou para o Rio.
35:24Aí o cara,
35:25esse sádico,
35:26filha da puta,
35:27não sei o quê,
35:28eu não posso publicar isso.
35:29Eu falei,
35:30eu não vou emendar
35:31a cabeça de defunto.
35:34Ele está aí,
35:34isso aqui é a cabeça,
35:35está aqui,
35:35em cima da barriga do cara.
35:38Aí eu ajeitei,
35:40falei,
35:40eu vou fotografar
35:41dali,
35:41vou estar inolento
35:41para mim.
35:44Mas tinha coisa assim.
35:46Deixa eu te perguntar,
35:47você ficou,
35:47até o final do tempo
35:48na Itacolomia,
35:49você ficou como
35:50cinegrafista de reportagem?
35:51É,
35:52o máximo que eu fiz lá,
35:53eu fui chefe,
35:54depois eu saí,
35:58que os comerciais
36:00que eu filmava
36:00eram muito mais em conta.
36:03eu não lembro não,
36:06mas, por exemplo,
36:07essa foto
36:07do ônibus que caiu
36:09no Rio Paracatu,
36:12chegou um telefonema
36:15do Banco de Londres
36:16falando que
36:17a UPI
36:19tinha publicado
36:21minha foto
36:21no mundo inteiro.
36:23Tinha um cachê
36:24para mim.
36:25Falei,
36:25cachê,
36:26que merda é essa,
36:27pô,
36:28aí,
36:29fui lá no banco,
36:31presentei o documento,
36:33disse que tem um
36:33dinheiro aí
36:34para mim e tal,
36:35eu não lembro
36:36quantos dólares
36:37que os caras mandaram,
36:38que é um direito,
36:39né?
36:40Eu falei,
36:40pô,
36:41o pessoal lá,
36:41aqui não,
36:42aqui é foto
36:43para o Estado de Minas,
36:44dia da tarde,
36:45impressa para a Rádio Varani,
36:46não sei o que,
36:47blá blá blá,
36:48aí fica por isso mesmo.
36:49Mas nunca,
36:51não foi com o objetivo
36:52de ir.
36:53Falei,
36:53eu vou montar,
36:54é comercial,
36:54pô,
36:55porque comercial,
36:55eu montei estúdio,
36:57fiz,
36:57tinha Edgar Mello,
36:59que,
37:01sei lá,
37:02o melhor cliente
37:03que eu tinha.
37:05Mas,
37:05então,
37:06isso na década de 70
37:07que se montou
37:07a...
37:09Sim,
37:09sim.
37:10Então,
37:11eu imagino que você chegou
37:11a filmar comerciais
37:12que foram exibidos
37:13na Itacolome.
37:14Ah,
37:15com certeza,
37:16com certeza.
37:17Na Itacolome,
37:18você podia mandar,
37:19até estourando
37:19os 30 segundos
37:20que passava,
37:21mas a Globo é 29 segundos
37:23e fim de papo.
37:25Pois é,
37:26e nessa época,
37:27na década de 70,
37:30como que foi esse processo,
37:31como que era esse processo
37:32da produção de comerciais?
37:34Era um mundo diferente de hoje,
37:35você comentou no começo
37:36que hoje em dia
37:36você tem efeito especial,
37:38você tem aquilo,
37:39na década de 70,
37:40as coisas já eram um pouco melhores,
37:41já tinha videoteio e tudo,
37:42mas imagino que ainda tinha
37:43muita coisa artesanal,
37:45digamos assim.
37:45Ah,
37:46muita coisa a gente aprendia,
37:47né?
37:48Por exemplo,
37:50trabalhar com a moviola,
37:53que é uma mesa complicada,
37:54o tamanho dessa mesa,
37:56que eu sei,
37:57é uma parafernada,
37:58lascada.
37:59Eu fui ontem
37:59no Museu de Imagino do Sonho,
38:00e eles têm uma moviola
38:02dessa época,
38:03é uma máquina gigantesca.
38:05É,
38:05pesadona.
38:07Você vira essa parte,
38:09opera,
38:10você trabalha com 35 milímetros,
38:12aí você roda a mesa,
38:13tem uns pratos
38:14para trabalhar com o filme,
38:1516 milímetros,
38:16porque é para a televisão.
38:18mas,
38:20fiz muito,
38:24recebi muitos prêmios,
38:26fizemos um comercial aqui,
38:29para Manaus,
38:30não lembro o lugar lá não,
38:33foi premiado,
38:35fizemos uma série de vídeos,
38:38de filmes,
38:39para Globo,
38:43Rede Globo Minas,
38:44amigo dessa terra,
38:45dessa gente.
38:47Então,
38:47saia eu,
38:48um diretor de São Paulo,
38:50que a agência,
38:51o Mecanetics,
38:52exigia que fosse ele,
38:54para mim,
38:54ótimo.
38:55O que você quer que filme?
38:58É isso.
38:58aí,
38:59o cara,
39:00pô,
39:01do caralho,
39:01vamos editar,
39:04está aqui,
39:06esse cara,
39:06genial,
39:07e tal.
