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Luiz Felipe D’Avila recebe Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja e 1ª brasileira a conquistar o Prêmio Mundial da Alimentação, o "Nobel da Agricultura". A engenheira agrônoma traz detalhes do estudo que ela desenvolveu durante 40 anos sobre fertilizantes biológicos e de que maneira a pesquisa pública contribui para o crescimento e fortalecimento do agronegócio.
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NotíciasTranscrição
00:00Entrevista com Dávila
00:05Olá, bem-vindos. Toda semana temos um encontro marcado para falarmos sobre os assuntos mais importantes do momento.
00:15E sempre com um convidado especial.
00:17A vida dos pesquisadores no Brasil é dura.
00:20A falta de financiamento, os entraves burocráticos e o corporativismo acadêmico muitas vezes dificultam o avanço das pesquisas em áreas vitais.
00:31Uma das raras exceções é o agronegócio.
00:34A Embrapa exerceu um papel central no desenvolvimento de pesquisa que impulsionou a produtividade da agropecuária e principalmente da agropecuária tropical e a expansão da fronteira agrícola no Brasil.
00:47Estimulou também a criação de parcerias entre a academia e o setor privado, que geraram inovação no desenvolvimento de sementes imudas.
00:56Melhoria também do uso do solo e do combate a pragas.
01:01A pesquisadora Maria Ângela Hungria foi agraciada recentemente com o Prêmio Mundial da Alimentação, uma espécie de Prêmio Nobel da Agricultura.
01:10Seu trabalho em microbiologia do solo ajudou a melhorar a qualidade de sementes, reduzir o uso de fertilizantes químicos e substituí-los por fertilizantes biológicos.
01:23As descobertas da professora Maria Ângela contribuíram para o aumento da produtividade e da qualidade dos alimentos.
01:30Sua pesquisa quebrou um tabu que fertilizantes biológicos não seriam capazes de garantir a mesma produtividade que os fertilizantes químicos.
01:40E é com grande prazer que eu recebo hoje a professora e pesquisadora Maria Ângela Hungria para conversarmos sobre a joia da coroa da economia brasileira,
01:50o agronegócio e seu espetacular ganho de produtividade.
01:54Professora Maria Ângela, muito bem-vinda a uma entrevista com o Davila.
01:57Eu que agradeço essa oportunidade fantástica, porque sabe que um problema muito sério que a gente tem na pesquisa e na ciência é a popularização.
02:07A gente fazer os diferentes públicos entenderem o que a gente faz, porque você só consegue valorizar quando você entende, né?
02:16Então espero hoje fazer esse público que vai assistir a gente, que é um público diferente de alunos, estudantes e muitos até não agricultores,
02:26conseguir entender a importância do que a gente faz.
02:30Com certeza. Professora, vamos começar por essa coisa importante. A sua pesquisa demorou mais de 40 anos nesse desenvolvimento.
02:37Como é que é financiar pesquisas por um período tão longo quando as pessoas querem resultado imediato?
02:43A gente vive num mundo do imediatismo. Isso não combina com a pesquisa.
02:46Não, então, aí eu acho que é muito importante já começar na primeira coisa que eu quero enfatizar muito.
02:52A importância da pesquisa pública.
02:55Então, por quê? A gente tem o setor privado, que é muito importante, mas o setor privado é aquilo.
03:01É lucro, ele dá emprego, ele gera recursos para o país.
03:06Ele é muito importante, mas ele quer lucro e lucro a curto prazo.
03:10A pesquisa pública, a pesquisa pública, ela é fundamental porque ela pensa a longo prazo, tá?
03:19Ela investe no bem de todos, ela não quer o lucro de dinheiro momentâneo.
03:27Ela vai pensar no bem de toda uma sociedade e de todos.
03:30E como nós vamos ter oportunidade hoje de discutir, os biológicos lá eram zero, ninguém acreditava nos biológicos.
03:38A Embrapa, a instituição que foi meu primeiro e único emprego, uma empresa pública, ela acreditou e ela investiu 40 anos nisso.
03:47O que nos tornou líderes mundiais hoje no uso de biológicos na agricultura.
03:52E isso deu um retorno enorme para a nossa agricultura, para a nossa sociedade.
03:58É Embrapa como um todo.
04:00Então, quer dizer, nós não damos lucro e é triste para a gente, quando às vezes eu vou no jornal e vejo lá Embrapa, empresa que está dando prejuízo para o governo.
04:10Não é, nós não vendemos nada.
04:12Mas a gente tem outros mecanismos que a sociedade pode checar o nosso desempenho.
04:19Nós temos, por exemplo, metodologia cientificamente comprovada de balanço social.
04:25E o último que saiu esse ano mostrou que cada R$ 1 investido na Embrapa deu R$ 25 de retorno à sociedade.
04:34Esse retorno vai do super pequeno agricultor até o grande exportador.
04:39E essas tecnologias das quais a gente está ficando líder, como uso de biológicos, o sistema plantio direto, que nós também somos os líderes.
04:48Integração lavoura pecuária, tudo isso é fruto de pesquisa pública e dá o retorno.
04:56Sustentabilidade na agricultura é pesquisa pública.
05:00Bom, e a Embrapa é o exemplo de uma instituição, graças a essa pesquisa e esse retorno à sociedade,
05:06a fronteira agrícola do Brasil conseguiu expandir enormemente nos últimos anos.
05:10E sempre, quando falo em Embrapa, sempre me vem a imagem do grande professor Alisson Paulinelli,
05:16que é a grande figura da Embrapa e que teve um papel fundamental.
05:21Como foi resistir a politização de uma instituição de pesquisa para que ela pudesse fazer esse desenvolvimento
05:30em áreas de pesquisa tão importante que causou com que o Brasil tivesse,
05:34ou que passasse a ter uma das agriculturas mais produtivas do mundo?
05:37Então, foi uma época de ouro, de pessoas como Alisson Paulinelli, como Eliseu Alves,
05:45foram visionários que resolveram criar uma instituição e que eles viram que a gente tinha um potencial
05:54para alguma coisa diferente, que seria uma agricultura tropical.
06:00e criaram, então, a Embrapa, investiram, deram dinheiro, formaram recursos humanos
06:09e com as condições, olha, eu acho assim, o povo brasileiro, nós somos inteligentes,
06:16nós somos criativos, só nos solta dinheiro.
06:19dando recursos para a gente, a gente realmente vai longe e comprovou isso,
06:25nós nos tornamos líderes em agricultura tropical,
06:29que é totalmente diferente da agricultura das regiões temperadas e subtropicais.
06:35Hoje nós até exportamos tecnologia de agricultura tropical,
06:41graças a essas pessoas que foram visionárias nisso.
06:44Então, foi uma época de ouro, de investimentos que retornaram ao Brasil.
06:50Para você ver, eu entrei na faculdade em 1976, ainda era aquilo, falava assim,
06:57não, os cerrados, a gente nunca vai conseguir produzir nos cerrados,
07:02porque os solos são ácidos, são ricos em alumínio, aquele lugar das árvores tortinhas.
07:08Olha, hoje é a nossa maior fronteira agrícola, nossa maior área de produção.
07:15Então, a gente sabe, isso também nos deu confiança de que com investimento,
07:21com tecnologia, com esforço, a gente resolve todos e consegue vencer todos os desafios.
07:27Mas a gente precisa de investimentos e suporte para a ciência, para a tecnologia,
07:34para as instituições.
07:36Bom, uma fonte importante de pesquisa aqui no Estado de São Paulo foi a FAPESP.
07:40A FAPESP sempre teve um papel fundamental, uma recorrência no investimento,
07:45não teve cortes drásticos, como isso aconteceu em outras linhas de pesquisa no Brasil.
07:49Qual é o papel importante da FAPESP nesse desenvolvimento e financiamento de pesquisa no Estado de São Paulo?
07:56Olha, eu moro no Paraná.
07:59Posso falar que a FAPESP é um sonho de consumo de todos os estados.
08:04A FAPESP tem os recursos, ela financia, ela tem estabilidade no financiamento.
08:12Então, ela é o sonho de consumo, sabe?
08:16Tem uma legislação que destina a porcentagem que deve ir de recursos para pesquisa.
08:21Então, por isso que São Paulo, ele é diferenciado, entendeu?
08:27É justo? Não é justo, porque deveria ter um balanço.
08:30Todos os estados deveriam ter as condições para fazer pesquisa,
08:35porque todos os estados têm pesquisadores capacitados, têm seus problemas regionais.
08:40Olha, por exemplo, se fala assim, ai, bioeconomia da Amazônia, tal, a riqueza.
08:47Nossa, menos de 1% do, vamos falar, PIB da Amazônia é baseado na bioeconomia, entendeu?
08:55Quase nada lá não tem determinado nem as cadeias produtivas dos principais pescados de lá.
09:03Então, precisava o governo intervir um pouco mais para fazer um balanço.
