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00:00E hoje é quarta-feira, chegou a hora da coluna Olhar do Amanhã.
00:16E vamos receber o doutor Álvaro Machado Dias, que é professor da Unifesp,
00:23neurocientista, futurista, colunista aqui do Olhar Digital.
00:28Vamos receber o doutor Álvaro Machado Dias.
00:31Olá, boa noite, doutor Álvaro Machado Dias.
00:34Seja muito bem-vindo ao Olhar Digital News, depois de uma mini férias, pelo que eu sei, não é isso?
00:40É isso aí, Marisa, muito boa noite.
00:42Boa noite, doutor Álvaro.
00:44Bom, vamos começar, doutor Álvaro, hoje falando sobre uma questão que está muito em pauta.
00:50Havia uma expectativa de que o presidente Lula enviasse hoje ao Congresso Nacional
00:56um projeto de lei para regulamentar as redes sociais.
01:00Esse assunto voltou ao foco do debate político depois do vídeo produzido pelo youtuber Felca,
01:07que está dando o que falar e que denunciou uma série de abusos e exposições de crianças e adolescentes nas redes.
01:14Diante disso, doutor Álvaro, como podemos esperar, ou o que podemos esperar dessa regulamentação?
01:20Então, no programa do Reinaldo Azevedo, o Lula falou na Band News que mandaria uma proposta do governo
01:29para o Congresso hoje, que tinha uma reunião do governo com o Congresso,
01:34e que essa proposta discutiria o bom e velho tema da regulação das redes sociais.
01:41Agora, a gente tem que lembrar que tem uma proposta que, aliás, a gente já falou sobre ela aqui,
01:46que foi aprovada no Senado no final do ano passado e que está parada na Comissão de Comunicação da Câmara.
01:53Então, eu fiquei pensando, mas que raios de proposta nova é essa?
01:57Provavelmente é uma proposta que replica, ao menos em parte, o conteúdo da que já está tramitando.
02:03E aí, quais são os pontos importantes?
02:06Portanto, respondendo a sua pergunta, o que a gente pode esperar de uma proposta,
02:09seja ela uma nova ou seja agora da tramitação da proposta que está esperando ser reativada lá na Câmara?
02:17Primeiro ponto é a necessidade das empresas, chamadas Big Techs,
02:22de retirarem sem ordem judicial os vídeos e imagens de abuso sexual infantil das redes,
02:30assim que elas forem notificadas.
02:32Isso segue a linha da decisão do Supremo que declarou a inconstitucionalidade do artigo 19 do MCI,
02:40do Marco Civil da Internet, que foi outro assunto que a gente discutiu profundamente aqui.
02:44Então, vamos dizer que há uma sobreposição do ponto de vista legal,
02:50mas aqui a necessidade de ser explícito no domínio das redes sociais,
02:54porque é onde esse problema está pipocando.
02:56Um segundo ponto, e esse eu acho que ele traz realmente uma mudança de paradigma,
03:03é a necessidade das plataformas que oferecem conteúdos pornográficos
03:10de terem métodos muito, entre aspas, confiáveis para verificação etária dos usuários.
03:17Ou seja, para que a gente possa saber que quem está entrando ali não é menor de idade.
03:22O problema da exposição de menores à pornografia se tornou endêmico,
03:28isso a gente também já discutiu aqui, é algo que está impactando de fato as adolescências
03:36e os relacionamentos nessa fase da vida, eu diria que em todas,
03:40e é um problema que realmente precisa ser enfrentado de maneira muito transparente, muito direta.
03:47Porém, existe uma questão de identidade, de preservação da identidade dos usuários dessas plataformas,
03:57que é muito sensível.
03:59Então, esse ponto que eu acho que é o mais relevante para a sociedade,
04:05considerando o tema da sexualidade como um todo,
04:09eu acho que ele ainda vai causar aí muita espécie, muita dor de cabeça.
04:13Finalmente, as plataformas possivelmente terão que solicitar documentos oficiais
04:19comprovando a identidade de crianças e adolescentes que queiram ter contas nas redes.
04:27Então, hoje em dia, por exemplo, no YouTube, você tem o YouTube Kids,
04:32que é uma plataforma ligada à família em que os pais autorizam,
04:37eventualmente, essa produção de conteúdo para quem tem até 13 anos,
04:39e dos 13 aos 18, esse adolescente estaria sob o controle dos pais,
04:44mas tem liberdade para postar o que quiser,
04:47e os comentários também podem acontecer lá no YouTube.
