A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia (UE), vai propor formalmente a suspensão de alguns de seus laços comerciais com Israel, afirmou uma porta-voz da comissão nesta terça-feira, 16. As principais autoridades de Bruxelas planejam apresentar um pacote de medidas nesta quarta-feira (17) para suspender parte dos termos do atual acordo comercial entre a UE e Israel. Felipe Machado e Renan de Souza analisaram o cenário.
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00:00E Israel começou a operação militar para ocupar a cidade de Gaza, um movimento que levou o chefe de direitos humanos da ONU a dizer que existem evidências crescentes de genocídio em Gaza e ainda com a reação da União Europeia, de que planeja propor suspensão de parte de laços comerciais com Israel.
00:19E o meu colega Renan de Souza, direto de Abu Dhabi, é quem traz uma análise para a gente desta situação. Oi Renan, muito boa noite para você, boa tarde aqui para a gente, sempre bom tê-lo aqui, bater esse papo com você.
00:33A gente quer saber o seu olhar sobre essa questão de Gaza, porque é o seguinte, quando Israel se declara independente, Estado de Israel, os palestinos são obrigados a sair ali daquela região e ficam, eu vou usar essa expressão, sufocados ali em Gaza.
00:54Ocupam também um pouco da Cisjordânia ali, já tem uns 3 milhões de palestinos na Cisjordânia, mas Gaza ali é a parte mais sensível onde ficam os palestinos.
01:03E até então, neste momento, era governado pelo Hamas, que é considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos e outros países, membros também da ONU, e que tem um braço político.
01:15E agora Israel está fazendo essa incursão, porque quer tomar também essa faixa. É uma situação bem delicada ali, né Renan?
01:23Eric, muito boa tarde para você e para todos que nos acompanham aqui no Fast Money.
01:28É uma situação extremamente delicada, isso porque Israel afirmou que começou essa incursão por terra, que vai ser por fases e também de maneira gradual, para tentar eliminar soldados do Hamas, né, que controlam a faixa de Gaza, como você bem diz, que estão na cidade de Gaza, que é a maior cidade deste enclave.
01:51Por isso, Israel havia emitido alertas anteriormente, para que a população saísse.
01:57Segundo as Nações Unidas, pelo menos um milhão de pessoas estão ali em uma situação extremamente delicada, ou enfrentam uma situação humanitária catastrófica, né, já que as pessoas não têm para onde ir.
02:09Elas estão se aglomerando em tendas, em barracas improvisadas, muito próximo ali do mar, inclusive, porque elas não têm onde ficar devido à destruição tamanha da faixa de Gaza.
02:20Segundo Israel, 320 mil pessoas ainda permaneciam na cidade de Gaza até segunda-feira e aí, de segunda para terça-feira, Israel começou uma série de ataques aéreos que atingiram prédios mais altos que ainda resistem ali na região, para depois começar essa incursão por terra.
02:43A gente precisa lembrar que, em agosto, Israel aprovou o plano de ocupação e tomada da cidade de Gaza, que é a mais importante, convocou 60 mil reservistas e, nesta terça-feira, confirmou oficialmente que está iniciando essa fase mais densa, mais delicada,
03:03em que os soldados vão em terra, vão ocupar a cidade de Gaza. E tudo isso culminou no dia em que um painel independente, contratado pelas Nações Unidas, confirmou que Israel está cometendo genocídio em Gaza.
03:17Esse relatório tem 72 páginas e elenca ali que Israel cometeu pelo menos quatro dos cinco atos considerados genocídios, segundo a Convenção de Genocídio de 1948.
03:31Há uma série de fatores que os especialistas consideraram como um dano causado tanto fisicamente, tanto mentalmente, à população das pessoas que vivem em Gaza.
03:43Há questão que Israel atacou uma clínica de fertilização que impede a reprodução da população. Há uma série de indícios.
03:51Israel disse que esses fatos são distorcidos, são falsos e rejeitou completamente as alegações das Nações Unidas.
04:00Mas o que acontece é que a comunidade internacional já está se movimentando.
04:05A gente comentava aqui no Fast Money ontem que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, já se mostra preocupado com a economia do país,
04:13que deve sofrer porque a comunidade internacional deve começar a aplicar ainda mais sanções contra Israel.
04:19E aí há uma perspectiva, nessa quarta-feira, de que a União Europeia anuncie a suspensão parcial ou de detalhes do acordo comercial
04:30que tem com Israel. E aí, se a gente levar em consideração que França, Reino Unido, Holanda, Espanha,
04:37também já suspenderam a importação de armamento para Israel.
04:41Então, a economia do país deve sofrer e ficar cada vez mais isolada devido a essa questão da guerra em Gaza, Eric.
04:50Machado já está aqui conosco também, nosso analista. Vou dar uma boa tarde aqui para ele, Felipe. Tudo bem com você?
04:55Tudo bem, Eric. Boa tarde, boa tarde, Renan. E boa tarde a todos.
04:57A gente vê uma situação, eu morei em Israel durante um bom tempo e conversando com pessoas de lá,
05:05muita gente já fala também de que o governo de Benjamin Netanyahu já está cometendo um exagero,
05:12que a partir daí já são contra essas ações de Benjamin Netanyahu, que não está com a imagem muito boa lá em Israel
05:18e já não é de hoje, né? Que ele não tem aí o apoio de toda a população.
