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  • há 2 dias
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, afirmou que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) deve deixar como legado ao Judiciário brasileiro uma atuação “mais forte, ativa e integrada” na proteção da Amazônia e no combate à criminalidade ambiental. Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, ele destacou que o tribunal tem obrigação constitucional de responder às ameaças climáticas e democráticas. Fachin defendeu que o Judiciário adote práticas de sustentabilidade internamente, fortaleça decisões civis e criminais relacionadas ao meio ambiente e siga atuando com rigor em processos ligados à tentativa de golpe de Estado e ataques à democracia.

Repórter: Jéssica Nascimento
Imagem: Adriano Nascimento | Especial para O Liberal

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Transcrição
00:00E hoje nós estamos aqui com uma entrevista exclusiva com o presidente do SPF, o ministro Edson Fachin.
00:06Ministro, obrigado pela sua participação, obrigado pela sua entrevista, pelo seu tempo com a gente.
00:10Eu é que agradeço e cumprimento o trabalho da imprensa, especialmente em torno desse grande debate global
00:20que está a se fazer a partir de Belém sobre as mudanças climáticas.
00:25A imprensa nacional e estrangeira tem desempenhado um papel essencial e imprescindível de informação a toda a comunidade global.
00:36Sem dúvida. Ministro, a COP30 coloca Belém no centro das discussões globais sobre o clima, como o senhor mesmo disse.
00:43Qual deve ser o legado desse evento para o judiciário brasileiro?
00:47De que forma o Supremo pode fortalecer a justiça climática e garantir a efetividade das decisões
00:52relacionadas à produção da Amazônia e aos direitos de populações tradicionais?
00:56Creio que há duas perspectivas, pelo menos, que se colocam a partir da COP30.
01:02A primeira é uma perspectiva interna do poder judiciário brasileiro e, por via de consequência, do Supremo Tribunal Federal,
01:10que é a de fomentar um conjunto de práticas e comportamentos institucionais que visam prestigiar os predicados da sustentabilidade,
01:23adotando práticas como a descarbonização, a utilização de energia limpa, a mudança de hábitos em relação à reciclagem de resíduos,
01:36tudo isso que diz respeito a uma gestão sustentável interna no poder judiciário.
01:44Por outro lado, há uma dimensão, por assim dizer, externa, que é a prestação jurisdicional, ou seja,
01:53decisões sobre questões ambientais importantes, quer sejam questões cíveis, quer sejam questões criminais.
02:01No plano das ações de natureza civil, se colocam aquele conjunto de medidas que podem se visualizar naquele tripé,
02:16da precaução, da prevenção ou da reparação.
02:20Por outro lado, no plano criminal, nós temos uma grande preocupação com os crimes ambientais,
02:28que, a rigor, vêm, especialmente aqui na região amazônica,
02:34agravados esses crimes pelos seus liames com a macro criminalidade,
02:40com as organizações criminosas,
02:43que demandam uma preocupação que deve ser cada vez maior
02:47de todos os poderes, inclusive do poder judiciário,
02:50para apurar as atividades ilegais que juntam tráfico de pessoas, tráfico de armas, tráfico de drogas,
03:02economia ilegal,
03:04e que acabam fazendo uma espécie de rede,
03:08ou uma forma atípica de governança criminosa,
03:12e é por isso que o judiciário está atento também
03:16a essa dimensão de natureza penal ou criminal.
03:22São os dois aspectos que daqui extraímos
03:25como necessidades pragmáticas
03:29de uma atuação mais forte do próprio judiciário.
03:33Nos últimos anos, o poder judiciário brasileiro,
03:36em todas as instâncias,
03:38foi provocado a dar respostas
03:41e deu essas respostas expressivas,
03:45como descontingenciando fundos
03:48que são destinados à proteção ambiental,
03:52fundo clima ou fundo amazônia,
03:56e, além disso,
03:58também evidenciou a proteção das comunidades indígenas,
04:03dando a elas a guarida
04:07que a própria Constituição Federal prevê
04:09nos seus termos,
04:12e, nesse sentido,
04:14o poder judiciário brasileiro
04:15tem procurado dar as respostas necessárias
04:19para essas demandas.
