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Uma megaoperação da Polícia Federal, intitulada ‘Carbono Oculto’, mira um esquema bilionário de fraudes com combustíveis de uma rede ligada ao PCC. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, classificou a ação como "uma das maiores da história". A rede adulterava produtos em mais de 300 postos, cometendo fraudes fiscais e ambientais. Além disso, o Primeiro Comando da Capital ainda controla ao menos 40 fundos de investimentos, com um patrimônio de mais de R$ 30 bilhões.
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NotíciasTranscrição
00:00Pessoal, a Polícia Federal e o Ministério Público realizam hoje uma mega operação contra um esquema bilionário no setor de combustíveis.
00:08São mais de 1.400 agentes mobilizados em oito estados.
00:12Vamos então conversar com a Janaína Camelo, que vai trazer as informações pra gente agora,
00:15porque o ministro Ricardo Lewandowski disse que essa é a maior operação da história do Brasil
00:20contra a infiltração do crime organizado neste e em outros setores.
00:27Fala aí, Janaína, bem-vinda.
00:30Pois é, né, Evandro? Boa tarde pra você, boa tarde a todos.
00:35Foi uma mega operação, foi isso exatamente que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse.
00:40Uma operação liderada pela Polícia Federal, com apoio ali da Receita Federal, do Ministério Público,
00:45de todos os estados que foram envolvidos, né, que tiveram ali os mandados cumpridos, né?
00:51Foram oito estados no total.
00:53Então, os alvos dessa investigação, integrantes de uma organização criminosa
00:57que atuava falsamente, mas de forma lícita no setor de combustíveis.
01:05Foi isso que o ministro disse, né?
01:06E as irregularidades foram identificadas em várias etapas ali do processo de produção,
01:11de distribuição de combustíveis no país.
01:13O esquema, segundo o ministro Lewandowski, tem realizado não só os consumidores,
01:18mas também toda uma cadeia econômica ligada aos combustíveis.
01:22A gente separou um trechinho do que o ministro disse nessa coletiva de imprensa
01:26e a gente vai ouvir agora.
01:28Hoje nós deflagramos, talvez, uma das maiores operações, talvez não, com certeza,
01:37uma das maiores operações da história contra o crime organizado,
01:44sobretudo em sua atuação no mercado legal.
01:52Pois é, Evandro, agora, olha só o que o ministro também falou,
01:56a Polícia Federal explicou que uma das frentes da ação era importação irregular
02:00de produtos químicos para adulterar os combustíveis.
02:04Segundo o governo também, a organização se negou mais de 7 bilhões de reais
02:08por meio de fundos imobiliários.
02:11E aí, como você disse, foram mais de 1.400 agentes
02:13que cumpriram cerca de 350 mandados em 10 estados brasileiros.
02:18E tudo isso com a participação ali também das operações da Receita Federal.
02:23A gente vai ouvir também um trecho de técnicos que foram ouvidos nessa coletiva de imprensa.
02:27Quem falou foi a Andréia Chaves, subsecretária de Fiscalização de Receita.
02:31A gente vai ouvir o que ela disse.
02:33A estrutura nessa operação carbono envolveu toda a cadeia, na parte da economia real,
02:40importação, produção, distribuição e comercialização até o consumidor final do mercado de combustíveis.
02:52E na parte financeira, ocultação e blindagem de patrimônio.
02:56São cerca de mil postos de combustíveis em mais de 10 estados.
03:01A movimentação já mencionada pelo ministro Haddad de 52 bilhões.
03:05Alguns outros dados que foram levantados aí, que foram anunciados,
03:14informados aí nessa coletiva de imprensa dessa mega operação, Evandro.
03:17141 veículos foram apreendidos, 1.500 veículos foram sequestrados,
03:23300 mil reais em dinheiro foram apreendidos, 5 pessoas presas,
03:2741 pessoas físicas investigadas, 255 pessoas jurídicas investigadas,
03:331 bilhão e 200 milhões de reais bloqueados em fundos de investimento,
03:38192 imóveis sequestrados.
