A educação brasileira gasta "um mundo de dinheiro" e, no entanto, avança pouco. Em entrevista a Luiz Felipe D'Avila, o executivo Fábio Colleti Barbosa apontou a gestão e a avaliação de professores e diretores como pontos-chave para melhorar a qualidade do ensino, criticando a falta de valorização da carreira docente. Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
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00:00Existem boas experiências de educação, mas parece que a gente não conseguiu escalar isso.
00:05E o Brasil continua com indicadores terríveis nos exames internacionais de avaliação, como o PIS, etc.
00:11Então, quer dizer, nós já gastamos muito dinheiro, desde o primeiro projeto lá do Paulo Renato,
00:17com o ministro da Educação no governo Fernando Henrique, que incluiu todos os jovens na escola,
00:22nós não conseguimos melhorar a qualidade do ensino.
00:25Você que dedica também muito tempo à educação, por que nós fracassamos no sentido de melhorar a qualidade do ensino
00:33durante todo esse tempo depois da inclusão das crianças na escola?
00:36Eu fico honrado com a sua pergunta, mas você sabe mais disso do que eu.
00:41Mas eu vou arriscar aqui.
00:44Você que é um dos papas, a Ana Diniz também, conhece muito bem o assunto.
00:49Estive com a Priscila ontem também.
00:50Uma vez alguém me falou que eu não pensei que fosse tão complexo mexer em educação.
00:56Eu falei, é um rocket science, é uma ciência de foguete.
00:59Eu falei, agora estou achando que é uma ciência de foguete.
01:01Mexe com muitas variáveis, muitas variáveis.
01:03A gente gasta um mundo de dinheiro e realmente anda pouco.
01:06Tem vários assuntos que a gente podia colocar aqui.
01:09Mas eu vou colocar uns dois ou três que não são também a solução,
01:12porque não tem bala de prata.
01:14Isso eu estou convencido que não tem bala de prata.
01:16Mas a valorização do professor, agora eu vejo que cada vez menos gente quer se dedicar a essa carreira.
01:24Os professores que chegam sem ter aulas de pedagogia, conhecem matemática, conhecem português,
01:29mas não sabem ensinar adequadamente.
01:31A não valorização.
01:34Tem essa valorização do diretor de escola, mas também não tem...
01:37Como é que você avalia se o diretor de escola está fazendo um bom trabalho ou não?
01:42Como é que você avalia se o aluno está aprendendo e como é que o professor é responsável ou não é responsável por isso?
01:48Como é que você cuida a questão da educação integral?
01:51E tem muitos problemas aí.
01:53Eu só vejo que a gente gasta muito dinheiro e eu, se eu tivesse que começar,
01:57eu começaria muito por questão de avaliação dos professores, avaliação dos diretores,
02:02mexer com a motivação dos alunos.
02:04E eu acho que tem muita coisa de gestão, gestão que pode rapidamente colocar o país em uma boa direção.
02:13Felipe, é curioso, porque eu não estou falando que na Finlândia funciona,
02:17que é um país, com as dificuldades dele certamente, mas é um país homogêneo.
02:21Funciona no Ceará, funciona no Piauí.
02:24Ontem eu estava vendo que no estado da Bahia é o segundo pior IDEB do Brasil.
02:29Bahia não é o estado mais pobre para ter isso.
02:31O que acontece com a gestão?
02:33Em São Paulo, que vai lá para cima, volta, tudo, existem boas práticas.
02:38Vou falar agora um pouquinho só da minha contribuição nessa ideia de varrer a calçada.
02:44Nós trouxemos, junto com a parceiros, o Herbert, o pessoal que mexeu lá em Sobral,
02:49na educação, vamos replicar.
02:51Porque não é que ele fez isso de novo na Finlândia, ele fez aqui no Ceará, com mais dificuldade.
02:54O que a gente pode fazer aqui em São Paulo para virar um modelo também para outras cidades?
02:59Então, acho que existem boas práticas.
03:01E a gente tem que opiar essas boas práticas e alastrar.
03:05Mas eu acho que a avaliação de diretor, avaliação de professor, é para mim uma das coisas mais importantes que teria.
03:11E daí vem o corporativismo, que é complicado, não pode, porque pode, deve, não deve.
03:15Então a gente vai.
03:16E por fim, queria fazer um outro comentário ainda na questão da educação.
