Em entrevista ao Jornal da Manhã, o reitor do IBEMEC-RJ, Samuel Pessôa, avaliou que a crise financeira dos Correios se deve à falta de adaptação tecnológica. A estatal "parou no tempo" e hoje acumula um rombo de mais de R$ 6 bilhões, o que pressiona as contas públicas.
Assista à íntegra: https://youtube.com/live/8rdkjCaZTz8
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal: https://www.youtube.com/c/jovempannews
Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S
00:00Oito horas e trinta e sete minutos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou a situação econômica dos Correios e afirmou que o apoio financeiro virá somente após um plano de recuperação aprovado.
00:12Sobre esse assunto, a gente conversa agora com o professor de Finanças e Reitor do IBMEC do Rio de Janeiro, Samuel Pessoa, que gentilmente atende a Jovem Pan.
00:21Professor, bom dia. Muito obrigado por nos atenderem.
00:24Bom dia, Manato. Bom dia, Márcio.
00:27Fala-se num prejuízo que pode chegar a 10 bilhões de reais até o final do ano, tem essa possibilidade de uma reestruturação.
00:35O ponto central, professor, é saber por que é que os Correios chegou a essa situação.
00:43É falta de modernização, falta de acompanhar as novidades que foram chegando ou os concorrentes que foram aparecendo.
00:51Qual é a visão que o senhor tem?
00:52Bom, Manato, a gente tem uma sequência de fatores que faz o Correios chegar onde chegou, tá?
01:01Começando pelo fato da ausência de modernização.
01:04O Correios, ele é uma instituição centenária, é uma instituição que atende o Brasil inteiro,
01:10é uma instituição que tem orgulho de dizer que está em todos os quintões e quinhões do Brasil.
01:16No entanto, ele parou no tempo e você observa hoje um volume significativo de agências do Correio que são deficitárias,
01:25você observa uma operação digital do Correio extremamente deficitária e problemática
01:31e você observa também um conjunto de problemas dentro da própria operação interna que é muito sério.
01:39Então, a gente tem dentro da estrutura do Correios um volume de despesas extraordinárias muito significativo
01:46e isso faz com que cada vez mais cabe-se um buraco dentro da operação.
01:52Atualmente, ele já está com 6 bi de rombo, esses 6 bi devem chegar facilmente a 10 bi até o final do ano
02:00e o Correios precisa de forma urgente de uma reforma, de uma revisão e de uma reestruturação.
02:07Ele precisa ser repensado, seja como uma empresa de entrega, seja também possivelmente como uma outra coisa,
02:15agregando serviços como serviços de marketplace, etc.
02:18Ele precisa de todo um choque interno que parece que atualmente não existe um plano muito claro desenhado para isso.
02:26Parece que não existe um interesse de fazer esse plano.
02:30Pois é, professor. Já entrando nesse assunto, o senhor não acredita que existe uma falta de transparência agora
02:37por parte do governo de há quanto tempo essa crise vinha acontecendo e nada foi feito?
02:43E a partir de agora, apresenta-se esse número de um prejuízo perto de 10 bi,
02:48vai tirar de um orçamento para conseguir conter esse prejuízo,
02:55um orçamento do governo que já está completamente prejudicado,
02:59um orçamento que uma conta que não fecha e aí o contribuinte vai pagar essa conta
03:04sem saber o motivo disso ter acontecido ao longo dos anos, não há uma clareza
03:10e o pior é uma estatal onde os cargos são indicação do governo,
03:14são de responsabilidade do governo e aí essa reestruturação que o senhor colocou agora
03:20fica difícil também por isso, né?
03:24É, o Correio já vem apresentando prejuízo desde 2022.
03:28Então, ele não começou a gerar prejuízo na semana passada.
03:32Isso não é uma surpresa para ninguém.
03:35É uma instituição que vem com um histórico muito significativo de problemas.
03:40Você pega os governos passados, o Correio já apresentava prejuízo,
03:45ele passou um período gerando algum nível de lucro, muito baixo, mas gerou,
03:50e voltou a gerar prejuízo desde o segundo trimestre de 2022.
