No Check Up desta semana, o doutor e apresentador Claudio Lottenberg recebe o neurologista Alexandre Kaup, para uma conversa sobre saúde mental. Entenda quais são os distúrbios mentais enfrentados hoje em dia, como o ambiente, ciclo social, e saúde fisíca podem interferir no bem-estar humano.
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NotíciasTranscrição
00:00O tema de hoje é absolutamente algo que está presente diariamente nos encontros pessoais,
00:08nos encontros formais, nas escolas, nas atividades dos pacientes dentro e fora dos hospitais como comorbidade.
00:17Vamos falar sobre saúde mental.
00:20Você provavelmente já deve ter tido uma semana em que sentiu diversas emoções em poucos dias.
00:26Um dia, por exemplo, você estava triste, estressado, cansado, mas no dia seguinte já estava alegre e se sentia disposto novamente.
00:36Essas oscilações que sentimos estão diretamente ligadas à nossa saúde mental,
00:42um bem-estar psicológico que varia de acordo com os fatores físicos, sociais e ambientais que vivenciamos no dia a dia.
00:50No Check-Up de hoje, o doutor Claudio Lutenberg conversa com o neurologista e pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein,
00:58doutor Alexandre Kalp.
01:00Entenda quais os fatores que interferem na nossa saúde mental,
01:05como a saúde física pode comprometer o nosso bem-estar psicológico e quais os tratamentos necessários.
01:12Fique ligado, o Check-Up está no ar.
01:14Seja bem-vindo, meu querido Alexandre.
01:27Obrigado, Claudio. Prazer estar aqui.
01:29Alexandre, quando a gente fala sobre saúde mental, existem alguns pilares,
01:35alguns que nós diríamos de natureza interna, que chamamos de endógenos,
01:38e outros de natureza externa, relacionais, o meio ambiente, a tensão, burnout.
01:45Como você poderia explicar que esses fatores acabam interferindo
01:51para que a pessoa possa expressar algum tipo de saúde mental?
01:55A saúde mental, na verdade, como a saúde física que a gente imagina,
01:59ela é uma construção durante a vida.
02:01E ela tem várias influências.
02:05Então, um bom exemplo que a gente tem para entender como isso funciona
02:09é a gente olhar para os países que a Organização Mundial de Saúde considera como os países mais felizes.
02:15O que ocorre naquelas localidades ou naquelas populações?
02:19As pessoas têm vínculos sociais, vínculos pessoais muito fortes e seguros.
02:25A principal característica desses lugares, como por exemplo, na Dinamarca,
02:31é o grau de confiança que as pessoas têm nas outras, nos relacionamentos.
02:35Então, este é um ponto bastante importante para a saúde mental.
02:40Um outro ponto importante é a genética que cada um de nós carregamos.
02:43Então, nós temos propensões maiores ou probabilidades maiores
02:48de desenvolver sintomas ansiosos, depressivos.
02:51E existe o ambiente como um todo.
02:52Então, em cada fase da vida, como nós vamos conversar,
02:56existem riscos associados a situações que nós experienciamos durante a vida
03:00que podem funcionar como gatilhos protetores
03:04ou para que a gente desencadeie condições que a gente vai identificar como um problema de saúde mental,
03:10como ansiedade, depressão e tantos outros.
03:12Existe alguma vulnerabilidade que está ligada à idade ou fase de vida
03:18que possa proporcionar o surgimento ou aparecimento de uma saúde mental?
03:23Existem fases mais vulneráveis, mas se a gente for olhar de maneira um pouco mais detalhada,
03:29em todo momento da vida, a gente tem exposições ou situações que podem nos predispor
03:36ao aparecimento dessas doenças mentais.
03:38Então, uma infância tranquila, com segurança, com a construção da autoestima, tem um efeito protetor.
03:46Uma criança que cresce em um ambiente violento e inseguro ou ambíguo,
03:51sem saber se o que ele recebe ali de afeto é uma coisa positiva ou negativa,
03:57vai fazer com que ela se sinta insegura.
03:59Mas, de modo especial, a gente vê que na adolescência, quando o cérebro está em plena transformação hormonal,
04:06em que as relações sociais estão começando a se intensificar e tem muitas pressões sociais,
04:12que a gente vê hoje, de bullying, de violência nas escolas, de comparação entre os adolescentes,
04:19ao invés de se criar em um ambiente mais amistoso e de colaboração, isso predispõe ao risco.
