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  • há 2 dias
GloboNews Especial: Girassóis – Espectro Autista

Programa de 22/09/2025

37 min

Janaína e Renata, diagnosticadas depois dos 40 anos, mostram como o autismo se manifesta no mercado de trabalho, nos estudos e nos relacionamentos.

Gênero: Jornalismo
Transcrição
00:00Transcrição e Legendas Pedro Ribeiro Carvalho
00:30Transcrição e Legendas Pedro Ribeiro Carvalho
01:00Transcrição e Legendas Pedro Ribeiro Carvalho
01:02Será somente a mão?
01:03Só a mão.
01:05Você está sabendo que você vai ficar famosa, não sabe?
01:09Está fazendo reality?
01:11Na verdade, é um documentário sobre autismo.
01:20Eu sou autista nível 1 de suporte.
01:23Aí ontem a gente deu entrevista.
01:27O meu médico foi entrevistado também.
01:32Eu tenho um grande amigo, ele é músico-terapêutico.
01:37E a música deu uma cabeça.
01:40Uma rabo, por favor.
01:42Obrigada, Denise.
01:44É muito importante para aquelas crianças que têm maior nível de suporte.
01:49Aí, no meu caso, é muito mais suporte de terapia mesmo.
01:59Como psicólogo, eu uso um antidepressivo bem fraquinho.
02:03Agora você vai ver o autismo na prática.
02:11O pessoal arranca o cutico.
02:13Então...
02:14Eu tenho 49 anos.
02:20Sou cirurgiã dentista.
02:23Além da graduação em odontologia, eu tenho uma graduação também em ciência da computação.
02:31Eu nasci em Salvador.
02:33Sou filha única.
02:34Eu descobri que eu era autista com 46 anos.
02:39A minha geração, que foi diagnosticada tarde, acima dos 45, quem tem autismo está sendo diagnosticado de uns anos para cá.
02:50E o tanto de luta que você tem até os 45 anos e que não é revelada, é exaustivo.
03:02A gente chega nessa idade cansado.
03:04O fone, para mim, ele não é como abafador, né?
03:24Abafador, abafo.
03:25Porque eu consigo escutar muitas conversas.
03:28Então, conversas juntas, fica meio balançada a minha cabeça, né?
03:34E é moto, é pessoas.
03:37Eu fico muito ansiosa e nervosa.
03:39Então, pela música, já relaxa.
03:46César, bem-vindo ao meu barraquinho.
03:50E agora me acharam.
04:01Aqui, pode vir.
04:06Só não repara a bagunça.
04:08Olha, tudo é pequenininho, porque cabem eu, né?
04:12Aqui é o meu quarto.
04:13Esse é o meu remédio.
04:14Pode ver?
04:14E em todo lugar tem um dele, para eu não esquecer de tomar, que eu esqueço.
04:20Eu vou pegar os ingredientes para fazer o bolo.
04:31Não é fácil para ninguém ser diferente.
04:34Aqui, eu sou muito criticada.
04:35Eu sou vista como louca, sem eu gritar.
04:38Eu, como autista, não é fácil.
04:41As forças se feijam, mas continua.
04:45Se essa aqui fechar, vai na outra.
04:49Vai para o lado esquerdo, direito.
04:51A vez vai se abrir uma janelinha e se abre uma porta.
04:55Então, é 200 ml de líquido.
05:03Hoje, eu vou botar leite.
05:06Até na manhã, a praga.
05:08Aí, eu me sinto a Renatinha praga.
05:11Alguém pode me ajudar?
05:21Obrigada.
05:22Então, eu vou lavar a minha louça.
05:30A favela deve estar chegando.
05:34Aqui é.
05:35Bebo.
05:37Oi, você está onde, mulher?
05:39Estou indo para o ponto de volta de táxi.
05:41Está bom.
05:42Estou chegando.
05:42Está bom.
05:43Beijo.
05:44Beijo.
05:44Tchau.
05:45Tchau.
05:45Eu era uma criança muito piativa.
05:52Eu não falava.
05:54Eu brigava, eu mordia.
05:57Mas eu...
05:58Eu era aquela criança, eu sabia fazer as coisas.
06:00Arrumar a cama.
06:02Gostava de mexer na cozinha.
06:04Eu juntava as pedrinhas.
06:06Eu ficava sozinha.
06:07Eu, meu mundinho.
06:09Então, eu pegava as pedrinhas, trilhava.
06:12Uma atrás da outra.
06:13Estou filhada.
06:14Tudo filhinha.
06:17Sempre tinha...