03:41Quem falou também foi Cláudio Chaves, que também é técnico da Receita,
03:45ele é subsecretário de Fiscalização de Receita, ele falou sobre a questão da Faria Lima,
03:51inclusive a gente vai ouvir agora.
03:53Dentro desse arcabouço, identificamos 40 fundos que sim,
03:57estavam ligados e utilizados para blindagem patrimonial do crime organizado.
04:04De modo algum, a Faria Lima efetivamente tem algum problema com o crime organizado,
04:10que houve alguma contaminação pontual específica em algumas administradoras de recursos,
04:17com o grau de sofisticação que utilizam do sistema financeiro
04:22para efetivamente lavar o dinheiro ou ocultar esse produto do crime.
04:32E aí, Evandro, o ministro Ricardo Lewandowski, ele aproveitou com toda essa operação
04:37envolvendo Polícia Federal, Receita e tudo mais, crime organizado,
04:41ele voltou a defender a aprovação da PEC da Segurança Pública,
04:45que é a PEC que tramita no Congresso Nacional,
04:47que visa exatamente a integração das polícias com a participação dos estados,
04:54mas tendo ali o governo federal num certo comando das questões de segurança.
05:00O ministro acabou defendendo a segurança pública,
05:03essa PEC da Segurança Pública, que tem uma certa resistência no Congresso,
05:06principalmente por conta de alguns estados que são mais oposição ao governo federal.
05:12Agora, a Polícia Federal disse o seguinte,
05:13quem segue investigando o caso desse crime organizado
05:18e acredita que mais pessoas estejam envolvidas
05:21e as investigações vão seguir aí nos próximos dias.
05:25Muito obrigado pelas informações, Janaína.
05:27Sempre tem mais gente envolvida, né?
05:29Bom trabalho para você em Brasília.
05:30Eu quero trazer aqui uma ilustração que nós preparamos
05:32para falar, então, de tudo isso que era operado pelo PCC
05:36por meio dessas empresas de fachada, dessas fintechs.
05:40Quando a gente fala dos alvos, são 41 pessoas físicas, 255 pessoas jurídicas.
05:47Só colocar aqui, físicas, um Szinho a mais aqui para a gente acrescentar.
05:52Apreensões, 141 veículos e 300 mil reais em dinheiro.
05:57A operação também sequestrou bens por decisão da Justiça.
06:02Um bilhão de reais em dinheiro, 1.500 veículos, 192 imóveis, 21 fundos de investimentos e também duas embarcações.
06:12Então, vejam o tamanho em valores, em reais e também em bens que eram movimentados pelo crime organizado
06:21por meio de fintechs, de empresas, de postos de combustíveis.
06:25Daqui a pouco nós vamos falar também sobre todas as atuações desse crime organizado
06:31descobertas por essa operação.
06:33Mas eu quero saber de você, Bruno Musa, que atua diretamente com o mercado financeiro,
06:37como é que você recebeu essa notícia hoje e o quanto também há ou não uma percepção
06:43da atuação irregular de algumas empresas nesse meio a depender da maneira como ela conduz
06:50a entrada e a saída de investimentos?
06:52Bom, vamos lá. Primeiro, boa tarde novamente.
06:55Esse é o meu dia a dia. Realmente foi um dia complicado, até porque eu lido com carteiras
07:00de investimentos, né? Então, muitos, obviamente, dos clientes acabam questionando e gerando um
07:06certo receio, um certo medo. Até antes aqui de começarmos, a gente estava comentando de
07:10uma das instituições que atende o varejo.
07:12O varejo alta reina, que é a parte que eu atuo.
07:14Ou seja, será que isso não contamina o ambiente como um todo?
07:17Até onde pode ir?
07:19Porque quando se fala em dinheiro, a insegurança é máxima, né?
07:21Será que essa empresa com a qual eu estou trabalhando também não teria algum braço,
07:24não teria algo irregular? Ou seja, acaba resvalando em todo mundo.
07:28A gente até percebeu ali na fala das autoridades que eles fizeram questão de dizer que uma parte
07:33pequena da Faria Lima foi contaminada, justamente para passar esse recado.
07:37Mas é muito difícil você conscientizar as pessoas assim tão rapidamente de que é
07:42uma parte e não toda a Faria Lima envolvida com o crime organizado.