05:24E aí, você tem essa situação grave, desse avanço, e aí quando você perde um apoio lá dentro
05:30e a população fica uma parte, pelo menos, contra você, fica difícil você colocar um projeto em prática.
05:37E um projeto até de retomada e desenvolvimento ali de Israel, porque muitas cidades foram atingidas com aquela guerra
05:44e você precisa voltar à vida normal. E tem gente lá em Israel que ainda não voltou à vida normal,
05:49algumas cidades ainda que têm destruições.
05:52E aí, a grande questão é essa, que a população fala assim, que Benjamin Netanyahu agora tem que olhar para dentro,
05:58pela parte interna de Israel, da reconstrução, da vida, da rotina voltar ao normal,
06:02e deixar ali um pouco o Gaza, né?
06:05Essa é a grande questão, né, o Felipe Machado também.
06:08Com certeza, Eric, você falou bem assim, eu acho que a questão, Israel está numa situação difícil,
06:13porque o Benjamin Netanyahu, ele depende de uma coalizão no seu governo,
06:18que é uma coalizão de extrema direita.
06:20Então, ao mesmo tempo que ele precisa dessa coalizão, ele não consegue retroceder nesse avanço em Gaza.
06:25E eu acho que mais importante, talvez, até que Gaza, quer dizer, Gaza é uma situação humanitária terrível, né?
06:31É uma tragédia.
06:32Você vê, como o Renan lembrou bem, essa comissão da ONU, que considerou genocídio, né?
06:38Quatro dos cinco pontos que levam ao genocídio, quatro pontos foram considerados genocídio nesse caso de Israel.
06:44Mas mais ainda do que Gaza, que já é terrível, eu acho que é muito preocupante a situação na Cisjordânia também.
06:49Porque os assentamentos judaicos, eles vão crescendo numa velocidade muito grande,
06:54porque justamente Benjamin Netanyahu tem que agradar o lado mais radical do Likud, do seu partido.
07:01E com isso, o que acontece?
07:03Ele criou assentamentos que dividiram a Cisjordânia em dois.
07:06E ali, a gente sabe que a tentativa, a teoria que todo mundo gostaria de ver,
07:12todo mundo não, mas uma parte da humanidade gostaria de ver dois estados juntos, palestinos e israelenses,
07:18começa a ficar cada vez mais difícil, porque agora você já tem a Cisjordânia, inclusive,
07:22dividida por meio de um assentamento novo, que vai ser ocupado por colonos judeus e radicais.
07:29Já existem os kibbutos ali, eles estão fazendo assentamentos.
07:31Já existem os kibbutos, mas agora um assentamento, parece que um assentamento novo,
07:35ele corta ao meio a Cisjordânia e impede que você tenha uma área, um território homogêneo,
07:42onde poderia ser, eventualmente, um Estado palestino.
07:44Então, eu acho que a situação em Gaza, do ponto de vista humanitário, é terrível,
07:49mas a situação na Cisjordânia, do ponto de vista político, e até do território,
07:53e, eventualmente, da criação de um Estado palestino, ela é até mais assustadora,
07:56porque Benjamin Netanyahu, inclusive, ele afirmou essa semana que não existirá um Estado palestino.
08:04Ele fez essa afirmação.
08:05Então, é uma afirmação muito séria, a gente vai ter agora encontros da ONU,
08:10onde vários países vão reconhecer o Estado palestino.
08:14Tem um certo boicote dos Estados Unidos.
08:18Inclusive, o presidente da autoridade palestina, Mahmoud Abbas,
08:22não foi dado visto para ele comparecer.
08:25Então, tem toda uma tendência a que Israel e Estados Unidos se unam
08:31contra a criação de um Estado palestino,
08:33e isso vai, eventualmente, contra o desejo de uma parte muito grande das nações.
08:38A gente vai ver desdobramentos, porque também é necessário entender
08:41para onde vão esses palestinos.
08:43Na Cisjordânia, onde você está falando, a West Bank,
08:46lá vivem hoje 3 milhões de palestinos.
08:48Você tem ali um governo próprio, mas você tem as forças de defesa de Israel,
08:54monitoram.
08:55Eles ficam fazendo ali um policiamento na Cisjordânia
08:57e vai acabar dividindo aí.
08:59E pode virar, analistas dizem que a Cisjordânia pode virar uma nova Gaza.
09:03Então, a gente vai precisar ver esses desdobramentos.
09:05Antes de passar a palavra, talvez...
09:06Vou me despedir do Renan aqui e a gente fica falando mais um pouquinho.
09:10Renan, um abraço, viu? Obrigado por enquanto.
09:13E aí, você complementa.
09:15Eu ia complementar apenas que, assim, até uma ironia da história,
09:18que a Assembleia Geral da ONU, que legitimou o Estado de Israel,
09:22foi aberta por um brasileiro, Oswaldo Aranha.
09:24E agora, os brasileiros estão com dificuldade de conseguir um visto.
09:27O Itamaraty tem reclamado publicamente que o governo americano
09:29está dificultando a emissão de vistos para o corpo diplomático brasileiro
09:34para participar da Assembleia Geral da ONU.
09:35Então, é uma ironia histórica, terrível,
09:38mas é uma ironia histórica que diz muito sobre o momento atual que a gente está vivendo.
09:41É, e a Europa que está querendo fazer sanções contra Israel,
09:45nessa reunião da ONU, vai ser liderado pela França
09:49essa questão do reconhecimento do Estado palestino.
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