06:17É, é.
06:18Porque eu só passava se você conseguia ler.
06:22Uma criança nem mal falava.
06:25Porque eu comecei a falar os sete.
06:27Então, eu não conseguia ler.
06:28Cabeva algumas letras.
06:30Então, eu só passava se você ler.
06:32E também, muitas coisas...
06:33Eu não entrava na minha cabeça.
06:38Oxi.
06:39Fala disso...
06:40Você está me fumando, isso mesmo?
06:42Ah.
06:42Oi, boa tarde.
06:43Leveu um susto.
06:45Ih, não, abraço.
06:46Ai, não.
06:46Tudo bem?
06:50Êêêê, está pronto o bolo.
06:54Ixi.
06:55Que lindo, moreninho, amor.
07:00E cresceu, viu?
07:01O meu bolo não fica assim, não.
07:02Então, vamos embora comer esse bolo.
07:04Vamos lá para a biblioteca, Parker?
07:06Vamos.
07:06Eu tenho que ir lá pegar um livro.
07:10Tu botou canela no café?
07:11Tu já fez ele com canela?
07:12Sim.
07:13Faltou.
07:14Nem fiz a normal com açúcar.
07:16É, o que eu só não como açúcar.
07:17Tem um problema com açúcar.
07:18Café com canela.
07:19Tem um problema com açúcar.
07:20Senta aqui, ó.
07:21Senta aqui, ó.
07:21Senta aqui, ó.
07:22Senta aqui, ó.
07:22Senta aqui, ó.
07:23Vamos fazer o titim?
07:24Uma saúde?
07:25Saúde, amiga.
07:27Saúde, amiga.
07:28Você lembra que eu não conseguia fazer amigo com ninguém?
07:33Eu vivia lá no cantinho.
07:34Uma vez você parou, se apresentou.
07:39É a primeira série, não foi?
07:42Ou a segunda?
07:44Terceira série?
07:45Não, foi a segunda.
07:47Foi.
07:47Ó, é, cada fatia tu sabe que tem que pagar.
07:52Tu não vai cobrar para a amiga, né?
07:54Não, eu vou cobrar sim.
07:56Vai me dar o seu.
07:57Vamos reutilizar.
07:58Você sabe quanto custa?
08:00O quê?
08:01Um abraço.
08:02Ó, coisa linda.
08:04Deixa eu pagar, então.
08:07Que linda.
08:08Era uma turma bem famosa, porque era uma turma só de bagunceiros.
08:13E a Renata sempre lá, quietinha, no canto dela.
08:18E eu, sempre muito bagunceira, puxei a Renata para mim.
08:22A maior parte dos exercícios eram em dupla.
08:26E a Renata nunca tinha uma dupla.
08:29E eu tinha várias pessoas para fazer dupla.
08:32Eu falei, bora, Renata, vamos fazer?
08:34Fazer companhia.
08:36E aí eu vi que a grande dificuldade que eu tinha de aprendizado, eu tentava treinar as coisas com música, né?
08:45Eu comecei a fazer as coisas cantando com a Renata.
08:48E aí vi que ela pegou mais fácil.
08:51E falei para ela levar isso para o resto da vida dela, né?
08:54Quando você é diferente, ela é por cima, né?
08:58Porque as pessoas olham autista como os burrinhos.
09:03Parece que a gente são um burrinho.
09:05Alguém que me conhece fala...
09:08Renata, você é muito inteligente.
09:11Aonde?
09:12Aonde?
09:13Aonde?
09:13Então, eu aprendi que nada da vida...
09:19Tudo bem, é difícil, mas tudo tem como você fazer.
09:25Então, estão começando a aparecer vários estudos.
09:33Eu vou apresentar um aqui que saiu agora esse mês.
09:37A gente sabe que o autismo é uma condição com forte base genética.
09:42Existe uma grande taxa de concordância entre irmãos, mas também sofre influências ambientais.
09:48Então, é um transtorno de base genética que sofre influências ambientais.
09:52Que influências são essas?
09:54São múltiplas, que podem principalmente ocorrer durante o processo de gestação da criança.
09:59Existem várias causas que participam desse aumento do número de casos.
10:04Uma delas foi a mudança dos critérios de diagnóstico a partir de 2013, com a nova edição do DSM.
10:10Isso fez com que vários casos que antes não eram enquadrados como autismo passassem a ser.
10:15A maior conscientização com relação ao diagnóstico, o maior acesso à informação, sem dúvida, colaborou.
10:21A substituição de alguns diagnósticos.