09:07São Paulo, por exemplo, tem recursos excelentes.
09:10Vamos, então, ajudar um pouco mais os estados menos favorecidos,
09:14porque hoje todos os estados têm essas fundações de apoio à pesquisa.
09:21E elas estão, até tem uma confederação agora de todas elas, chama CONFAPS.
09:27Mas ainda é muito desequilibrado entre os estados.
09:32Mas que a FAPESP é o sonho de consumo de todo mundo.
09:34Quer dizer, São Paulo é o sonho de consumo em várias coisas.
09:38Eu falo assim, a gente vai no Brasil, tipo estradas.
09:41Nossa, eu viajo muito, né?
09:42Você anda aquelas estradas, pistas simples, tudo desburacado.
09:46Daí você entra em São Paulo assim, quatro pistas para um lado, quatro para o outro,
09:50uns dois, três carros aqui.
09:52Então, eu sou paulista, paulistana de nascimento, né?
09:56Mas faz tempo que eu saí daqui, eu falo assim, nossa, é um outro mundo, tá?
10:02E o Paraná, como é que está em pesquisa?
10:03O Paraná está, o governo no Paraná ajuda bastante nessa área de pesquisa?
10:07Sim, agora a gente tem uma fundação que está vendo com outros olhos.
10:12Olha muito a parte de empreendedorismo, sabe?
10:17Nós temos a nossa fundação Araucária que está ajudando.
10:19Agora, o que eu gosto muito no Paraná?
10:21Eu gosto muito do Paraná, é da parte da agricultura.
10:26O Paraná tem uma visão para a sustentabilidade agrícola que é assim,
10:31o Paraná foi o berço do plantio direto.
10:34É verdade.
10:35Hoje, assim, acho que quase 100% do Paraná é de plantio direto.
10:40São pequenos e médios agricultores.
10:42Eu gosto muito de pequenos e médios agricultores, sabe?
10:45Porque eles realmente ouvem a gente, eles dão atenção.
10:48Eles, sabe, eles daí aplicam aquilo que a gente fala
10:54e a gente sente que impacta muito a vida deles.
11:00Um exemplo só, por exemplo, esses biológicos que usam.
11:07Eu faço a pesquisa acadêmica, né?
11:09Mas eu acho que até um diferencial para esse prêmio que ganhei
11:14é que eu faço desde ali o genoma até ir realmente ao agricultor.
11:19E isso me faz muito feliz, né?
11:21Porque não adiantaria eu estar lá só no laboratório e não levar o produto para o agricultor.
11:26Então, eu fiz um trabalho, nós estamos agora no sétimo ano,
11:30mas uma análise de cinco anos de mostrar para esses agricultores
11:35como que seria para eles usar esses biológicos ali na soja.
11:41Então, foram quase 3 mil agricultores assistidos.
11:44Fizemos 273 unidades técnicas de referência.
11:49Então, a gente fazia dia de campo, explicava como que usava,
11:53chamava para ver o que que acontecia,
11:55o que que os micro-organismos estavam fazendo e tudo isso.
11:58E daí, uma análise desses cinco anos mostrou para eles
12:02que eles ganhavam de lucro 111 dólares por hectare.
12:07Aumentar a produtividade.
12:08É, aumentar a produtividade sem gastar, entendeu?
12:12Com fertilizante, nada disso.
12:15E eram agricultores com no máximo 50 hectares.
12:19Então, 111 dólares por hectare para uma safra, né?
12:23Que lá eles ainda poderiam fazer mais uma ou duas safras de outras culturas durante o ano.
12:29É ali aquele dinheiro que ele vai poder comprar uma máquina nova
12:33ou colocar uma internet boa para o filho não querer isso, só ficar na cidade.
12:40Isso impacta a vida dele.
12:42E ele retorna para a gente falando, sabe, como isso foi importante e tudo.
12:47E você impactar a vida desses pequenos agricultores.
12:50Porque, sabe uma coisa surpresa?
12:53As pessoas, assim, pensam muito, soja, soja.
12:58O que que vem na sua cabeça?
12:59Não é automaticamente aquelas fazendas enormes, cheias de máquina?
13:03Não.
13:03Sabia que 75% dos agricultores que cultivam soja no Brasil,
13:10eles são agricultores com menos de 50 hectares?
13:13É mesmo?
13:14É.
13:14Eles podem não ser os principais responsáveis pelo volume da exportação.
13:20Então, mais 50, mais 75% deles são pequenos agricultores.
13:26Então, a gente tem como ajudar e melhorar a vida desses agricultores.
13:32Agora, professora Mariângela, se nós temos de aprender com o Estado de São Paulo, a FAPESP,
13:35nós temos de aprender com o Paraná, o espírito das cooperativas agrícolas.
13:39Exato.
13:40Que teve um papel fundamental, principalmente para o pequeno e médio agricultor.
13:43Então, talvez essa cultura foi muito disseminada da pesquisa em campo,
13:49como você está colocando, justamente por causa desse espírito tão forte de cooperativas no Paraná.
13:53Sim, é muito forte.
13:55A gente trabalhou com as cooperativas.
13:57Até agora, a gente estabeleceu a primeira parceria da Embrapa em biológicos
14:03com uma cooperativa lá, a Copavel.
14:07E eu estou colocando todas as fichas.
14:10Por quê?
14:10Dessa parte dos biológicos, o que está acontecendo?
14:13Teve um negócio assim, estouro, sabe?
14:15Estourou o consumo, a produção.
14:19Todo mundo agora quer os biológicos.
14:20E começou assim, muito venda, compra multinacional e tal.
14:25E daí a gente tem parcerias, por quê?
14:28Embrapa não vende nada, né?
14:29Nós não vendemos.
14:31Então, a gente desenvolve a pesquisa, faz as tecnologias
14:35e tem que fazer uma parceria para colocar esses produtos no mercado, né?
14:39Porque nós não vamos ao mercado.
14:41Daí estava muito frustrante, o quê?
14:43Você vai lá, faz cinco, dez anos, desenvolve um produto, é tudo maravilha.
14:47Põe lá, faz uma parceria público-privada,
14:51a empresa vende, daí você não sabe para quem vendeu,
14:54ou tira o produto do mercado e tal.
14:56Aconteceu uma, duas, três, quatro vezes.
14:58Daí eu falei, ai, chega, pelo amor de Deus, estou frustrada.
15:01E nós estabelecemos agora com uma parceria.
15:03Eu até brinquei, fui lá e falei assim,
15:05vocês têm que me assinar um papel que vocês não vão ser vendidos para ninguém.
15:09Não, não vamos ser vendidos.
15:11E estabelecemos, estamos lá com parceria,
15:14já colocamos o primeiro produto.
15:16E qual que é o que a gente está muito confiante
15:20dessa parceria com a cooperativa?
15:22Primeiro, porque as cooperativas do Paraná são muito fortes.
15:26E segundo, qual que é a limitação que hoje a gente tem nos biológicos?
15:31Muita solução, a gente tem solução para muitas culturas.
15:37Mas o que acontece?
15:39Entra o setor privado, que é o setor que comercializa.
15:42O setor que comercializa quer lucro.
15:45O lucro, ele acha mais fácil fazer lucro com grandes agricultores.
15:49Ir lá numa fazenda de 50 mil hectares, vender para lá.
15:53Ele não quer ir atrás de 500 pequenos agricultores e vender para eles.
15:58Então, embalagem, procurar, tal.
16:01Então, às vezes, os pequenos agricultores,
16:04eles não estão tendo acesso a essa tecnologia que a gente desenvolveu
16:08e que serve para todo mundo.
16:10Então, a nossa esperança também, em parceria com a cooperativa,
16:15é que essa grande maioria dos pequenos agricultores finalmente possa ser atendida.
16:20Isso aí.
16:21A cooperativa é o canal com o pequeno e médio agricultor.
16:25Estamos jogando todas as nossas fichas.
16:27Eu cobro lá, falo, olha, vocês que andem na linha, viu?
16:31Porque todas as fichas estamos jogando nisso.
16:33Porque eu tenho certeza que, se der certo,
16:35até o setor privado vai olhar com outros olhos e falar
16:39é melhor a gente atender os pequenos.
16:41Na hora que tiver a capilaridade, aí é fácil, né?
16:43É, é.
16:44Agora, vamos falar agora, começar a entrar e falar dos biológicos,
16:46que é uma coisa muito importante, né?
16:47A agricultura tropical, se nós olharmos o estado da natureza,
16:52não seria uma agricultura competitiva.
16:54A gente tem um monte de problemas.
16:55Solo pobre, mais pragas, problemas específicos da agricultura tropical.
17:00E isso, a Embrapa, como nós conversamos daqui a pouco,
17:04conseguiu superar essas dificuldades e transformar isso em área de produtividade.
17:08E um dos grandes problemas do Brasil era a dependência de fertilizantes.