04:24Outra coisa que acontece nesta fase da adolescência, que é muito suscetível, é a exposição a álcool,
04:31a drogas, que muitas vezes ocorrem de maneira muito precoce.
04:35Se a gente for pensar na vida adulta, tudo isso se soma à responsabilidade.
04:39Às vezes, do cuidado dos pais idosos, às vezes do cuidado da família, a pressão pela conquista.
04:44E lá no fim da vida, a depressão também tem um pico grande,
04:48onde as pessoas vão ficando mais isoladas, com a sensação de perda da funcionalidade durante a vida,
04:54às vezes carregando doenças crônicas.
04:56Então, cada uma das fases tem um cuidado específico que a gente tem que lançar um olhar sobre.
05:01Agora, algo que me parece muito claro é que muitas vezes confunde-se a depressão
05:07com um certo sentimento de tristeza ou melancolia.
05:10E algumas pessoas ficam um pouco mais ansiosas e isso se traduz com um clima, talvez, de mais exaltação,
05:21alguém que está mais enriqueto, né?
05:23Para quem nos assiste, a tristeza é algo natural.
05:27Se a pessoa está triste, ela não necessariamente tem a depressão.
05:31Como é que você configura justamente um diagnóstico diferencial
05:35entre a pessoa que é depressiva e a pessoa que está ansiosa
05:39de quadros de reações que são normais dentro de um cotidiano?
05:44Uma coisa que a gente sofre hoje na sociedade atual
05:47é que determinadas reações ou sentimentos ou experiências que seriam naturais de se viver,
05:53elas tentam ser evitadas a todo custo.
05:55As pessoas não querem mais ter frustrações, falhas ou sentimentos de perda
06:00que fazem parte da vida.
06:02E isso é uma das coisas que se reforça bastante como prevenção para o desencadeamento de questões mentais.
06:09Quando uma criança ou um adolescente cresce com uma educação socioemocional adequada,
06:15ela vai saber que a frustração faz parte da vida.
06:18Por isso que, às vezes, nós vemos situações tão extremas e absurdas, às vezes, de a gente olhar,
06:24de uma criança ou um adolescente que teve uma frustração básica
06:27e que acaba tirando a própria vida, porque não consegue lidar com aquele tamanho que é a sensação da perda.
06:34Por quê? Porque hoje a sociedade é uma sociedade do sucesso,
06:38muito, em parte, impulsionada pelas redes sociais.
06:41Nas redes sociais, as pessoas não postam.
06:43Hoje eu tive um dia terrível, eu discuti com o meu chefe,
06:46o pneu do meu carro furou,
06:47e eu não tenho dinheiro para pagar a conta de amanhã.
06:51Ninguém posta isso, porque isso é real demais.
06:53Então, o que acontece é que as pessoas acabam confundindo questões normais da vida como se fosse uma doença.
07:02Te respondendo, a depressão, ela pode se manifestar com vários sintomas.
07:07A tristeza normalmente está presente, mas a irritabilidade é um sintoma bastante presente.
07:12A desmotivação, a perda da confiança e da autoestima,
07:17a presença da insônia, principalmente do meio da noite,
07:21e aquela insônia que desperta o indivíduo antes do horário de ele levantar,
07:24ele acorda uma hora antes.
07:26Isto é considerado um equivalente depressivo.
07:28Mas, quando você converse, vê o meio em que a gente convive,
07:33até antes da pandemia, existiria, eu posso dizer, uma certa refratariedade
07:39às pessoas quererem falar sobre depressão.
07:41As pessoas contam do diabetes, tomam hipoglicemiante, comentam da sua hipertensão,
07:48mas raramente comentam que estão tomando um antidepressivo.
07:51Você acha que ainda existe um tabu?
07:54Quais são os maiores entraves para lidar com a saúde mental nessa fase 2025?
08:00A questão mental, ela carrega um estigma com ela.
08:03Eu acho que a pandemia trouxe a possibilidade, realmente, de se falar muito mais sobre isso,
08:08porque ficou muito mais evidente.
08:10O efeito do isolamento em si, se não foi o efeito do vírus,
08:14porque a gente também tem aí algumas pessoas que tiveram quadros depressivos importantes
08:18após a infecção e um quadro astênico e de mudança do humor,
08:22que acompanha um quadro chamado Covid longa.