10:23Antigamente, o indivíduo era diagnosticado só com deficiência intelectual, por exemplo.
10:27E hoje ele pode receber o diagnóstico de transtorno do espectro do autismo com deficiência intelectual.
10:33Mas cada vez mais está se tomando consciência que existe sim um aumento real.
10:38A gente está percebendo isso acontecer.
10:41Agora, o que está levando a esse aumento real, não se sabe.
10:45Pode ser que seja um fator epigenético, ou seja, alguma coisa que está atuando sobre a genética das populações
10:51ao longo das últimas gerações, inclusive.
10:57Bom dia.
11:00Bom dia.
11:02Vamos.
11:05Davi!
11:06Ah, o amiguinho te chamando, ó.
11:08Bom dia, bom dia.
11:10Oi, bonito.
11:12Nossa, os olhos dele.
11:14Bom dia, prazer.
11:16Tudo bem, graças a Deus.
11:18Pode entrar, mãe.
11:19Fica à vontade.
11:20Bom dia, Davi!
11:22Pode encostar ou não?
11:26Pode, pode encostar.
11:27Eu quero desenhar.
11:31Davi, Emanuel, Conceição, Deição.
11:34Isso.
11:35Você quer desenhar?
11:36É, ele agora quer desenhar.
11:37Troca de lugar com ele pra mim.
11:38Troca.
11:39Sim, claro.
11:40Senta aqui, Davi.
11:41Está tentando contornar o...
11:43Está ficando linda essa flor.
11:45Eu posso fazer uma?
11:46Posso?
11:48Hum, está ficando lindo.
11:50Está muito lindo, Davi.
11:53Caramba, eu adorei.
11:56Tira essas pt.
11:57A claridade incomoda ele, mãe?
11:59Um pouco.
12:00Ele fica bem com os olhos.
12:01Olha com o cantinho do olho, assim, ó.
12:04Antes ele fazia isso.
12:06Agora ele não faz mais, não.
12:07Até na pontinha do pé.
12:08Ele andava também na pontinha do pé.
12:09Mas hoje em dia, graças a Deus, ele não...
12:12Sempre que tiverem comportamentos que mudaram, diminuíram ou sumiram ao longo do tempo,
12:19você me fala, tá?
12:20Tá.
12:21É preto?
12:22Não, é marrom.
12:25Ele enfileira as coisas.
12:27Empilha também?
12:28Empilha também.
12:31Barulho é um problema, mãe?
12:32É.
12:34Sons normais de uma casa, liquidificador, aspirador de pó, incomoda?
12:38Incomoda.
12:39Ele faz os barulhinhos também com o dente, como se ele estivesse arranjando.
12:43E ele fica um pouco agitado.
12:44Quando tá em casa, fazendo alguma coisa, corrido fora de casa, distrai ele do que ele tá fazendo dentro de casa?
12:51Sim.
12:53Distrai que ele até corre pra poder ver.
12:55Tem animal de estimação lá na casa de vocês?
12:57Também tem um cachorro.
12:58Ele é muito bruto.
13:00Ele pega o cachorro...
13:02Vem.
13:03Ele pega o cachorro pro pescoço.
13:06Vem aqui, Davi.
13:07Ai, meu Deus.
13:08Só um minuto, doutora.
13:11Vem aqui.
13:13Morrendo de rio.
13:13Você tá tentando fugir de mim?
13:15Tá tentando.
13:17Você tá tentando fugir de mim?
13:20Vou ficar em pé, tá, doutora?
13:23Bate e empurra outras crianças, mãe.
13:25Sim.
13:26Davi, olha aqui pra tia.
13:29Não, olha lá.
13:30Ó, a doutora lá.
13:31Tá terminando já.
13:33Já estamos acabando a falda só um pouquinho, ó.
13:36Eu prometo.
13:37Você bota a cadeira aqui do lado da tia.
13:38Me ajuda aqui.
13:40Bota a sua cadeira aqui do meu lado.
13:41Pra você me ajudar.
13:47Obrigada.
13:49Ó, pega o lápis aqui.
13:51Ó a cabeça.
13:53Senta aqui, pra você trabalhar junto comigo.
13:55Senta aqui do meu lado.
13:57Mas senta aqui, hein.
13:58Você que vai ser o doutor hoje.
14:03Tarefas com várias etapas, mãe.
14:04Consegue concluir ou se perde no meio do caminho?
14:06Não, ele se perde na primeira.
14:07Na verdade, um exemplo.
14:09Ele começou a brincar aqui.
14:10Aí daqui a pouco ele já pega outra coisa.