04:50O que acontece?
04:52Essa fase, ela deveria ser controlada de maneira mais rigorosa.
04:56A mesma coisa no Discord e em outras plataformas.
04:59Vai ser um debate complicado, porque o diabo mora nos detalhes, né, Marisa?
05:03E aqui a grande questão é como que esse controle de identidades vai ser feito
05:07preservando a identidade desses pais e, inclusive, evitando o armazenamento desses dados,
05:15porque a LGPD não permite.
05:16Então, eu diria que esses são os principais pontos em discussão
05:19quando a gente está falando desse assunto, que é sexualidade em redes,
05:22à luz do problema da pedofilia que é endêmico no Brasil.
05:26Pois é, como você mencionou, já tinham ali parado,
05:29mas essa denúncia acendeu novamente a fogueira, digamos assim,
05:34para colocar em votação.
05:36Agora, doutor Alves, de que forma o algoritmo das redes
05:40favorece esse tipo de conteúdo denunciado pelo Felca?
05:44Porque não estamos falando, basicamente, somente de adolescentes presentes no vídeo,
05:48porque ele também aparecia, tinha outros adultos que apareciam no vídeo.
05:52Enfim, como que os algoritmos podem favorecer esse tipo de conteúdo?
05:57O demais, o que a regulamentação pode mudar nesse caso?
06:01Certo.
06:02Olha só, os algoritmos, em geral, eles buscam maximizar o tempo de tela dos usuários.
06:08E, em grande medida, eles são agnósticos, ou seja, eles são insensíveis ao conteúdo veiculado.
06:14O sujeito que tem atração por crianças e pré-adolescentes,
06:17ele ficará mais tempo navegando se ele puder acessar esse material.
06:20E é isso que a plataforma lhe oferece.
06:22Ou seja, o problema está em não tratar a especificidade do caso.
06:30É isso que acaba favorecendo a pedofilia e outros comportamentos legais.
06:36O tratamento, olha que interessante isso, né?
06:38A gente fala tanto sobre isonomia, sobre tratamentos idênticos,
06:44sobre liberdade de expressão, mas é justamente a falta de seletividade,
06:48de critério para tratar casos diferentes, casos espúrios, de maneira própria,
06:54que gera esse problema do ponto de vista algorítmico, tá?
06:57Então, quer dizer, não tem nada que as redes estão fazendo
07:00para levar as pessoas a verem mais conteúdos impróprios, pedofilia, o que é que seja.
07:06Isso não existe.
07:07O que existe é a falta de especificidade de tratamento do problema para mitigá-lo.
07:11O que essa abordagem traz de mais profundo?
07:16Que existe algo muito mais sério, o verdadeiro problema, por assim dizer,
07:22que está nos adultos, que exploram esses conteúdos.
07:26Não simplesmente no público, tá?
07:27Que muitas vezes, inclusive, tem transtornos psiquiátricos e tal, enfim.
07:30Tem questões que fogem a esfera da criminalidade e da moralidade.
07:39Também tem esse outro lado, tá?
07:40Desvios de personalidade, desvios que muitas vezes estão ligados também
07:44até transtornos neurológicos, isso aí é mais do que conhecido.
07:47Agora, a grande questão são esses familiares e terceiros
07:51que exploram essas crianças e adolescentes para ganhar uma grana, tá?
07:57E isso daí, quando a gente vai olhar de maneira mais ampla,
08:01se aplica também, por exemplo, à plataforma Kids do YouTube, tá?
08:04Que, na minha visão, ela é como se a gente concentrasse
08:07todos os faróis do mundo, tá bom?
08:10Onde você tem trabalho legal de criança, numa só plataforma,
08:14porque tem um monte de adultos monetizando o trabalho de criança
08:18sem repassar, sem nada, o que, evidentemente,
08:22acontece ao arrepio da lei.
08:25Então, acho que a gente tem que olhar essa questão
08:28também, sobretudo, responsabilizando quem está se beneficiando
08:33desses conteúdos, que está fazendo isso, em grande medida,
08:38para encher o bolso, além de, eventualmente,
08:40satisfazer suas perversões.
