No Direto Ao Ponto, o Ministro Guilherme Boulos (PSOL-SP) comenta a indicação de Augusto Messias ao STF pelo presidente Lula (PT/SP), levantando o tema do descumprimento das promessas de campanha.
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00:01Eu queria, ministro, fazer uma pergunta sobre a indicação do Messias, aproveitando esse tema.
00:09Porque em campanha, o presidente Lula foi muito enfático em dizer que no critério para indicação ao Supremo Tribunal Federal,
00:18ele não indicaria amigos, mas sim pessoas que fossem juristas amplamente reconhecidos.
00:25E no entanto, as indicações nesse mandato tiveram notoriamente, como critério talvez decisivo, o grau de lealdade e fidelidade ao presidente Lula.
00:37O que também num contexto de aumento da desconfiança de boa parte da sociedade a respeito de uma politização do judiciário,
00:46acaba inflamando muitas vezes a percepção das pessoas, independentemente do mérito a respeito das decisões do Supremo.
00:54Na avaliação do senhor, o presidente Lula descumpriu a promessa de campanha?
01:00Olha, Mano, ele teria descumprido a promessa de campanha se ele tivesse indicado o churrasqueiro,
01:07se ele tivesse indicado o irmão dele, se ele tivesse indicado um parente, um amigo, como você citou.
01:15Ele indicou um ministro da AGU com notório saber jurídico e com atuação no ramo jurídico há muito tempo.
01:23Não tem qualquer descompromisso com a promessa de campanha.
01:28Quando o ex-presidente Bolsonaro, que hoje está preso, justamente, indicou o André Mendonça para ministro do Supremo,
01:38sob o argumento do André Mendonça ser evangélico,
01:43eu não ouvi muitos desses questionamentos que estão surgindo em relação ao Jorge Messias.
01:50Eu acho que não tem razoabilidade isso.
01:52O André Mendonça foi sabatinado, foi aprovado no Senado Federal e é um ministro legítimo.
01:58Eu reconheço a legitimidade dele, posso não concordar com ele, com outros ministros.
02:03Aliás, esse é um ponto importante, que você falou de politização do judiciário.
02:09Veja, nenhum ministro do Supremo Tribunal Federal ou membro do judiciário está acima da crítica.
02:16Eu já escrevi artigo em jornal, anos atrás, criticando o Alexandre de Moraes.
02:21Frequentemente, os bolsonaristas recuperam entrevista a mim, vídeo, fazendo críticas ao Alexandre de Moraes.
02:27Já fui processado pelo ministro Gilmar Mendes por fazer críticas a ele.
02:32Ninguém está acima da crítica. Sabe o que não pode, mano?
02:35O que não pode é fazer plano para matar ministro do Supremo.
02:39O que não pode é dizer que vai botar um cabo e um soldado para poder fechar a Suprema Corte do país.
02:47Isso não pode.
02:48Então, ter questionamento ao judiciário é legítimo em qualquer democracia.
02:54Ter questionamento aos membros do poder, seja do judiciário, do legislativo, do executivo, é legítimo em qualquer democracia.
03:03Onde está a fronteira? E é por isso que o Bolsonaro está preso.
03:07A fronteira está em você querer derrubar os poderes, ou virar a mesa, ou dar golpe de Estado, porque você não gosta de quem está lá.
03:16Eu acho que é essa a questão.
03:18Deise.
03:18Ministro, o senhor estava falando aí dos artigos que o senhor escreveu, e o senhor escreveu um livro chamado Para Onde Vai a Esquerda.
03:26E no livro o senhor fala que existe um déficit de autocrítica da esquerda.
03:31E aí a minha pergunta seria, qual a autocrítica que a esquerda ainda não fez, que o senhor acha que falta?
03:38E aí eu lhe devolvo a pergunta, para onde o senhor acha que vai a esquerda?
03:42Olha, Deise, se eu responder para você, para onde eu acho que vai a esquerda, ninguém vai comprar o livro, ninguém vai ler meu livro.