14:12Ele larga aquilo que ele tá fazendo pra poder...
14:14Ele não consegue ficar em algo só.
14:17Pote, canela...
14:20Olha lá, dá pra ver a doutora.
14:23Olha só, tá terminando.
14:24Tchau, amigão.
14:26Adorei te conhecer.
14:27Bate aí.
14:30Aqui, ó.
14:33Tchau, doutora.
14:34Muito obrigada.
14:34Tchau, eu que agradeço, mãe.
14:37Não, você não pode levar.
14:38Obrigado pelo bolo.
14:39Hum, uma delícia.
14:40Que delícia.
14:41Tchau, doutora.
14:43Tchau, tchau.
14:43Obrigada.
14:46Eu faço tudo pelo SUS.
14:48Tudo pelo SUS.
14:48Eu tenho certeza que 99% do diagnóstico dele é fechado, né?
14:54E é muito difícil.
14:56Tem dias e dias.
14:57Tem dias que ele tá bem.
14:58Tem dias que ele não tá bem.
15:00Entendeu?
15:00E aí a gente depende do sistema.
15:02Depende das marcações.
15:04Mas, graças a Deus, chamaram ele.
15:07E eu tô nesse novo caminho, né?
15:10Que eu creio que tem solução.
15:13Vamos, filho na vovó.
15:15Vamos curtir a piscina.
15:18Vovó.
15:19Vovó.
15:20Minha vó.
15:21Minha vó.
15:22Ah, você não fica direito.
15:23Tá, desculpa.
15:24Me perdoa.
15:25Vou ficar direito.
15:27Tá?
15:29Vamos lá.
15:30Vem.
15:30Vamos lá pro carro.
15:32Tu e teu robozinho?
15:34O diagnóstico é sempre o primeiro passo.
15:54E, em cima do diagnóstico, a gente foi pras terapias.
15:57E já tinha percebido que existia a ciência ABBA,
16:00que é a análise aplicada do comportamento.
16:02E foi quando a gente resolveu buscar os direitos, entender.
16:06Eu me agrupei a grupos de WhatsApp de mães
16:08que estavam na luta com o plano de saúde.
16:11Busquei uma advogada, judicializamos.
16:13Eu acho que, com menos de seis meses,
16:16a gente já tinha a sentença do caso dele laudado.
16:19E começamos, de fato, o tratamento no início do ano passado.
16:23Tá fechado.
16:25Papai vai abrir pra você.
16:26Tá.
16:26Tá.
16:26E aí a gente vê uma estilingada do Otto de não ler,
16:49não escrever pra uma criança que começa a ler,
16:53começa a escrever, começa a querer saber o que tá escrito.
16:56Entende?
16:58Uma criança que se torna um pouco mais proativa em aprendizado.
17:03Entendeu?
17:03Ele totalmente...
17:05Ele era totalmente rígido.
17:06Eu acho que a primeira coisa que a gente percebeu
17:08foi que a rigidez dele diminuiu.
17:10Entendeu?
17:11Pelas técnicas, pelo dia a dia da terapia.
17:15E é magnífico a terapia porque eu costumo dizer
17:18que a criança é espelho do que a gente permite.
17:22Então a terapia te dá a possibilidade de enxergar
17:26onde o pai e a mãe estão acertando e onde precisa melhorar.
17:30Vavá!
17:31Oi, amor!
17:32Vem aqui.
17:33Peraí.
17:34Fala, meu amor.
17:35De novo esse negócio?
17:37Que negócio, minha mãe?
17:38Meu filho, eu não sei.
17:42Eu não entendo esse negócio aí.
17:44Vocês conhecem isso.
17:45Eu não conheço isso.
17:46Não, tem que ler, bó.
17:48Eu tô lendo, meu filho.
17:49Faça o login.
17:49Aperta no meio.
17:51Tua mãe tá subindo aí.
17:52Tua mãe conhece mais isso do que eu.
17:55Ela laçou de ver televisão.
17:59Ai, meu Deus, pelo amor.
18:02Conseguiu, amor?
18:03Tem que fazer o login.
18:04Eu não sei o login, filho.
18:06Não, mãe, não dá.
18:07Calma, confia em mim.
18:09Mãe, não confio em nada.
18:11Por quê?
18:12Porque é que não funciona, mãe.
18:14Eu não confio em você, mãe.
18:15Ó, não tá legal assim não, filho.
18:17Então eu vou desligar a televisão, não vai ver mais nada.
18:20Não vai desligar.
18:21Vem, mãe.
18:22Eu tô aqui pra ser sua parceira, te ajudar.
