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  • há 6 meses
No Brasil e no mundo, as pesquisas eleitorais foram colocadas em dúvida após erros do passado. Crusoé analisa se ainda faz sentido confiar neles.
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Notícias
Transcrição
00:00Boa noite, bem-vindo ao Papo Antagonista, Carlos Graebi, tudo bem?
00:16Salve, Cláudio, tudo bem? Tá me enxergando? Você disse que eu tô fantasiado de cenário hoje?
00:21Tá vestido de estúdio, me lembrou aqueles artistas que fazem
00:29fantoches com as mãos, né? Se vestem de preto, ficam num fundo preto fazendo
00:33fantoches com as mãos para crianças. Então, te peço, faça o fantoche hoje para os
00:37nossos espectadores aqui, né? Deu seu show, deu seu show. Vamos lá, Cruz Oé, capa da
00:45Cruz Oé, matéria assinada por você e pelo Duda Teixeira. É, dá para confiar no
00:50Datapovo? O microfone é seu. Não, Cláudio, não dá para confiar no Datapovo, né? O Datapovo é
00:56essa modinha de fazer enquete e dizer que as enquetes são mais confiáveis do que as
01:06pesquisas, né? Pesquisa é passível de erro? Pesquisa é passível de manipulação?
01:17Mas, é o que mais acontece? Essa foi uma das perguntas que a gente se fez antes de
01:27começar a apurar essa reportagem, né? E a gente encontrou uma resposta feita por
01:33dois estudiosos, um americano, outro inglês, uma pesquisa recente de 2018. Eles pegaram
01:41mais de 30 mil pesquisas de 45 países, começaram lá nos anos 60, para ver se de
01:48fato existia uma piora, se pudesse constatar ali na fidelidade, na credibilidade das
01:59pesquisas, né? E a resposta foi que não. Depois de analisar, pôr lá no computador os
02:06dados de todas essas, mais de 30 mil pesquisas e comparar os números com os
02:15resultados de fato das eleições, eu cheguei a uma conclusão muito clara. O desvio
02:20padrão da pesquisa para o resultado final não é de mais do que 2,1% de 1960 até o
02:33ano 2000. E de 2000 até 2017, que foi quando fizeram o corte ali do estudo deles, o desvio
02:42é de 2%. Ou seja, a margem é pequena e as pesquisas, inclusive as brasileiras que estão
02:51incluídas no estudo, né? Tendem sim a ter uma precisão bastante boa. Elas mais acertam,
03:00ficam mais próximas do que de fato acontece nas eleições, do que erram, né? Então, a gente
03:09tem aí uma demonstração de que pesquisa costuma oferecer um retrato muito próximo
03:17daquilo que está acontecendo no ambiente político de vários países, né? E a segunda
03:24conclusão é que é melhor tê-las do que não tê-las. Porque a grande diferença, e eu
03:31sou leigo nesse assunto, né? Eu e o Duda, a gente foi atrás, começou a conversar com
03:36especialista e tudo, para entender de fato qual é a diferença entre uma pesquisa e uma
03:40enquete. Muito interessante, né? Que a gente se deparou com uma enquete que está sendo
03:44feita em redes do Bolsonaro, né? Redes bolsonaristas. E fala lá, olha, a gente já tem mais de 2 milhões
03:52de respostas. Cada resposta está associada a um único IP, né? Que é uma identidade de computador,
04:01né? Então, a gente tem certeza que foi uma resposta por vez. E ela mostra aqui esses resultados,
04:07Bolsonaro bem à frente do Lula e tal. O que a gente achou de interessante é que, assim,
04:14quando você vai para o comecinho das histórias, da história das pesquisas eleitorais,
04:181936, Estados Unidos, você tinha um magazine, magazine, tô usando a palavra da época, né?