17:12Isso ficou muito claro na guerra da Ucrânia com a Rússia
17:15e principalmente na pandemia, né?
17:17Então, o Brasil começou a ter que descobrir outras formas também
17:20de substituir os fertilizantes químicos.
17:24Quando começou essa parte da pesquisa biológica
17:28fazer a diferença, se tornar competitivo
17:32e começar a chegar às fazendas e ajudar a aumentar a produtividade.
17:37Então, nós temos esse gargalo absurdo que é o dos fertilizantes.
17:42E que piorou.
17:43Piorou porque se pegar, assim, uns sete, oito anos,
17:49a gente importava 65% dos fertilizantes que a gente usava.
17:56De repente, passou para 85%.
17:58Então, como que pode um país que é tão importante a agricultura
18:03importar 85% dos fertilizantes que usa?
18:07Até desmantelaram várias indústrias de fertilizantes
18:10porque estava mais barato importar.
18:13Entendeu?
18:14Então, isso foi um absurdo.
18:15A pesquisa com biológicos, nós temos uma tradição
18:19de quase 70 anos no Brasil.
18:23Nós sempre tivemos essa tradição.
18:25Nós sempre tivemos soluções biológicas para a agricultura
18:29e o agricultor sempre usou.
18:32Nós sempre tivemos uma posição de destaque.
18:35Só que a gente foi crescendo, crescendo, crescendo
18:38e a gente já estava meio líder no mundo do uso,
18:43principalmente por causa da soja, que é o nosso carro-chefe.
18:47E a gente mostrava para o mundo que a gente era uma vitrine.
18:52Porque a nossa soja brasileira, ela é 100% independente
18:59do fertilizante nitrogenado, que é o mais caro, o mais poluente.
19:03A gente importa 85%, é tudo.
19:05Então, a gente já tinha essa vitrine no caso da soja.
19:10E daí, o que aconteceu?
19:12Então, a gente crescia, crescia, estava crescendo,
19:15crescendo o uso de biológicos.
19:17E daí, sempre de um problema, de uma coisa ruim,
19:20nascem as oportunidades, que foi exatamente o que você falou.
19:24Veio a pandemia, guerra da Rússia e da Ucrânia,
19:28que eram os países que a gente importava a maior parte dos fertilizantes.
19:32E a situação era, o marketing dos químicos
19:36era mil vezes maior do que o marketing dos biológicos.
19:41E o marketing dos biológicos era 100 mil vezes maior
19:45do que o marketing da pesquisa.
19:48Então, a gente sempre estava ali tentando convencer,
19:52convencer os agricultores, mostrava o resultado lá
19:56de 100 experimentos de campo, olha, você pode usar, você confia.
20:01Mas ia lá o marketing dos químicos e falava,
20:04não, você nunca vai produzir máximo de produtividade,
20:08se você não usar o químico, o químico é tudo, tal, tal, tal.
20:11E a gente não conseguia vencer a barreira de vários agricultores.
20:16Como daí não tinha os fertilizantes,
20:19e também isso aconteceu com vários agrotóxicos lá,
20:24para controlar pragas e doenças,
20:27o agricultor não tinha opção, sabe?
20:30Daí ele, a gente falou, ah, então arrisca, né?
20:33Por que você não resolve acreditar na gente?
20:35E ele resolveu arriscar, muito porque ele não tinha opção.
20:39E ele arriscou, ele usou, e ele viu que o que a gente falava era verdade.
20:43E daí isso deu uma explosão no uso dos biológicos,
20:47porque ele viu que o que a gente falava insistentemente era verdade.
20:52que os produtos que a pesquisa brasileira tinha desenvolvido,
20:58tanto para substituir os fertilizantes químicos,
21:01como para o controle biológico de pragas e doenças,
21:05eram efetivos, funcionavam, e que eles podiam confiar.
21:10Então aumentou muito o uso desses produtos.
21:12Foi uma grande oportunidade para nós.
21:15Agora, professora, explica um pouco para a nossa audiência,
21:17é tão interessante a história do Rizob,
21:18como daí começa toda uma pesquisa importante,
21:22esse desenvolvimento.
21:23O que que a levou, a curiosidade, especificamente,
21:27começar ali com o Rizob e ali começar a desenvolver
21:29essa parte biológica?
21:32Olha, eu sempre amei, né?
21:35Eu queria ser microbiologista desde os oito anos de idade
21:38e queria muito...
21:40Minha família não é do agro, nada.
21:42Eu, inclusive, morava aqui em São Paulo,
21:45era menina de cidade, né?
21:47Mas eu queria muito produzir alimentos,
21:50porque eu era muito...
21:51Eu achava muito triste ver pessoas passando fome.
21:54Então eu queria uma coisa assim de produzir alimentos.
21:56E queria a parte de biológicos.
21:58Só que, olha só, eu entrei, né?
22:01Conforme eu falei, entrei na faculdade de 1976.
22:04E na década anterior,
22:08a gente estava com uma grande crise mundial
22:12de produção de alimentos.
22:13Tinha a teoria malthusiana
22:16de que a população estava crescendo exponencialmente
22:19e a produção de alimentos não estava crescendo.
22:22Então veio o Norman Buller,
22:24que até...
22:26Que era agrônomo também
22:28e que provou que, através de melhoramento,
22:31de milho e de trigo,
22:34junto com a adubação química pesada,
22:37mostrou que poderia aumentar a produção de alimentos,
22:39que a humanidade não ia morrer de fome conforme previsto.
22:44Por causa disso,
22:45que ele tirou milhões de pessoas da fome
22:47e também provou que tinha uma saída
22:50de produção de alimentos para a humanidade,
22:52ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz,
22:54porque não havia categoria de alimentação ou agricultura.
22:58E, com isso, ele criou a fundação, né?
23:01Porque ele achava absurdo
23:02não ter a categoria de alimentação ou agricultura,
23:05que é a que...
23:05Ele falou, não, eu quero criar uma categoria
23:10que eu acho a mais importante,
23:11que não existe lá.
23:13Mas eu entrei na faculdade,
23:15ele ganhou em 1970,
23:16eu entrei na faculdade,
23:18estava o auge,
23:19chamava a Revolução Verde.
23:21Então era tudo adubação química,
23:23química, química, química.
23:24E eu já tinha um negócio de infância
23:26que eu queria o Biológicas, né?
23:28Então fui atrás de saber
23:30o que poderia ser feito.
23:32e tem esse processo maravilhoso,
23:36que é o mais perfeito,
23:37que daí escolhi, né?
23:39Que foi o carro-chefe da minha carreira,
23:41que é o da fixação biológica do nitrogênio.
23:44Como que é esse processo?
23:47Aqui no ar que a gente respira,
23:49quase 80% é N2,
23:52que é nitrogênio gasoso.
23:54E o nitrogênio,
23:56todos nós precisamos muito de nitrogênio.
23:58Por quê?
23:59Ele faz parte do DNA, RNA, aminoácidos, proteína.
24:03Só que, olha só o paradoxo,
24:05nós precisamos muito,
24:06mas ninguém consegue aproveitar
24:08esse N2 que está no ar,
24:10porque são dois átomos de nitrogênio
24:12com uma ligação tripla muito forte entre eles.
24:15Então ninguém, nenhum homem,
24:17planta, animal, consegue aproveitar.
24:20Mas algumas bactérias lá,
24:22há bilhões de anos,
24:24elas evoluíram para ter uma enzima
24:26que consegue quebrar e usar esse nitrogênio.
24:29Quando apareceram as primeiras plantas na Terra,
24:33elas começaram a se associar com essas plantas
24:36e fazer uma troca,
24:37falando, olha, eu te dou nitrogênio,
24:39você me dá o seu carbono,
24:40dá fotossíntese.
24:42E então isso estabeleceu
24:43esse processo de fixação biológica do nitrogênio.
24:46Já para as plantas que não se associaram a isso,
24:51o que acontece?
24:52Em 1910, teve o processo,
24:56o Haber-Bosch desenvolveram o processo de síntese
24:59do fertilizante nitrogenado,
25:03que imita lá a bactéria.
25:05Ele captura esse nitrogênio do ar
25:08e quebra a tripla ligação
25:10e transforma, então,
25:12numa forma que a planta pode usar.
25:14Só que para quebrar essa ligação,
25:16ele precisa de uma média de seis barris de petróleo
25:19para fazer uma tonelada,
25:21porque ele precisa dar temperatura de 400, 500 graus,
25:25300 atmosferas de pressão.
25:27Então, é o mais caro energeticamente
25:31de todos os fertilizantes químicos.
25:34Então, é o que mais requer energia,
25:37tanto que um quilo de nitrogênio fertilizante,
25:41ele equivale a...
25:43Ele está implicado com 10 quilos de emissão de CO2 equivalente.
25:47Nossa!
25:48E por isso que é tão caro.
25:50Então, o que eu sempre trabalhei?
