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  • há 3 meses
Transcrição
00:00E como hoje é quarta-feira, chegou a hora da nossa coluna Olhar do Amanhã.
00:17E vamos receber ao vivo o doutor Álvaro Machado Dias, que é futurista, neurocientista aqui,
00:25e colunista do Olhar Digital e professor da Unifesp. Vamos lá? Deixa eu receber o doutor Álvaro Machado aqui.
00:33Olá, boa noite, doutor Álvaro Machado Dias. Seja muito bem-vindo, como sempre.
00:39Muito boa noite, Marisa.
00:40Doutor Álvaro Machado, hoje temos vários assuntos para falar, especialmente do audiovisual, não é?
00:47A Antropic apresentou nesta segunda-feira o Cloud 4.5, que é a nova geração do seu modelo de inteligência artificial,
00:56destacando avanços em codificação contínua, raciocínio financeiro e científico.
01:03Os testes internos mostraram uma tecnologia muito bem-sucedida na área de programação.
01:09Vamos lá, doutor Álvaro, o que há de tão relevante nesse tipo de salto?
01:14A gente está vendo aí uma aceleração elevada, os ganhos estão ralentando aí aos poucos.
01:20Olha só, Marisa, desde o começo desse ano, que a verdadeira métrica que importa para as empresas
01:29deixou de ser a capacidade de topo desses modelos.
01:35Ou seja, qual é a coisa mais excepcional que eles conseguem fazer?
01:40Aquilo que dá publicidade.
01:41Isso deixou de ser importante porque a coisa que se tornou relevante é o tempo de execução
01:49de uma tarefa de escritório sem alucinar.
01:53Ou seja, é o chão da coisa que importa mais.
01:58E o que acontece?
02:00Quando a gente tem um lançamento, muitas vezes a gente olha ele do ponto de vista do topo.
02:07Então, quando a gente olha a performance medida em muitos dos testes mais importantes
02:13para a inteligência artificial, o Cloud Sonnet 4.5 melhora, mas não de maneira incrível, as métricas.
02:22Então, eu diria que é simplesmente uma ferramenta, numa longa série de ferramentas,
02:28que vem revelando um retorno marginal decrescente, como falam os economistas.
02:34Ou seja, a cada nova unidade, a cada novo lançamento, um pouquinho menos de velocidade no salto.
02:42Então, há uma desaceleração.
02:45Porém, minha amiga, quando a gente olha para esse chão, a realidade é outra.
02:50O Cloud Sonnet 4.5 é uma ferramenta que consegue operar durante 30 horas
02:58fazendo atividades agênticas, ou seja, com autonomia de máquina.
03:04Desde que essas atividades não sejam tão complexas assim.
03:08Esse salto conta muito, porque no final das contas,
03:11quase tudo que a gente faz numa empresa e assim por diante,
03:16é relativamente simples.
03:18Essa é a grande verdade.
03:19E uma ferramenta que tem maior capacidade de execução no tempo,
03:24ou seja, que alucina menos, tem mais consistência e método,
03:28ela, no fundo, é muito melhor.
03:30Então, são as duas coisas ao mesmo tempo.
03:32Mas, no resumo da obra, se eu tivesse que escolher um lado,
03:35eu diria que há, sim, continuidade nos avanços, aceleração,
03:41ainda que não seja aquela exuberante que você vê no topo dos rankings de performance.
03:46Agora, doutora Álvaro, ontem nós até falamos aqui no Olhar Digital News
03:52sobre os lançamentos importantes da Open AI.
03:55Então, vamos começar falando aqui agora sobre o Sora 2,
03:59que é o novo modelo de inteligência artificial audiovisual da startup.
04:05Essa tecnologia, claramente, compete ali, né, muito acirradamente com o VEL3, o VEL3 do Google.
04:14Qual que é o impacto dessas, dessa melhoria, digamos assim, desses audiovisuais,
04:19essa evolução para cinema e até mesmo para a produção do audiovisual, na sua opinião, doutora Álvaro?