03:50Então, essa eu deixo para quem queira ler o livro.
03:53Mas sobre o que eu acho que a esquerda precisa rever certos pontos, e inclusive conversas que eu tive com o próprio presidente Lula,
04:02é a gente entender também que o mundo do trabalho mudou.
04:04Quando surgiu a CUT, o PT, os maiores partidos de esquerda, é a origem do presidente Lula como uma grande liderança operária no Brasil, no ABC paulista,
04:17você via a classe trabalhadora no Brasil, ela estava muito concentrada na indústria, nos serviços, era uma classe trabalhadora essencialmente ligada à CLT.
04:27Porque hoje, e aí não é só no Brasil, você teve uma fragmentação, ou seja, a classe trabalhadora mudou muito.
04:35Então você tem milhões de trabalhadores hoje dirigindo um Uber, sendo comandados por um algoritmo de plataforma, e esse é o trabalho deles.
04:45Você tem outros milhões de trabalhadores dirigindo uma moto para levar comida para a casa das pessoas, e ali ele não conhece o patrão, ele tem relação com o aplicativo, com uma plataforma no celular.
05:01E eu acho que muitas vezes faltou para o nosso campo político, da esquerda, o campo que eu faço parte, entender a realidade desses trabalhadores,
05:10e buscar fazer propostas reais para a melhora de vida desses trabalhadores.
05:15E é isso que, junto com o ministro Luiz Marinho, ministro do Trabalho, eu tenho buscado fazer, como uma missão do presidente Lula,
05:23da gente construir uma política.
05:25Pega, por exemplo, os trabalhadores que trabalham na Uber.
05:30Se você sair aí do estúdio da Jovem Pan, na Avenida Paulista em São Paulo, e pegar um Uber, sei lá eu, para o Campo Limpo,
05:37ou lá para o Butantã, para a Vila Sônia, ali para a Zona Sul de São Paulo,
05:42você pegar um Uber para lá, você vai gastar uns 60 reais na corrida.
05:48O motorista vai receber uns 40, 35, e é assim em geral.
05:54Então veja, o que a Uber faz?
05:56A Uber não troca um pneu, a Uber não enche um tanque de gasolina, a Uber não tem um carro,
06:01se o motorista bater o carro é problema dele, ela só faz a intermediação tecnológica.
06:06E abocanha uma fatia gigantesca de cada viagem que cada trabalhador faz.
06:13Lógico, é modelo de negócio deles, ninguém está dizendo que eles não têm que ter lucro.
06:17É o modelo de negócio deles, agora não pode ser um negócio sem regra.
06:22E é o que tem acontecido aqui no Brasil, você olha a Europa e vários outros países do mundo,
06:27você estabeleceu direitos para esses trabalhadores.
06:29Uma parte deles não quer ter um vínculo de CLT com a Uber, porque ele quer também poder trabalhar na 99,
06:36ele quer poder trabalhar no outro aplicativo, ver o que é mais vantajoso para ele.
06:39Ele quer um dia fazer uma jornada maior, no outro dia ele quer ficar com o filho, quer fazer outra coisa.
06:45Isso é uma nova classe trabalhadora com outras regras.
06:49Mas você tem que ter garantias para esses trabalhadores.
06:52O mesmo para os entregadores de aplicativo.
06:54Então você ter uma tarifa mínima que o iFood e as empresas paguem para esse entregador
07:00mais do que ele recebe hoje, que é muito pouco.
07:03Muitas vezes ele carrega a nossa comida sem comer.
07:07E não consegue comer, ele vai conseguir comer, parar para comer no fim do dia,
07:11sentindo o cheirinho da comida lá.
07:14Você não tem nenhuma transparência algorítmica,
07:16você não tem nenhum seguro ou previdência para garantir a segurança desse trabalhador
07:22contra acidente ou depois que ele parar de trabalhar.
07:25Então é isso que nós queremos discutir.