25:53Em maximizar essa contribuição desses micro-organismos,
25:58ela pode ser 100%,
26:00no caso de algumas plantas que a gente fala leguminosas,
26:03como soja, como feijão, como feijão calpi,
26:06menos em outras plantas,
26:09mas também quanto der de contribuir,
26:12vai contribuir como milho, pastagens.
26:16Então, esse foi o carro-chefe sempre
26:19da minha pesquisa de 40 anos.
26:23Maximizar essa contribuição
26:25da fixação biológica no nitrogênio
26:27nas culturas da nossa agricultura.
26:30E aí, como é que nós chegamos ao ponto
26:34de que isso passou a ser uma pesquisa aplicada no campo?
26:39Como é que foi a sair do laboratório
26:41e começar a fazer esses primeiros testes na lavoura?
26:44Surgiu também de desafio.
26:48Por quê?
26:49Porque eu comecei minha carreira na Embrapa,
26:52fui contratada pela minha mentora científica,
26:56uma mulher brilhante, maravilhosa,
26:58doutora Joana Doberain,
27:00que foi uma mulher,
27:02inclusive foi candidata a prêmio Nobel também,
27:06e era lá na Embrapa Agrobiologia,
27:08no Rio de Janeiro.
27:09Mas ela gostava muito de ciência básica também,
27:14e era apaixonada por fixação em gramíneas.
27:18E eu aprendi muito lá,
27:20e depois eu fui também,
27:22eu fui para lá para fazer meu doutorado,
27:25depois eu passei três anos fora fazendo pós-doutorado,
27:29daí surgiu um problema pessoal meu,
27:33porque eu fui para Londrina,
27:35onde é o centro de soja, lá no Paraná,
27:38fui por motivo familiar,
27:40porque eu tinha duas filhas
27:41e eu estava com problema de escola e de saúde
27:44da minha filha mais nova,
27:46que eu tenho uma filha com necessidades especiais.
27:48E daí eu tive que mudar para Londrina,
27:51onde era o centro de soja,
27:53antes eu trabalhava com o feijão.
27:55E chegando lá,
27:56então, aquela coisa,
27:58o desafio,
27:59eu recebi um laboratório vazio,
28:01não tinha nada,
28:02desesperador,
28:04mas, por outro lado,
28:06foi a chance de começar meu grupo,
28:09começar meu laboratório
28:10e colocar as minhas ideias,
28:12totalmente minhas,
28:14sem ter que pedir a bênção para ninguém.
28:19E qual era a minha ideia?
28:21Eu via, assim,
28:22que no Brasil e no mundo,
28:24era muito assim,
28:25ah, os biológicos têm seu papel,
28:28mas ali só na agricultura familiar,
28:30na agricultura orgânica,
28:32uma coisa pequena.
28:33E eu falava,
28:34não, olha,
28:35no Brasil, assim,
28:36no que eu vejo,
28:37eu quero, assim,
28:39os biológicos,
28:40para ter máximo de produtividade,
28:43para atender o super grande agricultor,
28:46porque se eu atender o grande,
28:47eu vou atender o médio,
28:48eu vou atender o pequeno,
28:49eu vou atender todo mundo,
28:50eu vou dar uma outra cara
28:51para esses biológicos.
28:53Ou seja,
28:53não se pensava em escala,
28:54era só uma coisa caseira.
28:55Era, tipo,
28:56uma coisa muito pequena,
28:58muito acadêmica.
28:59Eu falei,
29:00não,
29:00eu quero uma outra visão,
29:01eu quero uma coisa, assim,
29:03muito larga escala.
29:05E eu acho que esse que foi o diferencial.
29:08Daí comecei a trabalhar muito,
29:09ali no Paraná,
29:10estava praticamente zero
29:12o uso de biológicos.
29:14Comecei a trabalhar,
29:15a trabalhar,
29:16para ter essa visão do macro,
29:18sabe,
29:18para provar que ele podia ter sempre
29:21top de produção usando biológico.
29:24Então,
29:24foi uma visão totalmente diferente
29:26e começou a expandir isso.
29:28E daí,
29:29o que aconteceu?
29:30Comprovamos na soja,
29:32sempre com muito sorso,
29:33hoje tem mais,
29:34ninguém tem a robustez de resultados
29:38que nós temos, sabe?
29:39São mais de 500 ensaios com soja.
29:43E daí,
29:44é muito interessante
29:45o retorno que os agricultores dão.
29:48Porque, por exemplo,
29:48daí,
29:49muitos ensaios com soja,
29:50comprovando em todas as situações,
29:52em todas as regiões do Brasil,
29:54que funcionava,
29:55que tinha topo de rendimento,
29:57colocava nitrogênio,
29:58que estava abaixo de colocar
30:00nitrogênio fertilizante.
30:02Daí,
30:02veio o agricultor feliz
30:03e falou assim,
30:04não,
30:04deu tão certo,
30:05mas eu não cultivo só soja,
30:07cultivo milho,
30:08trigo,
30:09o que você tem?
30:10Eu falo,
30:10não tenho nada,
30:11mas deixa que eu vou achar.
30:12Então,
30:12achamos outras bactérias,
30:13porque o que é interessante,
30:15assim,
30:16dos biológicos?
30:18O biológico é uma coisa
30:19que desenvolveu na natureza.
30:22Então,
30:23na natureza,
30:24cada micro-organismo
30:26foi procurando a planta
30:28que se adaptava melhor a ele,
30:30entendeu?
30:31Por isso que ele é tão perfeito
30:33em relação ao químico.
30:34O químico,
30:35você coloca lá,
30:36a eficiência de uso é baixa,
30:38tudo,
30:39porque ele não é da natureza.
30:40Então,
30:41a gente vai na natureza
30:42e acha qual é naquela planta,
30:45aquele micro-organismo
30:46que vai dar mais certo,
30:47e daí a gente faz
30:48o melhoramento daquilo
30:49para ser o melhor,
30:51para ser o top.
30:53Daí fui,
30:54procuramos no milho,
30:55no trigo,
30:56encontramos o top,
30:57e daí deu certo.
30:59E o agricultor daí veio,
31:01começou a usar,
31:02hoje está muito usado
31:03no milho e no trigo.
31:05Daí ele até falou assim,
31:06não,
31:06olha,
31:07mas,
31:07nossa,
31:07deu tão certo
31:08que depois eu plantei soja,
31:10colhi mais soja,
31:12daí eu vi que esse do milho
31:13e do trigo
31:14também ajudava em soja.
31:16Daí a gente viu
31:17colocando os dois,
31:18dobrava os benefícios
31:20da soja.
31:21E assim foi indo.
31:22Tanto que eu brinco assim,
31:23que hoje está muito na moda
31:24falar
31:24que a gente deve ter
31:27ciência cidadã,
31:30ciência participativa.
31:31Eu falo,
31:31nossa,
31:32eu faço isso há 30 anos
31:34com os agricultores,
31:35nem sabia que estava na moda,
31:36né?
31:37Mas é muito,
31:39traz uma satisfação enorme
31:40para a gente,
31:41sabe?
31:43Esse retorno
31:44que o agricultor dá
31:45e depois eu dou retorno
31:46para ele também,
31:47isso é muito,
31:48muito bom.
31:50Agora,
31:50como é o transporte
31:52de bactérias?
31:53Porque o malhão e bactérias,
31:54como você bem disse,
31:55a gente encontra no solo,
31:57no meio ambiente,
31:57mas como é que transporta
31:59essas bactérias
32:00para o plantador
32:02de soja,
32:02ou de milho,
32:03ou de trigo?
32:04Então,
32:04elas estão lá
32:05no meio ambiente,
32:07mas elas estão,
32:07elas estão no solo,
32:09né?
32:09A gente retira do solo,
32:10faz o melhoramento
32:11e tudo,
32:12mas o que que acontece?
32:13Tem,
32:14olha,
32:14uma colherinha de,
32:16uma colherinha de chá
32:19de solo
32:20que você pega,
32:21ela tem mais
32:22de um bilhão
32:23de bactérias
32:24e centenas
32:26de milhares
32:27de metros
32:28de ifas de fungo.
32:29Daí você fala,
32:30nossa,
32:30mas por que que eu preciso
32:31pôr bactéria?
32:32Porque se tem
32:33tanta bactéria ali.
32:35Só que o que que acontece?
32:37Graças a Deus,
32:38elas estão todas,
32:39vamos dizer assim,
32:40dormindo lá.
32:41Porque se elas estivessem
32:42vivas,
32:43a gente não ia ter nada,
32:44elas iam ter comido tudo.
32:46Então,
32:46é um ciclo assim
32:47que as bactérias
32:49ficam dormindo,
32:51e quando você dá
32:52um estímulo para elas,
32:53elas acordam,
32:55dependendo do estímulo
32:56que você dá.
