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Nesta entrevista, André Passos, professor da Fundação Getúlio Vargas, explica os próximos passos do acordo Mercosul–União Europeia, previsto para assinatura no dia 20 de dezembro, e analisa como essa negociação pode influenciar a aplicação da Lei Antidesmatamento da UE (EUDR). A conversa aborda desde a viabilidade prática das exigências europeias até os impactos para o agro brasileiro, discutindo se há abertura real para compreender a produção em clima tropical ou se o protecionismo ainda deve prevalecer.

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Transcrição
00:00E nós vamos tratar agora de Europa, para falar desses vários acontecimentos aí em 2025
00:06que relacionam então o velho continente e o Brasil e o agro-brasileiro.
00:12Por isso, nós vamos destacar aqui o acordo entre Mercosul e União Europeia
00:17e também a lei anti-desmatamento da União Europeia, chamada aí EUDR e UDR, né?
00:24Estes dois assuntos, afinal, eles vão sair do papel? Como que a gente pode esperar que 2026 seja um ano aí que esses assuntos avancem?
00:33Para entendermos os seus próximos passos, nós vamos conversar com o André Passos, professor de Direito na Fundação Getúlio Vargas.
00:42Muito obrigada pela participação aqui novamente, André.
00:45Queria entender contigo aí sobre, começar a falar sobre esse acordo Mercosul e União Europeia
00:52que está previsto para ter uma assinatura ainda esse ano, né?
00:56A gente está falando aí pelo menos dia 20 de dezembro.
01:00Você acredita que isso vá se concretizar?
01:03Ah, essa data, ela deve de fato aí representar a assinatura de algo que está sendo esperado há tantos anos?
01:09E depois do processo protocolar aí de assinatura, o que que muda na prática?
01:15Obrigada de novo pela participação.
01:18Olha, Mariana, uma honra estar nesse programa novamente, esse programa tão importante para o agronegócio brasileiro.
01:26E quanto às expectativas, né? Elas estão altas, né?
01:30Tudo indica, e desde que isso foi negociado em Montevideo ainda esse ano,
01:36que a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia vai se dar até o dia 20 de dezembro, né?
01:43O Parlamento Europeu precisa passar e autorizar isso no dia 18 de dezembro,
01:47mas tem alguma resistência ainda vindo de alguns países produtores da Europa,
01:51tais quais Polônia, Itália e a própria França.
01:56Em relação às questões do acordo, há no acordo um quantitativo de alguns produtos agropecuários
02:05que podem ser vendidos através do acordo União Europeia-Mercosul.
02:11Carne, café, alguns produtos específicos, suínos, carne de frango e por aí vai.
02:21E esses quantitativos, eles representam aí o início de entrada em vigor desse acordo.
02:29Ocorre que em 8 de dezembro último, no Parlamento Europeu também,
02:34através desses países que estão um pouco mais resistentes ao acordo,
02:39discutiu-se aí uma limitação dessas compras,
02:42quando os percentuais de preços oscilarem no mercado interno.
02:47E isso tem colocado, principalmente os interlocutores brasileiros,
02:52em relação à própria execução do acordo União Europeia-Mercosul,
02:57um tanto quanto preocupados em relação à assinatura.
03:00Então, a primeira questão é, se vai ocorrer ou não a assinatura no dia 20 de dezembro,
03:05como você me perguntou,
03:07isso vai depender dessas novas salvaguardas de 8 de dezembro agora,
03:12que foram discutidas no Parlamento Europeu,
03:16e se essas novas salvaguardas vão ou não,
03:19de alguma forma, colocar por terra o que já foi negociado no acordo do Mercosul a ver.
03:26Então, esse é o primeiro ponto.
03:28No segundo ponto, em relação à EUDR,
03:31ou seja, Green Deal Europeu,
03:33as normas de proteção à lei anti-desmatamento europeia,
03:37é uma lei europeia, mas que tem efeitos multijuridicionais,
03:43tem efeitos extraterritoriais.
