O Conselho de Ministros das Relações Exteriores da União Europeia realizará uma reunião virtual de emergência na terça-feira (17) para discutir os próximos passos diante da escalada do conflito entre Israel e Irã. A diplomata Kaja Kallas confirmou o encontro, destacando o objetivo de buscar soluções para diminuir as tensões. O professor de direito internacional Manuel Furriela traz detalhes sobre o tema.
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal: https://www.youtube.com/c/jovempannews
Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S
00:00E a gente trouxe há pouco, informação do Fabrício Naysk, que a União Europeia convocou uma reunião de emergência para a próxima terça-feira, 27 representantes das diplomacias dos países envolvidos na União Europeia, ministros das Relações Exteriores, participarão dessa discussão chamada, convocada, de urgência, para discutir justamente o conflito entre Israel e o Irã.
00:25Para entender melhor essas questões, se junta ao nosso time aqui na cobertura especial da Jovem Pan, o professor Manuel Furriella, professor de Direito Internacional, conosco sempre nos ajudando a entender melhor essas questões.
00:37Professor Furriella, seja muito bem-vindo. Boa tarde. Quero já começar com você a respeito desta reunião de emergência convocada pela União Europeia para discutir o conflito entre Irã e Israel. Bem-vindo.
00:49Boa tarde. Realmente, essa reunião vai ser muito importante e já começa uma reação da comunidade internacional. Amanhã, nesse final de semana, nós temos já essa organização da reunião da União Europeia.
01:03E, a partir de amanhã, na semana que vem, o G7 também vai estar se organizando para discutir vários temas e esse, com certeza, vai ser um deles.
01:12Mas, especificamente sobre a União Europeia, nós temos a França liderando esse processo, o Macron apresentando sempre colocações muito fortes a respeito desse conflito, grande preocupação.
01:25Até mesmo porque o impacto econômico de eventual obstrução na circulação dos petroleiros pelo Estreito de Ormuz, o ataque pelos grupos também ligados ao Irã,
01:37podem atacar embarcações internacionais, como é o caso de ataques partidos do IME, eles podem gerar impactos econômicos muito representativos.
01:47E a Europa, como é grande importadora de petróleo e também tem, nos mercados globais, várias questões que entende que podem ser impactadas, acendeu o alerta.
01:59Então, você tem uma questão, obviamente, geopolítica, uma questão de influência, mas econômica de primeira ordem,
02:06que é a União Europeia já muito abalada por conta da guerra da Ucrânia.
02:10Como a Rússia, agora também tem esse conflito que vai trazer grandes perspectivas, grandes desafios para um futuro próximo.
02:19Professor Furriella, e como o senhor avalia uma certa resistência que haveria por parte de Israel em relação à participação, à mediação de países europeus?
02:31Lembrando que Israel vem sendo criticado pela maneira como tem liderado a operação na faixa de Gaza.
02:37Justamente, muitas críticas vindas dos países europeus.
02:41Isso poderia impactar negativamente a solução do conflito?
02:46Sim.
02:46Israel não está, neste momento, muito propenso a diálogo.
02:53Ele tem objetivos militares, isso é muito claro.
02:56Principalmente a partir dos ataques de 2023, de outubro de 2023,
03:02quando Israel sofreu ataques terroristas de grandes proporções, inéditos.
03:07A partir daquele momento para cá, houve toda uma organização de objetivos militares
03:13e grande parte deles foi atingido com êxito por Israel em vários países,
03:19em várias regiões e contra vários grupos, como, por exemplo, em relação ao Hezbollah.
03:24O Hamas também desmantelado e etc.
03:27Mas, neste caso em específico, Israel também entende que os seus objetivos militares
03:35têm que ser atingidos primeiramente para depois começar uma conversação.
03:39Já do lado iraniano, eu vejo que há uma oportunidade.
03:43O Irã já sinalizou a intenção de começar uma conversação
03:48e até poucos dias atrás, antes do início desse conflito,
03:52de uma forma também surpreendente, diplomatas americanos e iranianos
04:00estavam em pleno diálogo.
04:02Tanto é que estava marcada uma reunião importante
04:05entre esses dois grupos diplomáticos para este fim de semana.
