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Em entrevista ao Direto ao Ponto, o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Luiz Sarrubbo, detalha o poder de articulação e o alcance financeiro do PCC no Brasil. Ele comenta os resultados da recente megaoperação contra a facção e alerta sobre a infiltração do crime organizado em diversos setores da sociedade.

Assista na íntegra: https://youtube.com/live/6lsFYWct8t8

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Transcrição
00:00E secretário, eu já quero começar te perguntando se a gente levar em consideração que o crime organizado no Brasil é um iceberg profundo
00:07após as operações da última semana, que parte desse obstáculo que foi atingida?
00:12Bem-vindo, boa noite.
00:13Boa noite. Olha, acho que, como foi declarado aí pelo ministro, eu acho que nós atingimos finalmente o andar de cima.
00:24Acho que o Brasil vem algumas décadas lutando contra o crime organizado, as nossas forças policiais, os ministérios públicos,
00:33mas sempre atingindo o patamar médio ou regularmente o patamar bem de baixo.
00:39E se usarmos a comparação com o iceberg, saímos da ponta, então?
00:42Saímos da ponta. Saímos da ponta, levando em conta o iceberg.
00:47A gente estava na pontinha. Eu acho que agora a gente está aprofundando e atingindo um andar que é o andar que financia,
00:55que é o andar que tem o maior lucro. Acho que a gente precisa mudar a política pública.
00:59Essa é uma luta que a gente tem há alguns anos, mesmo no Ministério Público, já eu dizia isso,
01:07da importância de nós atingirmos o andar de cima.
01:10Os financiadores, por onde anda esse dinheiro, porque é dessa forma que nós vamos definitivamente desestruturar as facções.
01:18Inclusive esse plano de atingir mais financiadores, ele é permanente, ele continua inclusive sob sua gestão.
01:24É permanente. Eu quero crer que essa já seja uma meta das polícias, da nossa Polícia Federal.
01:30Essa é uma meta da nossa Polícia Federal.
01:32O Dr. Andrei, o nosso delegado-geral, ele deixa muito claro que a polícia precisa investir nisso.
01:39As FICUS, que são as forças integradas da PF, trabalhando diretamente com os ministérios públicos,
01:45com as polícias dos estados, elas têm também focado nessa questão da estrutura financeira do crime em todo o Brasil,
01:53de maneira que é um caminho sem volta e que nós acreditamos trará resultados aí a médio prazo,
02:00muito significativos nessa verdadeira luta contra o crime organizado.
02:04Já vamos abrir o debate. Vai lá, David de Tarso. Boa noite, bem-vindo.
02:07Boa noite, boa noite a todos.
02:08Bom, acho que a primeira pergunta é a que baliza os últimos acontecimentos,
02:13em relação à possibilidade de vazamento da operação.
02:16Porque a gente teve 14 mandados de prisão expedidos, dos mais de 350 de busca e apreensão,
02:23e oito pessoas conseguiram fugir das forças de segurança.
02:27Então, de que forma que estão as tratativas para tentar identificar se houve esse vazamento de fato
02:32e quais são os agentes envolvidos nessa investigação paralela, secretário?
02:36Olha, na verdade, vazamento, ele acaba sendo um tanto quanto natural,
02:41como o doutor Andrei declarou, isso foi um pouco acima do esperado,
02:45mas a Polícia Federal está trabalhando para descobrir como isso aconteceu.
02:49Eu, particularmente, sempre digo que, na época de Ministério Público, de GAECO,
02:56muitas operações, eu sou Procurador-Geral, Procurador-Geral,
03:00eu procurava sequer saber, não quero nem saber quem é,
03:03e só depois vocês me contam, porque vazamento acaba acontecendo.
03:08Notadamente em operação de grande porte, com várias agências participando,
03:13então a gente tinha participando do Ministério Público, Polícia Federal, Polícia Militar,
03:18isso, infelizmente, acontece.
03:20Não é o ideal, foi acima do que se esperava,
03:24essas investigações estão sendo feitas pela Polícia Federal,
03:26eu confesso que não tem informações, também nem quero ter.
03:31Mantendo a sua tradição.
03:32Mantendo a minha tradição.
03:34Mas o trabalho está sendo feito, é natural, mas não podia ser nesse patamar.
03:39Surpreendeu até o doutor Andrei, o diretor da Polícia Federal, como ele mesmo mencionou.
03:43Valmir Salaro, quer perguntar sobre isso?
03:45Vai lá, por favor, seja muito bem-vindo, boa noite.