04:21Não se trata de ativismo,
04:24trata-se, sim,
04:25de ser um poder judiciário ativo,
04:28mas não ativista,
04:29ativo no sentido de não ser omisso.
04:32O poder judiciário,
04:33quando provocado,
04:35ele tem o dever de dar uma resposta,
04:38e o poder judiciário
04:40não se furtará
04:41a dar essas respostas
04:44quando for chamado
04:46a se pronunciar
04:47sobre uma controvérsia,
04:50sobre um pedido
04:51ou uma pretensão
04:52existente na sociedade,
04:54especialmente quando se trata
04:56de proteger os direitos da natureza,
04:59porque nós estamos,
05:00a rigor,
05:01zelando
05:01pela preservação
05:04do próprio ambiente
05:06e também
05:07pelas possibilidades
05:09de vivermos
05:10num futuro habitável.
05:12O julgamento
05:13que condenou
05:14o ex-presidente Jair Bolsonaro,
05:15integrante do alto escalão
05:17do governo interior,
05:18com tentativa de golpe,
05:19marcou um momento histórico
05:20no país.
05:21Como o senhor avalia
05:21o impacto institucional
05:23dessa decisão?
05:24O Supremo Tribunal Federal
05:26julga na sua competência originária
05:30demandas que são levadas
05:32à apreciação do Supremo,
05:34sejam demandas cíveis
05:35e demandas penais.
05:37Quando há uma demanda penal,
05:39o Supremo Tribunal Federal
05:40não age sem ser antes provocado,
05:45ou seja,
05:45há uma investigação policial,
05:48essa investigação é remetida
05:50à Procuradoria-Geral da República,
05:52a Procuradoria-Geral da República
05:55examina para saber
05:56se há indícios mínimos
05:58de materialidade e autoria.
06:00Quando esses indícios,
06:02o Ministério Público
06:03entende que estão presentes,
06:04o Ministério Público
06:05oferece a denúncia
06:07e oferecida a denúncia,
06:10o Supremo Tribunal Federal
06:11decide acolher ou não a denúncia.
06:14Quando acolhe a denúncia,
06:15instaura uma ação penal
06:17e a ação penal
06:18é instruída,
06:21como se diz,
06:22em termos jurídicos,
06:23são carreados elementos,
06:25provas,
06:26ouvidas testemunhas,
06:28produzidas perícias,
06:30e num dado momento
06:31essa ação penal é julgada.
06:33Portanto,
06:34seja a ação penal
06:35por você mencionada,
06:37seja qualquer outra ação penal,
06:39esse é o caminho
06:40que trilha
06:41o Supremo Tribunal Federal
06:42nessa matéria.
06:43O Estado de Direito Democrático
06:46é o Estado escolhido
06:47pela Constituição Brasileira
06:49de 1988
06:50e que corresponde, portanto,
06:54à base do sentido
06:56da legalidade constitucional.
06:58Essa própria Constituição
07:00estabeleceu expressamente
07:04que o Supremo Tribunal Federal
07:05é o guardião da Constituição
07:07e, portanto,
07:08o Supremo é o guardião
07:10do Estado de Direito Democrático.
07:12todas as ofensas
07:14que se dirigirem
07:16contra esse Estatuto de Base
07:18da Constituição
07:19certamente serão investigadas,
07:22apuradas
07:23e serão julgadas.
07:25E é assim que tem feito o Supremo
07:26e é assim que continuará a fazer.
07:29Mais uma vez,
07:29obrigada pela participação
07:30pela entrevista, ministro.
07:32Um bom trabalho a você
07:34e a todos os profissionais
07:35de imprensa
07:36que, especialmente,
07:38nesse momento da COP,
07:39estão espargindo
07:41informações importantes
07:43do Brasil para o mundo,
07:45especialmente quando se dedicam
07:47às questões das mudanças climáticas.
07:50Obrigada.
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