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  • 21/05/2025
Com um roteiro ao mesmo tempo sensível, cuidadoso e forte, o longa premiado fala dos casos de abuso sexual de crianças e mulheres na Ilha do Marajó, no Pará.
Transcrição
00:00Transcrição e Legendas Pedro Ribeiro Carvalho
00:30Há mais de 10 anos atrás, um pouco mais de 10 anos,
00:34num encontro que eu tive com a Fafá de Belém.
00:37Ela tinha tomado conhecimento recentemente
00:41sobre os casos de exploração sexual de crianças e mulheres
00:46no Rio Tajapuru, na Ilha do Marajó.
00:48Estava muito mexida com isso e me contou.
00:51E eu nunca tinha ouvido falar também.
00:54Fiquei muito impactada.
00:55Eu entendi que não daria para contar essa história como um documentário,
01:00porque eu geraria muita violência fazendo isso,
01:04pedindo para mulheres e crianças me recontarem
01:07essas experiências muito traumáticas de abuso e de violência sexual.
01:13Então foi aí que o Mano surgiu.
01:16Nós fomos para o Marajó pela primeira vez,
01:19isso em 2014, 2015,
01:21e eu fui ao Marajó com a Antônia Pelegrino,
01:24um roteirista que fez o primeiro tratamento do roteiro
01:26junto com a Camila Agostini, com a Laura Liuzzi, pesquisadora.
01:30Percorremos o Rio Tajapuru pela primeira vez,
01:33foi um mergulho muito intenso.
01:35E a partir daí, esse roteiro começou a ser desenvolvido.
01:38Como retratar essa violência sem mostrar ela graficamente?
01:56Queria trabalhar com uma criança de 13 anos que tivesse a idade da personagem,
02:00eu jamais submeteria essa criança a uma cena que explorasse o seu corpo,
02:08que tivesse um olhar, que sexualizasse,
02:11que pudesse sexualizar de alguma maneira.
02:14Ela é uma criança, isso era muito importante para mim,
02:17que todos esses elementos estivessem muito claros no filme,
02:20quando você assistisse.
02:22Não tem justificativa para esse abuso, para essa violência.
02:26E acho que como mulher diretora, eu pude fazer isso.
02:31Eu fui encontrada na comunidade de Limoeiro,
02:34que lá eu fazia, eu fui encontrada pela produtora de lento Colocaux,
02:38a Amanda Rabelo.
02:40Eu fazia parte do projeto chamado Coração da Leitura,
02:44que é basicamente um projeto com reciclagens, enfim, com várias crianças.
02:48Nisso ela viu uma foto minha, falou que eu tinha um perfil da personagem,
02:51aí quando eu vi, já estava fazendo o teste,
02:53minha experiência com eles foi muito transformadora.
02:56A Fátima, ela é um amor de pessoa, o Rômulo também.
03:00Eu tentei ao máximo me inspirar neles, sabe?
03:02Como eles já são atores, né?
03:04Eu tentei me inspirar neles.
03:05Como foi minha primeira vez atuando,
03:07foi tudo muito novo para mim, foi tudo muito diferente, sabe?
03:11É uma sensação que eu não sei descrever ao certo,
03:15mas é uma sensação única, sabe?
03:17Uma palavra que eu defino para a Marciele é uma... é coragem.
03:23Adorei.
03:24Xixi lenta, velha.
03:25Xixi lenta, velha.
03:26Vou caçar, Tiago?
03:27Eu? Caçar?
03:28Bora.
03:36Calma, não tiro o olho.
03:38Tira o Tcheli.
03:39Eu tenho uma filha, hoje ela tem 11 anos.
03:42E na época de 27, 8.
03:47E eu ficava pensando como que se dá isso, né?
03:50Ficava pensando como que acontece isso.
03:53E aí eu comecei a pensar, e essa é a dureza da coisa, né?
03:59De perceber uma precariedade, e aí o delegado Rodrigo chama de miséria nesse sentido socioeconômico,
04:05que eu amplio mais, uma miséria intrínseca, né?
04:10Uma miséria empírica, né?