03:45O que é isso?
03:46Significa dizer que, a despeito de ser uma lei passada para o Parlamento Europeu
03:51e impactar diretamente países da União Europeia,
03:55aqueles países que transacionam com países integrantes da União Europeia
04:00poderiam vir a ser afetados através de um processo de due diligence
04:05em cima de critérios escolhidos por essas novas diretivas europeias.
04:11E qual é o critério basilar?
04:13O critério basilar é
04:14se houve desmatamento a partir de 2020,
04:19então as partes transacionantes
04:23numa exportação de produtos para a União Europeia
04:26não poderiam, então, vender produtos agropecuários para a União Europeia.
04:32Frise-se, não há distinção nesse regulamento
04:36se esse desmatamento foi legal ou ilegal,
04:39como a gente sabe, no Brasil a gente tem o Código Forestal,
04:44a gente tem o Cadastro Ambiental Rural,
04:46que determina percentuais de proteção,
04:50aliás, percentuais mais rígidos do mundo,
04:53em algumas regiões do Brasil a gente chega até 80% de reserva legal
04:57e o que está dizendo esse regulamento
05:00é que nem as áreas passíveis de abertura
05:06para fins de produção estariam livres, então, desse embargo europeu.
05:11O que ocorre é que alguns países questionaram
05:14os critérios para essa elegibilidade,
05:17dentre eles o Brasil
05:18e, além do Brasil, alguns países europeus, como a Alemanha.
05:23Então, essa é uma questão que também está em aberto.
05:26A própria entrada em vigor do EUDR
05:29foi adiada para 30 de dezembro de 2025
05:34em relação a grandes empresas, a grandes vendas,
05:37a grandes produtores,
05:39e para junho de 2026 em relação a pequenos e médios produtores.
05:43A maioria dessas operações são cursadas
05:46não só com grandes produtores,
05:49mas também com cooperativas de produção, etc.,
05:52que contém, em seu contexto,
05:54médios e pequenos produtores.
05:56Então, a gente tem duas questões em andamento ao mesmo tempo.
06:01A gente tem o acordo União Europeia-Mercosul
06:03e essas questões das salvaguardas
06:05que podem vir a causar algum tipo de ruído
06:08na assinatura marcada para o dia 20,
06:10e a gente tem a lei anti-desmatamento europeia,
06:14os EUDRs, que ainda estão sem vigorar
06:17e que ainda estão sendo questionadas
06:19em como isso vai se dar,
06:21como essa due diligence,
06:22como essa eleição dos critérios do desmatamento
06:25vai ocorrer para que esses produtos
06:28possam acessar o mercado europeu.
06:31Não sei se eu fui claro,
06:32mas procurei ser abrangente na resposta à sua pergunta.
06:36Perfeito, André.
06:37Não, obrigada.
06:38O que eu queria entender é
06:40como que esses assuntos se relacionam.
06:42Então, o acordo saindo,
06:44essas salvaguardas aí,
06:46elas estando todas aceitas por ambas as partes
06:50e a assinatura, de fato, acontecendo no dia 20.
06:53O acordo Mercosul-União Europeia,
06:55de alguma forma,
06:56abre chances de flexibilizar a UDR
07:00ou de, pelo menos,
07:02ser uma porta de entrada para dialogar sobre,
07:05olha, vocês estão pegando muito pesado.
07:07Já que agora existe um acordo Mercosul-União Europeia,
07:10vamos rever,
07:11você acha que uma coisa pode levar à outra?
07:14Nos bastidores,
07:16esses assuntos, eles estão correlacionados ou não?
07:21Sim, Mariana,
07:22muito boa pergunta, por sinal.
07:24Porque dá, acho que a gente,
07:25a oportunidade de explicar
07:27como esses regimes, eles acontecem,
07:30ocorrem em termos de direito internacional.