07:46Sem dúvida nenhuma.
07:47Essa é uma do coletivo que até eu bato muito nisso, né?
07:50Todo mundo fala, ah, a Faria Lima defendeu o PT.
07:52Eu trabalho na Faria Lima e nunca defendi.
07:54Ou seja, isso não significa que a gente pode coletivizar.
07:58E sim, quem são as figuras que representam, talvez sejam figuras que tenham um alcance maior,
08:03etc.
08:04E acaba entrando nessa figura de linguagem, né?
08:07Mas uma coisa que a gente não pode deixar passar, Evandro, é dizer que todas essas instituições
08:14tenham sido usadas como laranja.
08:17Ou seja, são valores altíssimos.
08:19Será que não teve um compliance interno para pegar esse tipo de valor?
08:22Será que você não teve algo que acendeu a luz amarela?
08:26Uma dessas instituições, eu estava comentando num almoço na terça-feira com pessoas do mercado,
08:32não, jamais imaginava que teria ligações, mas comenta-se, comentava-se que uma dessas
08:37gestoras estaria numa situação complicada, mas voltada mais pela situação de mercado.
08:42Ora, os juros cresceram, a inadimplência está subindo, enfim, condições de mercado,
08:47você está vendo que muitas empresas estão dando default, ou seja, dando calote nas suas
08:51dívidas, coisas macro de mercado.
08:53E essa era uma delas, mas jamais imaginava que era uma ligação tão profunda como essa.
08:58Nós estamos falando de uma das maiores gestoras do Brasil envolvidas com o crime organizado.
09:02Mas só para passar um pouco mais adiante aqui, isso mostra cada vez mais que o crime
09:08organizado no Brasil, ele está diretamente ligado na economia lícita.
09:12Cada vez mais ele faz parte do nosso dia a dia, de uma padaria que você vai, de um posto
09:17onde você abastece com teus filhos.
09:19A gente precisa começar a entender que até mesmo dentro das camadas importantes do
09:24Estado, ele está, a gente sabe da organização do PCC, que ele forma pessoas, que é dentro
09:29de faculdades, enfim, há todo um contexto que talvez seja mais organizado do que muitas
09:35empresas privadas.
09:36E aí eu deixo a pergunta que eu estava falando aqui nos bastidores.
09:39Para mim, o Brasil já tem características, ou alguns estados brasileiros, da formação
09:44de sermos um narco-estado.
09:46Olha, a gente tem até uma enquete no nosso YouTube que você pode participar falando
09:51sobre essa operação.
09:52E a pergunta é, a operação contra o PCC será suficiente para desarticular as quadrilhas
09:58deste setor?
09:59Sim ou não?
10:00Traga as suas informações, a sua opinião, para a gente compartilhar com todo mundo
10:03ao longo da nossa edição do 3 em 1.
10:05Fábio Piperno, quando a gente falava de atuação do PCC em empresas antigamente, acostumávamos
10:10a ver os postos de combustíveis que muitas vezes cobravam valores inferiores ao restante
10:15do mercado, no pagamento em dinheiro vivo, no pagamento à vista.
10:20E que muita gente falava aí, aquele posto de combustível ali não atua como os outros,
10:25então provavelmente ele seja um posto de combustível pertencente ao PCC.
10:29Muito aqui na capital e também no interior de São Paulo.
10:32Agora a gente percebe que não existe mais essa identificação.
10:37Como o Bruno Musa menciona, o crime organizado está cada vez mais presente na economia lícita,
10:46naquilo que a gente vê como uma empresa regular, com funcionamento regular, sem nenhum tipo
10:52de desconfiança de que aquilo possa servir para lavagem de dinheiro e para financiar muito
10:59do que o crime organizado opera em todo o país, Piperno.
11:02Bom, inicialmente parabéns às equipes multidisciplinares envolvidas nessa mega operação
11:07e eu tenho a convicção de que muito do que foi feito de positivo nisso tem as digitais
11:13do secretário Mário Sarrubo, que era o homem do GAECO aqui em São Paulo.