03:47Eu que agradeço o convite, boa noite, secretário.
03:49O senhor falando que conseguiu-se atingir o andar de cima,
03:54mas no andar de baixo ou no meio policial, quer dizer, existem inimigos,
03:59esses inimigos que estão dentro da polícia, dentro do Ministério Público,
04:02ou dentro de um outro departamento de Estado,
04:04que passam informações para os criminosos,
04:06não colocam em risco a vida dos policiais e dos promotores
04:10que estão à frente de uma operação como essa?
04:13Essa é uma constante.
04:14Na verdade, a gente tem que estar sempre muito atento para essa realidade,
04:18porque a infiltração está em todos os segmentos.
04:22Então, nós precisamos andar sempre com os olhos muito abertos
04:26e essas investigações haverão de, em algum momento,
04:29alcançar também essas pessoas.
04:31Então, é muito importante.
04:32A gente sabe que o crime organizado, além de ser transnacional hoje,
04:38ele está infiltrado na sociedade civil,
04:40infiltrado em alguns segmentos econômicos,
04:45de maneira que eles estão ao nosso lado.
04:47Eu gosto sempre de dizer, às vezes ele mora na mesma rua,
04:49no mesmo prédio, no mesmo condomínio.
04:53Os filhos estudam, muitas vezes, na mesma escola que os nossos e tudo mais.
04:57de maneira que nós precisamos estar sempre de olho aberto.
05:01E acho que tem uma grande questão que a sociedade precisa entender
05:03de uma vez por todas e que essa operação é paradigmática também nesse aspecto.
05:09Nós precisamos, na nossa vida privada,
05:12ter um compliance no nosso dia a dia.
05:15Saber quem é a pessoa que está aportando recursos no nosso fundo financeiro,
05:20com quem nós estamos transacionando.
05:22ou estou comprando um prédio, um apartamento, não é difícil.
05:26Quem é a construtora, de onde vem, quem são essas pessoas.
05:29E denunciar?
05:30Tudo isso passa a ser muito importante.
05:32E denunciar, Valmir.
05:33Eu acho que isso é necessário.
05:35Se nós queremos uma sociedade efetivamente livre dessas organizações criminosas,
05:40acho que é papel de cada um.
05:41Aliás, a Constituição diz, né?
05:43Segurança Pública é dever do poder público, mas de todos, de toda a sociedade.
05:48César Galvão, boa noite, bem-vindo.
05:49Boa noite. Boa noite a todos. Obrigado pelo convite.
05:52Secretário, eu queria conversar com o senhor sobre dois estágios.
05:55Na verdade, são duas perguntas em uma.
05:57O senhor comandou o Ministério Público de São Paulo,
05:59que tinha um grupo, que tem um grupo atuante, que é o GAECO.
06:03Mesmo assim, se tinha uma noção muito pequena dos valores que o crime movimentava.
06:09Há quanto tempo que as autoridades descobriram que o crime movimenta bilhões,
06:14e não só milhares ou milhões?
06:16César, já faz algum tempo, desde o tempo que eu estava lá no Ministério Público,
06:21que a gente já denunciava essa questão das fintechs, por exemplo.
06:25E quando você fala das fintechs, a gente tem que ter consciência de que numa fintech não roda mil reais, dez mil reais.
06:34São milhões, muitas vezes até bilhões, quando você partilha isso em vários segmentos, em várias empresas desse ramo.
06:43Então, realmente faz algum tempo que isso está acontecendo.
06:48É um histórico que todos nós conhecemos, crimes transnacionais.
06:53Eles receberam, as facções fortaleceram muito,
06:56com o Brasil se transformando num entreposto para distribuição de droga,
07:00para a África e para a Europa, principalmente.
07:03E esse dinheiro precisa ser rodado, ele precisa ser lavado.
07:06E aí surgem os combustíveis, a construção civil, os negócios com poder público,
07:14e isso precisa circular em algum espaço.
07:18E as fintechs caíram como uma luva, a gente entende, a intenção foi boa,
07:22concorrer, concorrência no sistema financeiro é importante, tecnologia,
07:26aqui não há que se culpar ninguém,
07:28mas a verdade é que as fintechs caíram como uma luva para esse segmento criminoso.
07:33A primeira e a segunda.
07:35E as fintechs, elas pulverizaram esse dinheiro na sociedade,
07:38para lavar o dinheiro do crime organizado.
07:41Aí vem uma questão que eu sempre ouço e sempre me deixo em dúvida.