39:09Mas,
39:10o tempo passou,
39:12eu fazia muito
39:14para a Caixa de Pagão Federal,
39:16para o Brasil inteiro,
39:17para a Mesma,
39:19cliente nacional.
39:20Deixa eu perguntar o seguinte,
39:22porque,
39:23você vivenciou,
39:25essa,
39:26mudança da TV,
39:28teve que ir ao vivo,
39:29depois chegou o videoteio,
39:30e aqui na publicidade,
39:31também teve mudança.
39:32Quando eu tivemos os comerciais,
39:33na década de 70,
39:34na década de 60,
39:35eles eram mais lentos,
39:37do que hoje em dia,
39:38não tinha tanto corte de câmera,
39:40uma coisa um pouco mais,
39:42arrastada,
39:43digamos assim.
39:44Como que você percebe,
39:44essa mudança da publicidade,
39:46de quando você filmava,
39:47e o que se tornou,
39:49na década de 80, 90, 2000 e hoje?
39:51Eu não sei,
39:52eu tinha medo,
39:53esse troço vai chegar,
39:55algum momento,
39:56que você vai falar com a câmera,
39:57o que ela tem que fazer.
39:59Porque é recurso demais.
40:01E quando você senta,
40:02numa mesa de edição,
40:05você vê o material,
40:08aí tem um marcador,
40:10marca aí de tanto a tanto,
40:11de 1.100 a 2.500,
40:14que nós vamos precisar desse texto,
40:16seleciona tudo.
40:18E aí,
40:20ou dependendo do editor,
40:22ele fala,
40:22nós temos esses efeitos aqui,
40:24ó, pá, pá, pá, pá, pá, pá,
40:24espera aí,
40:25separa esse, esse, esse,
40:27aí a gente vai distribuindo,
40:29mas tem que ter um cuidado
40:31para não virar um sanduíche de estopa, né?
40:36Você mexe o dente no pão
40:37e vem aquela carne,
40:39não vou engolir isso.
40:41E tem até um negócio assim de,
40:45eu não tenho nada contra,
40:48mas eu acho terrível,
40:49você é o âncora do programa,
40:51fazer,
40:53um momento para,
40:56vamos saber agora por que que,
40:59zero cal,
41:00é não sei o que,
41:00e até aí eu fico medindo o tempo.
41:03Dois minutos e meio,
41:05dois minutos e cinquenta,
41:06pô,
41:07o cara é o âncora,
41:09contrata a garota propaganda,
41:11o garoto propaganda,
41:13faz um negócio de,
41:13que a gente brigava muito
41:16para ter,
41:16ser trinta,
41:18trinta segundos,
41:21entendeu?
41:22Aí o cara fala,
41:23não, pode deixar dois e meio,
41:24deixa dois,
41:25mas eu não,
41:27não entrei nessa,
41:30e tinha esse professor Pardal,
41:33esse que era consertador de piano,
41:36que ele criava,
41:37ele fazia assim,
41:38essa,
41:39vou botar uma manivela aqui,
41:41aí fazia quadro a quadro,
41:42entende?
41:44Girando,
41:45isso aqui,
41:46na edição,
41:50você usava a câmera lenta,
41:54aí ela rodava macio e tal,
41:57e ia criando assim,
41:59levava o cliente,
42:02adorava,
42:03a agência gostava muito,
42:05da criatividade,
42:07mas estudar,
42:08eu nunca peguei,
42:10nunca peguei,
42:11tudo vendo,
42:13como é que o cara fez isso?
42:15Como é que o fulano fez isso?
42:17Aí,
42:18na inauguração da Itacolamia,
42:22tinha um funcionário lá,
42:24que era chefe geral,
42:27Mário,
42:28Mário Batista,
42:31aí ele arrumou,
42:33me chamou,
42:34falou,
42:34olha,
42:34você vai ficar na portaria,
42:36aquela de,
42:36que a portaria vai e vem,
42:38fara oeste,
42:39quem não tiver o convite,
42:46não entra,
42:48eu falei,
42:49tá bom,
42:49aí,
42:50a nata,
42:52de Belo Horizonte,
42:53dos bancos da lavoura,
42:54da vida,
42:55na época e tal,
42:58e aí eu falei assim,
42:58aí,
42:58eu vou ficar de camisa,
42:59foi no guarda-roupa,
43:02pedi um paletó,
43:03que a almofada ficava aqui embaixo,
43:08fez,
43:09então pronto,
43:09então vamos,
43:10aí eu fiquei lá,
43:11o cara chegava,
43:13os farias da vida,
43:14do banco da lavoura,
43:16o convite e tal,
43:17olhava,
43:17ok,
43:18abri a porta,
43:18o cara passava,
43:19aí chega,
43:21um cara,
43:22mais dois,
43:23cara de guarda-roupa,
43:25de oito portos,
43:27de terno,
43:28chapéuzinho,
43:30ele parou,
43:32ficou me olhando,
43:32eu falei,
43:33pois não,
43:34eu falei assim,
43:35eu quero entrar,
43:37eu falei,
43:37se for,
43:37tem convite?