32:57Então,
32:57se você colhe
32:59e coloca restos culturais,
33:02aquelas que vão decompor
33:03restos culturais
33:04assim,
33:05mais fáceis
33:06de decompor,
33:07elas acordam,
33:08decompõem.
33:09Se você vier até
33:10com os alunos,
33:10a gente faz esses estudos,
33:12sabe,
33:12para mostrar,
33:13elas sobem,
33:14daí elas caem.
33:15Daí aquelas que
33:16decompõem as coisas
33:18mais difíceis,
33:19que nem lignina,
33:20daí elas sobem e caem.
33:22E a mesma coisa,
33:23essas bactérias
33:24que a gente isolou,
33:26que fazem a fixação
33:27do nitrogênio,
33:28elas estão no solo,
33:29mas elas estão lá
33:30dormindo.
33:31Quando você coloca
33:32uma semente de soja,
33:34por exemplo,
33:34a semente começa a germinar,
33:36daí ela vai enviar
33:37os sinais moleculares,
33:39vai falar assim,
33:39olha,
33:40eu estou aqui,
33:40a bactéria vai acordar,
33:42vai falar,
33:42nossa,
33:43ela está lá,
33:43vai ter que caminhar,
33:44mas ela precisa ter água
33:46para caminhar
33:47até a semente,
33:48daí começa a germinar,
33:49daí elas trocam
33:50mais sinais moleculares,
33:52daí vai começar
33:52o processo.
33:54E ela vai contribuir,
33:55todas essas que estão
33:56no solo,
33:57elas vão contribuir.
33:58Mas as culturas
33:59estão cada vez
34:00mais curtas,
34:01e você tem que maximizar
34:02a contribuição biológica.
34:04Então,
34:05o que a gente faz?
34:06Essas que a gente
34:06selecionou,
34:08então,
34:08essas que a gente
34:09chama bactérias elite,
34:11então,
34:11a gente faz uma
34:12formulação especial,
34:14são formulações assim,
34:15onde a gente tem
34:16um trilhão de bactérias,
34:19às vezes,
34:20por mililitro
34:21do produto,
34:22e mistura
34:23na semente
34:24na hora do plantio.
34:26E daí,
34:26como ela está assim,
34:27fisiologicamente
34:28pronta para começar,
34:30ela não está dormindo,
34:31ela está acordadinha,
34:33ela já vai começar a agir.
34:34E essa é a diferença
34:36de usar os biológicos,
34:37já começa a agir
34:38na hora que você
34:40já usa na semente,
34:41na hora que você
34:42põe no solo
34:43e ela vai dar
34:44um diferencial
34:46na produção.
34:47Depois,
34:47aquelas que estão
34:48no solo
34:48vão contribuir,
34:49mas essa contribuição
34:51que ela dá
34:51te dá um grande
34:53aumento no rendimento
34:54das culturas.
34:55Então,
34:55nós temos uma agricultura
34:57hoje tropical
34:57avançada,
34:59a biologia
35:00contribuindo muito
35:01para reduzir
35:02essa parte
35:03dos nitrogênios
35:05químicos,
35:05principalmente,
35:06que é uma coisa
35:06que nós temos
35:07de importar,
35:08por exemplo,
35:08para o Brasil,
35:08se torna até mais
35:09independente
35:10na sua grande produção.
35:11E do tempo
35:12que você entrou
35:13na faculdade até hoje,
35:14o Brasil deixou
35:14de importar comida
35:15e passa hoje
35:16a se exportar comida
35:17e alimentar
35:18um bilhão de pessoas
35:19no mundo.
35:20Agora,
35:21apesar desse
35:22retrato muito positivo,
35:26o Brasil ainda tem
35:28muito desperdício
35:29de alimento,
35:30o Brasil tem
35:31perda de alimento
35:33nesse transporte
35:34do campo,
35:35da lavoura
35:35para a cidade,
35:37para o supermercado.
35:38o que nós
35:39podemos fazer,
35:40já que a sua
35:41preocupação sempre
35:42foi com alimento,
35:43para combater
35:44esse desperdício
35:46e essa perda
35:47de alimentos
35:48que nós chamamos
35:49da porteira
35:50da fazenda
35:51até o supermercado.
35:52E não é só isso,
35:54você sabe,
35:54eu gosto muito
35:55de aprender
35:57e eu me surpreendi
35:59há uns três anos
36:01com o seguinte,
36:03eu sou membro
36:04da diretoria
36:06da Academia Brasileira
36:07de Ciências
36:08e naturalmente,
36:10lá quando começou
36:10o mandato,
36:11assim,
36:12agrônoma,
36:13ah,
36:14você vai para o grupo
36:15de trabalho
36:15de segurança alimentar,
36:17né,
36:18porque todo mundo
36:19associa,
36:20e eu também
36:20associava,
36:21né,
36:21ah,
36:22alimento,
36:23então eu produzia
36:24alimentos e pronto.
36:25Daí eu falei,
36:26não,
36:26tá tudo bem.
36:27Daí eu fui estudar,
36:28né,
36:29segurança alimentar,
36:30fui falar,
36:30ah,
36:30produção.
36:32E foi muito,
36:33foram meses ali
36:34de muito aprendizado,
36:36sabe,
36:37porque daí eu pude ver
36:38que,
36:39na verdade,
36:40a produção de alimentos
36:41é só 30,
36:4340% ali
36:44desse problema
36:45que a gente tem
36:46de segurança alimentar
36:47e nutricional.
36:48Como você falou,
36:49a gente produz hoje
36:51para alimentar
36:52um bilhão de pessoas
36:54e na época
36:55que estava fazendo
36:56esse estudo,
36:57a gente estava
36:58no final da pandemia,
37:00saiu o dado
37:00muito triste
37:02de que tinha
37:0233 milhões
37:03de pessoas
37:04com insegurança
37:06alimentar grave
37:07no Brasil.
37:08Hoje já diminuiu,
37:09mas eu acredito
37:10que esteja por volta,
37:11ainda tenha mais
37:12de 10 milhões.
37:13Então,
37:14como que pode
37:15a gente produzir
37:16para um bilhão
37:16e ter 10 milhões
37:17de pessoas?
37:18o que é
37:19insegurança alimentar
37:20grave?
37:21É aquela pessoa
37:22que acorda
37:23de manhã
37:23e não sabe
37:25se vai ter
37:25uma refeição,
37:27entendeu?
37:27Então,
37:28como resolver
37:29esse problema?
37:31Então,
37:31não é só
37:32a produção
37:32de alimentos,
37:34é tudo
37:34e a ciência
37:36pode ajudar muito.
37:37Eu até trouxe
37:38para você
37:39o livro,
37:40depois eu quero
37:40que você
37:41mostre ali,
37:43ele está,
37:43ele é disponível
37:45de graça
37:45no site
37:46da Academia
37:47Brasileira
37:48de Ciências
37:49e foi muito
37:50interessante,
37:51que mostra
37:51como a ciência
37:52hoje brasileira
37:53está preparada
37:54para enfrentar
37:56e está capacitada
37:57para enfrentar
37:58esse problema
37:59que vai desde
37:59o levantamento
38:00de dados,
38:01que você tem
38:02que saber
38:02onde é que estão
38:03essas pessoas,
38:04né?
38:05Para você
38:05daí fazer
38:06as políticas
38:07públicas
38:08para aplicar
38:10essas pessoas
38:11e tirar
38:11essas pessoas
38:12da fome,
38:13você tem
38:13que ter
38:14a economia
38:15porque você
38:16fala assim,
38:17qual é a cesta
38:18básica que eu tenho
38:19que ter,
38:20quanto que vale,
38:21né?
