No Papo Antagonista desta terça-feira, 23, Aod Cunha, doutor em economia e ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, comentou a reação do mercado aos discursos de Lula e Donald Trump na Assembleia-Geral da ONU.
Ele também analisou os impactos do tarifaço dos EUA sobre produtos brasileiros.
Assista:
Papo Antagonista é o programa que explica e debate os principais acontecimentos do dia com análises críticas e aprofundadas sobre a política brasileira e seus bastidores.
Apresentado por Felipe Moura Brasil, o programa traz contexto e opinião sobre os temas mais quentes da atualidade. Com foco em jornalismo, eleições e debate, é um espaço essencial para quem busca informação de qualidade.
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00:00Muito bem, depois a gente vai comentar os aspectos políticos e vai mostrar também uma versão zoeira dessa fala do Donald Trump,
00:07que a gente já divulgou até no X, mas antes vamos fazer uma abordagem econômica aqui com o nosso colaborador em matéria de economia,
00:14Aode Cunha, sempre uma honra recebê-lo no Papo Antagonista.
00:18Aode, temos uma nova ordem global, quais implicações de curto e longo prazo de tarifas maiores e restrições à imigração?
00:26Quais são elas? Por favor, nos esclareça.
00:28Felipe, eu acho que sim, o mundo nas últimas décadas, e foi um mundo que cresceu muito, a economia global cresceu acima de 3% todos os anos,
00:39países emergentes crescendo acima de 5%, 7%, grande parte desse crescimento econômico que beneficiou muito os Estados Unidos foi baseado em abertura econômica,
00:47redução de tarifas de importação, globalização, cadeias produtivas que se espalharam, tiveram bases produtivas na Ásia,
00:55barateando custos para a produção de grandes cadeias ocidentais, esse foi a tônica do crescimento global nas últimas décadas.
01:03O que o Trump faz é mudar essa lógica e querer, a partir dos Estados Unidos, que é um grande player global, aumentar tarifas para todo mundo.
01:12Do ponto de vista macroeconômico, eu acho que é um erro para o próprio Estados Unidos, porque os Estados Unidos cresceram muito baseado em custos mais baixos de importação e de insumos para a sua própria indústria,
01:23e na atração de muita gente, gente qualificada, de alto nível, mão de obra barata também, os Estados Unidos se beneficiou muito.
01:30Então, eu acho que é algo que vai ao contrário do que foi a tendência de crescimento global, de liberalização do comércio, e que beneficiou os próprios Estados Unidos.
01:40Agora, quando a gente olha especificamente para cada país, a gente olha para o Brasil, por exemplo, o Brasil exportou 40 bilhões de dólares para os Estados Unidos, em 2024.
01:50Isso é mais ou menos 12% do total das exportações brasileiras.
01:54Se a gente vai olhar, mesmo com essa tarifa alta, em termos de impacto sobre o PIB no Brasil, ele é relativamente reduzido.
02:01As estimativas são de 0,1% a 0,2% de taxa de crescimento econômico no ano.
02:05Mas a mensagem não é boa. A mensagem de um mundo que tarifa mais, que é mais protecionista, que ele é menos aberto ao comércio mundial,
02:13é a mensagem de um mundo com menos impulso à produtividade, à geração de mais riqueza de uma maneira global.
02:20Duda, quer perguntar?
02:21Quero. Aode, uma brincadeira que tem muita gente fazendo aí nas redes sociais é que os jornalistas, os editorialistas, os comentaristas políticos vão ter muita dificuldade em interpretar esse afago que o Trump fez ao Lula lá na ONU.
02:40Quem assistiu aqui o Made in Brasília, eu estava aqui com o Felipe, viu que a gente matou a charada na hora, mas essa é uma brincadeira que está rolando nas redes sociais.
02:50Agora, Aode, os investidores aqui no Brasil, o pessoal que coloca dinheiro em bolsa, você acha que eles estão em parafuso também, tentando interpretar esse gesto do Trump?
03:04O pessoal que estava, por exemplo, apostando mais numa mudança de governo de 2006 para 2007, já está mudando de opinião?
03:14Tudo, assim, são a parte de o que o Trump quer fazer e essa repercussão política, assim, são bem difíceis de responder.
03:28Mas eu diria que o que a gente observou no mercado é que essa sinalização, aparente ou não, verdadeira ou não, de um certo afago, assim, hoje na declaração do Trump, deu uma certa calma no mercado.
03:45O mercado, né? Bolsa subiu, o dólar aprofundou queda, o real se valorizou, uma tendência que já estava vindo há mais tempo.
03:52Eu não acho, de novo, como eu comentei na minha primeira resposta aqui, eu não acho que esse tema de tarifas seja tão relevante do ponto de vista de crescimento econômico do Brasil.
04:02Hoje o que está contando mais é a diferença de taxa de juros, né?
