A redação do começo da TV Itacolomi, a primeira emissora de televisão de Minas Gerais, era composta, basicamente, por jornalistas advindos do jornal Estado de Minas e dos extintos Diário da Tarde e Rádio Guarani.
Os três veículos eram as fontes das notícias, que passavam pelo crivo dos redatores antes de serem lidas pelos locutores dos noticiários.
Foi assim, com muita simplicidade, que os primeiros profissionais da televisão mineira desenvolveram as bases do telejornalismo, seguidas até hoje.
00:00O jornalismo esteve presente na programação da TV Itacolomi logo na sua primeira semana, lá em 1955.
00:22Dois dias após a inauguração da emissora, foi transmitido um debate entre presidentes de empresas públicas do Estado e o então governador Clóvis Salgado.
00:30Algum tempo depois, o jornalismo se diversificou com a chegada dos noticiários.
00:34O primeiro deles foi o Repórter Real, patrocinado pela companhia aérea Real Aerovias Brasil.
00:40Ao longo dos anos, surgiram outros programas jornalísticos.
00:43O que durou mais tempo foi o jornal Banco Minas, que chegou a ter mais de 90% de audiência.
00:48Mas o primeiro noticiário a fazer sucesso na tela da Itacolomi, sem dúvidas, foi o Repórter Esso.
00:55Aqui fala o seu Repórter Esso, testemunha ocular da história, em edição extraordinária em homenagem aos jornalistas do Brasil.
01:10O Repórter Esso começou como um programa de rádio em 1941.
01:14O noticiário era patrocinado pela empresa de petróleo Esso e o conteúdo vinha de agências de notícias americanas.
01:21No começo, o objetivo era informar os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva dos Estados Unidos, país aliado ao Brasil no conflito.
01:30Porém, o sucesso do programa foi enorme e mesmo após o fim da guerra, o Repórter Esso continuou sendo produzido e, na década de 1950, ganhou sua versão televisiva.
01:39Fora da redação, os jornalistas e cinegrafistas também enfrentavam outras dificuldades pela tecnologia da época.
01:58As câmeras que eles tinham à disposição para gravar na rua eram as mesmas usadas para produzir filmes de cinema.
02:04E detalhe, as reportagens não tinham áudio.
02:07Até mesmo revelar a gravação e editar o filme era um processo complicado e, de certa forma, bastante artesanal.
02:13Eu já chegava, ia direto para a cama escura, revelava o filme.
02:17A gente usava uma lata de filme vazia, enchia de algodão, álcool.
02:23Era uma roda de madeira que a gente rolava o filme.
02:26E ia rodando e passando fogo de baixo para secar o filme.
02:31Aí levava para a mesa de cortes.
02:33Aí era um negócio rápido, porque tinha uma coladeira, né?
02:37Se puxava aqui a imagem e tal, tinha um visorzinho assim.
02:40Essa cena estava com tuf, tuf, colava, voltava o filme, entregava no telecínio e falava, pode botar no ar.
02:47Mas era um negócio assim, você fazia tudo.
02:49Como já falamos nessa série especial, a televisão nos primeiros anos da Itacolomi era muito diferente de hoje.
02:55As redes de televisão, como o SBT, com emissoras espalhadas por todo o país, exibindo a mesma programação,
03:01só foram surgir nos anos 70, com a transmissão via satélite.
03:05Mas bem antes disso, o setor de engenharia dos diários associados decidiu implantar um sistema revolucionário de micro-ondas.
03:12O sinal de uma emissora seguia o caminho por antenas gigantes, instaladas no topo de montanhas,
03:17até chegar numa emissora de outro estado.
03:19Com esse sistema, os mineiros passaram a assistir, pela Itacolomi, programas feitos em São Paulo e no Rio de Janeiro.
03:25O contrário também acontecia.
03:27Ao meio-dia, ia ao ar o telediário PIC, que podia ser assistido por telespectadores desses outros estados.
03:33Deu uma coincidência que na estreia do programa, em 13 de agosto de 1961,
03:39os soviéticos, a União Soviética, naquela Guerra Fria, implantou a construção do Muro de Berlim.
03:46E nós, por felicidade jornalística de estarmos transmitindo para São Paulo e Rio,
03:52Rio e São Paulo conheceram a construção do Muro de Berlim,
03:55às custas da transmissão da TV Itacolomi.
03:59Um marco. Era um jornalismo excepcional, muita qualidade.
04:02Pelas lentes da Itacolomi, os mineiros puderam acompanhar acontecimentos históricos de Minas Gerais,
04:08como a reconstrução da barragem da Pampulha, entregue em 1958, após ter sido rompida.
04:13Anos depois, no começo da década de 60, a Itacolomi registrou grandes transformações na capital,
04:19como a retirada do obelisco da Praça 7 e o fim dos bondes.
04:23Em 1964, a emissora acompanhou os desdobramentos do golpe militar,
04:27que levou à perseguição de opositores do regime e censura à imprensa.
04:31Já na década de 70, os jornalistas da emissora reportaram a maior tragédia da história de Belo Horizonte.
04:37O desabamento do pavilhão de exposições da Gameleira, em 4 de fevereiro de 1971,
04:43que levou à morte de 69 operários e deixou dezenas de feridos.
04:47Foi num dia, mas era a hora do almoço.
04:51O jornal já tinha acabado, a redação vazia, tocou o telefone, me deram a notícia.
04:57Na hora que eu cheguei lá, eu vi aquela coisa absolutamente catastrófica,
05:02gritando, gente debaixo das vigas, aquela confusão.
05:06Aí eles mandaram o dinossauro, era o carro de externa.
05:10O carro só saía da garagem do Palácio do Arme para ir fazer jogo no Mineirão.
05:15Era uma operação hercúlea para montar esse carro.
05:18Aí foi o carro e de lá começou a transmitir ao vivo.
05:21E foi assim, fazendo o possível e o impossível com a tecnologia da época,
05:25que os acontecimentos de Minas chegaram nos lares mineiros pela tela da Itacolomi.
05:29No episódio de amanhã dessa série especial sobre os 70 anos da TV Itacolomi,
05:33será a vez das mesas redondas, das jornadas esportivas
05:36e da cobertura de futebol que marcou época na emissora.
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