07:44Esses recursos que já foram identificados no crime,
07:48eles estão bloqueados ou sequestrados?
07:50Porque tem um hiato aí entre o bloqueio e o sequestro.
07:55Acho que o secretário podia explicar o que é o sequestro e o que é o bloqueio.
07:58Não, existem hoje mecanismos, né?
08:00Quando está sequestrado, ele já fica à disposição da justiça.
08:05Então, quando você, por exemplo, sequestra um helicóptero, um barco, um carro,
08:12isso fica à disposição da justiça, então a polícia pode usar, etc.
08:15O bloqueio fica lá parado e assim por diante.
08:18Quando a gente fala em recursos, o bloqueio e o sequestro é praticamente a mesma coisa,
08:22porque você não vai poder usar o dinheiro.
08:23Não há operação com esse valor.
08:25Mas o problema do bloqueio talvez seja a defesa do crime conseguir liberar esse dinheiro novamente.
08:30O sequestro também, né?
08:32Você pode, ao final, como já aconteceu algumas vezes,
08:36se o processo, se houver absolvição, anulação e tudo mais, se libera.
08:40Não por outra razão, a gente tem trabalhado no projeto de lei,
08:45que ainda tem discussão lá no Ministério da Justiça,
08:47que a gente chama de reforma da lei das organizações,
08:50o que foi apelidado aí de lei antimáfia.
08:52A gente tem trabalhado também essa questão de medidas cauteladas mais efetivas
08:57que a gente espera apresentar uma proposta ao Presidente da República
09:00e a gente tem a expectativa de que isso vá ao Congresso Nacional.
09:04Isso precisa ser rápido e a gente precisa ter a disposição muito rápida desses recursos.
09:09Precisa ir logo para as polícias poderem usar,
09:11para as forças, para os ministérios públicos,
09:13Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar.
09:16Isso tem que servir para instrumentalizar as nossas forças
09:18e tem que ser rápido.
09:20Mas no caso do André do Rep, um grande traficante, poderoso,
09:24o helicóptero dele foi apreendido,
09:26a Polícia Civil de São Paulo usou um período,
09:28depois a Justiça mandou devolver para o traficante.
09:31Quer dizer, provavelmente o helicóptero esteja sendo usado
09:34para traficar mais droga ainda.
09:36Quer dizer, como é que a sociedade pode entender esse mecanismo,
09:39como é que a Justiça trabalha com essa questão?
09:41Na verdade, não é nem a questão da medida cautelar.
09:43Aí houve a anulação de todo esse procedimento
09:48por conta de um vício que teria acontecido na origem da operação.
09:54Com isso, caiu toda a operação e automaticamente,
09:57pelo sistema de Justiça, cai a medida constritiva do bem.
10:01É que a sociedade não entende isso, né, doutor?
10:02Muito difícil.
10:04A gente que é do sistema jurídico, às vezes, não entende.
10:06Eu faço como explicar isso para os meus vizinhos,
10:09para os meus amigos.
10:10Muito difícil.
10:12Entender como bilhões de reais estão parados hoje,
10:15bloqueados ou sequestrados,
10:17e que podem, de repente, voltar a ser usados pelo crime, né?
10:21Exato, exato.
10:23Mas por isso que a gente precisa, na verdade,
10:26trabalhar de forma a entender.
10:29E quando a gente fala em trabalhar essas operações,
10:33elas têm que ser feitas com muita cautela,
10:35para obedecer os ditames legais.
10:38Não dá para se afobar.
10:40Muitas vezes a gente se afoba, faz uma operação,
10:43e quando a origem está irregular,
10:45isso acaba, de uma maneira ou outra,
10:47caindo nos tribunais superiores.
10:49Eu dizia, por exemplo, na época, para os promotores lá no MP.
10:52Falei, vamos olhar para o STJ, para o Supremo.
10:55Vamos entender, por exemplo,
10:56por que estão sendo anuladas algumas das operações.
11:00E a partir daí, vamos começar a trabalhar aqui embaixo
11:02para que isso não aconteça.
11:03Porque eles dão a palavra final
11:05em termos de interpretação da lei penal
11:07e da Constituição Federal,
11:09e a gente não tem como escapar disso.
11:12Então, é preciso uma conscientização
11:14e uma profissionalização maior.
11:16Não é crítica aqui às polícias,
11:17muito pelo contrário.
11:20Eu faço parte desse sistema,
11:23eu fico indignado quando essas coisas acontecem,
11:25mas é uma realidade da qual nós não podemos nos apartar
11:28num Estado democrático e de direito.
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