08:25Mas o principal efeito foi o isolamento.
08:29Então, coisas básicas como a pessoa acordar de manhã, descer até a portaria do seu prédio,
08:35dar bom dia para o porteiro e ir até a padaria, isso faz com que o seu cérebro esteja sendo estimulado
08:39ponto a ponto, segundo a segundo.
08:41A partir do momento que você fica sozinho, isolado, e mais do que isso, com medo de morrer,
08:46porque todo mundo tinha, você passa a ter sintomas e uma tendência maior depressiva.
08:51Eu acho que houve uma mudança e uma melhora nesse cenário, porque se passou a falar mais,
08:58mas boa parte dessas condições mentais, como a depressão e a ansiedade, elas têm picos durante a vida.
09:04Então, hoje, como coincidência, eu estava atendendo uma paciente que, depois da Covid,
09:09ela passou a ter sintomas ansiosos.
09:11importantes a ponto de se retirar da convivência das pessoas, de deixar de ir à igreja que ela gostava de deixar de fazer a caminhada,
09:20que o simples fato dela pisar na rua fazia com que ela se sentisse ameaçada.
09:24E hoje ela voltou muito bem, depois do primeiro mês do início do tratamento, com o antidepressivo,
09:30que é uma coisa, até uma resposta muito boa.
09:32E o que ela me contou, disse, eu não lhe disse na primeira consulta, mas eu já tive esses episódios outras vezes.
09:38Mas como eu melhorei sozinha, eu achei que isso fosse acontecer de novo.
09:42Então, tanto a depressão, quanto picos de ansiedade, eles têm fases de muitos sintomas,
09:48que depois, às vezes, recrudescem, diminuem e a pessoa volta a uma funcionalidade quase normal.
09:54E isso traz para a pessoa a sensação de que isso vai passar sozinha.
09:57Você é um neurologista bastante experiente e eu tenho o prazer, muitas vezes, de acompanhar pacientes seus.
10:03Eu perguntaria para você, nas doenças neurológicas, algumas ficam muito nítidas porque a pessoa percebe o seu limite.
10:12Por exemplo, doença de Parkinson.
10:14Outras, talvez, não seja tão óbvio que, quem sabe, as pessoas não conseguem identificar.
10:19Mal de Alzheimer.
10:20Como é que é a interface entre o paciente apresentar uma doença neurológica e uma propensão maior a ele ter depressão?
10:29Essa pergunta é muito importante.
10:33Doenças como as que você citou, como a doença de Parkinson, a doença de Alzheimer, elas são doenças do cérebro,
10:39todo mundo assume isso.
10:40Mas as pessoas têm dificuldade de entender que os distúrbios mentais, a depressão e a ansiedade, também são gerados no cérebro.
10:47Elas não são questões espirituais, como se acreditou em algum momento no passado.
10:52Então, essas são questões orgânicas do cérebro.
10:56Eu posso citar algumas condições bastante comuns com números.
11:00A enxaqueca é uma das doenças mais prevalentes que nós temos.
11:03No Brasil, ela afeta uma a cada seis pessoas.
11:06É uma condição bastante prevalente.
11:08A chance de um paciente com enxaqueca ter um transtorno ansioso que precisa de tratamento
11:14é três a quatro vezes maior do que alguém que não tem enxaqueca.
11:18Para a depressão, é três vezes maior.
11:21Na epilepsia, 40% dos pacientes vão cursar com sintomas depressivos.
11:26Então, existe uma interface, porque muitas vezes os neurotransmissores
11:30e as vias envolvidas na sinalização dessas doenças é a mesma.
11:34E o tratamento de uma condição melhora a outra.
11:38Então, isso é uma condição bastante comum.
11:40A gente ter a interface de depressão, ansiedade, enxaqueca, epilepsia, o próprio Parkinson.
11:47O Parkinson é conhecido por ser uma doença motora.
11:49Tremores, lentidão, rigidez, alteração do equilíbrio.
11:53Mas há algumas décadas a gente fala de sintomas não motores da doença de Parkinson.
11:57E um deles, além da perda do olfato, é a depressão.
12:01Ou seja, a depressão pode ser uma sinalização de que aquela pessoa vai ter doença de Parkinson.
12:07Nós sabemos, pela Organização Mundial de Saúde, que o Brasil tem 20 milhões de ansiosos.