04:29Tinha uma revista literária que já vinha fazendo enquetes com seus leitores há algum tempo. Em 1936,
04:38ela mandou 2 milhões de cartões para os seus leitores, para os seus assinantes, e perguntou,
04:43em quem você vai votar para presidente? E teve lá as respostas. Enquanto isso, ao lado, ali,
04:50escondidinho, o George Gallup, que é o cara que inventou, é o pai das pesquisas, né?
04:59Começou a aplicar técnicas estatísticas que ele vinha usando para fazer pesquisa de opinião em outras
05:05áreas, também para pesquisa eleitoral. E daí a gente tem esse resultado super interessante. Ele fez 50 mil
05:12questionários, a revista conseguiu 2 milhões de respostas, e ele, com 50 mil questionários, conseguiu
05:21um resultado bem mais preciso e, de fato, alinhado com aquilo que aconteceu na eleição, ao passo que
05:32a revista literária lá, que pesquisou com os seus leitores, errou.
05:41E a razão disso, talvez, já choveu no molhado para muitos dos nossos espectadores, né?
05:49É que as pesquisas, elas são feitas com base em amostragem estatística.
05:54Elas tentam reproduzir, no universo pequenininho, aquilo que é o eleitorado de um país, em termos
06:01demográficos. Distribuição dos sexos naquela população e da etária, onde é que as pessoas
06:09são distribuídas, onde é que as pessoas moram no território nacional, qual a escolaridade
06:13delas, a renda das diversas faixas. Ou seja, elas fazem um país pequenininho, que é a
06:21amostragem, vamos dizer assim, né? E, com isso, elas conseguem refletir o que pode ser
06:32o resultado, o que deve ser o resultado da eleição mesmo. Ao passo que uma enquete não
06:39tem nenhum desses cuidados estatísticos. Foi exatamente o que aconteceu no caso da pesquisa
06:44de 1936 nos Estados Unidos. Leitor, assinante de revista, era gente de classe média. Ponto.
06:53E quem foi determinante no resultado daquela eleição, que acabou elegendo Franklin Delano
07:00Roosevelt, né? Foram as pessoas de renda mais baixa, que não tinham grana para assinar
07:04a revista. Essas pessoas ficaram completamente fora do radar da enquete. Então, assim, a diferença
07:11entre um método que procura reproduzir a população em um país e um outro método que pega uma população
07:19sobre a qual você não sabe nada. Pesquisa, então, é muito mais precisa, muito mais próxima da realidade
07:26do que uma enquete. E daí a gente tenta explicar nessa reportagem todas as grandes dúvidas que estão
07:35quicando por aí, né? Faz diferença fazer pesquisa por telefone ou presencial? Inclusive, hoje tem entrevista
07:45feita online, né? Faz diferença fazer pesquisa com mil entrevistas ou duas mil entrevistas? Isso acaba
07:54modificando o resultado, né? Como é que você pode distorcer uma pesquisa e passar despercebido?
08:02É possível fazer isso? Então, são várias perguntas, a reportagem está dividida lá em pedacinhos, né? Que
08:09respondem as várias dúvidas que o leitor pode ter.
08:13Tem uma coisa que a gente até... A gente conversou sobre isso há alguns meses e difícil quando eu
08:24lembro que quando a gente está fazendo pesquisa muito distante da eleição, eu me pergunto quem tem
08:37interesse em responder a esses questionários. Não é mais para o telefone, você está ali fazendo
08:42suas coisas, suas atividades, aí está o telefone, você quer responder uma pesquisa, aí você já desliga
08:47aquele negócio. Aliás, muitos, se você for para o celular, então já vem lá, alerta de spam. Aí você nem
08:54responde. Eu fico me perguntando, quer dizer, há meses ainda, né? Estamos em maio ainda, né? Maio, junho,
09:03julho, agosto, setembro, outubro. A gente percebe ainda também um desinteresse grande, não tem ainda
09:09não tem ainda propaganda efetivamente, né? Aquela propaganda eleitoral gratuita, você tem ali alguns
09:15partidos fazendo o seu, usando o seu tempo de televisão, mas ainda não tem a propaganda eleitoral
09:21gratuita dos candidatos. Então, você não tem muita coisa, muita... Você não tem ainda a eleição
09:26propriamente dita, né? Que só começa em agosto. Então, a gente está num período de pré-campanha.