08:42Então, esse é o ponto principal e eu acho que,
08:45respondendo aí muito diretamente ao ponto da regulação,
08:48é aí que eu acho que ela tem que ir.
08:49A gente tem que responsabilizar de maneira muito mais incisiva
08:53quem está explorando crianças, seja de maneira sexual,
08:57que isso é crime, cadeia e ponto final,
08:59seja também como trabalho infantil, muitas vezes,
09:03velado como uma brincadeira da família,
09:05que, no final das contas, acaba sendo uma brincadeira
09:08trabalho para essa criança que se vê forçada
09:11a rotinas de gravações de horas e horas,
09:14e a uma infância e adolescência completamente atípicas.
09:17Com certeza.
09:19Bom, vamos acompanhando bem de perto a evolução desse assunto,
09:22que é muito sério, não é, doutor Álvaro?
09:23Agora, vamos mudar um pouquinho de assunto para outro tema
09:26que está aí bastante em pauta.
09:28A gente vem falando aqui sobre o GPT-5,
09:31que chegou na semana passada,
09:33e será muito bom ouvir a sua opinião a respeito.
09:36Você já teve a oportunidade de utilizá-lo
09:39e dizer para a gente qual a sua avaliação?
09:42Sim, utilizei, testei, comparei também
09:45à luz dos benchmarks existentes
09:47e de outros benchmarks que ainda não são validados,
09:50ou estão semi-existentes, estão surgindo por aí,
09:53e que eu acredito que vão ser importantes no futuro.
09:56E a minha percepção é que há um ganho incremental
09:59muito focado em programação.
10:03Eu acho que o curioso nesse lançamento
10:07é que ele dá a sensação que o pessoal da OpenAI
10:12assume que programação é o grande trabalho da humanidade.
10:16A humanidade programa, que coisa de gente que trabalha com software.
10:19E aí, se o programa deles melhora um pouquinho a programação,
10:23ele deu um grande salto.
10:25Porém, isso não é verdade quando a gente analisa
10:28de maneira mais ampla a qualidade dos resultados entregues pelo GPT-5.
10:33Aliás, até em programação,
10:35ele, assim, do ponto de vista do principal benchmark de programação,
10:39ele se tornou o líder, ele está no topo do leaderboard,
10:43mas do ponto de vista do que as pessoas vêm falando,
10:46sobretudo nas empresas onde esses softwares são usados
10:49para mexer em ferramentas muito complexas,
10:52o Cloud Opus 4.1 continua na frente.
10:55Agora, independentemente disso,
10:57o fato é que o que a gente esperava,
11:01o que o mercado esperava,
11:02até porque a própria OpenAI trouxe essa expectativa,
11:06era de um salto disruptivo à inteligência artificial geral, AGI.
11:11Isso definitivamente não aconteceu.
11:14E eu acho que a avaliação principal que eu tenho aqui,
11:18que eu acho que a gente tem que formar a partir desse cenário,
11:22é que há um esfriamento de expectativas em curso
11:26baseado no retorno decrescente,
11:30do retorno marginal decrescente,
11:31para falar como os economistas,
11:33da qualidade a cada novo lançamento.
11:36Em outras palavras,
11:37a gente tem cada lançamento trazendo um pouquinho menos
11:41de frisson,
11:42de maravilhamento do que o anterior.
11:45Isso significa que a gente não vai chegar
11:47na inteligência artificial geral e etc e tal?
11:49Não, não significa.
11:51Agora, indica que esse caminho é mais longo do que se supunha
11:55e que esse caminho, sobretudo,
11:58vai envolver uma competição,
12:01uma convergência das diferentes empresas
12:03que antes não estava sendo esperada.
12:06Se dizia que a OpenAI ia saltar, ia bombar,
12:09e depois era Antropic,
12:11quando o XAI do Elon Musk saltou na frente no leaderboard
12:16de uma prova chamada Humanity Less Exam,
12:20que é uma prova generalista de conhecimento,
12:22se dizia que isso ia acontecer pela via do Grock.