07:26Eu acho que esse é um dos pontos que o campo da esquerda demorou muito para entrar,
07:31e eu menciono isso inclusive no livro Para Onde Vai a Esquerda,
07:34e que agora, como ministro da Secretaria-Geral da Presidência,
07:37junto com o meu colega, ministro Luiz Marinho, ministro do Trabalho,
07:41que já teve várias iniciativas importantes nesse sentido,
07:44a gente quer trabalhar, inclusive em parceria com deputados
07:48que estão na Comissão Especial da Câmara,
07:51numa comissão para buscar garantir direitos para os trabalhadores de aplicativo.
07:55Esse é um dos pontos.
07:57Vai lá, Fábio Piperna.
07:59Ministro, boa noite.
08:00Eu ia até perguntar ao senhor uma outra coisa,
08:03mas a Deise tocou num ponto ao qual eu dedico muita atenção,
08:06que é exatamente os rumos que a esquerda pode e deve tomar.
08:11Eu acho muito alviçareiro quando o senhor faz esse aceno
08:14em relação, por exemplo, ao novo trabalho,
08:18a esses novos trabalhadores,
08:20da mesma forma que eu discordo do senhor na questão do ministro Luiz Marinho,
08:24a quem eu considero uma cabeça dos anos 90.
08:28Mas deixando isso de lado, ministro,
08:30o senhor, no seu discurso final,
08:35na campanha do ano passado,
08:37ao admitir lá, enfim, a derrota,
08:40o senhor disse textualmente o seguinte,
08:43algo em relação ao qual eu não entendi absolutamente nada.
08:46O senhor disse a seguinte frase,
08:48a nossa campanha resgatou a dignidade da esquerda de São Paulo.
08:54E aí, ministro, eu fiquei imaginando o seguinte,
08:56puxa vida, a campanha prefeito do Boulos
08:59foi a mais cara campanha que um candidato a prefeito de esquerda
09:03já teve até hoje,
09:04e o senhor teve exatamente 0,03% a mais do que na campanha anterior.
09:12Então, ministro, eu queria entender do senhor
09:15o que significou esse resgate da dignidade da esquerda.
09:20Vamos lá, Piperno.
09:22Eu nem teria vontade de discordar de você
09:25com essa sua voz de locutor, com esse vozerão,
09:28mas eu vou ter que discordar de você.
09:30Deixa eu te dizer,
09:32quando eu falei aquilo na campanha,
09:35isso não tem nada a ver com gastos de campanha.
09:38Isso tem a ver com espírito militante
09:41de levar as pessoas às ruas.
09:44Ganhar ou perder uma eleição é parte do jogo.
09:48Eu não tentei dar golpe de Estado.
09:50Eu não fui lá e fiz minuta do golpe.
09:54E se fizesse isso, que já seria uma vergonha,
09:57eu não teria vergonha dupla de botar uma solda numa tornozeleira.
10:01Eu perdi uma eleição.
10:02É normal.
10:03Eleição se ganha, eleição se perde.
10:05É parte do jogo.
10:06Agora, você pode perder uma eleição de cabeça baixa,
10:11sem defender as ideias que você acredita,
10:14e você pode perder uma eleição com dignidade,
10:17de cabeça erguida,
10:18defendendo as ideias que você acredita,
10:21indo para os quatro cantos da periferia da cidade,
10:23conversar com o povo, ouvir as pessoas.
10:27E foi isso que eu fiz.
10:28Por isso fiz essa fala de que a nossa campanha,
10:31por mais que tenha sido uma campanha que não alcançou o resultado eleitoral
10:35que a gente gostaria,
10:37foi uma campanha digna.
10:38Foi uma campanha que foi conversar com o povo,
10:41olho no olho,
10:43que foi...
10:44Enfim, fui lá na última semana de campanha,
10:47era isso que eu estava me referindo em particular.
10:50Entramos numa van,
10:50fomos visitar os bairros da cidade,
10:52conversar com o povo,
10:54buscar virar voto.
10:55Mas isso é parte, meu caro.
10:57Eleição se perde, se ganha, é do jogo.
11:00O que não pode é tentar virar a mesa quando você perde.
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