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A série “Mussolini” revisita a ascensão do ditador italiano e as origens do fascismo, mostrando como o movimento se formou, conquistou o poder e mergulhou a Itália em um período de autoritarismo e guerra. A trama, analisada pelo cineasta Josias Teófilo, vai além da narrativa histórica e faz um alerta político contemporâneo.

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Transcrição
00:00A gente segue adiante aqui virando completamente a página.
00:02Quem já é aqui do Morning Show sabe bem como a banda toca.
00:05Virando a página e partindo para aquele papo descontraído
00:08e mais do que necessário aqui com o cronista mais ácido da cultura brasileira,
00:13o incomparável Josias Teófilo Alvivaço aqui se juntando a nós
00:17no Morning Show, já nosso cineasta mais divertido e impiedoso do audiovisual brasileiro.
00:23Fala, mestre, prazer em revê-lo.
00:24Josias, bom dia.
00:26Tem, ao que tudo indica, eu quero ouvir de você,
00:28uma série que está provocando reações aí dentro do mundo das artes, né?
00:32Conta pra gente sobre Mussolini, o filho do século, né?
00:37Que teve direção de um inglês, o Joe Wright,
00:39mas que foi inteiramente produzida na Itália com atores italianos falando italiano
00:43e quer mostrar a raiz ali do fascismo de Mussolini. É por aí?
00:48Pois é.
00:49Essa série foi lançada no Brasil na MUBI,
00:52que é aquela plataforma de filme mais alternativos, né?
00:55E foi feita por esse diretor inglês na Itália,
00:59falado em italiano, né?
01:02E agora, o detalhe é que eles tentam trazer para o momento atual, né?
01:07Relacionar com o Trump.
01:09Então, tem um momento em que ele vira o Mussolini da série,
01:13que é todo falado em italiano,
01:15e de repente ele vira e diz
01:16Make Italy Great Again.
01:18Uma referência direta a Donald Trump, né?
01:21Dizendo que Trump é um fascista.
01:23Isso aí me incomodou um pouco,
01:27não por causa do comentário político,
01:28que eu não vejo problema nenhum falar de política.
01:31Política é uma coisa muito importante.
01:33O problema que me incomoda é essa tendência do audiovisual atual
01:37de trazer tudo para a atualidade, né?
01:40E também essas cores meio sépia,
01:43essa coisa um pouco caricatural.
01:45Veja bem, Mussolini já é uma figura muito caricatural, né?
01:48E aí vem o ator interpretar de modo ainda mais caricatural.
01:52Eu não gostei da série, sinceramente,
01:54e eu queria muito ver esse tema,
01:56entender esse tema melhor,
01:58porque é um tema importantíssimo no século XX,
02:00mas me decepcionei muito.
02:02Eu assinei a MUBI só para ver isso.
02:04Eu estava muito curioso,
02:06mas não gostei.
02:08E não estou vendo essa série repercutir tanto
02:11quanto o tema poderia ter repercutido, né?
02:14Então, esse ator principal,
02:16ele está até interessante no personagem Mussolini,
02:19eu acho que combina bem.
02:20E, de fato, dá para aprender vendo essa série,
02:24tem muita informação importante sobre as origens do fascismo.
02:28Eu não sabia que Mussolini tinha uma obsessão por Gabriele Danunzio,
02:31que era um grande poeta italiano,
02:34que também lutou na guerra, foi aviador.
02:37Isso aí eu aprendi vendo a série.
02:39Então, a gente sempre aprende alguma coisa,
02:41mas não gostei da estética.
02:43E também dessa coisa do comentário político.
02:46Passamos por um rápido break para quem está nos ouvindo pela rede Jovem Pan de Rádio.
02:49Seguimos aqui com o Josias Teófilo.
02:50Voltamos para vocês nos ouvindo já, já.
02:53Josias, eu não vou resistir, né?
02:54Fica aquela pergunta, né?
02:55Por que é esmagadora, imensa a maioria,
02:58não só da historiografia,
02:59mas de toda a produção audiovisual,
03:01sempre passa ali de relance, né?
03:04Passa batido das origens socialistas,
03:07tanto de Adolf Hitler quanto de Benito Mussolini.
03:10Passa ali e sempre ficam esquecendo
03:13que eles eram críticos ferozes do liberalismo e do capitalismo
03:16e tentam colocar esses dois escroques aí,
03:20esses dois, enfim, dejetos da história do século XX
03:24no colo da direita sempre, hein?
03:26Pois é, é uma coisa curiosa, né?