12:14Uma alta taxa, talvez um dos países com o maior número de pacientes com ansiedade.
12:19Alguma política pública para poder melhorar isso, sem que seja a mudança da política do país como um todo?
12:25É. Como a gente citou no começo aqui da nossa conversa, o ambiente em que a gente vive, o cenário que a gente vive, contribui demais para isso.
12:36Se é um cenário tranquilo em que as relações se dão com confiança e você não está preocupado de sair de casa por conta da violência, ele contribui positivamente.
12:45Do contrário, ele contribui para que aumente o risco de ansiedade.
12:48Eu costumo explicar para os pacientes que, de um modo geral, o sintoma ansioso é como se a gente imaginasse a dificuldade que a gente tem com a falta de controle.
12:58Quando nós não temos controle sobre uma determinada situação, isso pode nos gerar expectativa e pode nos gerar medo.
13:05Mas em situações extremas, isso vai gerar sintomas físicos, como coração disparado, suor frio, uma sensação de cólica, ou dor de barriga,
13:15em que muitas vezes a pessoa acha que está tendo um ataque cardíaco e é um ataque de ansiedade.
13:21No Brasil, hoje, a gente tem um ambiente social muito complicado.
13:26A violência é muito grande.
13:27A quantidade de pessoas sem uma perspectiva de mudança do seu status de vida é muito grande.
13:34Isto é uma realidade.
13:36Então, a gente tem a quantidade, por exemplo, de jovens que são chamados nem-nem, nem estudam e nem trabalham.
13:42O que isso significa?
13:43Significa uma falta de perspectiva.
13:46Se você tem uma perspectiva de melhora na sua vida, você vai atrás daquilo.
13:49Mas se você acredita que o cenário não vai mudar, você diz assim, eu não vou me mexer para isso.
13:55E isso acaba refletindo nesses índices não só de ansiedade, mas de depressão, que também são altos.
14:03Mais de um bilhão de pessoas convivem com transtornos de saúde mental, segundo dados da Organização Mundial de Saúde.
14:11Ainda de acordo com a OMS, em 2022, o Brasil era o país com maior prevalência de pessoas com transtornos depressivos na América Latina.
14:19E em 2024, de acordo com a ONU, éramos o país com mais casos de ansiedade no mundo, com mais de 18 milhões.
14:28O Brasil, com sua dimensão, com espaço que nós temos para tratar e abranger geograficamente, mais de 200 bilhões de habitantes.
14:40Em termos de qualificação dos profissionais de saúde, existe um suporte para fazer frente a essa demanda e essa necessidade, no fundo,
14:50de poder até ajudar em casos de comorbidade, que o paciente tem uma doença e até temporariamente ele está deprimido?
14:58Olha, no papel existe uma política pública de cuidado mental, de cuidado da saúde, todo estruturado.
15:06Mas o fato é que não dá conta da demanda que nós temos, porque é um país realmente de dimensões continentais, né?
15:16E porque muitas vezes o acesso não é facilitado, de fato.
15:21Existe essa estruturação com centros com atendimento multiprofissional, com psicoterapia, com psiquiatria associado,
15:29com identificação de trabalhos que possam ajudar o paciente, terapia ocupacional.
15:34Mas, na maioria das vezes, isso não é acessível à população que tem a necessidade, na maneira como eles precisariam, né?
15:40E dentro do contexto da família, nós sabemos, quer dizer, o paciente está com você numa consulta,
15:47ou está com um psiquiatra, ou está medicado, mas o convívio se dá junto à família.
15:52E você mesmo falou que as relações interpessoais têm um papel muito importante.
15:57Eu diria até mais, quer dizer, a própria amizade genuína tem um papel importante.
16:01Como lidar no preparo da família para que ela ajude no suporte aos quadros da doença mental?
16:09Isto é um fato já verificado e confirmado, né?
16:14A solidão ou a pessoa sozinha, ela vai ter um desfecho pior de saúde.
16:18Então, existe um estudo bastante interessante de sobrevida após acidente vascular cerebral na Finlândia.
16:25A Finlândia tem um modelo de acesso à saúde que é universal e as pessoas vão todas para o mesmo hospital e recebem o mesmo protocolo de atendimento.
16:34Mas aqueles que moravam só, e não porque tinham uma incapacidade grave, os que moravam só e não tinham família,
16:41tem um desfecho muito diferente daqueles que têm um suporte familiar.