11:17Então a partir do momento em que ele vai para o Ministério e faz um trabalho muito
11:23discreto, ele não é uma autoridade exatamente espalhafatora.
11:28Trabalha de forma discreta e extremamente eficiente.
11:31Isso tudo, isso que a gente viu hoje, isso descortina uma outra realidade, Evandro.
11:37O crime organizado, como vocês disseram, ele passou sim já há muito tempo a atuar em várias
11:42atividades lícitas, então ele está em posto de gasolina, hotel, restaurante, igrejas,
11:48clubes de futebol, para onde você olhar você pode ter certeza que o crime organizado
11:54já piscou antes de você.
11:56É verdade, né?
11:57Então, também desconfie da autoridade de segurança, autoridade policial, que fala,
12:02ah, porque no meu governo a violência está diminuindo.
12:07secretário, ministro, governador, seja lá quem for, está diminuindo.
12:13Porque esse crime organizado, moderno, inteligente, ele não se interessa mais, há muito tempo
12:20aliás, por sair dando tiro na rua, assaltar banco.
12:23Para que ele vai se expor a esse tipo de risco, se ele pode atuar com segurança nesse tipo de
12:29atividade onde ele ganha muito mais.
12:30Agora, Evandro, há uma outra coisa que me incomoda já há bastante tempo e eu toquei
12:37nesse tema algumas vezes aqui.
12:39Quando a gente fala de escândalo do INSS, eu sempre chamo atenção para a participação
12:45de bancos e empresas financeiras, porque ninguém consegue desviar tantos bilhões, ninguém rouba
12:50tanto dinheiro sem alguma colivência desse tipo de instituição.
12:57Na semana retrasada, aqui no estado de São Paulo, descobriu-se uma operação também
13:04de desvio, de sonegação de ICMS, que levou à cadeia, inclusive, empresários importantes,
13:10mas que também eu duvido que tenha sido praticada sem a conivência à ajuda de empresas
13:18financeiras.
13:19E hoje foram mais de 40.
13:21Então, é preciso sim que se investigue a fundo isso também, porque hoje a gente
13:27chegou num ponto aqui no Brasil de que para onde a gente olha, tem as digitais do crime
13:33organizado.
13:34Então, não é possível que num mercado tão competitivo, de margens de rentabilidade cada
13:40vez menores, tem empresas que florençam da noite para o dia e ficam bilionárias da noite
13:45para o dia.
13:46Qual é o milagre?
13:47Exatamente, porque a gente sabe o quanto é difícil empreender aqui no país e principalmente
13:51crescer financeiramente a partir desse empreendimento.
13:54José Maria Trindade, aí o ministro Ricardo Lewandowski aproveitou para ressaltar a importância
13:59da discussão sobre a PEC da Segurança Pública nesse momento em que a operação desmantela
14:03bilhões e bilhões de reais em empresas e a atuação do crime organizado.
14:10Como é que você avalia a possibilidade dessa discussão a partir dessa operação, meu
14:14amigo?
14:15Seja muito bem-vindo.
14:15Pois é, a gente fica perguntando por que deixou chegar a esse ponto, né?
14:20Obrigado, sim.
14:21Muito boa tarde, boa tarde a todos.
14:23Olha, eu fico impressionado com esses números, fico impressionado com o resultado desta mega
14:29operação, é a maior operação.
14:32Já ouvi outras.
14:33Quando Sérgio Moro era ministro, ele fez uma operação parecida, atingindo ali o coração
14:38econômico do crime organizado.
14:41Eu me lembro que logo depois do ataque das Torres Gêmeas nos Estados Unidos, houve por
14:46parte dos americanos um cuidado muito especial no tráfego de dinheiro.
14:51lá já todos, a área de segurança tem certeza de que é preciso projetar, é preciso gastar
14:59dinheiro e investir mesmo para o crime, para atentados, para o crime, é preciso fazer o
15:05investimento mínimo, né?
15:06Então, é mais fácil estrangular o crime organizado exatamente com operações assim, né?
15:13Através do estrangulamento econômico.
15:16Mas como, se a Receita Federal sabe exatamente qual é a movimentação, como, isso aí tem uma
15:23grande novidade, que é a bancarização do dinheiro sujo, do dinheiro de roubo, dinheiro
15:30de sequestro, dinheiro de tráfego de drogas, está bancarizado.