07:32O acordo União Europeia-Mercosul,
07:34obviamente, vai ter todo um regramento,
07:37inclusive, para definir
07:39aí como vão se operar, né,
07:42essas vendas entre blocos, né,
07:44entre os países do Mercosul
07:46e os países integrantes da União Europeia.
07:49E, obviamente,
07:50mecanismos de arbitragem de eventuais conflitos.
07:54O que significa isso?
07:55Significa isso que, realmente,
07:57com o acordo Mercosul em vigor,
07:59o acordo União Europeia-Mercosul em vigor,
08:02pode ser que,
08:04para fins de aplicação da EUDR,
08:07a gente tenha aí algumas regras, né,
08:10específicas do tratado União Europeia-Mercosul,
08:14que, de alguma forma,
08:16suavizem ou relativizem
08:18as questões mais rigorosas da EUDR,
08:22a despeito, como eu disse,
08:24dessa questão burocrática,
08:26de como vai se dar.
08:27Isso está em discussão ainda, né,
08:29como vai se dar a EUDR,
08:30como vai se dar as comprovações,
08:33levantamentos,
08:34qual será a documentação,
08:35inclusive, não só Brasil,
08:36como Alemanha,
08:37questionaram esse andamento
08:39e como não entrou em vigor ainda,
08:41isso ainda não está definido.
08:44E mais,
08:45eu diria mais para você,
08:46eu diria que,
08:47além disso tudo,
08:49a gente teve aí a COP30,
08:50recentemente, no Brasil,
08:52Belém do Pará,
08:53e na COP30,
08:54foi apresentado um estudo muito amplo,
08:56por parte de várias entidades brasileiras,
09:00capitaneado pelo Laboratório de Bioeconomia
09:03da Fundação Getúlio Vargas,
09:05mostrando que o agronegócio brasileiro,
09:08ao contrário do que se teria em mente anteriormente,
09:15por conta dessas questões das diretivas europeias,
09:20do Green Deal,
09:22das questões extra-tarifárias,
09:24que a gente sempre assiste aí
09:26nas discussões internacionais,
09:28mostrando, por exemplo,
09:29estudos,
09:31estudos feitos com muita seriedade
09:34por instituições acadêmicas,
09:35por instituições de pesquisa,
09:37que o agronegócio brasileiro,
09:38por exemplo, na pecuária,
09:40ele, na forma que produz atualmente,
09:43ele captura 77% dos gases de efeito estufa,
09:48e quando você passa para um modelo de integração
09:51lavoura, pecuária e floresta,
09:53esses números vão a mais de 90%.
09:56Então, eu acho que não só a questão do tratado
10:00tem uma regra específica
10:02para a solução das questões em torno do tratado,
10:06a própria não vigência da EUDR
10:08e a discussão em relação aos critérios de Duy Dillings,
10:12mas, principalmente,
10:13o que o Brasil mostrou na COP30,
10:16que o agro-brasileiro, na verdade,
10:19é ferramenta de atuação
10:21e de combate às mudanças climáticas,
10:24pode ser, realmente,
10:26um fator determinante
10:27para se relativizar
10:29essas exigências da EUDR.
10:33Agora, você acredita, então,
10:35até colocando a COP30,
10:36no cenário, como você também incluiu,
10:39você acredita que exista uma disposição
10:46dos países europeus,
10:48e são vários, né?
10:49Como você tinha falado,
10:50tem uns que concordam mais,
10:51outros mesmo,
10:52mas, de uma forma geral,
10:54você acredita que existe uma disposição maior,
10:57hoje em dia,
10:57do europeu entender a realidade tropical?
