O ex-vice-presidente do Banco Mundial e ex-diretor executivo do FMI Otaviano Canuto analisa a tentativa de Donald Trump de intervir no Federal Reserve após a demissão de Lisa Cook. A medida levanta dúvidas sobre a independência do Fed, a credibilidade das estatísticas oficiais e o impacto nas expectativas de inflação e juros. Canuto também avalia o papel da inteligência artificial na sustentação do investimento nos EUA e o cenário para a economia até o fim do mandato de Trump.
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00:00E a gente vai falar sobre essa situação agora com o economista Otaviano Canuto, que é ex-vice-presidente do Banco Mundial e ex-diretor executivo do FMI.
00:08Boa noite para você, Canuto. Seja muito bem-vindo.
00:12Boa noite, Marcelo. E atualmente no Policy Center for the News South.
00:16Ótima observação. Muito obrigado.
00:18Bom, da forma como a coisa aconteceu aqui, não resta muita dúvida de que o Trump quer de fato intervir no FED.
00:23Porque ainda que essa denúncia contra a Lisa Koch fosse verdadeira, num processo normal ela deveria ter te dado a chance de defesa, não é?
00:32Naturalmente. E esse é o ponto. A rigor está por ser, inclusive, clarificado se de fato ela cometeu alguma coisa que justificasse uma decisão dessa natureza.
00:47Olha, eu discordo um pouquinho da caracterização que foi apresentada anteriormente, nos seguintes termos.
00:55Mira, a independência de bancos centrais, a independência do Federal Reserve Bank, é uma característica institucional extremamente importante.
01:05Quer dizer, são pessoas eleitas que sugerem nomes para as posições-chave dessas instituições,
01:14nomes que são validados ou não pelo Congresso, como nós temos no Brasil, como é nos Estados Unidos.
01:20Mas, a rigor, uma vez estabelecido o mandato, as pessoas têm que ter autonomia para seguir, para tomar decisões,
01:28de acordo com aqueles critérios técnicos que caracterizam a atividade de dirigência de Banco Central.
01:36E essa independência, ela existe não por acaso, porque muitas vezes, se não tivesse a independência,
01:46os operadores de Banco Central são obrigados a seguir orientações populistas de governos de plantão e assim por diante.
01:56Ou seja, a existência da independência de bancos centrais é um amadurecimento de desenvolvimento institucional.
02:04E os Estados Unidos, assim como outras economias avançadas, e a esse respeito é o caso do Brasil também,
02:13chegaram a um patamar de desenvolvimento que culminou na presença desse tipo de autonomia, de independência de Banco Central.
02:22Olha, é impressionante que, com o tipo de atitude que o presidente Trump assumiu em relação ao Jeremy Powell
02:31e às decisões do FED, e agora passando por essa retirada tentativa, pelo menos, da Lisa Cook,
02:41ela, digamos, ela quebra, ela mostra justamente uma fragilidade na noção de independência do Banco Central.
02:50E eu descorto dele também numa outra coisa.
02:52Veja, é verdade que as taxas de juros de longo prazo, elas tendem a subir em boa parte do mundo avançado,
03:01por conta dos problemas de dívida crescente e assim por diante, na França e em outros lugares,
03:09mas visivamente hoje houve uma conexão entre a demissão pelo Trump da Lisa Cook
03:15e o que aconteceu nos mercados monetários.
03:18Primeiro, os juros de curto prazo moveram-se um pouco para baixo,
03:23porque agora, se acredita, os mercados estão contando com ter uma presença ainda maior
03:30de membros do Comitê de Política Monetária do FED propensos a seguir a orientação do Trump,
03:38além do chefe do Biro de Advisors Econômicos, que vai estar lá temporariamente,
03:46o Stephen Mirren, agora teria alguém para o lugar da Lisa Cook.
03:51Então, a probabilidade de queda de juros em setembro, é claro, algo que foi, digamos assim,
04:01ainda mais acentuado depois do discurso do Jeremy Powell lá em Jackson Hole, agora aumentou.
04:06Mas, ao mesmo tempo, é interessante como hoje os juros de longo prazo subiram.
04:12E os juros de longo prazo subindo, eles significam o seguinte,
04:15uma expectativa para o mercado de que a inflação vai estar mais alta
04:19e a inflação mais alta vai exigir juros no futuro,
04:23que determinam os juros de longo prazo hoje, mais altos.
04:27Então, tem consequências, sim, e não é algo simples.
04:32Não é uma boa notícia do ponto de vista de status de títulos americanos.
04:42Bom, a gente viu já a briga que o Trump tem com o Jerome Powell, agora a Lisa Cook.
04:47Ele também já demitiu um funcionário público porque não gostou da revisão das estatísticas do mercado de trabalho.
04:52Eu queria que você analisasse se tudo isso não pode afetar a credibilidade dos indicadores americanos
04:59e também das decisões fundamentais para a economia americana.