04:06Os Estados Unidos começou a reduzir taxa de juros e o Brasil tem 15% de taxa de juros.
04:10Isso está tendo muito mais impacto em valorização do real, porque nós estamos com uma diferença de juros brutal, 15 contra 4.
04:17Então, para o fluxo de entrada de dólares, para o investidor, é muito atrativo trazer o dinheiro para o Brasil e ter um retorno garantido em 15% com esse diferencial de juros.
04:26Isso tem pressionado muito o dólar e nesse cenário de um pouco mais de normalidade, né?
04:31A gente não vê sanções adicionais, essas sanções não indo para o mercado financeiro, o mercado está gostando.
04:37Isso é um capítulo, eu diria, do ponto de vista econômico, agora de curto prazo.
04:41O que vai acontecer mais para frente?
04:43Aí eu acho que, à medida que nós vamos caminhando para o final do ano, início do próximo ano,
04:47aí o cenário eleitoral, ele vai ter uma, aqui no Brasil, vai ter uma importância maior, né?
04:53O mercado, os atores vão começar, os agentes vão começar a ver qual é a probabilidade de ter um candidato ou propostas mais de mercado,
05:02qual é que vai ser a posição do Lula, se o Lula estiver bem posicionado nas eleições,
05:07o que ele vai começar a falar sobre o tema fiscal, né?
05:10Se o governo vai continuar a expansão de gastos, mas vai sinalizar com algum pouco mais de compromisso fiscal,
05:16aí eu acho que os temas domésticos aqui no Brasil vão ser mais relevantes para as expectativas do mercado.
05:22Por hora, com esse cenário de maior normalidade, real se valorizando,
05:26a um certo otimismo, compensando um pessimismo que vinha antes, no início do ano, talvez com o Brasil.
05:35Tende a se valorizar, Aoudis, você tem uma previsão aí dessa relação do real com o dólar para os próximos meses?
05:41Isso é algo que vai durar?
05:44Felipe, é sempre uma brincadeira comum no mercado, entre os economistas,
05:48que a última coisa que se faz, um economista, é prever a cotação do dólar muito para frente, né?
05:54Mas o que a gente pode afirmar é que este diferencial de juros mantido agora,
06:01ele ajuda a manter esse real mais valorizado, né?
06:05Se a gente for dar uma olhada para as previsões médias do mercado para o final desse ano,
06:09estão aí na casa de R$ 13,60, R$ 13,70, um pouco mais alto que agora,
06:14mas tudo depende desse comportamento de taxa de juros.
06:17Como a taxa de juros no Brasil tende a ficar neste patamar alto, pelo menos até o final do ano,
06:23e o Banco Central americano tende a reduzir mais,
06:27tudo indica que o dólar vai ficar mais ou menos nesse patamar,
06:30se é que o real não se valoriza um pouco mais.
06:33Mas fazer previsão de câmbio depende de uma série de fatores e pode mudar sempre a qualquer momento.
06:38Duda, para encerrar?
06:40Aude, quando se anunciou o tarifácio, se falava ali que o Brasil poderia perder 600 mil empregos,
06:49700 mil empregos, principalmente nessa indústria que era voltada para exportar produtos para os Estados Unidos.
06:56Com essa nova conjuntura, então esses investidores trazendo dinheiro para o Brasil em busca de juros altos,
07:06o dólar caindo, você acha que, de repente, essas previsões catastróficas não vão se confirmar?
07:13Duda, temos que ir por partes.
07:15De novo, qual é a ordem de grandeza desses números?
07:18Como eu falei, 40 bilhões de dólares que o Brasil exporta para os Estados Unidos.
07:22Isso é 12% do total das exportações, próximo de 350 bilhões de dólares, que o Brasil fez em 24.
07:28Se a gente transforma isso em relação ao PIB do Brasil, que foi de pouco mais de 2 trilhões,
07:33a gente está falando que as exportações americanas representam alguma coisa como 1,8% do PIB do Brasil.
07:40E o fato de as tarifas terem aumentado não significa que nós vamos parar de exportar para os Estados Unidos.
07:45Algumas indústrias que não tiveram exceções vão ser muito afetadas.
07:49Mas elas também são direcionadas para outros lugares.
07:52Então, eu acho que a previsão de desemprego nessa escala é exagerada.
07:59E a taxa de desemprego no Brasil está muito baixa.
08:01Então, é ruim a tarifa alta, mas ela tem um impacto que não é tão grande como eu acho que inicialmente se deu para este tarifácio americano.
08:09Ótimo.
08:09Muito bem, ficamos um pouco pendurados no intervalo, mas agradeço imensamente a participação do Aude Cunha.
08:15E aqui no intervalo da TV você já sabe o que fazer, like, enquete e comentário no chat.
08:19E aqui no intervalo da TV você já sabe o que faz.
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