03:19Na verdade, conforme estudiosos mostram, a ideia sempre foi a igreja, a religião dá os valores, a família dá a sociabilidade e a escola dá a cultura.
03:33Esse foi o modelo pensado no século XIX.
03:35E agora você vê que falhando a religião, falhando a família, às vezes na sociabilidade, sobra tudo para a escola também.
03:43Então a gente joga na escola um peso enorme, professores que têm que se defender de alunos, alunos que são desrespeitosos para com os professores.
03:52Isso tudo é de um embasamento familiar que se desorganizou um pouco.
03:55Então eu acho que sim, a escola tem muito a fazer para melhorar, mas eu acho também a sociedade está jogando na escola coisas que na verdade deveriam ser feitas dentro de casa.
04:05Muito bem, Fábio. Vamos ao terceiro tema que você gosta muito, que é a questão ambiental.
04:09A questão ambiental parece que a sociedade civil acordou a tempo e começou a se organizar de maneira melhor e começou a entender uma coisa básica,
04:19que é por meio do mercado que nós vamos resolver a questão ambiental.
04:22Não é com intervencionismo estatal.
04:25Então a sociedade começa a se mobilizar nisso.
04:29Várias iniciativas boas, em recuperação de área degradada, reflorestamento, a questão própria da energia limpa.
04:37O maior projeto socioambiental que é o saneamento básico agora, depois do marco do saneamento também atraindo muito investimento.
04:44Por que nós não conseguimos ainda convencer o governo nessa mudança de mentalidade tão importante,
04:51que é o governo ajudando, deixando o mercado trabalhar para que nós possamos explorar esse enorme potencial da bioeconomia,
04:59que é uma vocação extraordinária do Brasil no mundo de hoje.
05:04Na verdade, eu não sei se estou dando respostas muito longas, mas eu vejo que eu pergunto,
05:07tanta coisa me ocorre.
05:09E é impressionante.
05:11Cara, como é que a gente chega nessa situação?
05:15Como é que funciona?
05:16Na verdade, a questão ambiental virou um negócio tão óbvio.
05:22E o Brasil tem realmente um diferencial nisso.
05:24O Brasil pode fazer uma coisa muito diferente do que vem fazendo.
05:28Mas vamos dar um passo atrás novamente.
05:30A questão ambiental, eu trabalho com isso há 30 anos, era ridicularizado como um abraçador de árvores.
05:36E sempre entendi que é o mundo do e e não o mundo do ou.
05:41Não é ou você olha a questão ambiental ou você tem um negócio lucrativo.
05:46Tem que olhar a questão ambiental, assim como outras questões, mas estamos falando ambiental agora,
05:51e ter uma empresa lucrativa.
05:53Eu fui responsável pelo Banco Real na época.
05:55E fazíamos, e foi um grande diferencial.
05:58A Natura, que até recentemente era presidente também, criou um modelo de negócio em torno disso.
06:04Energia solar, energia, tem um mundo de oportunidades e negócios que são feitos em torno dessa ideia do meio ambiente.
06:11Que, volto a lembrar, falando dessa geração melhor, não era problema há 40 anos.
06:16Esse assunto era um assunto novo, ninguém achava que isso era um problema.
06:19E eu lembro, eu sempre estive envolvido nisso, mas daqui a 100 anos erramos.
06:24O problema está se apresentando agora.
06:26Então eu vejo uma mobilização grande.
06:28E vejo de novo a questão de jovens.
06:30Quer dizer, eu vejo quando o McDonald's fez uma pesquisa recentemente, acabou fazendo uma propaganda,
06:36dizendo que a carne do McDonald's não vem de área desmatada.
06:39Qual é o interesse da empresa em fazer isso?
06:41É porque tem jovens que querem saber.
06:44Não a nossa geração, com as devidas exceções, obviamente.
06:48Mas querem saber.
06:48Então as empresas estão se mobilizando.
06:50Então eu vejo de novo em uma direção.
06:52Vejo a questão de crédito de carbono.
06:55Que as empresas como Microsoft, empresas como Nestlé, Vivo, comprando crédito de carbono,
07:01na ideia de eu preciso mostrar para a sociedade que eu estou compensando aquilo que eu estou fazendo de geração de CO2.
07:08Não, mas isso não era assim.
07:10Pois é, mas agora é.
07:11Que maravilha.
07:12Aí vai ficar do governo.
07:13Aí me incomoda muito.
07:15Eu falei isso várias vezes, vou falar de forma mais contundente.