18:24Mas se você ficar reclamando o tempo todo...
18:26Calma, mãe.
18:27Mãe, não é, mãe.
18:28Calma, vamos ver.
18:30Vamos ver.
18:30Parece bem que é um filme, mãe.
18:33É, filho, eu achei o filme todo.
18:35Olha lá, 1h29.
18:36Vamos ver, vamos ver.
18:42Não te falei, o que eu falei?
18:43Confia na...
18:44Eu sempre te falo pra confiar em mim, cara.
18:51Ih, ele se mal...
18:51Ih, faixou a cabeça do cara, tu viu?
18:54Eu acho que a salvação, depois do diagnóstico, é o pai e a mãe se capacitar e principalmente
18:59conhecer o filho.
19:00Porque como é um espectro, cada criança vai apresentar comportamentos diferentes.
19:05Você conhecer a fundo e entender o que aquele comportamento tá te comunicando, é o que vai
19:11fazer você libertar o seu filho daquilo.
19:13Então, é necessário você estar se informando.
19:16Eu achei uma casa abandonada.
19:18Abre uma delas, vamos ficar na nossa casa.
19:21Mata a areia.
19:22Tem uma...
19:22Mata a dainha.
19:23Tch, tch, tch.
19:24A gente vai acordar com esse pedido.
19:25Vamo, vamo, volta do caú.
19:28Ótua, vamo lá na sala com a tia rapidinho?
19:30Você volta, vamo lá?
19:33Esqueceu?
19:33Vamo lá.
19:35Peraí, você quer abrir o armário?
19:37Sim.
19:38Porque aí você escolhe a sua e depois a gente faz a minha, tá bom?
19:43Tá bom.
19:44Tá.
19:45Ah, eu tava sonhando com isso.
19:47Ah, esse daí do pinguim, né?
19:49Como que é isso?
19:52Vamo ver.
19:54Nossa.
19:54A gente precisa ter calma e descobrir juntos aonde que é o encaixe, certo?
20:02Ah, acho que eu não...
20:04Será que é assim? O que você acha?
20:07Você acha que pode ser assim?
20:10Descobrir o autismo dele, pra mim, foi uma parte da caminhada.
20:14Ele é, como a gente já gosta de falar, ele é muitas coisas além de ser autista, entendeu?
20:19Não.
20:20Acho que é assim.
20:21Ótua é um artista, sacou?
20:24Ele gosta muito de uma câmera, gosta de microfone, gosta de tais regras, entende?
20:34Sou uma criança.
20:35Uma criança se diverte bastante, ri o dia inteiro, a gente ri o dia inteiro nessa casa.
20:41Caraca!
20:42O Atu, baixa aqui.
20:43Soquinho, olha pra mim.
20:45Isso, muito bom, rapaz.
20:47O Atu é uma criança feliz pra caramba e enérgica.
20:52Eu acho que é isso. Energia pura esse garoto.
20:55Ah, foi!
20:57Baixa agora na escada!
20:59Devagar, sem pressa.
21:02Não tô irritada, não.
21:03Então tá bom.
21:14Minha mamãe, fica com vontade.
21:16Boa tarde.
21:17Boa tarde, tudo bem?
21:18Tudo bem.
21:20Então, Thalita, o que é que trouxe vocês aqui pra esse rapaz?
21:23Então, ele não falava, ele demorou pra andar.
21:27Com que idade ele andou?
21:28Ele andou com quase os dois anos.
21:31Ele já consegue montar um quebra-cabeça simples de três peças, que as peças são maiores?
21:35Não, ele tem dificuldade de assimilar as posições.
21:39Mas pelo menos tenta?
21:41Ele tenta, porém não encaixa.
21:43Tá.
21:44Quando ele sobe a escada, você percebe se ele vai alternando os pezinhos?
21:49Ele sobe correndo, porque ele é bem agitado.
21:51Então assim, eu não...
21:53E é caixa.
21:53Vamos levar ele pra ali um pouquinho, pra gente brincar um pouquinho com ele, pra dar
21:58uma acordada nesse rapaz.
22:02Isso.
22:02O outro pezinho.
22:07Pronto.
22:07Vamos pular um pouquinho?
22:10Isso.
22:12Vem que pulão bonito.
22:16Se a tia soltar uma mão.
22:20E a outra?
22:21Será que você consegue sozinho?
22:23Ai, que lindo!
22:27Dá a mão, que isso aí tá.
22:29Vai, filho.
22:30Vai.
22:30Pra doutora.
22:32Que lindo, Davi.
22:34Se segura, se segura.