12:25No final das contas,
12:26o que está se revelando verdade é que todo mundo está se emparelhando
12:29e as diferenças estão ocorrendo na base de lançamentos
12:34a cada três, quatro meses,
12:35com 2%, 3% de diferença qualitativa
12:38em função de uma novidade muito pontual
12:40como um novo treinamento
12:42ou algo do gênero
12:43e não como, vamos dizer assim,
12:46uma redefinição de paradigma
12:47tal como aconteceu com o lançamento do chat GPT,
12:50que é o 3.5, ou o GPT-4,
12:52ou esses modelos de raciocínio como o One.
12:54Então é isso que eu estou vendo.
12:55Está todo mundo emparelhado
12:56e a busca da decisão do grau da inteligência artificial,
13:01que é a AGI,
13:03vai acontecer passo a passo
13:04ao longo dos próximos muitos anos.
13:06Agora, inclusive, até falando em expectativa,
13:10até aconteceu de alguns usuários
13:12que desenvolviam, digamos,
13:13um relacionamento mais emocional até
13:16com o chat GPT,
13:17perdeu um pouco disso com o GPT-5.
13:21Como que explica isso,
13:22a sensação das pessoas,
13:24dessa expectativa de como se tivesse
13:26o amigo, como se o amigo tivesse mudado muito?
13:30Pois é, uma das estratégias do GPT-4,
13:33o 4.0 foi de reforçar o puxa-saquismo,
13:38que é essa tendência a dizer
13:40que a pessoa do outro lado está sempre certa.
13:43Isso daí teve como papel inicial
13:46trazer uma experiência de personalidade,
13:50de estilo mais profunda,
13:52mais engajante.
13:54O resultado foi que muita gente
13:56que tinha vulnerabilidades psicológicas
13:59acabou seduzida,
14:01acabou, vamos dizer assim,
14:03emaranhada nos sentimentos projetados na máquina,
14:06tal como se eles existissem de verdade,
14:08e assim criou laços
14:10que se tornaram relevantes
14:12na vida dessas pessoas.
14:13Aliás, vale a pena lembrar
14:15que isso não aconteceu primeiramente
14:17com o modelo da OpenAI anterior.
14:20Isso aconteceu com o Claude 3.0.
14:22houve o enterro do Claude.
14:24Teve um evento no Reddit, inclusive,
14:27em que as pessoas foram lá
14:28e fizeram o funeral do algoritmo,
14:29uma coisa de louco.
14:30E agora, só que a coisa se tornou
14:32muito mais forte com o 4.0 da OpenAI.
14:36Pois bem,
14:37a tendência natural dessas pessoas
14:40é desenvolver,
14:42a partir de um tempo,
14:43uma inabilidade social muito grande.
14:46Por quê?
14:46Porque o relacionamento com o algoritmo
14:48desincentiva as relações lá fora.
14:50Eu acho que nesse caso,
14:51que está todo mundo metendo o pau,
14:53foi muito positivo e corajoso
14:55do ponto de vista do que fez a empresa,
14:56que foi cortar essa história um pouco
14:59e tornar o algoritmo mais neutro,
15:01mais crítico, mais seco,
15:03reduzindo as chances das pessoas
15:05se fecharem em bolhas
15:08de relacionamento com a máquina
15:10e assim perderem a conexão
15:12com o mundo lá fora.
15:13É claro que o resultado
15:14foi um monte de cliente
15:16com vulnerabilidades psicológicas,
15:18com um laço forte com a máquina,
15:19reclamando.
15:21Mas não é ruim, né?
15:22No fundo, no fundo,
15:23essa parte foi boa.
15:24Tá certo.
15:26Pois é.
15:26Então vamos acompanhando
15:27essa evolução a cada semana
15:29aqui no nosso quadro
15:30Olhar da Manhã.
15:31Doutor Álvaro Machado Dias,
15:33muitíssimo obrigada
15:34pela participação aqui hoje.
15:35Nos encontramos na próxima semana.
15:38Eu que agradeço.
15:39Eu agradeço também
15:39todo mundo que nos acompanhou.
15:40E até lá.
15:41Até.
15:42Boa noite.
15:43Ótima semana.
15:43É isso aí, pessoal.
15:46Mais um quadro super bacana
15:48do doutor Álvaro Machado Dias
15:50aqui com a gente
15:51no quadro Olhar da Manhã.
15:53Doutor Álvaro Machado
15:54retorna na próxima quarta-feira
15:56com mais temas bacanas
15:58para discutir aqui com a gente.
16:00Tchau, tchau, tchau.
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