04:25Olha só, eu diria que para a publicidade, esses saltos são verdadeiramente relevantes.
04:33Usando aquela expressão da moda, eles são disruptivos.
04:38Por quê?
04:39Porque a publicidade, ela mexe com duas coisas importantes que custam fazer.
04:46A primeira são testes de vídeo.
04:48Ou seja, eu quero testar uma ideia do ponto de vista audiovisual para ver se ela funciona
04:54e, a partir desse funcionamento, eu efetivamente ir em sentido à execução final.
05:00Então, eu consigo fazer muito mais testes.
05:03Consequentemente, eu estou, na prática, injetando criatividade experimentalmente para ver o que funciona
05:08e, consequentemente, eu faço as coisas mais rápido e mais barato.
05:11A segunda coisa é a habilidade de você gerar efeitos especiais, pós-produção,
05:19todo tipo de adição de conteúdo para que você tenha uma experiência enriquecida.
05:27Esse tipo de coisa é muito cara, a pós-produção é muito trabalhosa
05:32e ela está cada vez mais sendo, vamos dizer, combinada com essas ferramentas de inteligência artificial.
05:42Em outras palavras, eu faço uma cena, a cena tem ainda algum componente filmado.
05:48Por quê?
05:48Porque, por exemplo, se eu vou botar, sei lá, tem uma lata de tomate aqui no meio,
05:52eu quero ela de uma maneira muito específica.
05:54Não é de qualquer maneira.
05:55E a gente não tem como fazer isso de maneira simples com uma dessas ferramentas como o VIO3 ou o SORA2.
06:02Mas eu faço isso e aí eu combino com os efeitos,
06:06crio todo o fundo de cenário e tudo mais com inteligência artificial.
06:10Na prática, eu corto, sei lá, de 25% a 40% do custo ali nos testes
06:17e quando a gente vai para a área de produção, que não está mais na agência, mas sim nas produtoras,
06:21eu diria que se corta outros 25%, talvez alguma coisa assim, dos custos.
06:27No cinema é um pouco diferente.
06:29No cinema, como a narrativa é longa e como aquilo que se quer é ainda mais objetivo do ponto de vista dos impactos afetivos,
06:40ainda segue um pouco difícil você usar as ferramentas de inteligência artificial
06:46porque é difícil você injetar a dramaturgia ali dentro.
06:50Então, por exemplo, eu quero uma personagem que em determinado momento faça determinada expressão
06:56transmitindo determinada emoção.
06:59A relação entre a expressão e a emoção é algo que pode ser muito natural para um ator de verdade ou uma atriz,
07:05mas eventualmente para aquela que a gente viu na abertura daquela empresa que até lembra Chicória, né?
07:10Não sei se sua mãe te fazia comer Chicória quando você era criança,
07:13mas eu tenho memórias da Chicória.
07:16Então, aquela personagem, ela eventualmente não vai conectar essas duas coisas também
07:22porque isso está no domínio das experiências sutis, é algo muito sofisticado e ainda estritamente humano.
07:31Portanto, no cinema, eu diria que a importância é menor a despeito de estar todo mundo falando
07:36que filmes com Yá vão sair daqui a pouco.
07:38Tudo isso é verdade, vai.
07:39Só não vão ser grandes filmes.
07:40Essa é a grande questão, mas na publicidade o efeito é imenso.
07:46Finalmente, onde ele é mais importante?
07:48No copy de internet.
07:50Veja, hoje em dia a maior quantidade de filmes, por assim dizer,
07:55filmes entre aspas, são filmes produzidos por não profissionais para as redes sociais.
08:01Esse tipo de coisa vai ganhar um impulso muito maior com essas ferramentas
08:06e o que a gente vem observando na prática é o chamado AI Slope, ou seja, são deepfakes,
08:14o vídeo a baleia sai no meio da sala e as pessoas clicam, esse tipo de coisa.