04:09Tudo em suspenso por conta desse conflito.
04:11O lado israelense, no meu entendimento,
04:15vai chegar algum momento a ficar propenso a algum nível de diálogo.
04:20Mas, enquanto os seus principais objetivos militares,
04:24relacionados principalmente ao desmantelamento
04:27do desenvolvimento dos armamentos nucleares pelo Irã,
04:31enquanto isso não acontecer,
04:33eu não acho que ele vai começar a se abrir muito para o diálogo.
04:36Vai até dizer que está propenso.
04:38Mas eu acho que nada caminha por enquanto.
04:41Professor Furiel, a gente teve uma notícia divulgada há pouco
04:45pela agência Reuters de notícias,
04:47que disse que o presidente americano, Donald Trump,
04:50teria vetado um plano israelense de assassinar,
04:54de exterminar o líder supremo iraniano, Ali Khamenei.
04:59A gente até discutia, o senhor estava com a gente na cobertura ontem,
05:03e quando a gente perguntou para o representante das Forças Armadas israelenses
05:06se havia essa intenção, e ele deixou claro que não responderia,
05:10mas, segundo a agência Reuters, há sim, haveria pelo menos,
05:15uma intenção de Israel de exterminar o líder iraniano,
05:18e que não será levada adiante por intervenção de Donald Trump.
05:23Como é que o senhor avalia essa notícia divulgada pela agência Reuters?
05:27O serviço secreto israelense, ele mapeia e sempre mantém um controle
05:33tanto de quem são as principais figuras lideranças do Irã,
05:37quanto em relação à sua localização, pré-eventual utilização.
05:41A gente acompanha em várias situações,
05:44onde Israel, mesmo antes desse grande conflito de agora,
05:47atingiu e acabou matando lideranças militares,
05:52lideranças políticas e de várias outras ordens dentro do Irã.
05:57Agora, que a gente também acompanha esses últimos ataques também,
06:00as principais lideranças militares do país foram atingidas,
06:04inclusive alguns cientistas que desenvolviam o projeto nuclear iraniano.
06:10Então, tudo isso para chegar aonde?
06:13O Ayatollah também é um alvo de sempre para eles,
06:17porque ele não é somente um líder religioso,
06:19mas, principalmente, um líder político.
06:22O sistema político que está instaurado no Irã,
06:26desde a Revolução Islâmica,
06:28prevê uma liderança civil,
06:29uma liderança eleita, que é o presidente da República,
06:33um parlamento compondo-se das várias lideranças,
06:37inclusive vários grupos dentro do país,
06:39tem até uma pequena representação judaica,
06:41mas um líder máximo, que é o Ayatollah.
06:44Então, ele é o líder político.
06:46Ele toma as principais decisões.
06:49Então, se a gente vê dessa forma,
06:51seria um alvo natural, nessa lógica agora de Israel,
06:56de desmantelar as lideranças, também atingir esse alvo.
06:59Por outro lado, eu acredito que foi muito prudente o governo americano
07:03em fazer com que o Israel desistisse dessa ideia.
07:07Tem a questão da perda humana,
07:09isso aí a gente não pode querer nunca
07:11que esse tipo de encaminhamento seja o correto,
07:14mas se a gente fizer uma análise militar,
07:18Israel via nele, então, por tudo o que eu falei,
07:21um alvo importante para tentar desmantelar até mesmo um governo
07:26que Israel objetiva destituir, mudar o regime do Irã.
07:31Mas você atingir essa principal liderança,
07:34que confunde-se com uma liderança religiosa,
07:38não somente no Irã, para deixar claro,
07:41ele é uma grande liderança religiosa no mundo islâmico todo.
07:45Se houvesse esse tipo de objetivo,
07:50se esse objetivo fosse atingido,
07:52Israel perderia apoio em toda a região,
07:56em várias seriam as críticas a essa sua decisão,
08:00e dentro do Irã em específico,
08:03que tem lá um governo impopular,
08:05que Israel tenta destituir,
08:07isso poderia agregar a população contra seus interesses.
08:10Então, acertada em termos estratégicos a decisão americana.