16:44A gente sabe que a presença da família no tratamento da questão mental aumenta o engajamento, aumenta o sucesso no tratamento,
16:52diminui o risco, por exemplo, em depressões graves de suicídio.
16:57Mas isto tudo precisa vir de uma base de educação, porque às vezes o preconceito está dentro deste núcleo familiar
17:06que deveria ajudar o que está sofrendo depressão e a depressão é tida como um evento menor ou uma fraqueza.
17:13Então, precisa haver uma educação de um modo geral para que as pessoas entendam que esta é uma condição tratável.
17:22Então, assim, pode haver a predisposição, pode haver o evento, mas isso é tratável e é possível se reverter.
17:28Falemos um pouquinho da genética.
17:30Genética depressão, genética ansiedade, de fato é tão preponderante ou, nesse caso, o meio ambiente e as relações são mais fortes para o desenvolvimento?
17:41É uma combinação.
17:43Então, se sabe que, dos estudos populacionais, o risco de depressão de uma criança ou um adolescente que tem pais deprimidos,
17:53ele vai de 30% a 40% maior do que quem não tem depressão na família.
17:57A ansiedade está em torno de 30%.
17:59Agora, veja que interessante, o mesmo se aplica para o abuso de substâncias.
18:03Tanto que, há alguns anos atrás, uma voz corrente dentro da psiquiatria dizia que o alcoolismo é um equivalente depressivo no homem,
18:12porque socialmente não era aceito o homem deprimir e era mais fácil e ele tinha acesso ao álcool.
18:18E a mulher, ela podia deprimir porque essa era uma doença de mulher.
18:22A gente sabe que não é assim.
18:23É mais prevalente na mulher?
18:26É, mas não é exclusivo e nem excludente.
18:31Então, a genética, ela cumpre um papel, mas existem gatilhos que podem ligar e desligar essa genética.
18:38O ambiente familiar é um deles.
18:40As experiências que nós temos de vida com a construção de uma autoestima adequada,
18:45o ambiente social em que a gente vive, tudo isso funciona como um facilitador,
18:51ou para a proteção ou para o risco.
18:52Você falava e viu à minha cabeça algo relacionado às redes sociais,
18:57que é uma quantidade de informação praticamente permanente e dentro de uma diversidade enorme.
19:06De fato, é um fator que pode ser um gatilho?
19:09É um fator que pode ser um gatilho por vários motivos.
19:13Um deles é porque ela acaba substituindo as relações pessoais.
19:18Então, existe uma avaliação recente de um estudioso americano, do comportamento,
19:28em que ele estava mostrando por que hoje as pessoas não seguiam mais pelas marcas,
19:33mas eles seguiam pelos influenciadores.
19:37E tem aqui uma coisa bastante interessante.
19:39As pessoas que passam muito tempo na rede social e deixam de ter relacionamentos pessoais,
19:44elas passam a se sentir íntimas do influenciador.
19:47Quando você cresceu com seus amigos e as pessoas com quem você convive mais,
19:52você sabe o que ele gosta, você sabe o que ele não gosta,
19:56você sabe como irritá-lo ou tirá-lo do sério, às vezes numa brincadeira,
20:00você tem as experiências que você viveu.
20:03Isso constitui e caracteriza conhecer e ter um amigo.
20:06As pessoas que não têm mais relacionamento hoje,
20:09seguem pessoas que acabam se super expondo nas redes sociais
20:14e se tornam o amigo que ele não tem.
20:17Então, tudo que aquela pessoa sugere, ele vai atrás e ele segue.
20:23Acontece que isso não é um relacionamento verdadeiro, né?
20:26Isso é um relacionamento hipotético, né?
20:29Imaginário.
20:29É um amigo imaginário, mas que está ali do outro lado da tela.
20:33Esse é um ponto.
20:34O segundo ponto é que existe um componente de diminuição e empobrecimento da linguagem.
20:40Isso já está sendo visto, então a linguagem está se empobrecendo
20:44desde o aumento e a expansão do uso das redes sociais, por exemplo.
20:48E ela é um componente bastante interessante.
20:51Existe um estudo publicado agora recentemente pela Northwestern University
20:56por um pesquisador de memória que se chama Marcel Mezzolan.