38:21Não é assim
38:22que você acorda
38:22e fala,
38:23ah, vou dar
38:23300 reais,
38:24não,
38:24você tem que fazer
38:24estudo econômico
38:25para saber
38:26qual é o valor
38:27mínimo
38:28que uma família
38:29precisa ter
38:30para se alimentar,
38:32você tem que saber
38:33justamente
38:34essa parte,
38:36é uma parte
38:36impressionante,
38:37como que a gente
38:38vai diminuir
38:39perdas e
38:40desperdícios,
38:41por exemplo,
38:42se perde muito
38:43nas colheitas,
38:44nos transportes
38:46e se desperdiça
38:47muito
38:48nos ceasas,
38:49nos supermercados,
38:51nas próprias casas,
38:53frutas,
38:54por exemplo,
38:54a gente tem
38:55perdas e desperdícios
38:56chega a 70%,
38:58e a gente
38:59em ciência,
39:01por exemplo,
39:02a gente tem
39:02várias alternativas
39:04hoje que está mostrando
39:05como processar
39:07alimentos,
39:07aproveitar,
39:08fazer sucos,
39:09tudo isso
39:09diminuindo,
39:11que não perca
39:12o valor nutricional,
39:14até a parte
39:14de educação,
39:16porque a gente
39:16quer construir
39:17uma nova geração
39:19mais saudável,
39:21então a gente
39:21tem que dar
39:22educação
39:23de autocuidado,
39:24de aprendizado
39:26sobre o que comer,
39:27a gente já vê
39:28mudanças hoje,
39:29nessa nova geração
39:32que já
39:33prefere,
39:33já diminui
39:35e os ultraprocessados,
39:37refrigerantes,
39:38tudo,
39:39chegando até
39:40essa parte
39:41tão importante
39:42da comunicação,
39:43porque,
39:44afinal,
39:46a gente pode ter
39:47um conjunto
39:48muito sólido
39:50de informações,
39:51todas corretas,
39:53mas
39:53como você
39:56vai fazer
39:56o público
39:57acreditar
39:58nas informações
39:59corretas
40:00e não
40:00numa informação
40:01errada
40:02que vai,
40:03né,
40:03então,
40:04eu até falo assim,
40:05se eu fosse uma,
40:09se eu tivesse
40:09acesso
40:10a financiamento
40:12de pesquisa,
40:13uma das áreas
40:13que eu mais investiria
40:15hoje,
40:15que eu acho assim,
40:16mais crítica
40:17de investimento
40:18em pesquisa,
40:19em ciência,
40:20é justamente
40:21a área da comunicação,
40:23porque eu acho
40:23que a área
40:24que a gente
40:24está mais perdida,
40:25eu mesmo
40:26não entendo,
40:27sabe,
40:27como que
40:28eu posso
40:29fazer um agricultor
40:31acreditar em mim
40:33e não acreditar
40:34numa pessoa
40:34que eu vejo
40:35que está dando
40:35uma informação
40:36totalmente errada,
40:37mas que tem
40:37muito mais visualização
40:39que eu,
40:39entendeu?
40:40Então,
40:40a gente está
40:41precisando
40:42a ciência
40:44nisso
40:45para ensinar a gente,
40:46então,
40:47inclusive,
40:48para candidatáveis,
40:49né,
40:50acho que você é
40:50sempre um candidatável,
40:52né,
40:52olha lá,
40:53porque no final
40:54de cada,
40:55de cada,
40:56são grandes nomes
40:57que escreveram,
40:57no final de cada um,
40:58eu falei assim,
40:59olha,
40:59eu quero que
41:00seja concreto
41:02em coisas
41:03concretas
41:04de sugestões,
41:05então,
41:06eu falo assim,
41:06se pegar o final
41:07de cada capítulo,
41:08nós dá um programa
41:09de governo
41:10excelente,
41:11tá,
41:11só copiar ali
41:12já dá um programa
41:13muito bom.
41:14Agora,
41:14parte desse desperdício,
41:15quando nós analisamos
41:16a cadeia,
41:17a primeira coisa é,
41:19o Brasil vem cortando
41:20investimento público
41:21há muito tempo,
41:21né,
41:21então,
41:22não só em pesquisa,
41:23como infraestrutura,
41:24estrada,
41:25armazenamento,
41:26nós armazenamos
41:2616% da safra,
41:28que é uma coisa ridícula,
41:29nós precisamos investir
41:30muito nessa questão
41:31de armazenamento,
41:33né,
41:33mesmo agora,
41:34fica aquelas lonas
41:35gigantescas
41:35nas meias do campo,
41:38como se fosse
41:38um armazenamento
41:40de improviso,
41:41né,
41:41então,
41:41nós precisamos investir
41:42muito nisso,
41:43e muito na conscientização,
41:45e recentemente eu vi
41:46que foi lançado
41:47o movimento
41:47Pacto contra a Fome,
41:48que parece que está
41:49fazendo um trabalho
41:49muito bom nessa parte
41:51da,
41:51principalmente da
41:52comunicação,
41:52da divulgação
41:54e da mobilização
41:55da sociedade
41:55em torno desse problema
41:56que é tão grave,
41:57né?
41:58É,
41:58e o livro também,
41:59a gente deixa isso
42:01muito claro,
42:02sabe,
42:03segurança alimentar
42:05é um problema
42:06que não é um problema
42:08do governo,
42:09é um problema
42:11de todos,
42:12e somente
42:12com o apoio
42:13de todos,
42:14sabe,
42:15público,
42:16privado,
42:17e o terceiro setor,
42:18é impressionante
42:19o papel
42:21que o terceiro setor
42:23está tomando
42:24para resolver isso,
42:26e somente
42:26com os três
42:29a gente vai conseguir
42:31solucionar,
42:32e muito importante
42:34também,
42:35muito interessante
42:36que eu achei,
42:38é a conscientização
42:39do setor privado
42:41em alguns pontos,
42:43por exemplo,
42:44o grande,
42:45o grande agro,
42:47que foi um problema
42:49em várias coisas,
42:51por exemplo,
42:51assim,
42:52o grande agricultor,
42:55tinha uma praga,
42:56uma doença,
42:58e ele,
42:58por exemplo,
42:59assim,
42:59não se importava muito,
43:01ele falava assim,
43:01ah,
43:02eu vou passar lá
43:03na minha propriedade,
43:05e pronto,
43:05não me incomodo
43:06com o entorno,
43:07porque eu vou resolver
43:08o problema
43:09na minha propriedade,
43:11só que o problema
43:12agora,
43:12ele se conscientizou
43:13que não é mais assim,
43:15o problema agora,
43:16por exemplo,
43:16mudança climática,
43:18ele não consegue mudar
43:19o clima
43:20na propriedade dele,
43:22entende?
43:22Então,
43:23isso abriu,
43:24não,
43:25eu tenho que trabalhar
43:26em todo o entorno,
43:28com todo o mundo,
43:29para conseguir resolver
43:31o problema,
43:32então,
43:32ele já não está
43:33mais fechado
43:34em si mesmo,
43:35e não se fechando
43:36em si mesmo,
43:38ele viu que ele tem
43:39muitas oportunidades
43:41de colaboração
43:42com o entorno,
43:43um exemplo
43:46muito interessante
43:47que tem no livro,
43:48por exemplo,
43:49abelhas,
43:51o grande agricultor
43:52de soja
43:53viu que abelhas
43:54ajudam a aumentar
43:56a produção da soja,
43:59tá?
43:59Mas,
44:00ele não quer cultivar
44:01abelhas,
44:01então,
44:02ele financiou
44:04o treinamento
44:05de pequenos agricultores
44:06ao redor,
44:07que vão lá,
44:08então,
44:09colocam as caixas
44:10de abelha
44:11na grande propriedade
44:13da soja,
44:14ele paga por isso,
44:16daí esses pequenos
44:17agricultores ainda
44:18levam,
44:19retiram o mel,
44:20então,
44:20aumenta a renda
44:21desses pequenos
44:22agricultores do entorno,
44:24colocando as caixas,
44:25extraindo o mel.
44:27Qualificação de mão
44:28de obra,
44:29que está terrível,
44:29imagina,
44:30o cara lá paga
44:31três milhões
44:32lá por um trator
44:33e vai pôr a mão,
44:34vai pôr na mão
44:35de uma pessoa
44:35analfabeta,
44:36não,
44:37então,
44:37dá treinamento,
44:39educação
44:39para as pessoas
44:41se fixarem,
44:43a gente tem um problema,
44:44a pessoa tem um pouquinho
44:45mais de educação,
44:46quer ir embora,
44:47entende?
44:47Então,
44:48esse entorno,
44:50é muito bonito
44:51ver isso,
44:52sabe,
44:52que as pessoas pararam
44:53de olhar
44:55só para o próprio
44:56umbigo,
44:57então,
44:58olhando mais
44:59para o entorno,
44:59que precisam
45:00olhar para o entorno.
45:02Agora,
45:03no caso dessa abelha,
45:04como é que a abelha
45:04ajuda a aumentar
45:05a produção da soja?
45:07Então,
45:08porque a soja
45:09era,
45:10se achava,
45:11né,
45:11que era uma planta
45:11autógrafa,
45:12aquela que faz
45:13a autofecundação,
45:14mas depois descobriu
45:15que não é bem assim,
45:16sabe,
45:17tipo,
45:17tem muita soja
45:17que pula cerca,
45:19e daí,
45:20então,
45:20as abelhas
45:21aumentam muito isso.
45:23Eu também acho
45:24que tem uma,
45:25essa é a maior explicação
45:28e tem realmente,
45:30tanto é,
45:31que até,
45:31interessante,
45:33o mel,
45:33fizeram o DNA do mel
45:35e dá que o DNA do mel
45:37é da soja.