43:38Não,
43:39eu falei,
43:39então eu sou de morita,
43:42aí os caras,
43:43aproxegaram um pouco,
43:47aí ele falou assim,
43:49meu filho,
43:50quem te falou isso,
43:51que eu não posso entrar?
43:52Aí o Matista estava atrás de mim,
43:56eu falei,
43:56esse aqui,
43:57aí o Matista veio para me tirar da frente,
44:02porque ele era bruto para cacete,
44:03era um mastodonte lascado,
44:09na hora que ele veio botar a mão,
44:12esse senhor falou,
44:13peraí,
44:13peraí,
44:14foi ele?
44:15Foi,
44:15foi,
44:16foi esse senhor,
44:17ele,
44:19ó,
44:20cuida bem desse menino,
44:21e ele está cumprindo ordens,
44:23meu filho,
44:24você sabe quem sou eu?
44:24Eu falei,
44:25não senhor,
44:25eu sou seu patrão,
44:27assiste a Tobrião,
44:28aí eu,
44:28perfeitamente,
44:29seja bem-vindo,
44:31bem-vindo não,
44:32perfeitamente,
44:33pode entrar,
44:33então pode entrar,
44:34meu patrão,
44:35foi assim,
44:36aí ficou famoso,
44:37o troço lá dentro da televisão,
44:39ou ele barrou,
44:41o dono,
44:43o nosso patrão,
44:44então,
44:45e aí,
44:46bicho,
44:47eu fui crescendo lá dentro,
44:48de uns caras de agência
44:51que levavam as artes
44:53para eu fazer slide
44:54para eles,
44:55virava a noite,
44:57eu dormia,
44:58teve uma ocasião,
44:59o Vavá,
45:00que era meu companheiro
45:02de aventura
45:03lá dentro da televisão,
45:04a gente combinava
45:06de dormir
45:06dentro do ar-condicionado,
45:08ia na sala de máquinas
45:10do ar-condicionado,
45:10entrava,
45:11porque não vão ligar,
45:12porque a emissora
45:13não está no ar,
45:14e um dia eu acordei,
45:15eu estava congelando,
45:16aí ele abriu,
45:20fazer o quê?
45:23Mas estava,
45:23o negócio estava feio mesmo,
45:25de vez em quando
45:26o bombeiro
45:27fala,
45:28desce que nós vamos
45:29ensabarar,
45:30que está pegando fogo
45:31na igreja lá e tal,
45:32eu ia no carro
45:33dos bombeiros,
45:33era outro tempo,
45:36é,
45:36vai lá e tal,
45:39igreja,
45:40aí chegava,
45:42falava,
45:42Afonso,
45:44tinha,
45:44nossa,
45:44tinha um jornalista
45:45muito doido na época,
45:46eles riam,
45:47nossa,
45:48que bacana,
45:48vamos botar no ar,
45:49mas,
45:51esse,
45:54eu assisto a Tô-Briga,
45:56não tem culpa de nada,
46:00estou aqui para
46:00executar ordens,
46:03e o Matista,
46:04aí os caras falaram,
46:04Matista vai te pegar,
46:05Matista vai te pegar,
46:07fazer terrorismo,
46:08mas nunca,
46:09não falou mais nada,
46:11não houve mais nada,
46:11e,
46:12eu quero te perguntar
46:15uma última coisa,
46:15que é a seguinte,
46:16a TV Itacolomi
46:17fechou em 80,
46:1845 anos,
46:20mesmo fazendo tanto tempo,
46:22as pessoas ainda lembram
46:23da Itacolomi,
46:24lembram dos programas,
46:25dos apresentadores,
46:26lembram com carinho
46:27das coberturas
46:28que assistiu,
46:29você que participou
46:30de 15 anos,
46:30mais de 15 anos
46:31dessa história,
46:32o que você acha
46:33que fez a Itacolomi
46:34marcar tanto
46:35a vida das pessoas?
46:36olha,
46:37primeiro,
46:38a primeira novidade,
46:40né,
46:40para,
46:41que existiu,
46:42acho que é Tupi do Rio
46:43e Tupi de São Paulo,
46:45depois foi a Itacolomi,
46:46a dedicação da gente,
46:51e que tudo era novidade,
46:54porra,
46:54e como é que os caras
46:55conseguem fazer isso?
46:56Ah,
46:56com essa maquileta aqui,
46:57porra,
46:58aí você lembra,
46:59mas,
46:59daí,
47:00vai aparecer,
47:01vai aparecer,
47:02mas como?
47:02Tem que passar
47:03para o processo,
47:04assim,
47:04não,
47:04porque eu quero saber,
47:05porra,
47:05aí a gente começa
47:06pesquisar,
47:09mas pesquisar,
47:10assim,
47:10sem ter um livro,
47:15você olhar,
47:16faz assim,
47:17não tinha isso,
47:18não existia.
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