15:34São áreas que a gente já conhecia ali de entrada do dinheiro, posto de combustível,
15:40supermercado e outros que recebem dinheiro vivo.
15:43O dinheiro vivo, ele não é declarado e não tem origem, não é como, por exemplo, transferências.
15:49E isso estava dificultando o trabalho da investigação.
15:52Eu ouvi agentes dizendo o seguinte, que haviam várias etapas, né, de transferência e não
16:00dava, não tinha prosseguimento, então não dava para saber a origem do dinheiro.
16:05E isso é que gerou, Bruno, uma desconfiança na investigação.
16:10Essas fintechs, que são esses bancos digitais, né, eles tradicionalmente só lidam com transferências.
16:18E alguns desses bancos, algumas dessas fintechs, recebiam dinheiro vivo.
16:22Ou não recebiam, declaravam que recebeu, né?
16:25Foi isso que acendeu o sinal vermelho da investigação e que levou a Polícia Federal a puxar essa malha.
16:32Aí é uma pergunta que não quero calar.
16:35Como isso acontecia?
16:37Eu tenho medo de dizer acontecia.
16:39Vou colocar o verbo no presente.
16:41Como isso acontece até hoje aí debaixo das barbas do Ministério da Justiça?
16:47Da Polícia Federal, da Receita Federal?
16:50Se a gente se esquece de uma declaração aqui, imediatamente a Receita vem em cima da gente.
16:56Como é que esses bilhões são transferidos aí sem absolutamente nenhum controle, né?
17:03Tá certa, a operação é correta, esse é o lado correto.
17:07Sobre a PEC, da Segurança Pública, isso aí é uma demonstração de que nem precisa da PEC.
17:12É só ter uma inteligência, um trabalho de inteligência que se pega pela economia, o crime organizado.
17:20E olha, o que foi, Bruno Musa?
17:22Eu tenho um cliente que atua lá dentro, obviamente vou manter aqui os dados,
17:27e ele fala assim que se eles tivessem o apoio, seja da grande mídia e da população,
17:34eles precisariam de um mês e meio para acabar com o crime organizado no Rio de Janeiro.
17:38Eita.
17:38Só que, em uma guerra, sempre acaba levando inocentes,
17:46só que hoje a gente já perde inocentes diariamente para o crime organizado.
17:50É, exatamente.
17:50Olha, Bruno, o grande exemplo é o Bukeleira, né?
17:53Exato.
17:54E eu conversei com alguns deputados, inclusive o Kim Kataguir,
17:58que disse que é preciso mudar a Constituição para tirar garantias,
18:02direitos individuais e garantias desses chefes de crime organizado.
18:06Exato.
18:07Agora, falando sobre toda essa operação, a Receita Federal também participou.
18:10E ela identificou que o PCC opera 40 fundos de investimento com mais de 30 bilhões de reais em patrimônio.
18:18Vamos então com a Valéria Luizetti, que vai trazer os detalhes desta parte da operação.
18:23Conta aí, minha amiga, bem-vinda.
18:24Pois é, exatamente.
18:28Boa tarde, Ivandro.
18:29Todos que nos acompanham, só dando o contexto rapidamente, né?
18:32Essa força-tarefa, então, que foi realizada em pelo menos oito estados brasileiros,
18:36dentre ele aqui, o estado de São Paulo.
18:39Foram cumpridos, pelo menos, mandados de busca e apreensão e prisão nesses oito estados.
18:46Todos, então, desarticulando esquemas criminosos no setor de combustíveis
18:50que eram comandados pelo primeiro comando da capital, o PCC.
18:53Inclusive, o secretário de Segurança Pública aqui do estado de São Paulo, Guilherme de Ritch,
18:58chegou a comentar um pouco sobre como se desenvolveu essa operação aqui no estado.
19:03Vamos ouvir rapidamente.
19:04Nós empregamos 766 policiais da Secretaria de Segurança Pública.
19:10Entre policiais do choque, o comando de policiamento de choque,
19:14e policiais do Departamento de Operações Policiais Especiais, o DOPE, da Polícia Civil.