04:12Uma miséria espiritual, né?
04:14Assim, uma pobreza de espírito nesse sentido, né?
04:18Porque quando a pessoa toma essa atitude, né?
04:22Quando ele passa esse tipo de ato, ele não tem cerceamento, não tem nenhuma repressão
04:26de nenhuma parte social, nem da família, nem de lugar nenhum, nem do Estado, nem de um corpo religioso.
04:35Ele não tem nenhum, nenhuma repressão.
04:38Pelo contrário, ele tem um reforço da sua autonomia de gênero.
04:46Então, assim, o negócio é complicado, é triste.
04:50Eu senti muitas angústias.
04:52Primeiro porque eu senti uma dificuldade muito grande no início, e isso é a Fátima falando,
04:58de conseguir aceitar essa mulher, sabe?
05:02Aceitar o ciência dela.
05:04Eu me sentia muito inconformada com isso.
05:07E eu senti uma necessidade muito grande de tentar defender a Daniele,
05:11pra ela não ser facilmente vilanizada, porque é fácil cair nesse caminho, pra quem assiste, assim.
05:17Então, eu queria trazer uma humanidade pra ela.
05:21E aí, no processo, eu descobri que a humanidade dela é exatamente as falhas e os traumas que ela carrega.
05:31Vamos nós.
05:34Cíntia, me emprestou batom?
05:41Pra mim, era primordial que você acreditasse 100% no que você estava vendo, né?
05:46E que essa história está acontecendo ali na sua frente.
05:48Mas não era possível filmar o Marajó por uma questão de logística, de segurança.
05:54Então, nós tivemos...
05:55O maior desafio foi encontrar o Marajó fora do Marajó.
06:01Uma situação geográfica também de rio, de casas, ribeirinhas, que fosse muito parecida.
06:07O Rio Tajapuru é um rio muito largo, muito caudaloso, enorme, né?
06:13Quilômetros e quilômetros de rio, assim.
06:15Então, uma menina naquela rabeta, né?
06:17Indo pra uma balsa, é algo muito assustador, assim.
06:20Eu vi isso algumas vezes.
06:23Então, eu queria que o filme passasse essa sensação também, que você entendesse, né?
06:27Que ela está ali naquele lugar sem saída.
06:29Aquela casa, você não tem pra onde correr, né?
06:32Quando a maré do rio está cheia, ela não pode sair correndo, pedindo ajuda.
06:36A maioria, muitas casas estão a quilômetros de distância uma da outra.
06:40Até ter uma comunidade como essa que tem no filme, que tem uma igreja e uma escola.
06:45Então, o nosso grande desafio, a gente passou, acho que, com um ano ou mais de um ano,
06:49fazendo pesquisa de locação.
06:51E acabamos tendo a sorte de encontrar, muito próximo de Belém, ali,
06:55onde tem o rio Guamá, o Kombu, atrás do rio Kombu, na Ilha Grande.
07:01A gente conseguiu construir o nosso Marajóia.
07:06Tu já usaste batom?
07:09Tu gostaste?
07:12Deixa a gente mais bonita, né?
07:15Eu gosto.
07:16Essa parte que tu tá pintando, qual o nome dela?
07:31Peito.
07:33O meu maior desejo com Manas era colocar o espectador no lugar do outro.
07:37E esse outro é essa menina,
07:39essa criança que sofre as mais terríveis violências,
07:42uma violência que não deveria existir, né?
07:45E que é uma violência cotidiana pra nós mulheres.
07:48É difícil, infelizmente, uma mulher que não tenha sofrido algum tipo de violência.
07:53Sexual, física, moral, financeira, psicológica.
07:57Então, Manas é sobre isso, assim.
07:59E eu acho que o cinema tem esse poder.
08:01E, através dele, eu pude construir essa história
08:03que te coloca no lugar dessa menina.
08:05e o meu desejo é que você saia dessa experiência
08:07incomodado, transformado, né?
08:11E encorajado, as Manas encorajadas a quebrar os silêncios.
08:15Se você tem algum problema em casa, aceite!
08:18E aí

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