O humorista comenta o livro 'O Brasil (Não) é uma piada', em que detalha sua participação na eleição de Jair Bolsonaro em 2018 e comenta os anos de atuação na Jovem Pan.
Assista à íntegra da conversa com Josias Teófilo e Claudio Dantas: https://youtu.be/8Jr5i0554jo
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00:00Mas, André, é o seguinte, eu quero falar do conteúdo, o livro, eu sinto no livro que você quer limpar tua barra por causa do bolsonarismo, do tempo que você foi bolsonarista, e também tem ali um pouco de uma plataforma política,
00:24o que deixa muito claro que você tem pretensões políticas, você não basta, pelo que eu estou vendo aqui, não basta imitar os políticos, você agora quer ser político, é uma provocação.
00:39Eu tirei essas duas conclusões, eu estou errado ou não?
00:43Meia verdade, parcialmente, certo.
00:46Meia verdade é ótimo.
00:49Parcialmente, parcialmente, porque, primeiro ponto, em relação ao acabamento do livro, só mostrando aqui novamente, acho interessante eu só comentar o conceito da capa aqui,
01:02que foi a versão brasileira Herbert Richards da capa do filme do Robert Redford, aquele galã hollywoodiano dos anos 70, que fez All the President's Men, vários outros filmes,
01:13ele fez um filme chamado O Candidato, The Candidate, de 1972, onde ele é um arquiteto da Califórnia, herdeiro de uma dinastia política,
01:25o pai dele é um governador, um cacique do Partido Democrata há muito tempo, ele também tem uma coisa meio romântica, ele é um ambientalista, herdeiro,
01:34e ele é selecionado ali pelos operadores políticos do pai, que está prestes a sair da política, como herdeiro natural, para fazer uma campanha,
01:45os bolds do Bolsonaro guardados às devidas proporções, como o outsider, o franco atirador, sem experiência prévia na política.
01:52Eis que ele começa a tomar gosto pelo negócio, inicialmente levando na brincadeira, mas ele começa a achar a voz dele,
02:00começa a acertar o tom, a persuadir os eleitores, e no final ele vence a eleição, desculpa pelo spoiler,
02:07mas o filme já tem quase seus 50 anos, mas vale a pena assistir.
02:11Eu só estou mencionando tudo isso porque no final do filme, eu tenho uma semelhança muito peculiar
02:19com a reação que o próprio Bolsonaro teve no momento da vitória dele naquele 28 de outubro de 2018,
02:25onde eu estava dentro da casa dele, que foi aquela sensação de...
02:30Eu não vi uma demonstração de uma alegria genuína, efusiva, até infantil que se espera em momentos como esse,
02:37e sim de alguém quase que de tanto encenar uma espécie de peça cômica, aceitou o resultado a contra gosto,
02:45o semblante dele mudou radicalmente, e eu vi ele e os filhos trocando abraços mais de cumplicidade que de amor,
02:53já antecipando tramas e situações ali que estavam prestes a acontecer,
02:59menos realmente aproveitando aquele momento de consagração máxima.
03:03E no final do programa, o Robert Redford se tranca com o assessor dele numa sala reservada dentro do complexo
03:12onde ele está comemorando a vitória, uma manada de apoiadores ali tentando arrombar a porta,
03:17e a última frase do filme ele fala,
03:20What do we do now? O que a gente faz agora?
03:23Então eu acho que foi bem Bolsonaro essa reação do próprio Robert Redford.
03:27Vale a pena assistir esse filme, e ele tem esse conceito com a bandeira americana atrás,
03:33e ele com a bola, a bolha de chiclete, ele assoprando a bolha de chiclete aí,
03:38que mostra essa dualidade que eu acho que eu tentei imprimir no tom do livro, né?
03:43Um livro que eu não me levo a sério, tem muito humor autodepreciativo,
03:46mas eu trato de assuntos sérios, sempre com momentos de alívio cômico,
03:52sem ser um tom grande e eloquente, realmente...
03:54A sensação que eu quis, Cláudio e Josias, foi trazer os meus leitores
04:00àquela posição privilegiada da mosca na parede, né?
04:04De uma linguagem ultra-descritiva, de todos esses bastidores surreais e alucinantes,
04:09porque não que eu fui testemunha ocular aí na política e também no entretenimento
04:13dos meus anos de jovem fã, e também aí transitando nas esferas do humor,
04:18do entretenimento aí no circuito midiático de São Paulo.
04:21Em relação à sua provocação, usando a palavra que você mesmo colocou,
04:26olha, eu tive quatro convites para vir candidato a deputado federal
04:30de quatro partidos relevantes.
04:32Eu acho que o famoso cavalo branco encilhado passou na minha porta,
04:38que eu poderia ter montado facilmente,
04:40mas eu concluí depois de fazer um exame de consciência longo,
04:44a refletir.
04:45O livro também é uma espécie de acerto de conta, sim, com o que aconteceu no passado,
04:49para eu virar essa página, né?
04:51Eu certamente fiquei muito politicamente exposto nos últimos anos,
04:55fiz isso de peito aberto, não me arrependo.
04:58Eu acho que eu não cobissei a posição de formador de opinião
05:01para uma parcela aí do público, mas foi o que eu acabei atraindo,
05:05por mais que eu atraia o rei de sistemático simultaneamente,
05:07mas que eu ostento como medalha de honra,
05:10eu acho que a história vai julgar todos nós e eu estou bem tranquilo nesse sentido.
05:16Mas eu concluí, assim como o Josias sabe,
05:18que também tem uma veia artística que pulsa dentro dele.
05:21Eu tenho lenha para queimar no entretenimento ainda,
05:23eu tenho apenas 28 anos, a vida é longa,
05:26e agora longe do fragor da disputa,
05:28que é uma expressão que a força aérea usa,
05:31e com uma visão mais branda,
05:33longe daquele coliseu que foi com os meus anos de pânico,
05:38eu consegui botar a bola no chão, respirar fundo
05:41e contar da forma mais honesta possível
05:43tudo que eu vi e vivi nos últimos anos.
05:46Mas, certamente, não falta...
05:48O livro realmente busca transmitir uma visão idealista,
05:51mas não ingênua do Brasil,
05:53com todas as contradições,
05:55mas realmente motivando a todos os leitores
05:57a não esmorecerem, não desistirem
05:59e se manterem envolvidos na medida do possível.
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