19:19Foram 156 mandados de busca aqui no estado de São Paulo,
19:24em que os policiais sequer sabiam do que se tratava a operação.
19:29Tamanha a preocupação nossa com o vazamento de qualquer informação.
19:34E trazendo um pouco mais os detalhes que você mencionou, Evandro,
19:40aqui no estado de São Paulo,
19:41a Receita Federal identificou pelo menos 40 fundos de investimentos,
19:45multimercado e também imobiliários,
19:48que foram identificados, então, com 30 bilhões de reais em patrimônio
19:52controlados pelo primeiro comando da capital, o PCC.
19:56As operações financeiras aconteciam principalmente ali na região da Faria Lima,
20:00com esses infiltrados.
20:02Os fundos eram fechados com um único cotista e usados para ocultar patrimônio ilícito.
20:08Os investimentos que foram feitos com o dinheiro do esquema
20:11foram usados na compra de um terminal portuário,
20:15quatro usinas de álcool, mais duas que estavam em aquisição,
20:191.600 caminhões para transporte de combustíveis,
20:23mais de 100 imóveis pelo Brasil,
20:25seis fazendas no interior de São Paulo, avaliadas em 31 milhões de reais,
20:29e também uma casa em Trancoso, na Bahia, no valor de 13 milhões de reais.
20:34As três principais empresas que estavam como principal alvo aqui no estado de São Paulo
20:39é o grupo Acer Cupap, responsável ali por usinas, distribuidoras e redes de postos de combustíveis,
20:47o BKBank, que é uma fintech que movimentou cerca de 46 bilhões de reais não rastreáveis nesse esquema,
20:54e a REAG, que é um fundo usado para blindagem patrimonial e também compra de empresas.
21:00As empresas também financiavam importações de nafta, hidrocarboneto e diesel.
21:06Os produtos eram medidos em rede de mais de mil postos em 10 estados,
21:11e se viu entre 2020 e 2024, segundo a Receita Federal,
21:16que os investigados importaram cerca de 10 bilhões de reais em combustíveis em todo esse esquema,
21:22que inclusive colocou no meio as lojas de conveniências, padarias, administradoras dos postos,
21:29que também acabavam sendo utilizadas para lavagem de dinheiro.
21:33A movimentação financeira dos postos entre 2020 e 2024 foi de 52 bilhões de reais,
21:39e foi um dos pontos que chamou a atenção da Receita Federal, Evandro.
21:42Isso porque, segundo a Receita, o recolhimento de tributos foi muito abaixo e incompatível com esse valor de faturamento.
21:50Inclusive, ela já havia aplicado uma multa, multas e autuações, o valor de 891 milhões de reais a essas empresas.
21:59Pelo menos ainda havia outros 140 postos fantasmas,
22:03que durante esse período receberam 2 bilhões de reais em notas frias,
22:08que corroboravam, então, também nessa lavagem de dinheiro, nesse mega esquema que realmente movimentou bilhões, Evandro.
22:16Muito obrigado pelas informações. Valéria Luizete, um abraço para você.
22:19Vamos trazer essas informações resumidas, então, para você que nos acompanha,
22:23aprender bem aquilo que essa operação descolou.
22:27Importação irregular de metanol, que é um produto altamente inflamável e tóxico,
22:31que é desviado pela facção.
22:33Então, todas essas aqui são informações sobre a operação da facção nesses setores.
22:39O metanol é enviado a postos e distribuidoras e usado para adulterar combustíveis.
22:44A facção também se infiltrou no setor de produção de cana-de-açúcar
22:47e, com isso, absorveu distribuidoras e transportadoras.
22:51Então, além de ter uma usina, também tinha centenas de caminhões
22:56que atuavam nessa parte mais relacionada ao agronegócio.
23:00O Ministério Público identificou fraudes em mais de 300 postos no país,
23:04mas o setor estima impacto em mais de 2.500 postos só no estado de São Paulo.
23:11E o dinheiro movimentado passava por fintechs controladas pelo PCC,
23:15que tem 40 fundos de investimento e 30 bilhões em patrimônio.