08:20É meio um pega-trouxa muitas vezes, é feito para você clicar.
08:23E isso vai simplesmente aumentar em qualidade e em número.
08:27Muito interessante essa visão, realmente, doutora Álvaro Machado.
08:32Faz toda a diferença, realmente muito interessante.
08:36Agora, eu queria que você comentasse também um pouco sobre a outra novidade do OpenAI,
08:41que é uma espécie de rede social do Sora.
08:45Isso mostra que o OpenAI está avançando até em outros campos, não somente ali para o audiovisual.
08:51Qual é a consequência disso para o mercado, na sua opinião, essa espécie de rede social, doutora Álvaro?
08:58Olha, eu diria o seguinte, o macrofenômeno tem um impacto absurdo.
09:05E ele é exatamente como você descreveu.
09:07Então, empresas como o OpenAI estão aumentando de maneira bastante exuberante o seu leque de ofertas.
09:17E eu diria que aqui a coisa mais importante é a entrada no mundo do e-commerce, agêntico.
09:23A gente já discutiu aqui e, se você quiser, a gente bate esse papo novamente em breve.
09:28Isso é muito importante.
09:30E essas outras coisas, como, por exemplo, a entrada no mundo das redes sociais,
09:35acaba tendo uma importância menor, mas serve de balão de ensaio
09:41para novas experimentações, essas sim, muito mais sérias.
09:44O que eu quero dizer com isso?
09:46Enquanto no mundo do e-commerce o caso de uso está muito bem definido,
09:51a gente entende que comprar com menos cliques tende a ser melhor
09:55e, consequentemente, uma possibilidade aquisitiva agêntica
09:59em que você não tem que visitar os marketplaces tem tudo para decolar,
10:04é muito mais discutível se uma rede social para vídeos em que você se insere no vídeo
10:10e assim por diante, que é o papo todo aqui da ferramenta do Sora, vai decolar.
10:15Porque redes sociais são baseadas num negócio chamado network effects,
10:20que é o efeito da manada.
10:23Então, o e-commerce é assim.
10:24Se, para mim, já é uma vantagem, ele decole, ponto final.
10:29Eu clico, compro mais rápido, fico feliz, você faz isso na tua casa,
10:32nós não temos nenhuma relação um com o outro nesse sentido
10:34e está tudo bem, a empresa ganha muitos bilhões.
10:37Nas redes sociais, eu tenho que achar bom e você bom ao mesmo tempo
10:41para que a rede social viceje.
10:43Isso daí é mais discutível,
10:45porque o que gera esse efeito de manada nas redes sociais
10:48é algo que vai muito além da tecnologia.
10:50Especificamente, o lance do TikTok, ele dialoga com o momento americano.
10:58A venda do TikTok está muito próxima
11:01e o que foi anunciado é que quem vai ficar com a empresa
11:04é a Oracle, do Ellie Ellison, que acabou de passar,
11:08quer dizer, passou por uns dias o Elon Musk como o sujeito mais rico do mundo.
11:13Então, assim, até que ponto essa jogada da Open Eye
11:19não é para mostrar que outros caminhos podem existir
11:22nesse universo das redes sociais,
11:24mas, novamente, como eu falei,
11:26sob a lógica do balão de ensaio,
11:28não assumindo que efetivamente esta rede, por assim dizer,
11:32vai se tornar uma rede bombada como é o TikTok
11:35que está causando todo esse furor no planeta todo.
11:40Agora, doutora Alva, para a gente encerrar outro assunto
11:42que nós tivemos aqui no finalzinho da semana passada,
11:46comecinho dessa, é o investimento gigantesco,
11:50são números exorbitantes na área de inteligência artificial
11:54e, muitas vezes, muitas pessoas até estão questionando
11:57no resultado real, por enquanto, pelo menos no momento.
12:01Na sua opinião, estamos vivendo uma bolha
12:03ou é assim mesmo esse processo de novas tecnologias?