03:56Por ser uma instituição pública, ele deveria ser melhor cuidado,
04:01até porque a gente está falando de dinheiro público, a gente não está falando de dinheiro privado.
04:05É, nesse cenário de você ter um conjunto de recursos que vem do erário,
04:11que vem da população, ele deveria ser melhor tratado.
04:14Talvez uma opção para o Correio seja todo um redesenho de operação,
04:20não deixando de cumprir sua função.
04:22O Correio, ele tem uma função social,
04:24que é entregar correspondência em todas as regiões do país,
04:27mas repensar a sua função de maneira que ela seja superavitária.
04:31Um desenho o qual ele consiga trazer e entregar produtos,
04:37além disso, com outras formas de gerar receita,
04:41para atender a população.
04:43Já foi provado em governos anteriores
04:45que o Correio consegue ser minimamente superavitário,
04:50com valores baixos, mas consegue ser superavitário.
04:52É só uma questão de gestão.
04:54Talvez o fato de ser uma empresa pública com cargos indicados
04:57transforme isso num elemento um pouco mais difícil.
05:01Mas é uma empresa que tem condições de sobreviver,
05:05é uma empresa que tem condições de ser superavitária,
05:07desde que bem gerida,
05:08desde que um plano bem claro de construção,
05:11desde que tenha uma expectativa de foco
05:14naquilo que interessa à população brasileira,
05:17que é uma entrega de qualidade
05:18e, principalmente, gerando resultado
05:21para a própria operação dos Correios.
05:23Professor, há preocupação também com outras empresas.
05:26A eletronuclear talvez seja uma delas também
05:29que requer aportes financeiros
05:31e que tem passado por alguma dificuldade.
05:34Falar em privatização dessas empresas
05:36é um palavrão ou é algo possível?
05:41Falar em privatização, Nonato, nunca é um palavrão.
05:44A gente está falando de privatizar ativos
05:47que poderiam ser muito melhor geridos
05:49pela iniciativa privada.
05:51A decisão de privatizar ou não,
05:53infelizmente, não compete a nós,
05:55compete ao governo.
05:56Então, se o governo enxerga condições de privatizar
06:00e de que essa privatização vai gerar resultados positivos
06:04para a população,
06:05e a gente tem um volume de ativos
06:06bastante significativos na história do Brasil
06:08que foram privatizados
06:10e que melhoraram bastante o serviço para a população,
06:13a privatização pode ser um caminho.
06:15No entanto, isso depende de aprovação de governo,
06:18depende de aprovação de um conjunto de casas e agentes
06:22para que possa acontecer.
06:23Eu acredito que sim, é um caminho possível.
06:26No entanto, existem também possibilidades
06:29dentro da própria iniciativa pública,
06:31desde que, como repito, seja bem gerido,
06:34bem cuidado e com foco no que interessa,
06:37entrega de qualidade e também gerar resultado.
06:40No caso do eletronuclear e de outras empresas públicas
06:43que também vêm passando por situação difícil,
06:45o caminho tende a ser o mesmo.
06:47Redesenhar as políticas de governança,
06:49redesenhar as políticas de operação
06:52para que ela possa gerar resultado.
06:54Observando que o governo não é capaz de fazer essa gestão,
06:57aí sim, seguir por um caminho de privatização
06:59no qual a população ganha,
07:02o governo recebe um dinheiro
07:03pelo ativo daquela empresa,
07:06pelo quanto vale aquela empresa
07:07para a iniciativa privada
07:08e, consequentemente, passa a obrigar aquela empresa
07:11a fazer uma entrega de maior qualidade
07:13para a população.
07:14A gente agradece a participação
07:17do professor de Finanças
07:19e reitor do IBMEC do Rio de Janeiro,
07:20Samuel Pessoa,
07:21conversando com a gente aqui no Jornal da Manhã.
Seja a primeira pessoa a comentar