23:20Segundo a Receita, 7,6 bilhões de reais deixaram de ser declarados em São Paulo.
23:287,6 bilhões de reais que não foram declarados, segundo a Receita Federal.
23:34E aí, Bruno Musa, eu queria entender o porquê da escolha dos fundos de investimento.
23:39Por que partir para esse setor de fintechs, fundos de investimento,
23:43para conseguir lavar esse dinheiro sem ser pelas...
23:48Oi? O relógio é para chamar a hora? É isso?
23:51Tá. Agora, 4h26, quem nos acompanha pela rádio, um rápido intervalo, já já espero vocês.
23:57Nas outras plataformas seguimos.
23:59Deixa eu retomar, então, aqui a minha linha de pensamento.
24:01Por que as fintechs e os fundos de investimentos são os escolhidos?
24:05Há algum tipo de, digamos assim, facilidade em atuação
24:09ou em se impedir que haja fiscalizações que detectem isso mais rapidamente, Bruno?
24:15Não deveria ter, né? Muito pelo contrário.
24:17Até porque todos esses fundos, eles são regulamentados ou devem ser pela CVM,
24:23que é a Comissão de Valores Imobiliários, ou pela Ambima, né?
24:27Portanto, não. São fundos regulados.
24:29Veja, eu que, como você citou, que é o meu dia a dia isso,
24:32às vezes, quando a gente vai fazer um câmbio,
24:35seja de mandar dinheiro para fora de um cliente ou para cá,
24:38tudo, obviamente, 100% legalizado.
24:41A gente tem que apresentar uma série de documentos
24:44e, às vezes, câmbios que sequer são expressivos
24:46dentro do patrimônio total do meu cliente.
24:48Tudo isso é feito com uma determinada diligência,
24:51um compliance interno, ao menos dos bancos que eu trabalho,
24:55que são impressionantes.
24:56Muitas vezes, até gera determinados embates.
24:58Você fala, pô, você sabe o patrimônio do cara,
25:00já está declarada a origem aqui,
25:01vamos efetuar a operação.
25:03Não. E, mesmo assim, tem que ir na minúcia.
25:05Portanto, me chama realmente a atenção
25:07justamente o que o Zé Maria falou.
25:09Nós estamos falando de bilhões de reais
25:11que passam por debaixo do pano
25:14e não tem nenhum tipo de compliance.
25:16Aí eu estou, obviamente, com o Piperno que falou.
25:18Tem gente sabendo dentro de cada uma dessas fintechs
25:23que, muitas vezes, foram arquitetadas justamente para isso.
25:26Mas elas não fazem nada também
25:28se, quando bate lá uma operação grande dessa
25:31no Banco Central, alguém do Banco Central
25:33também tem que ser avisado sobre isso
25:35e tem que avisar ao banco.
25:37Olha, essa operação acendeu a luz amarela
25:39ou acendeu a luz vermelha.
25:40Então, nós estamos falando, ao longo de uma cadeia produtiva,
25:43pessoas envolvidas em operações bilionárias.
25:46Então, o fundo de investimento, ou os fundos, como você citou,
25:51e as fintechs, elas são um instrumento a mais.
25:55A gente cita vários aqui.
25:56Quem nunca, hoje em dia, se deparou com postos de gasolina,
26:00qualquer matéria que você joga no Google hoje,
26:04você consegue encontrar matérias dizendo que,
26:06com dados importantes, de grande circulação de jornais,
26:09que o PCC é o quarto maior distribuidor de combustível no Brasil.
26:12A gente sabe de padaria, a gente sabe de peruas, de transporte público.
26:17Ou seja, é uma atividade a mais.
26:19Mas, claro, aqui você é um mecanismo e um instrumento
26:23que, quando o dinheiro está dentro do fundo,
26:25você consegue, dando ar de legalidade, mandar ele para fora do Brasil.
26:28E aí, quanto desse dinheiro que foi descoberto hoje?
26:31Parece muito.
26:32E é muito em valor.
26:34Mas, frente ao todo do PCC, isso é irrisório.
26:37É o que a gente costumava falar quando a gente fazia cobertura.