09:31Então, assim, há ainda um eleitorado, está aí pouco interessado em eleição. Então, eu fico me perguntando,
09:38não sei se você encontrou essa resposta, Graebi, mas é o seguinte, quem responde a esse questionário?
09:44É militante? É jornalista? É político? É assessor? Sabe? Porque o cidadão comum, será que ele está
09:53interessado realmente? Será que ele para o que ele está fazendo no dia dele ali, gasta 20 minutos,
09:58meia hora, 40 minutos para responder um questionário de um instituto de pesquisa desse?
10:03Então, a pesquisa bem feita, e daí a gente tem que acreditar que empresas...
10:13Afinal, o Instituto de Pesquisa é uma empresa, né? Empresas que vivem disso e que precisam ter
10:19credibilidade para conseguir vender o seu produto, que é pesquisa, vão fazer a coisa direito.
10:25Ou seja, elas precisam preencher aquela amostra da maneira estatisticamente correta.
10:34Elas precisam, de fato, ter lá X pessoas de 16 a 24 anos, Y pessoas mais idosas.
10:44Enfim, precisam ficar fazendo ligações e ligações e ligações, ou então correndo atrás de gente
10:50até que elas consigam preencher isso, né? Então, assim, de fato, uma reclamação, vamos dizer assim,
10:57e uma das coisas que encarecem as pesquisas, às vezes, é a necessidade de ficar repetindo, repetindo, né?
11:04Você, ao invés de fazer... Você fala, ah, eu tenho 2 mil questionários respondidos,
11:09só que você teve que fazer 50 mil ligações para chegar nesse mundo, né?
11:13É difícil mesmo. Agora, uma coisa interessante sobre o timing, que a gente descobriu, né?
11:22Fazendo essa apuração, é que um dos motivos por que pesquisas, assim, cada vez mais correm o risco
11:35de não acertar bem na mosca, é o fato de que muita gente, cada vez mais gente, decide o seu voto na última hora.
11:47Um dos nossos entrevistados, né, disse que em todo o país democrático, todo o país onde tem eleição,
11:55de 10 a 20% do eleitorado, acaba decidindo ali na bacia das almas, né?
12:07São pessoas que não têm uma convicção política arraigada, assim, e que, na verdade, estão preocupadas com a sua vida, né?
12:17Vai ter comida na mesa, meu filho vai conseguir ir para a escola, né?
12:22Essas pessoas, elas não seguiam tanto pela política, elas seguiam pela intuição delas, pela observação que elas fazem dos candidatos,
12:33falam, bom, esse cara vai resolver mais a minha vida do que o outro, né?
12:37E essa pessoa tende a resolver, tende a decidir o voto muito tarde.
12:43Assim, começa a decidir, a ponderar de verdade, faltando três semanas para a eleição.
12:51E muitas vezes vai decidir na véspera mesmo.
12:55Esse voto é muito difícil para as pesquisas captarem, né?
13:01E dependendo do tamanho desse contingente de pessoas, que ele vai variando, né, de eleição para eleição,
13:07fica ainda mais difícil para as pesquisas adivinharem a tendência real, né?
13:14Essa eleição brasileira de 2022, tudo indica que tem um contingente grande de pessoas nessa situação.
13:24Os tais nem-nem, né?
13:25Os que gostariam de ter uma terceira via, tudo indica que não vão ter essa escolha de terceira via, né?
13:33E vão ficar lá, fazendo aquilo que os pesquisadores chamam de voto estratégico, né?
13:38Eu vou escolher aquele que me desagrada menos, que me repugna menos, né?
13:45Que tem pouco de estratégico.
13:48Pois é, é estratégico no sentido assim, estratégia para o meu, para o que me interessa, né?
13:55Que tem pouco de estratégico.
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