07:18Eu não entendo por que o governo, ao invés de projetar uma imagem do Brasil que vai pacificar Ucrânia e Rússia,
07:26ou vai descobrir uma solução para o Oriente Médio, ou quer intermediar algum outro negócio no mundo,
07:32não vai projetar a imagem do país que pode ser uma potência ambiental.
07:37Ele pode ser uma potência ambiental em várias frentes.
07:41Abra um parênteses pequeno aqui.
07:42O marco regulatório do saneamento básico, eu considero as 5 ou 10 melhores coisas que aconteceram no Brasil nos últimos 10, 15 anos.
07:49É inacreditável.
07:51Tem pagamento de outorga, tem obras e vai se entregar água limpa e esgoto tratando.
07:57E a universalização como meta.
07:59Então, 2033?
08:00É, é, 2033.
08:01Inacreditável o negócio desse.
08:02Como é que a gente demorou?
08:03E eu ainda vi pessoas se opondo a isso, dizendo,
08:07não, mas a água é uma coisa que o governo que tem que prover.
08:09Bom, mas não prover, cara.
08:11Então, é fenomenal.
08:13O que está movimentando a economia, a gente pode falar de crescimento de PIB, como quiser.
08:16Uma das coisas é o saneamento básico, os investimentos que estão sendo feitos.
08:20Mas daí, voltando ao ponto, o Brasil tem toda a condição de ser.
08:23Seja porque tem energia limpa, seja porque tem florestas,
08:26seja porque a oportunidade que se tem de compensação,
08:30pelo menos a compensação natural de CO2,
08:33o Brasil é quem tem área suficiente para fazer isso.
08:36O Brasil tem condição de aumentar, e já aumentou, energia solar, energia eônica, hidrelétrica.
08:42O Brasil é o líder nisso.
08:44Então, a imagem que a gente projeta lá fora não condiz com a realidade.
08:48Eu realmente acho isso que eu vou falar agora.
08:50Eu acho que a imagem que o Brasil tem lá fora com relação à questão ambiental
08:53é pior do que a realidade que nós vivemos.
08:56Infelizmente, o que fica lá fora é o desmatamento ilegal,
09:00que, diga-se passagem, é responsável pelo grande problema que temos aqui.
09:04O Brasil tem uma legislação extremamente rígida com relação ao desmatamento.
09:10Lembro de vedados, e eu não vou colocar a mão no fogo aqui,
09:13que São Paulo hoje tem mais área preservada do que tinha há 10, 20 anos.
09:18E isso eu vejo na minha região.
09:19Está acontecendo.
09:19As pessoas preservam, as pessoas fazem restauração.
09:22Então, eu acho que a gente tem que ter toda a condição.
09:25Se o governo combatesse o desmatamento ilegal,
09:29de uma forma difícil, agora tem crime organizado, eu sei que é difícil,
09:32garimpo ilegal.
09:34O Brasil tivesse um cadastramento rural que permitisse as pessoas saberem
09:38que terra é de quem, que é um negócio que...
09:41É, isso é um ponto que eu ia te falar, a regularização fundiária,
09:43esse é um programa, deveria ser do governo e não consegue resolver.
09:47Isso é inacreditável, né?
09:48Isso vai num...
09:49Cara, precisa ter dono.
09:50Se a terra tiver dono, se a terra já souber, ele vai cuidar.
09:53Isso é universal, assim que a sociedade se organizou há milhares de anos.
09:57Então, isso me incomoda muito.
09:58O governo não faz o cadastramento, que eu sei que é complexo,
10:01que tem títulos e propriedade, dois ou três, vamos dizer assim,
10:05corretos ou aparentemente corretos, em cima da mesma área.
10:07Tem que resolver esse negócio.
10:09Então, combater o crime.
10:11Combater o garimpo, combater a...
10:14Criar um carro.
10:15E falar, esse Brasil, nesse aspecto, a gente tem milhões de problemas.
10:19Aqui nós temos um potencial de ser, de novo, potência ambiental
10:23num momento em que muito se valoriza.
10:25Eu deixo de lado o que Trump fala agora desse momento,
10:28porque ele está falando, nem mesmo os governadores lá concordam muito com ele,
10:31as empresas estão um pouquinho altemorizadas,
10:33mas continuam comprando crédito de carbono,
10:35continuam falando, cara, precisamos fazer alguma coisa com relação ao meio ambiente.
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