O possível encontro entre Lula e Donald Trump coloca dois líderes com estratégias opostas em um jogo de alto risco. Enquanto Trump impõe tarifas que prejudicam a economia brasileira e a popularidade de ambos, Lula tenta conciliar a defesa da soberania com a crise de indústrias nacionais. Mariana Oreng, professora de Relações Internacionais da ESPM, e Kleber Carrilho, professor da Universidade de Helsinque, analisam os bastidores e os desafios políticos e econômicos que definem o futuro das relações entre Brasil e EUA.
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00:00Vamos olhar um pouquinho para frente, a gente já está entrando na parte final aqui do nosso JP Internacional de hoje.
00:06Houve a sinalização de Donald Trump para um encontro entre ele e o presidente Lula.
00:11O presidente Lula foi questionado sobre esse encontro pela imprensa que estava lá em Nova Iorque antes de retornar ao Brasil
00:18e ele não fez promessas sobre o que ele espera para esse encontro.
00:23Professora Mariana, a gente tem visto desde que o tarifaço começou lá em abril, quando vieram as primeiras tarifas, o Brasil na ocasião recebeu 10%,
00:32que o presidente Trump é uma figura imprevisível, principalmente em relação a esse tema.
00:40Mencionava durante a semana as negociações com a Índia, um país que deveria ser um parceiro americano,
00:45que os americanos não podem abrir mão nesse momento, por ser um país muito grande, com mais de um bilhão de habitantes,
00:51numa região ali próxima da fronteira com a China, melhor dizendo, e que receberam a princípio 25% de tarifas,
00:59foram atrás dos americanos para negociar, o primeiro-ministro Narendra Modi se colocou completamente à disposição
01:05e em recompensa ganhou mais 25% de tarifas porque compra petróleo da Rússia.
01:10Ou seja, não há um caminho muito bem definido atualmente para a forma como um chefe de Estado deve se portar diante de Donald Trump,
01:20pelo menos é isso o que aparenta ser o caso nesse momento.
01:25Você acha que é por aí? Não há um caminho bem definido?
01:30Olha, a gente tem falado muito na cartilha do presidente Lula.
01:33Então, se você olhar toda a experiência que o Lula teve nos seus últimos mandatos,
01:42ele sempre teve esse posicionamento de nunca, pelo menos mostrar para a população,
01:48que ele nunca olha para um líder de baixo para cima,
01:52que ele vai sempre tentar defender essa ideia de soberania.
01:55Só que agora a gente está com uma balança, que a gente precisa saber para qual lado a gente vai.
02:00Porque, de um lado, com a chegada das tarifas de 50%,
02:04o governo precisou criar um pacote relevante de auxílio para as empresas
02:11que tinham mais de 5% do seu faturamento afetado por essas exportações.
02:18A gente está falando de 30 bilhões de reais, mais 10 bilhões via BNDES,
02:23que o Senado já aprovou que isso já não vai fazer parte do teto de gastos.
02:28Então, essa é uma preocupação, ainda que secundária, é uma preocupação.
02:33Então, de um lado, o ministro Fernando Haddad também já comentando
02:37que mesmo com o pacote de auxílios,
02:41dificilmente a gente vai ter um número relevante dessas empresas
02:45sobrevivendo no médio prazo.
02:47Então, de um lado, você tem esse componente econômico que pesa para o governo.
02:54A gente está entrando em ano de eleição, em 2026.
02:58Mas, do outro lado, essa ideia de lutar pela soberania brasileira,
03:03ela aumenta a popularidade do presidente Lula
03:05e ele conseguiu esse espaço aqui ao longo dos últimos dois, três meses.
03:11Então, o que a gente espera para agora é, ao mesmo tempo,
03:14o governo entende que essa negociação, esse encontro,
03:18não pode virar uma casca de banana, digamos assim,
03:21não pode ser algo que vire um problema posterior.
03:25Então, vamos conversar, porque abrir essa via é importante,
03:29tentar pelo menos usar um pouco do que a gente conhece da boa e velha diplomacia.
03:34Mas, ao mesmo tempo, a gente precisa ponderar aqui,
03:38tem um jogo aí, se a gente olha mais para a eleição e para o ganho de popularidade,
03:42ou se a gente olha para questões internas do país,
03:47que deve, em breve, entrar em processo de desaceleração da atividade econômica
03:52por conta do alto endividamento das famílias.
03:54Então, a gente chega em um ano eleitoral nessa sinuca de bico, digamos assim.