12:08Olha, dizem que quando tem jeito de bolha,
12:11cheiro de bolha, caro de bolha
12:13e o dinheiro parece que está investido em uma bolha,
12:16é porque é uma bolha.
12:19E, ainda mais quando o principal CEO do mercado no assunto
12:23está dizendo que é uma bolha, né?
12:24que é o Sam Neltman.
12:27Então, é claro que existem, assim, fortes indícios
12:32de que isso aqui é uma bolha.
12:34O que significa na prática?
12:35Para quem está nos acompanhando aqui,
12:38significa, um, que muitas das empresas pequenas vão quebrar,
12:41porque a bolha não é necessariamente a bolha
12:44da Open Eye, da Anthropic e assim por diante.
12:47A bolha é, por exemplo, do Lovable, Cursor,
12:51de outras ferramentas que estão com valuations exorbitantes.
12:55Esse é o primeiro ponto.
12:56Segundo ponto para a gente ter em mente.
12:59A bolha pode estourar, como naquela imagem
13:04que você joga um alfinete e a bexiga estoura.
13:07Essa é a mensagem, essa é a referência
13:11que a gente tem da bolha do .com dos anos 90.
13:14Indiscutível, mas nem toda bolha sofre esse efeito.
13:20Muitas bolhas simplesmente murcham,
13:23o que significa que a coisa, os investimentos
13:25começam a declinar, mas nada estoura em cadeia,
13:30a gente não tem aí um apagão daquele setor
13:32de forma alguma.
13:34Eu acho que o caso da inteligência artificial
13:36é esse segundo caso.
13:39Então, não é uma bolha no sentido tradicional
13:42em que daqui a pouco, nossa,
13:43toda hora aparece alguém escrevendo uma reportagem
13:46sobre isso, uma entrevista de alguém famoso
13:49dizendo que é cataclisma da inteligência artificial,
13:53igual quando precisava parar o desenvolvimento
13:56porque em um ano a IA ia ter consciência
13:58e dominar o mundo e não aconteceu nada, sabe?
14:00Nostradamus, esse papo.
14:02Então, esquece isso.
14:04É improvável que aconteça.
14:07O mais provável é que haja um esfriamento
14:09com uma destruição de valor nas menores,
14:13mas efetivamente a construção de data centers
14:18em grande quantidade vai liberar energia
14:22para a produção, para treinamento de modelo.
14:25Em inferência, obviamente, essas empresas
14:29que têm quantidades exorbitantes de clientes,
14:33elas têm capacidade de passar por uma crise,
14:37por mais que elas tenham que ajustar
14:38alguns parâmetros de investimento
14:40com relativa estabilidade.
14:43O fato do Google ser uma dessas empresas
14:45é algo relevante demais.
14:48A Microsoft também está imersa até o pescoço.
14:51Ou seja, é bem diferente do caso da .com
14:54em que o mercado era formado de empresas imaturas
14:59que não tinham produto numa época
15:02em que a especulação era muito mais
15:04sobre o que viria a acontecer
15:05do que sobre a realidade da entrega,
15:07ao contrário de agora que a gente está vendo
15:08uma realidade inequívoca de bons produtos,
15:14como esse Sora 2.
15:16Está certo.
15:17Está aí sempre com assuntos interessantes
15:19aqui na nossa coluna Olhar do Amanhã.
15:22Com certeza, semana que vem,
15:23teremos tantos outros.
15:25Dr. Álvaro Machado Dias,
15:26muitíssimo obrigada por mais uma participação.
15:29Tenha uma excelente semana
15:30e nos vemos na próxima quarta-feira.
15:34Eu que agradeço.
15:35Boa noite.
15:37Está aí, pessoal.
15:38Mais um Olhar do Amanhã
15:39com o Dr. Álvaro Machado Dias,
15:41neurocientista, futurista e colunista
15:43aqui do Olhar Digital.
15:45Como vocês já sabem,
15:46semana que vem tem mais.
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