26:39Eu trabalhei muitos anos na fronteira com o Paraguai
26:42e cobria muito das operações da Polícia Rodoviária Federal
26:44de apreensão de drogas, principalmente de tabletes de maconha
26:48ou materiais que eram contrabandeados ali da fronteira do Paraguai com o Brasil.
26:55E aí, muitas vezes os policiais falavam para a gente
26:57as operações são enormes, a gente aprende muita coisa,
27:01mas vocês conseguem imaginar a quantidade de itens que acabam passando?
27:04Porque, obviamente, as operações não funcionam todos os dias,
27:07o dia todo, e nem conseguem descobrir tudo aquilo que é movimentado
27:11pelo crime organizado.
27:12Então, isso me chamou a atenção.
27:14Se esse valor foi identificado em fundos agora,
27:17é uma fração, é uma parte.
27:19Então, você imagina a quantidade de movimentação financeira.
27:22E mais do que isso, essa fração expõe também o poderio econômico do PCC,
27:27que pode ser muito maior do que se imaginava até aqui.
27:31Fábio Piperno.
27:31Bom, primeiro que eu acho que, até sobre isso que o Bruno falou,
27:36toda essa movimentação, ela também não apenas expõe,
27:40mas ela reforça a negligência dos organismos de fiscalização.
27:46E eu vou dar dois exemplos muito rápidos.
27:49O que aconteceu com o Banco Master, está todo mundo agora em cima,
27:53e, dois anos atrás, com as lojas americanas,
27:59que também conseguiram burlar todos os controles,
28:02e a gente está falando de bilhões e bilhões e bilhões de reais.
28:06Isso recentemente, né?
28:07Isso.
28:08Porque se a gente voltar no Banco Santos,
28:10marca, ponto sincrono.
28:11Ah, não, são vários.
28:13Vamos olhar para a história.
28:14Pegando esses, vai, nesse passado recente,
28:17então, essas autoridades também têm que dar uma satisfação à sociedade.
28:23Ou então, peguem o boleto e saiam.
28:25Porque esses controles, eu diria que eles estão, no mínimo,
28:29no mínimo, muito frágeis.
28:30Agora, o que está acontecendo aqui no Brasil hoje
28:35é muito pior do que qualquer ocorrência similar
28:42que a gente já tenha tido notícia,
28:46por exemplo, envolvendo os áureos tempos das organizações mafiosas,
28:52tanto da Itália quanto lá dos Estados Unidos.
28:55Agora, as operações são muito maiores.
28:59Há muito mais grupos em áreas cada vez mais abrangentes do país.
29:05Então, toda hora, a gente fala do crime organizado no norte do país.
29:09Então, quando alguém faz, por exemplo,
29:12uma operação para tentar socorrer os índios e anomames,
29:17onde é que esbarra, principalmente?
29:19No crime organizado.
29:20Está lá, explorando garimpo,
29:22explorando uma série de, enfim, de contrabando
29:25e outras atividades ilícitas.
29:27No Mato Grosso, hoje, também a grande atuação,
29:31a atuação cada vez maior de grupos organizados.
29:35Para não falar de São Paulo e Rio de Janeiro.
29:37Então, o Brasil, ele é diferente, por exemplo,
29:40do que acontece lá nos Estados Unidos.
29:43Porque os Estados Unidos têm só dois vizinhos.
29:46Um ao norte e um ao sul.
29:47O Brasil tem um monte.
29:49E em todos eles há representações importantes do crime organizado internacional.
29:56Vídeo que aconteceu recentemente no Equador.
30:00Talvez o Brasil encontre um paralelo apenas do que ocorre lá na Rússia.
30:05Mas lá também o Estado liberou geral para isso.
30:08Então, não dá mais, por exemplo, para a gente pensar num país
30:13em que tenha as suas forças armadas
30:17cumprindo funções meramente administrativas
30:21ou fazendo sabe-se lá o quê.
30:24É necessário envolver também essas forças
30:27em alguma modalidade de combate a esse crime organizado.
30:31Porque também é fato que as forças de segurança
30:35dos Estados e a Polícia Federal
30:37elas são insuficientes para dar conta dessa demanda toda.
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