45:39Então,
45:39muito interessante,
45:40mas eu acho
45:41que também tem
45:42o lado bonito
45:44que é,
45:45que como tem
45:45as abelhas,
45:47a quantidade
45:48de agrotóxicos
45:50que ele usa
45:50é menor
45:51porque ele não
45:52quer matar as abelhas,
45:53né,
45:53então ele usa
45:54mais consciente
45:55os agrotóxicos
45:56e isso também
45:58não precisa,
46:00a gente não precisa
46:01usar tudo,
46:02eu vejo assim
46:02muita pressão também,
46:04né,
46:05de químicos
46:06para usar muito agrotóxico,
46:08tem assim uma,
46:09a gente fala
46:10calendarização,
46:11sabe,
46:12fala assim,
46:12aqui com 10 dias
46:13você usa isso,
46:14com 15 dias,
46:15com 20,
46:16não,
46:16você tem que olhar
46:17se você vai ter a doença,
46:20você tem que analisar,
46:21você ver que grau
46:22que está
46:23para quando você entra,
46:24então eu acho
46:26que isso também
46:26está levantando
46:28mais a consciência
46:29de quando você
46:30vai usar o agrotóxico.
46:32E a questão
46:34hoje
46:34da indústria
46:35dos biológicos,
46:37ela já está
46:38organizada
46:39o suficiente
46:40para competir
46:41com a indústria
46:42química
46:43ou ainda
46:43ela está
46:45engatinhando
46:46nessa competição
46:47de mercado?
46:48Não,
46:48nós temos
46:49uma indústria,
46:50olha,
46:51que eu trabalho
46:52com o mundo todo,
46:53a nossa
46:54indústria
46:55aqui na
46:55Argentina
46:56também,
46:57olha,
46:58é top
46:58do top,
46:59nós temos
47:00indústrias
47:00fantásticas,
47:03ainda a gente
47:04tem uma
47:04possibilidade,
47:06o que aconteceu?
47:06Está estourando,
47:07sabe assim,
47:08nossa,
47:08é uma indústria
47:09nova
47:09por dia aí,
47:11mas nós temos
47:12muito para crescer,
47:13porque
47:13apesar de nós
47:16sermos os líderes
47:17e tudo,
47:18em média,
47:20considerando assim
47:21toda a agricultura,
47:2210 a 15%
47:24só ainda
47:25é de biológicos,
47:26o resto
47:27de químicos,
47:27então nós temos
47:28muito para crescer.
47:29Tem um mercado
47:29grande.
47:30É,
47:30é.
47:31O que que,
47:32qual que é o
47:33problema que eu vejo?
47:35Biológico,
47:36tem muita indústria
47:37de químico
47:38entrando no biológico,
47:39biológico não é químico,
47:41biológico requer
47:42o conhecimento,
47:43é difícil,
47:44tá,
47:45é bem difícil,
47:46eu também sou
47:46professora,
47:48né,
47:48de mestrado,
47:50doutorado
47:51da Universidade
47:51Estadual de Londrina,
47:53se formar um microbiologista
47:54ali há no mínimo
47:55dois anos,
47:56é,
47:57você tem contaminação,
47:58você tem um monte
47:59de coisa e
48:00surgiu uma ideia aí
48:02que qualquer um
48:03pode produzir,
48:04porque você produz
48:04queijo,
48:05cerveja,
48:06você pode produzir
48:07o produto
48:09que você vai usar
48:09na agricultura
48:10e não é isso,
48:11sabe,
48:12são processos
48:13e micro-organismos
48:14totalmente diferentes,
48:16por exemplo,
48:16da cerveja,
48:17do queijo,
48:17você pode produzir
48:19condições ao ar livre,
48:22né,
48:22são micro-organismos
48:24que não permitem
48:26a contaminação
48:27de outros micro-organismos,
48:28tem pH muito ácido,
48:30tudo isso é totalmente
48:31diferente desses
48:32de agricultura,
48:33então começou
48:34uma ideia muito
48:35de que qualquer um
48:36pode produzir
48:37o que quiser
48:38e ninguém tem
48:38nada a ver com isso,
48:40a gente tá muito
48:40com essa coisa no Brasil,
48:41né,
48:42cada um pode fazer
48:42o que quiser,
48:43autodeclaração,
48:44autocontrole,
48:45autotudo,
48:46agora também,
48:46né,
48:47até pra mineração,
48:48tá sendo votado aí,
48:50lei agora,
48:51né,
48:51você se autodeclara,
48:53eu vou minerar,
48:53mas você é bonzinho,
48:54não vou contaminar
48:55o rio,
48:56tudo isso,
48:57então são riscos
48:58que a gente
48:59tem que cuidar
49:01pra não perder
49:02coisa que,
49:03que nem eu falei,
49:03foram 70 anos
49:05que a gente tá construindo,
49:06essa história linda
49:07que a gente tem
49:08de biológico,
49:09não vamos jogar fora,
49:10né?
49:11Agora,
49:12professora Maria Angela,
49:14o que que nós
49:14precisamos fazer
49:15pra organizar melhor
49:18a pesquisa?
49:19Porque hoje
49:20temos Embrapa,
49:21mas assim,
49:22como colaborar melhor
49:23a universidade,
49:24com o setor privado,
49:25ou com pesquisas
49:26de longo prazo,
49:27que não darão resultado
49:28do curto prazo,
49:29mas são pesquisas
49:30fundamentais
49:31que à frente
49:32farão a enorme
49:33diferença,
49:35como é que nós
49:35podemos criar
49:36essa conscientização
49:38de que investir
49:39em pesquisa
49:40é fundamental
49:41pra um país,
49:42principalmente
49:43pra um país
49:44que é uma potência
49:44agrícola?
49:45Olha,
49:46organizados nós somos,
49:48tá?
49:48Nós temos uma
49:49uma rede
49:50e conforme eu falei,
49:51eu já trabalhei
49:52nos Estados Unidos,
49:53já trabalhei na Europa
49:54e tenho colaboração
49:55com,
49:56com a,
49:57com todos os países,
49:58assim,
49:59a organização,
50:00a col,
50:01o espírito
50:02de colaboração
50:03que a gente tem,
50:04pelo menos
50:05na nossa área,
50:06que eu vejo
50:06na área de,
50:07de agro,
50:08na área de,
50:08na nossa área
50:09de biológicos,
50:10então,
50:10fantástica.
50:12É,
50:12é,
50:12não existe no mundo,
50:13a gente colabora,
50:14a gente troca experiência,
50:16a gente troca tudo,
50:17sabe,
50:17é,
50:18nós,
50:19por exemplo,
50:19temos um grupo aí
50:20que,
50:21é,
50:21nosso grupo de biológicos
50:23são 28 instituições,
50:25são Embrapa,
50:26são universidades,
50:27Instituto Federal,
50:28é,
50:29é,
50:30Instituto de Pesquisa Estadual,
50:32então,
50:32a gente colabora.
50:34O que falta pra gente
50:35é,
50:36é dinheiro mesmo,
50:37é financiamento,
50:39e o que que é,
50:41é,
50:41ah,
50:42eu falo assim,
50:43no Brasil a gente não faz pesquisa,
50:44a gente faz milagre,
50:46porque fazer o que a gente faz,
50:48com o dinheiro que a gente dá,
50:50que dão pra gente,
50:51é um milagre.
50:52Então,
50:53fica assim,
50:53uma situação que tão,
50:55é,
50:57o governo fica brincando
50:59que dá condição,
51:01e a gente fica tapando o sol
51:03com a peneira e tentando fazer alguma coisa,
51:07por exemplo,
51:07agora lá mesmo,
51:08tava submetendo,
51:10abriu o edital lá de projeto
51:12da minha empresa, né,
51:14então,
51:15nós vamos achar soluções biológicas
51:17pro trigo,
51:18e eu vou fazer vários experimentos
51:20do trigo no Paraná.
51:225 mil por ano,
51:255 mil por ano,
51:26entendeu?
51:27Não dá nem pra eu fazer análise
51:29das plantas lá que eu vou colher,
51:31então,
51:32é uma coisa assim,
51:33e é tipo 5 mil
51:34pra 3 anos,
51:36e de repente chega no segundo ano,
51:38ah, não,
51:38ficou condigenciado,
51:40não tem,
51:40a gente não tem regularidade,
51:43a gente não tem estabilidade
51:46na distribuição,
51:47então,
51:48isso é muito difícil,
51:49e isso acaba com a pesquisa,
51:51a pesquisa,
51:52então,
51:53básica,
51:54que é aquela que você tem que investir,
51:56que vai demorar pra ter retorno,
51:58nossa,
51:58essa,
51:59então,
52:00tem que ser herói pra fazer.
52:03E o setor privado,
52:05procura muito a gente,
52:07o setor privado,
52:08ele,
52:09olha,
52:10eu falo que eu nem posso,
52:11no nosso laboratório,
52:12a gente nem consegue atender
52:14todo o setor privado
52:15que procura a gente,
52:18e a gente nem tem pernas
52:19pra atender todo o setor privado,
52:22por quê?