03:28Porque se você for ver na série, dá para ver bem
03:30como ele tinha esse movimento socialista
03:33do qual ele saiu, né?
03:35E depois muitos dos que entraram para o partido,
03:39vieram do Partido Socialista, né?
03:41Eu acho que a melhor definição que eu vi
03:43foi a do Pedro Sete Câmara,
03:45que disse o seguinte,
03:46o fascismo é a direita da esquerda revolucionária daquela época.
03:51Então, existia um movimento revolucionário
03:53que era socialista ou fascista,
03:56que inclusive se aliou durante a Segunda Guerra Mundial
03:59e se aliou mesmo, né?
04:00Então, Hitler invadiu a França
04:02usando materiais, gasolina,
04:05tudo da União Soviética,
04:06óleo da União Soviética, materiais,
04:09foi o famoso tratado Ribbentrop-Molotov, né?
04:13Então, a relação entre o fascismo e o comunismo
04:16já foi muito próxima mesmo.
04:19Então, e depois eles brigaram.
04:21Então, a definição do Pedro Sete é realmente maravilhosa,
04:24que é dentro da esquerda revolucionária que existia,
04:27existia a esquerda mais a esquerda,
04:29que era internacionalista e existia a esquerda nacionalista,
04:33que era a mais, que tendia ao fascismo.
04:37E Stalin, você vê,
04:39e Stalin, ele também tende ao fascismo,
04:42porque se você for ver,
04:43ele é um comunista que gostaria de aplicar
04:47a ideia principalmente no seu país.
04:50Então, existem muito poucas diferenças
04:52entre o comunismo e o fascismo,
04:54inclusive na arte.
04:55Se você for ver a arte fascista e a arte comunista,
04:59se você ver o realismo socialista
05:01e ver as obras feitas pelos fascistas,
05:03é muito parecido.
05:04É incrível a semelhança.
05:09É isso aí, José Seteófalo.
05:10A gente agradece demais muitos outros temas aqui
05:12para a gente explorar aqui.
05:13O Morning Show está agitadíssimo,
05:14mas você já é freguês, você já é nosso.
05:17E a gente guarda você aqui ao vivo no estúdio,
05:19aqui na poltrona,
05:20é o que a gente está contando com você da próxima vez.
05:22E estamos juntos, meu irmão.
05:24Bom te ver.
05:24Sempre o mais afiado,
05:26o mais ácido,
05:27cronista da cultura brasileira,
05:29o cineasta, o incomparável José Seteófalo.
05:31Obrigado, meu irmão.
05:32Obrigado.
05:32Valeu.
05:3411 horas e 41 minutos.
05:36E, enfim, algum comentário aqui da bancada,
05:39aqui complementando o que ele disse?
05:41Eu acho que é impressionante
05:43como os coletivismos,
05:44eles têm a sua lógica
05:47de forma muito semelhante.
05:49Exato.
05:50É aquela teoria da ferradura, né?
05:52Você vai tanto para a extrema esquerda
05:54ou para a extrema direita
05:55que tem uma hora que as práticas se tocam.
05:59E, em comum,
06:00há sempre o ódio pelo liberalismo.
06:03E a gente segue adiante, minha diretora?
06:04Algum comentário?
06:05Jesse Peixoto, Guilherme Sugimori?
06:06Podemos seguir adiante?
06:07Eu não assisti a série, infelizmente.
06:09Não assino o MUBI.
06:10Vou assinar talvez para assistir como ele fez.
06:12Vamos ver.
06:13Eu recebi alguns comentários
06:14que o José tem razão sobre a série.
06:16Já tem uma galera aqui da nossa audiência
06:17que assistiu, não está recomendando,
06:19apesar do valor histórico ali.
06:21Tem seu valor, mas também
06:22é um pouco sonolenta e militante.
06:26Jesse Peixoto.
06:26Está falando da história do fascismo na Itália,
06:29com um tom baixo.
06:30Claro que vai ser.
06:31Mas, assim, eu acho que a série,
06:33enquanto objeto cinematográfico,
06:35ela tem também um acorde, né?
06:37Porque num mundo que todo mundo
06:38é chamado de fascista por nada,
06:41talvez eles percebam o que é o fascismo,
06:44de fato, os danos,
06:45o como tem o envolvimento do exército,
06:47como que aquilo é um sentimento
06:49muito diferente do que você.
06:51Chama de fascista só porque eu tenho opiniões
06:53e você discorda.
06:54É isso aí.
06:54O que é isso aí?
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