22:37Força na mãozinha.
22:38Faz aquele avião que você fez pra mamãe naquele dia lá em casa.
22:41Ele fez um avião.
22:42Fez um avião.
22:43Olha!
22:44Tentou fazer um coração.
22:46Caramba!
22:48Catezinho direitinho.
22:49Olha, ele tá dando a função certinho pro brinquedo.
22:51Tá encaixando certinho.
22:55Ele tenta pegar tudo na pontinha do dedo, né?
23:00E aí, isso.
23:01Tudo na pontinha do dedo.
23:03Aí vai, observa.
23:05Minha senhora, tem alguma dúvida?
23:08Alguma coisa que você queira perguntar sobre o desenvolvimento dele?
23:11Alguma coisa que você fique se questionando ainda, que a gente não tenha te respondido
23:16a um atendimento?
23:17Sim, é só em questão dos movimentos, porque, assim, quando, assim, ele tá, assim, andando
23:23dentro de casa e tudo, aí ele fica, assim, fazendo os movimentos, né?
23:28Tem as estereotipias.
23:29Aí bate palminha, aí gira, sabe?
23:33Uma coisa, assim, parece ser lúdica pra ele, né?
23:37No mundo dele, né?
23:39Sim.
23:40Bom, essas são as estereotipias, né?
23:41Eles têm esses movimentos repetitivos, às vezes, em alguns momentos.
23:45Elas podem ser, tanto, assim, faciais, como gestuais, até verbais, alguns.
23:51Mas, na maioria das vezes, estão ligadas a algumas emoções, assim.
23:55Ele tá muito eufórico, tá muito feliz.
23:57Então, ele faz esses movimentos.
23:59E, assim, isso tá bem dentro das características.
24:02É bem comum da gente ver dentro do desenvolvimento desses pequenininhos, né, rapaz?
24:09Mas não tem, assim, nada que, assim, não precisa repreender, corrigir.
24:17Filho, para, porque, assim, é uma coisa que eles não têm muito...
24:20Eles não têm essa noção de que eles estão fazendo isso.
24:22Ele tá num momento de euforia, por isso ele faz o movimento.
24:25Entendi.
24:26Então, distrai ele, muda o foco, que aí ele vai relaxar, mudar o foco.
24:33E vai fazer outras coisas, né, rapazinho?
24:36Obrigada.
24:37Ele tá te dando uma cinta, vale?
24:38Muito obrigada pra gente guardar, né?
24:41Muito bem.
24:42Posso ganhar um abraço?
24:45Ai, meu Deus, meu Deus.
24:48Isso é lindo, sabia?
24:49Ah, obrigada.
24:52Vamos dar uma esticadinha primeiro aqui na barra.
24:56Segurando essa daqui.
24:58Pode fazer agora, subindo e descendo.
25:00Não, esse degrauzinho aqui tá na maldade hoje.
25:03Um, três, dois, um.
25:07Agora aqui na gradiana.
25:08Deixa o quadril cair pro lado.
25:11Eu vou conseguir andar amanhã.
25:14E precisa?
25:16Precisa, mulher.
25:19Vai em cima.
25:20Três, dois...
25:22Se me deixar entrevada, eu já sabe, eu não venho na cesta.
25:26Que isso!
25:27Que agressão, que agressividade essa hora da manhã.
25:29Se não, é greve.
25:30É greve.
25:33Aquecendo o nosso posterior.
25:34Quatro, abre no máximo.
25:41Três.
25:44Bom dia.
25:45Você tá usando aqui?
25:46Bom dia.
25:47Tá, né?
25:48Eu vou mais me apoiar.
25:50Eu não vou usar essa parte agora, não.
25:51Vou pegar uma barra ali pra gente.
25:53Tchau, né?
26:00Simbora, Jônia.
26:01Agora nós vamos fazer...
26:03Olha o que ela traz.
26:04Nosso...
26:05Qual?
26:06Tiff.
26:07Começa com S e termina com Tiff.
26:11Um.
26:13Dois.
26:13Isso.
26:14Desce um pouquinho mais devagar.
26:16Doze.
26:17Aí, garota.
26:19Respira.
26:21Isso.
26:22Cotovelo aqui do ladinho.
26:27Dois.
26:31Tá bem?
26:31Tudo certo?
26:34As luzes não ajudam.
26:36Algo de errado não está certo.
26:39Tem como apagar?
26:40Tem.
26:42Já era pra eu estar apagada, né?
26:44Que eu tomei esse jogo de luz aqui.
26:45Não dá.
26:45Verdade.