21:00Ele é um indivíduo que estuda doença de Alzheimer há muito tempo.
21:03E ele acompanhou indivíduos que estavam muito bem de memória até os 80 anos
21:08e que começaram a ter dificuldade de memória aos 80 anos.
21:12O que eles notaram no cérebro desses indivíduos quando eles morreram?
21:16E esse cérebro foi para estudo.
21:17Que esses indivíduos tinham uma característica de neurônios e de redes
21:22que facilitavam eles a serem pessoas de boa comunicação.
21:28Não era a área da memória que era especialmente privilegiada,
21:31mas eles eram indivíduos que tinham a estrutura da comunicação privilegiada.
21:37Ou seja, relacionamento interpessoal leva a gente mais para frente por mais tempo.
21:43É uma grande prevenção para a doença mental.
21:45Você sabe que você comentava, né?
21:47A interação é algo importante.
21:49Eu, como médico oftalmologista, vejo, e isso está publicado também,
21:54que existe uma associação entre você remover a catarata
21:58e a menor chance do paciente desenvolver o Alzheimer.
22:01Você teria alguma dica ou orientação
22:04para que as pessoas pudessem evitar os seus quadros depressivos?
22:08Primeiro, entender que isso é uma doença e pode ocorrer a qualquer momento.
22:12Então, não negar uma condição em que o indivíduo muda os seus hábitos,
22:17em que ele deixa de se relacionar com as pessoas,
22:19em que ele está o tempo inteiro irritado.
22:22Este não é um funcionamento normal, né?
22:24Ou que ele está o tempo inteiro triste.
22:26Quando isso está acontecendo, tem que haver um diagnóstico médico.
22:30Este é um ponto.
22:30Um outro ponto bastante interessante é que parece haver um sistema modulador
22:36dessa questão do humor que se beneficia, por exemplo, da atividade física,
22:41das relações pessoais.
22:44E este sistema modulador se chama sistema endocannabinoide.
22:48Isso é bastante interessante.
22:50Era isso que eu ia te perguntar.
22:51Você é um homem que tem dedicado muito da sua vida para o estudo do cannabis.
22:56Aliás, foi uma quebra de paradigma e aí a gente está falando de cannabis medicinal,
23:02que é um campo enorme que nós temos observado com uma série de aplicabilidades.
23:08Eu escuto muito sobre cannabis, eventualmente em epilepsia.
23:11Eu escuto sobre cannabis em relação à dor crônica.
23:14Eu escuto algo sobre cannabis, inclusive em relação à depressão.
23:17Como é que você pode nos falar a respeito da aplicabilidade do cannabis?
23:23E no Brasil, qual é o grande limitante ainda para que nós possamos ter cannabis e acesso,
23:29evidentemente, para quem precisa dentro da natureza medicinal?
23:32Nós tivemos aqui em São Paulo o Congresso Mundial de Dor de Cabeça,
23:35o International Head Day Congress.
23:37E eu tive a oportunidade de falar em dois momentos sobre cannabinoides e enxaqueca,
23:41que é o meu objeto de estudo.
23:43E a gente viu que nós estamos no Brasil num cenário muito privilegiado hoje
23:48para a pesquisa e para o entendimento do que a gente chama de cannabis medicinal ou cannabinoides.
23:53Nós estamos muito à frente de outros países,
23:56em que não existe uma regulação de fato, mas existe uma proibição na maioria dos países.
24:02Hoje nós temos algumas dificuldades, temos, sem dúvida nenhuma,
24:06porque é um cenário muito complexo, mexe com a paixão das pessoas
24:09e ciência não deve mexer com a paixão das pessoas.
24:12A ciência, ela deve se mostrar, e aí a gente vai ter conclusões
24:17de para o que serve e para o que não serve.
24:19Por mexer muito com as paixões, existem aquelas pessoas que atuam quase como militantes,
24:25achando que porque a gente tem um sistema endocannabinoide
24:28que está distribuído pelo corpo inteiro, qualquer coisa pode ser tratada,
24:31da dissecção da horta, a micose do dedo do pé.
24:35Isso não é um fato.
24:36Então, a nossa medicina hoje, que se pratica e que a gente valoriza,
24:41é a que produz evidências.
24:43Só que a produção de evidências toma tempo,
24:45coisa que as redes sociais e a velocidade das informações hoje,
24:49muitas vezes não toleram, né?