11:01Quando a gente está falando de UDR,
11:03desmatamento e emissões de gases,
11:06no fim das contas,
11:08a gente está falando de comércio e clima,
11:10que foi um tema posto na COP30,
11:13intensificação dos diálogos
11:15que relacionam esses dois assuntos,
11:17comércio e clima,
11:18só que, para existir esse rearranjo,
11:21o europeu tem que começar a entender melhor
11:22do clima tropical,
11:24da nossa agricultura tropical,
11:26que a gente vai falar de métricas, né?
11:28Você acredita que eles estão, de fato,
11:31dispostos a conversar sobre isso?
11:33Dentro da academia,
11:35de onde você circula,
11:37ou que, no fim das contas,
11:40é mais um tom de protecionismo
11:42e é mais a gente criando expectativa,
11:44quando, na verdade,
11:45eles não querem saber
11:47e não vão chamar a gente para conversar,
11:49a gente Brasil.
11:52É, Mariana,
11:53eu acho que era uma questão
11:54muito mais de assimetria informacional
11:56do que, obviamente,
11:58de você ter uma disponibilidade
12:01para discutir essas questões, né?
12:03Aí tem várias questões envolvidas,
12:06mas eu gostaria de focar
12:07na questão acadêmica, científica,
12:10na questão dos trabalhos
12:11e na questão que foi posta na COP30.
12:13Eu acho que o Brasil aproveitou muito bem
12:15a COP30, né?
12:18Para receber os países, né?
12:20As instituições do agronegócio
12:22tiveram um espaço específico
12:24para a discussão desses temas.
12:25Eu acho que muitos acadêmicos
12:27e muitos líderes europeus
12:30e muitas empresas e representantes
12:33de entidades europeias
12:34também participaram dessas discussões
12:36e puderam constatar aí
12:38que todas essas métricas
12:40do agronegócio brasileiro
12:41que estão sendo postas,
12:42que estão sendo tratadas,
12:44que estão sendo demonstradas,
12:45são métricas positivas
12:47e métricas que impactam positivamente o clima.
12:50E eu acho que esse movimento
12:52que foi feito pelo Brasil na COP30,
12:54ele teve o condão
12:55de aproximar as pessoas
12:57de uma discussão mais racional
12:58em torno desse tema, né?
13:00O agronegócio começou a entrar
13:02na centralidade da resolução
13:03do problema climático global
13:05na COP28 em Dubai,
13:07quando se colocou a agricultura
13:09na centralidade da resolução
13:10dessa temática.
13:11Na COP30, o Brasil avançou nisso
13:14e trouxe, então,
13:15o exemplo do agronegócio brasileiro,
13:18da agricultura tropical,
13:19como você denominou,
13:21com as métricas específicas
13:23da agricultura tropical
13:24como uma mola mestra
13:25do alcance
13:28desse combate à mudança climática
13:32que o agronegócio brasileiro
13:33pode ser protagonista nesse assunto.
13:35Eu acho que essa discussão
13:37ficou solidificada,
13:40foi trazida, óbvio,
13:41que vai depender
13:41de uma série de desdobramentos,
13:43como eu estou colocando,
13:44está tudo isso muito
13:45indo aí brincado,
13:47muito acontecendo agora,
13:49vocês estão em cima da notícia,
13:50mas eu acredito que os diálogos
13:53estão abertos sim
13:54e as comprovações estão feitas
13:56de caráter científico,
13:59dados,
14:00de caráter institucional
14:02e eu acho que há disposição
14:05entre as partes para um diálogo,
14:06por isso que eu acho que
14:07vai ser assinado o acordo
14:09dia 20 de dezembro,
14:11já estou antecipando um pouquinho
14:12aqui a minha visão
14:14e acho também que essas normas
14:17em relação ao EUDR,
14:18em relação à visão
14:18do agronegócio brasileiro,
14:20vão ser, de alguma forma,
14:22não flexibilizadas,
14:24mas vão respeitar essa lógica
14:26da nossa agricultura tropical
14:28que foi demonstrada
14:30com muita competência
14:31pelo agronegócio brasileiro
14:33na COP30.
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