26:48Eu já era pra eu estar apagada.
26:54Eu não sabia.
26:55Mas os autistas têm uma sensibilidade mais aguçada à luz.
27:00A sons.
27:01A sons.
27:07Às vezes eu tô ouvindo um som mais baixinho que a maioria das pessoas não tá ouvindo.
27:13Eu até brinco que é audição de cachorro.
27:16Porque é uma sensibilidade mais apurada a som.
27:20Inclusive, se tiver dois tipos de...
27:24Se eu tiver no ambiente, se tiver dois tipos de música tocando, aquilo me incomoda profundamente.
27:29Dez.
27:29Boa.
27:30Então, eu já sei porque você sentiu a tontura.
27:32Porque da última vez que a gente fez ali, você não sentiu.
27:34Foi as luzes.
27:36Mais uma, mais uma.
27:38Dez.
27:39Aí, garota.
27:40Bora, Jana.
27:46Agora serão dez.
27:47Que isso, senhora?
27:48Sua mãe faz com isso, cara.
27:49Não.
27:50Minha mãe é mais forte que eu.
27:52Já disse.
27:52Não quero competir com ninguém, né?
27:54Não quero competir.
27:54Me deixe.
27:55Me deixe.
27:56Deixa ela.
27:57E você.
27:57Eu aceito ser a segunda.
28:01Aí, ó.
28:02Tá falando, vambora.
28:03Vambora.
28:05Bora?
28:07Sua vez.
28:08Oh, não.
28:09É rapidinho.
28:10É rapidinho.
28:12Rapidinho.
28:13Não avalia.
28:14Três tempos.
28:16O que que tá acontecendo?
28:17Você vai fazer o seu treino.
28:19Enquanto a gente tá fazendo, a Jana vai fazer a bike ali.
28:2333, hein?
28:25Eu tô de olho.
28:26Sua senhora.
28:27Bora.
28:30Eu acho que tem uma parte da minha família que ainda nem dimensionou o que é o autismo.
28:36Tem uma outra parte da minha família que já convive com o diagnóstico de outras pessoas.
28:44Tem outros pacientes de autismo na minha família.
28:47Família por parte de pai.
28:48Boa tarde.
28:50Boa tarde.
28:53Estamos indo na minha terapia semanal.
28:57Faço com a minha psicóloga.
29:01Religiosamente.
29:02Pra quem tem déficit de atenção e autismo, e ainda com um componente de altas habilidades que a gente tem,
29:15uma baixa autoestima danada, é sempre importante a gente contar com o apoio terapêutico.
29:25Eu acho que é fundamental pra eu me disciplinar.
29:33Não agir por impulso.
29:35A gente é lido, muitas vezes, como invejoso, porque a gente copia comportamentos.
29:46Copia, inclusive, maneiras de fazer uma anotação, porque as nossas anotações são todas desorganizadas.
29:53Quando a gente copia alguém que é mais organizado que a gente, a gente é lido como invejoso.
29:58Isso aconteceu comigo com um colega de faculdade.
30:05Então, são rótulos que a sociedade coloca num autista, sem saber o tipo de dificuldade pela qual ele está passando.
30:15Nossa, mas nem parece que você é autista.
30:17E qual é a cara de um autista?
30:21Muito obrigada.
30:28Oi, Jana.
30:40Oi, cara.
30:41Vamos lá.
30:44Como é que foi essa semana?
30:46Melhor.
30:47Estou me restabelecendo resfriado.
30:51É?
30:52É.
30:52Hoje eu também estava doente, viu?
30:54Vou te contar que foi essa semana que meia a Brasília está doente, não é não?
31:01É...
31:02Vamos dar alguma...
31:03Eu vou te dar algumas situações aqui e a gente vai ver como é que você faria, tá bom?
31:09Preparado?
31:10Você está em uma situação cotidiana sua.
31:15E aí, uma pessoa vira pra você e fala assim...
31:20Nossa, Jana, mas você é muito Caxias, por que você não quer dar continuidade a...
31:25Sei lá, é isso aqui que a gente está fazendo.
31:27Já passei por isso.
31:28Já?
31:29Já.
31:29E como é que foi, Jana?
31:31Vou continuar sendo certinha.
31:32Vou continuar sendo certinha.
31:37Opinião e nariz, todo mundo tem um, Carol.
31:39Com certeza.
31:41Com certeza.
31:41Que nada.
31:42Mas agora, como é que você expressa isso?
31:45Opinião e nariz, todo mundo tem um.
31:47Para mais.
31:48Existe sempre essa maneira, né?