24:50Quando a gente lembra que se produziram vacinas em um ano,
24:54dentro de uma pandemia, é algo surreal para a gente imaginar.
24:57E leva tempo e custa dinheiro.
25:00O problema é que, por se tratar de um produto que vem de uma planta,
25:04é muito difícil você patentear isso.
25:06E a indústria farmacêutica, muitas vezes, quando vai desenvolver um produto
25:09que vai servir à humanidade, ela também está pensando na questão mercantil e na patente.
25:14Então, isso é um dificultador.
25:15Isso diminui a quantidade de recursos para a pesquisa.
25:19O que nós temos de evidência hoje?
25:20Para a epilepsia, refratário, difícil controle, já é uma realidade.
25:24O uso do canabinoide como um tratamento associado, não como tratamento único.
25:30Na doença mental, se tem estudado, existem vários estudos recentes,
25:34por exemplo, em quadros psicóticos com o uso de canabidiol por isolado.
25:38Isso é uma coisa que está caminhando.
25:40Existem evidências também no tratamento de alguns transtornos ansiosos.
25:44E existe muita evidência no transtorno do espectro autista,
25:48principalmente em Israel, em que as pesquisas estão bastante avançadas.
25:52Aqui no Brasil, no hospital em que nós trabalhamos,
25:55nós estamos desenvolvendo toda uma linha de pesquisa
25:58para tentar entender se há ou não
26:01e qual seria a função de usar canabinoides no tratamento da enxaqueca.
26:05Nós tivemos recentemente um trabalho experimental,
26:08que é um modelo experimental de enxaqueca em ratos,
26:10que usou canabinoides e mostrou que ele serve.
26:13E acabamos de concluir um estudo clínico
26:15que a gente deve publicar nas próximas semanas.
26:17Foi um estudo piloto,
26:18mas mostrou uma diminuição da incapacidade gerada pela dor.
26:24Esse parece ser um efeito mais do que a diminuição da frequência de dias de dor,
26:28mostrou uma diminuição da incapacidade de maneira significativa.
26:31E a gente vai continuar essas pesquisas aí,
26:34pelos próximos anos, eu espero.
26:36E você vai voltar em algum momento para falar ainda mais sobre isso.
26:40Alexandre, queria agradecer muito ao Alexandre Kaupp,
26:42é neurologista.
26:43E quem conhece o Alexandre, convive com ele,
26:47é um prazer poder conviver com ele profissionalmente,
26:49uma pessoa e um colega admirável.
26:51Muito obrigado por ter estado aqui conosco.
26:53Obrigado, foi um prazer.
26:54Checap fica por aqui.
26:56Hoje, nós tivemos o prazer de receber Alexandre Kaupp,
27:00ele que é médico neurologista,
27:02médico pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein.
27:07Nós ficamos, então, neste momento, nos despedindo.
27:12Voltaremos semana que vem.
27:14Se você tem algum tipo de questionamento,
27:17se você tem alguma sugestão,
27:18ou simplesmente quer escrever,
27:20confira aí,
27:21drclaudio.com.br
27:26No check-up de hoje, você viu
27:29quais os fatores que podem afetar a nossa saúde mental,
27:33como os hábitos alimentares e a higiene do sono
27:36ajudam no bem-estar mental,
27:38quais as prevenções e tratamentos para transtornos mentais.
27:42Em meia turbulência dos pensamentos,
27:44pode parecer que ninguém é capaz de entender a sua dor.
27:47Mas acredite,
27:49você é importante para muito mais pessoas do que imagina.
27:53Saiba que não é a fraqueza sentir o peso dos dias.
27:57A vida, às vezes, apresenta desafios
27:59que parecem maiores do que nossas forças.
28:02A tristeza que não passa,
28:04a angústia que aperta o peito,
28:06a sensação de vazio
28:07ou de estar desconectado de tudo e de todos.
28:11Tudo isso é real.
28:12Mas saiba que você não está sozinho.
28:15Busque ajuda médica
28:16ou converse com um amigo.
28:23CICAP Jovem Pan
28:24Condutor Cláudio Lothenberg
28:26A opinião dos nossos comentaristas
28:31não reflete necessariamente
28:33a opinião do Grupo Jovem Pan de Comunicação.
28:40Realização Jovem Pan
28:41Atenção Jovem Pan
28:43Obrigado.
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