03:59Então, se a gente olha o que deve acontecer aí para a negociação,
04:04o presidente Trump, ele continua tendo essa possibilidade de fazer retaliações
04:10mais no nível político, nos parece,
04:13mas no campo econômico parece relativamente limitado,
04:18o que se vê, pelo menos até o momento.
04:21Porque os dois têm a perder, né?
04:22Quer dizer, as tarifas, elas impactam o consumidor norte-americano,
04:26e isso impacta diretamente a popularidade do presidente Trump.
04:29Tem eleições nos Estados Unidos ano que vem,
04:31no meio de mandato, legislativas.
04:32Aqui no Brasil, a questão das indústrias,
04:35que também acabam sofrendo muito.
04:36A gente falava, você trouxe o dado, professora,
04:39quanto tempo para as tarifas terem impacto no mercado americano?
04:43É, acho que isso é importante aí a nossa audiência ter essa consciência, né?
04:47As tarifas chegaram agora.
04:49Sim.
04:49E vários estudos, tanto do Federal Reserve quanto do JP Morgan,
04:53mostram que o período mínimo aí para que as tarifas comecem a fazer efeito
04:57é de cinco meses.
04:57Se a gente for olhar aquela primeira, né?
05:00A primeira ideia do Donald Trump lá das máquinas de lavar de 2018,
05:04ela levou mais ou menos cinco a oito meses para ter efeito no bolso do consumidor
05:09e o repasse foi integral.
05:10Integral.
05:11Então, um para um.
05:12Se a gente for olhar,
05:13for um pouco mais para trás, no início do século, né?
05:16A ideia da guerra do aço do Bush também impactou muitas...
05:21Muita empresa quebrou, porque eram empresas pequenas.
05:23Muita empresa americana quebra e a ideia de salvar o país
05:26através de uma tentativa de reindustrialização
05:29vira um outro tiro no pé e bate na inflação.
05:35A pandemia é um outro exemplo.
05:37Claro.
05:37O repasse aí de custos completo da pandemia levou em torno de 12 a 18 meses.
05:43Então, a gente nem começou a ver isso acontecer.
05:47E aqui a gente está falando de tarifas que elas atingem o setor de alimentos, né?
05:51Principalmente que é um dos pontos que mais costuma atingir a popularidade de políticos, né?
05:56Eu queria perguntar para o professor, em dois minutinhos, professor,
05:59O seguinte, quando o presidente Lula fala que não tem...
06:03Ele evita falar de expectativas para o encontro,
06:07é uma estratégia, claramente, né?
06:09Para não entregar nenhuma ideia que, de repente, ele não vai poder cumprir
06:13depois dessa reunião com o Trump, não é isso?
06:16Então, é interessante ver...
06:19E a professora Mariana tem trazido essa percepção de todos têm a perder e têm mesmo, né?
06:25Primeiro, vamos pensar que o presidente Lula está preocupado com uma possível perda de popularidade,
06:32dessa popularidade que ele acaba de retomar com a aparente contenda com Donald Trump.
06:41Então, essa briga não pode acabar assim, olha, agora somos amigos e tudo mais.
06:46E também Trump não pode comunicar algo do tipo, olha, o comunista lá do Sul agora é meu amigo.
06:52Não, essas...
06:54Até porque demonstraria uma fragilidade naquilo que os Estados Unidos consideram ser o ambiente de controle,
07:02ser o, entre aspas, quintal, né?
07:04Então, é provável que essa reunião reafirme alguns pontos de divergência,
07:12e por isso não acredito numa reunião pacífica, não, não vale a pena para nenhum dos dois,
07:17mas, embora haja movimentos, e aí são movimentos que estão além do discurso, né?
07:24Que estão na ação política, movimentos de diminuição de tarifas para alguns setores,
07:30tem lá uma notícia nos últimos momentos aí de que houve uma conversa específica
07:37do maior acionista da JBS com o próprio presidente Donald Trump,
07:43e que isso tem se mostrado uma...
07:47Acabou resultando nessa aproximação, nessa possibilidade de conversa com o presidente Lua.
07:54Mas, em termos, novamente, discursivos, performáticos,
07:58é essencial que essa briga aconteça,
08:00porque Donald Trump, e aí também os dados sobre economia podem ser muito ruins
08:07nas midterm elections no ano que vem, para Donald Trump,
08:12então ele precisa de um discurso de defesa do interesse americano ainda,
08:17na eleição do ano que vem, dois anos depois da própria eleição para presidente.
08:21E também o presidente Lula precisa desta confirmação, dessa briga,
08:27justamente porque ainda não conseguiu trazer uma marca para o seu governo.
08:32Então, esses são os componentes aí em disputa,
08:35e são basicamente disputas simbólicas mais do que disputas de uma racionalidade política.
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