31:51De a gente conseguir, de falar assim...
31:53Gente, eu entendo.
31:55O que vocês estão falando, eu sou certinha.
31:57E eu não vou fazer isso.
31:59Acabou.
32:00Eu tenho muitas áreas de interesse, de estudo.
32:06Mas a farmacologia sempre foi um hiperfoco pra mim.
32:09É algo que sempre me prende a atenção.
32:13Eu não vejo a hora passar.
32:16Então, funciona assim.
32:19Quando eu era adolescente, teve uma época que era só...
32:24Eu me interessava muito por jogo de vôlei.
32:27Ficava assistindo aquilo por horas a fio, se deixasse.
32:31Mas muda muito no adulto, porque no adulto a gente sabe meio que graduar a proporção do assunto de interesse na nossa vida.
32:47Então, a gente não deixa que aquilo seja o centro das atenções o tempo inteiro.
32:52Eu estava conversando com uma amiga minha, de uma professora de literatura.
32:59Não sei se eu já contei essa história pra você.
33:02E a gente ficava estudando sobre aqueles movimentos literários.
33:08Aí eu chegava na prova e pontuava.
33:11Tal, tal, tal, tal, tal, tal.
33:13E colocava os exemplos ali na prova e entregava.
33:18Então, eu pegava a prova e ficava desapontada olhando pra mim.
33:21Aí vinha a nota 6.
33:23Toda vez eu me danava.
33:24Eu estudava, eu lia, relia, decorava o texto.
33:286, 6, 6, 6.
33:33Eu cheguei pra ela e falei, eu não estou entendendo no que eu posso melhorar, né?
33:38Eu me esforço.
33:42Ah, mas você tem que desenvolver mais.
33:45Mas, gente, eu só consigo ser objetiva.
33:48Eu não consigo lidar com coisa muito.
33:51Ah, você tem que desenvolver.
33:54Você tem que...
33:56Sabe?
33:58Não dá.
33:59Pra mim, não dá.
34:00O que eu poderia ter te ajudado, por exemplo, né?
34:02De você falar, chegar e falar assim, olha.
34:05Eu não sei.
34:06Pra mim, é muito contra-intuitivo desenvolver mais.
34:10Eu queria entender como que eu poderia desenvolver mais isso.
34:14Você consegue imaginar a Janaína de 15, 16 anos falando isso?
34:18Imagino não.
34:19Mas é bom que a Janaína atual já tem uma outra ideia dessa situação.
34:24Pra de 49 já é difícil.
34:26Imagina pra de 15, 16 anos falando um negócio desse com uma professora de literatura.
34:31É.
34:32Semana que vem vamos ver se eu passo alguma tarefa de casa pra você fazer.
34:36Pra você colocar em prática.
34:37Tá bom?
34:38Meu Deus do Cristo.
34:40Tchau, Carol.
34:41Até semana que vem.
34:45Tchau, tchau.
34:46Tchau.
34:46Tchau.
34:46Tchau.
34:46Tchau.
34:46Tchau.
34:46Tchau.
34:46Tchau.
34:46Tchau.
34:48Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:50Tchau.
34:51Tchau.
34:51Tchau.
34:51Tchau.
34:52Tchau.
34:53Gostei da consulta, o treinamento a respostas de conflitos sociais é importante.
35:11É pra colocar em prática quando eu for exposta a esse tipo de situação.
35:16Então, é, eu acho que vale muito a pena esse tipo de treinamento.
35:26Carol, eu pedi pra você não ser muito direta.
35:28Mas não tem jeito, eu sou sempre, é, eu sempre vou me guiar pela objetividade.
35:40É um problema sério isso na minha vida.
35:44Você é autêntica, né?
35:46Tem que ser.
35:47Tem que ser.
35:48Se a gente não for autêntica, como que a gente vai se defender perante o mundo?
35:58Essa já chegou lá?
35:59Essa já chegou lá?
36:00Só um aniversariante.
36:03Eu tô ansiosa, mas também tô com medo.
36:06Uma pessoa sem teia não tem aquela grande facilidade, tem a grande facilidade de fazer amigos.
36:13Eu acho até impressionante.
36:15Mas uma pessoa com teia tem aquele receio.
36:22É, tipo, eu não vejo muito a obrigação de conversar com as pessoas.
36:31Eu prefiro ficar no meu canto, no meu mundinho, lá, em vez de interagir.
36:45Eu prefiro ficar no meu canto.
37:15um mapa.
37:16Um 봤inho.
37:17Música
37:22Música
37:23Legenda Adriana Zanotto

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