Durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira (31), o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor dos Santos, afirmou que o governo é contra a ocupação permanente nas comunidades. A declaração foi feita após a megaoperação nos Complexos do Alemão e da Penha, que deixou mais de 120 mortos. Jesualdo Almeida e Monica Rosenberg analisaram. Comentaristas: Jesualdo Almeida e Monica Rosenberg
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00:00Juntos até as quatro da tarde que ainda tem muita informação porque em coletiva gente o secretário de segurança pública lá do Rio de Janeiro Vitor Santos
00:08disse que é contra a ocupação nas comunidades e que o estado aqui do Brasil, nenhum estado tem condições de colocar policiais dentro desses locais. Vamos ouvir.
00:19A gente tem que fazer uma distinção entre o que é retomada e o que é ocupação. Nós somos contra a ocupação.
00:25O estado, nenhum do Brasil tem condições de fazer de forma permanente colocando policiais dentro das comunidades.
00:35O Rio de Janeiro, infelizmente, nós temos quase um quarto da população morando em favela.
00:40São 1.900 favelas no Rio de Janeiro. Se a gente pegar todo o efetivo, 100% das polícias, 53 mil policiais e dividirmos pelas comunidades,
00:50daria cerca de 7 policiais por comunidade. Então a ocupação não é a solução.
00:55Bom, Mônica Rosenberg e Gesualdo Almeida. Já vi a cara de Gesualdo ali dizendo a ocupação. Já não concordou, Gesualdo? O que você pensa? Fala aí.
01:06A ocupação é a solução. A presença do estado é a solução. Se tem pouco efetivo, que contrate mais.
01:12Questão de segurança pública passa necessariamente por efetivo.
01:15Como assim o estado não tem condição de retomar os espaços, os espaços que são da população,
01:22para dar aquele serviço público que a população espera. Ora, isso é confissão mais pura da falência do estado.
01:29Confessou que tem pouco efetivo, que não tem condição de dar assessoria a essas comunidades,
01:34que seriam apenas 7 policiais por comunidade. Vale dizer, se são 7 policiais por comunidade,
01:40é claro, o tráfico, a criminalidade vai prevalecer.
01:43Por isso, Gesualdo, muitas pessoas ali, inclusive quando foram entrevistadas, falaram assim,
01:50olha, os traficantes pagam a nossa saúde pública, os traficantes nos dão o que comer.
01:56Porque o estado não entra. Exatamente isso, né, Mônica Rosenberg?
02:00Na hora de pagar imposto, o estado está bem presente, porque eles todos pagam todos os serviços do estado,
02:06mas não existe estado nas comunidades. Isso nós já sabemos, são pessoas abandonadas pelo estado.
02:11E a organização criminosa é justamente uma organização.
02:15Tem estrutura, tem comando e está ocupando um espaço que o estado deixou.
02:20Olha, eu tenho mais uma questão também da sonora, né, da entrevista ali do trecho anterior
02:26que nós ouvimos do secretário Vitor também lá do Rio de Janeiro.
02:29Mônica, ele chegou a dizer que existe já uma investigação que liga o Comando Vermelho ao PCC aqui em São Paulo.
02:39Isso não é uma novidade que as facções também estão interligadas, né?
02:42Foi bom você trazer isso, porque na hora que eu ouvi, eu fiquei pensando naquilo.
02:46Nós aqui na Jovem Pan já comentamos há alguns meses, houve um manifesto conjunto.
02:51As organizações criminosas soltaram um manifesto falando em justiça, falando em organização.
02:57Então, nem sequer eles estão escondendo que estão já coordenadas e que estão, sim, dominando.
03:04É muito importante que o brasileiro entenda que se não houver um posicionamento firme,
03:08apesar de que ele tem que ser legítimo, se não houver um posicionamento firme,
03:12nós vamos continuar perdendo espaço para essas organizações.
03:16Gesualdo, para a gente encerrar agora, de todas essas manifestações, proposta antifacção, lei, PEC da segurança,
03:24qual delas você acha a mais efetiva para esse momento?
03:28A mais efetiva para esse momento não é nenhuma dessas.
03:30A mais efetiva é investimento na segurança pública, através de contratação de policial,
03:36através de contratação de mecanismos de inteligência, através de efetivo.
03:41Se nós temos mais um número maior de bandidos na rua do que de policiais,
03:44essa conta não vai fechar nunca.
03:46E essa fala do secretário da Segurança é alarmante, se não assustadora.
03:51Ele acabou de confessar que o Estado não tem como fazer o enfrentamento do crime.
03:55E não vai ser com modificação de lei que isso vai acontecer.
03:58Podemos ter leis mais duras que seja, um sistema penitenciário gigantesco,
04:02mas se nós não conseguimos nem prender esses bandidos...
04:05Quando prende, solta também, né?
04:08Não consegue dar aquilo que é o de mínimo.
04:10Esses caras ficam todos salvaguardados nesses locais.
04:14Não vamos dizer que todas as comunidades também salvaguardam criminosos,
04:17porque não é verdade, nós não podemos dizer que as pessoas em uma situação de vulnerabilidade
04:22compactuam com o crime, embora muitas vezes sejam reféns,
04:25se não beneficiadas dessa própria criminalidade.
04:28Essa fala do secretário é alarmante a não mais poder e é o retrato do Brasil.
04:33Ah, e só para completar, Márcia, ele acaba de dizer que o PCC e o Comando Vermelho estão unificados.
04:38Eu sempre imaginei que fosse o contrário, que eles concorressem.
04:40Mas até eles são organizados, o crime é organizado,
04:43e o Estado não consegue organizar nem as suas próprias polícias,
04:46que não tem interlocução entre elas.
04:48Enquanto o governo federal e os governos estaduais estão brigando,
04:52eles estão ficando mais firmes, né?
04:54PCC e Comando Vermelho é um absurdo, gente.
04:57Obrigada pelas análises de vocês, Mônica Rosenberg e Gesualdo Almeida.
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