05:03Definitivamente sim, porque ficará aquela sombra de dúvida em relação à possibilidade de que os novos apontados
05:14e a sucessão, no caso do Bureau de Estatísticas do Trabalho, aponta muito nessa direção.
05:22Na exceção que você tenha seguidores e que tenha, digamos, pessoas que não sejam vistas pelo resto da economia
05:33como, digamos assim, pessoas com a capacitação técnica e com o perfil de autonomia para exercer as funções,
05:43é evidente que o grau de confiança no produto das instituições cai.
05:50É, isso é um dano, é um dano que vai se refletir no uso.
06:01O grau de incerteza aumenta em relação às estatísticas que serão usadas nas decisões pelos agentes econômicos.
06:09Como é que você tem visto a reação institucional dos Estados Unidos a essas medidas menos ortodoxas aí,
06:15forçadas pelo governo Trump? O sistema de pesos e contrafeios está funcionando?
06:20Ele está sendo testado.
06:24E aí, haver a extensão em que a reação ameaça à institucionalidade será respondida.
06:37Um dado importante aí vai ser como reage a Corte Suprema em relação a várias dessas medidas.
06:43Não é um desastre, nós estamos falando aqui de um trincado, mas a IGO, a capacidade de responder na mesma extensão é algo que a gente tem visto em falta.
07:01E o presidente Trump está testando os limites, vendo até onde ele pode ir.
07:06Como é que o senhor vê a economia americana até o fim do mandato do Trump?
07:10Tem duas coisas importantes aí.
07:14Olha, eu estou entre aqueles, e como muitos, todos os economistas que eu conheço,
07:24que estavam particularmente muito pessimistas com os resultados do lado tarifário da política do Trump.
07:32Uma expectativa de que a gente teria na margem uma elevação no patamar inflacionário, no mínimo do nível de preços,
07:45e com risco disso contaminar expectativas e, portanto, colocar a inflação de uma maneira mais estável no patamar mais acima,
07:53e ou ter-se uma desaceleração na margem do crescimento econômico por conta do efeito negativo das tarifas sobre atividade econômica norte-americana.
08:05Diretamente pelo encarecimento de produtos ou pelo ônus disso sobre exportações americanas e assim por diante.
08:15Pois bem, verdade seja dita que até aqui a gente não viu, digamos assim, um efeito tão acentuado na margem.
08:23É verdade que as tarifas só agora estão começando a ser exercidas.
08:30Então, os efeitos sobre preços ainda não se desdobraram inteiramente.
08:36Mas também é verdade que, dado o tamanho menor que tem as manufaturas na cesta de consumo do americano hoje em dia, etc.,
08:48o efeito sobre a inflação não foi tão alto na margem.
08:54Ok, tudo bem.
08:56Ao mesmo tempo, tem uma outra coisa que é o seguinte.
08:59Tem um lado da economia americana que, em certa medida, é quem está salvando, inclusive, talvez mais que compensando,
09:08o efeito deletério da política do Trump para a economia americana, que é a inteligência artificial.
09:14É impressionante como os investimentos das grandes empresas que lidam com inteligência artificial
09:21e estão bombando, são investimentos não apenas em centros de energia para, digamos assim,
09:33tornar possível o centro de dados assim por diante, mas é verdade mesmo que tem um baita investimento.
09:40O mundo inteiro botando dinheiro nas NVIDIAs e Big Tax.
09:46Isso, digamos assim, tem, de certa maneira, mantido o nível de investimento, o nível de ampliação do capital fixo nos Estados Unidos
09:55muito acima daquilo do que muita gente esperava.
09:59Então, esse lado é um lado que, digamos assim, está até aqui mais que compensando o efeito deletério da política do Trump.
10:07Agora, de qualquer maneira, mesmo com esse boom da IEA, nós ainda vamos assistir a um crescimento no ano
10:18que, ao final do ano, terá sido bem menor do que aquele dos anos anteriores.
10:23Ou seja, o boom de inteligência artificial minora os efeitos da política econômica do Trump,
10:32mas não elimina inteiramente o efeito deletério.
10:36Então, nós vamos ter, provavelmente, uma economia desacelerando, sem explosão inflacionária,
10:46mas na margem com desempenho bem mais fraco.
10:50E, aliás, é isso que subjais o Jeremy Powell, na sexta-feira passada, lá em Jackson Hole,
10:57ter realçado a sua preocupação com os indicadores de emprego.
11:02E, na margem, o dinamismo caiu brutamente.
11:05Há dúvidas se esse desempenho dos indicadores de emprego refletiram muito mais a ausência de pessoas na força de trabalho
11:14ou menor demanda.
11:17Mas o fato é que, como ele mesmo sugeriu na fala dele,
11:22daqueles efeitos negativos de inflação e desemprego,
11:26na margem, ele está mais preocupado agora com aquele sobre o emprego do que sobre a inflação.
11:30E vai, por isso mesmo, provavelmente, apontar uma aderação de uma queda dos juros na reunião de setembro.
11:37Sim.
11:38Otaviano Canuto, muito obrigado pela sua participação e boa noite.
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