52:23Porque,
52:23e esse setor privado
52:24tem sido fundamental,
52:26porque o recurso
52:27que ele dá pra gente,
52:28a gente consegue até fazer
52:29outras coisas,
52:31mas,
52:32é,
52:32daí fica aquela coisa,
52:33a gente não tá só pra atender
52:35o setor privado,
52:36a gente tem que atender
52:37o público também,
52:39então,
52:39porque a gente tem que dar
52:41o retorno pra sociedade,
52:43então,
52:43é,
52:44a gente tem medo disso,
52:45de só ficar atendendo
52:46o setor privado.
52:48Então,
52:48falta uma estabilidade
52:50e regularidade orçamentária,
52:51ou seja,
52:52ter uma verba garantida,
52:53como é o caso da FAPESP,
52:55que tem um percentual
52:56do orçamento do Estado.
52:56Então,
52:57o que que,
52:58o que que acontece?
52:59Eu falo isso,
53:00porque,
53:00ó,
53:00há 40 anos eu tô na pesquisa,
53:02eu nunca,
53:03nunca,
53:04nunca,
53:04em 40 anos,
53:06vi isso que a gente tá passando,
53:08então,
53:08hoje,
53:08a gente não tem orçamento
53:10pra pesquisa,
53:11então,
53:11a gente fica indo atrás
53:13de implorar a emenda parlamentar,
53:16imagina,
53:17então,
53:17aqui,
53:17ah,
53:18e um aqui ganhou outro,
53:19não pode ser isso,
53:20que pesquisa tinha que ser
53:22uma coisa definida,
53:24um orçamento definido,
53:26porque,
53:27o que que acontece?
53:28Hoje,
53:29as coisas estão muito mais rápidas
53:31do que
53:32quando eu comecei,
53:34ou mesmo há 5,
53:3510 anos.
53:37Hoje,
53:37a gente,
53:37por exemplo,
53:39a pesquisa,
53:39uma pesquisa que eu demorei
53:4110 anos pra fazer,
53:42hoje,
53:42eu tenho capacidade de fazer
53:43em 3 anos,
53:44a gente tem edição gênica,
53:46a gente tem inteligencia artificial,
53:48tem tudo,
53:49se a gente parar no tempo,
53:50no espaço,
53:51nós vamos ficar dependentes
53:53de pesquisa externa,
53:54nós vamos perder tudo,
53:56porque hoje está muito rápido,
53:58nós não podemos perder isso,
54:00então,
54:00tem que ser considerado
54:01uma coisa de soberania nacional,
54:04nós temos que ter recursos,
54:05e a gente está amíngua.
54:07É,
54:07principalmente,
54:08porque a nossa pesquisa
54:09é focada na agricultura tropical,
54:11que é uma coisa tinta,
54:12então,
54:12não adianta fazer pesquisa
54:13em clima temperado
54:15e achar que nós vamos conseguir
54:16adaptar a agricultura tropical.
54:17Não,
54:17e quando a gente tenta
54:18transpor algum resultado
54:20da região temperada para cá,
54:22não dá,
54:23não dá,
54:23já se sabe que não dá.
54:26Então,
54:26esta estabilidade
54:28orçamentária,
54:30a meu ver,
54:31acho que é mais fácil
54:32hoje nos governos estaduais
54:33do que no governo federal,
54:34justamente porque
54:35os governos estaduais
54:37hoje têm mais juízo
54:38com a questão fiscal
54:39do que o governo federal,
54:40então,
54:40assim,
54:40para garantir
54:41essa constância de verba,
54:43é possível fazer uma coligação
54:46de governadores
54:46em torno de financiamento
54:48de pesquisa,
54:49principalmente na região
54:50do agronegócio,
54:51os estados que são muito
54:52beneficiados pelo agronegócio?
54:55Ah,
54:55deveria ser,
54:56né,
54:56porque é complicado
54:58isso que eu falo,
55:00por exemplo,
55:00assim,
55:00você pega
55:01você pega uma FAPESP,
55:04tem soja aqui?
55:05Tem soja,
55:06mas não é só aqui,
55:07tem Mato Grosso,
55:08tem tal,
55:09então,
55:10agora você pega,
55:10por exemplo,
55:11uma FAPESP,
55:12os equipamentos
55:14que são financiados
55:15só podem ficar
55:16no estado de São Paulo,
55:17não pode ir,
55:18tipo,
55:18para Mato Grosso,
55:20então,
55:20é muito complicado,
55:22então,
55:23alguma coisa
55:24tem que ser
55:25em nível federal,
55:27entendeu?
55:27Então,
55:28ou,
55:30também,
55:30uma coisa,
55:31o agronegócio,
55:33ele contribui muito pouco,
55:35entendeu?
55:35Então,
55:35deveria ter um fundo
55:37para pesquisa,
55:39o agronegócio,
55:40ele reclama muito
55:42e dá pouco,
55:43o grande agronegócio,
55:45não dá praticamente nada,
55:46que fala,
55:47ah,
55:47isso é coisa do governo,
55:48mas não dá,
55:49você sabe,
55:49o governo está totalmente engessado,
55:51também não tem nada,
55:52o governo está aí
55:53com o IOAF,
55:54que não consegue
55:55ir para frente,
55:56nem nada,
55:57então,
55:57eu acho assim,
55:58que também o agronegócio
56:00deveria ter fundos
56:02para poder financiar
56:05e tornar,
56:05tipo,
56:06porcentagem
56:07das culturas
56:09para poder
56:10financiar
56:11e dar um pouco
56:11mais de estabilidade,
56:13porque senão
56:13vai virar
56:14contra eles mesmo.
56:16Senão,
56:16a pesquisa
56:17vira um ato heróico,
56:18como foi o seu caso,
56:19que recebeu esse grande
56:20prêmio Nobel
56:21da agricultura.
56:23É,
56:23eu falo assim,
56:25que acho que foi
56:25por resistência,
56:27resiliência
56:28e perseverança,
56:29porque todo mundo
56:30falou que eu nunca
56:31ia dar nada
56:32na vida,
56:33que eu só fazia
56:34as escolhas erradas,
56:36né,
56:36e eu falava,
56:37não,
56:37mas alguma coisa
56:38dentro de mim
56:38fala que é isso
56:39que eu tenho que fazer,
56:40então deixa eu ir lá,
56:42mas ninguém,
56:43ninguém merece,
56:45é muito difícil,
56:46então,
56:46olha,
56:46por exemplo,
56:47a gente tem,
56:47eu tenho,
56:48né,
56:49ex-alunos
56:49que estão lá fora,
56:52que vai para fora,
56:54a gente fica muito triste,
56:55mas não pode criticar,
56:58porque é muito difícil,
56:59sabe,
56:59eu sei que é muito difícil,
57:01você não imagina
57:01quantas vezes eu chorei
57:04indo para trabalho,
57:06porque você saber
57:06que você sabe fazer
57:08uma coisa,
57:09que você tem certeza
57:11que aquilo ia contribuir
57:12muito,
57:14e que você não tem
57:15condições para fazer,
57:16porque você não tem
57:17o mínimo de dinheiro,
57:18é muito frustrante,
57:19então,
57:20esses brasileiros
57:21vão lá fora,
57:22quase todos
57:24que vão para fora
57:26são excelentes
57:26e estudaram
57:27em universidades públicas,
57:30entendeu,
57:31são bem formados,
57:31nós gastamos dinheiro
57:33nele,
57:34e eles vão para fora
57:35porque estão frustrados aqui,
57:38então,
57:39a gente tem que mudar
57:39essa realidade também.
57:41Com certeza,
57:41temos que reter
57:42os nossos talentos aqui.
57:43Exato.
57:43Senhora Maria Ângela,
57:44muito prazer aqui
57:45em recebê-la,
57:46parabéns por esse prêmio
57:47que mostra que
57:48resiliência,
57:49no fundo,
57:50dá certo,
57:50com talento,
57:51essa combinação
57:52de resiliência
57:52e talento
57:53dá certo,
57:54parabéns mais uma vez.
57:55Eu que agradeço
57:56essa enorme oportunidade
57:58de estar aqui
57:58falando da Embrapa,
58:00de que nós somos
58:02campeões
58:03de sustentabilidade
58:04e de uso
58:05de biológicos,
58:06ajudando a mostrar
58:08que o Brasil
58:09não é essa coisa
58:11que falam lá fora,
58:13que a gente sim
58:13tem bons exemplos aqui.
58:15Muito obrigado.
58:16E a gente fica por aqui,
58:18e para você que gosta
58:19do jeito Jovem Pan
58:20de notícias,
58:20não deixe de fazer
58:21a sua assinatura
58:22no site
58:23jp.com.br.
58:25Lá você acompanha
58:26conteúdos exclusivos,
58:28análises,
58:29comentários,
58:29e tem acesso
58:30ilimitado
58:31ao Panflix,
58:32o aplicativo
58:33da Jovem Pan.
58:34Obrigado pela sua
58:35companhia
58:36e até o próximo
58:37Entrevista
58:38com Dávila.
58:44Entrevista
58:45com Dávila.
58:48A opinião
58:50dos nossos comentaristas
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