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  • há 1 dia
Transcrição
00:00E chegou a hora da nossa coluna da semana, Olhar do Amanhã.
00:16E vamos receber o Dr. Álvaro Machado Dias, que é professor da Unifesp,
00:22neurocientista futurista e colunista do Olhar Digital.
00:26Vamos lá, deixa eu colocar o Dr. Álvaro Machado.
00:30Aqui na nossa tela.
00:32Olá, Dr. Álvaro Machado Dias, muitíssimo boa noite, seja muito bem-vindo.
00:38Boa noite, Parisa.
00:39Dr. Álvaro, vamos aproveitar o nosso quadro aqui de hoje
00:43para já fazer o comentário sobre essa reportagem que nós mostramos agora
00:47no comecinho do Olhar Digital News, falando sobre a regulamentação,
00:52a proibição do uso de redes sociais por adolescentes na Austrália.
00:57Na sua opinião, essa proibição, porque tem críticos até antes disso,
01:03afirmam que se trata de censura do que simplesmente uma espécie de controle.
01:08Como equilibrar esse uso da tecnologia e os adolescentes?
01:11E como você vê essa decisão?
01:12Olha só, eu entendo quem coloca ressalvas na decisão,
01:17porque toda vez que você cria uma regra, você também cria um incentivo
01:20para as pessoas burlarem a regra.
01:23Ainda mais a juventude querendo usar as redes sociais.
01:28Há uma epidemia, um verdadeiro vício de uso, de dependência psicológica.
01:34Então, eu acho que tem essa questão.
01:36Por outro lado, você tem uma quantidade imensa de estudos
01:40que mostra que o design atual das redes
01:43amplifica a vulnerabilidade do neurodesenvolvimento.
01:46Isso aí eu acho que está bastante estabelecido.
01:49Então, não é só uma questão de conteúdo inadequado,
01:52mas sobretudo a arquitetura do engajamento,
01:54essa lógica dopaminérgica do clique,
01:57da comparação entre as pessoas e tudo.
01:59Tudo isso a gente sabe que aumenta a taxa de depressão,
02:02com ansiedade, mal-estar, cria grupos, cisões sociais,
02:08reduz o incentivo à socialização presencial.
02:12Então, no final das contas, eu não acredito que a decisão australiana
02:16seja uma decisão irrefletida.
02:19Meu ceticismo é sobre a possibilidade de mantê-la no ar.
02:22Tem lei que pega e lei que não pega no Brasil.
02:24Em lugares mais sérios, como a Austrália, é menos assim.
02:29De qualquer modo, não deixa de ser verdade
02:30que essa vai ser uma lei, enfim, gerada para ser tensionada o tempo todo.
02:36E isso, eventualmente, vai levar à sua retroação.
02:40Agora, doutora Álvaro, claro que essa preocupação com o uso das redes sociais,
02:45embora tenha essa forma de burlar, eventualmente, uma regulação séria,
02:50é uma preocupação que não é somente da Austrália.
02:53E aqui no Brasil, nós estamos prontos para colocar essa discussão na mesa
02:57e achar caminhos para que isso funcione da forma que poderia ser?
03:02Sim, com certeza.
03:03Inclusive, a gente discutiu isso há mais ou menos um mês e meio atrás,
03:07quando a gente falou da lei 15.211, do ECA Digital.
03:11Foi um dia muito bom.
03:14No que traz entre os seus parágrafos, um que diz que os menores vão ter que acessar
03:23as redes sociais menores de 16 anos com contas associadas a um responsável legal.
03:29Então, há um princípio parecido, um princípio de controle do perfil,
03:34enfim, responsabilização de um maior de idade.
03:36E, evidentemente, aqui você tem uma estratégia também pensada para mitigação de risco.
03:42Um segundo fator que também entrou no ECA Digital foi o controle da publicidade direcionada,
03:48publicidade aquela que é feita de maneira algorítmica para menores de idade,
03:52que é uma coisa que hoje em dia é muito forte, por mais que ela seja meio mascarada.
03:56Então, eu acho que no Brasil o assunto também está avançando, já avançou,
04:00mas é diferente da Austrália.
04:02Na Austrália, eu acho que a decisão é muito mais radical de proibição
04:05e aqui é muito mais de responsabilização dos pais.
04:08Então, são caminhos distintos.
04:11Pessoalmente, o do Brasil me parece muito mais factível de ser executado
04:15e, no final das contas, também acaba empoderando um pouco mais o jovem,
04:18o que eu vejo como positivo, afinal de contas, com 16 anos,
04:21a pessoa, para muita coisa, já é maior de idade, enfim, em boa parte do mundo.
04:26Então, tratar como criança, eu não sei se é a melhor estratégia.
04:28Pois é. Agora, doutora Álvaro, essa proibição e todas até essas discussões existentes hoje
04:35mostram uma percepção diferente das redes sociais, ou seja,
04:41desde que elas surgiram, tinha-se uma percepção das redes sociais e hoje é outra ou não?
04:46É somente um resultado do tipo de uso que elas vêm atuando,
04:53principalmente, não somente com os adolescentes, como as pessoas em geral.
04:56Minha percepção é que houve uma mudança profunda de paradigma, mas ela é antiga.
05:01Ela começou com o escândalo do Cambridge Analytica na esteira da campanha de Trump 1
05:07e aquilo, para quem não conhece, foi basicamente um recurso do Facebook.
05:15O Facebook abriu espaço para uma ferramenta que, no final das contas,
05:20serviu muito mais para coletar dados de maneira proibida,
05:26para gerar vulnerabilidades e campanhas e, enfim, bolhas ali dentro,
05:32num período de alta sensibilidade eleitoral.
05:34E isso aumentou o ceticismo em relação ao caráter positivo ou neutro das redes sociais.
05:42Então, isso é um assunto antigo e eu acho que, hoje em dia,
05:46a coisa já está bem consolidada do ponto de vista da percepção de custos cognitivos,
05:51custos emocionais, custos sociais.
05:53Eu acho que a sociedade, no mundo inteiro, percebeu que a mesma lógica
05:57que impulsiona o crescimento das redes sociais também gera externalidades negativas,
06:00como polarização, padrões de consumo exacerbado, ansiedade crônica.
06:06Então, eu acho que é uma verdadeira reinterpretação de valor de longo prazo, tá?
06:11E ela, sim, vem mudando a qualidade das experiências nas redes.
06:15Uma outra coisa que eu acho importante, Marisa,
06:17é que há um declínio das relações entre pares, por assim dizer,
06:21e cada vez mais as relações das pessoas com influencers.
06:25Então, as redes sociais estão se aproximando nesse sentido das mídias tradicionais,
06:29em que você tem a estrela da TV e tal, e agora você tem a estrela da rede social.
06:33Então, a própria noção de sociabilidade que está por trás do desenho tecnológico original
06:40também foi meio que desaparecendo.
06:42Eu acho que isso conta bastante.
06:44E um fator que eu acho que marca esse momento importante de transição
06:49é o próprio declínio no número de usuários que é, enfim, pervasivo, tá?
06:57Em todas as redes.
06:58Está mais em algumas do que outras, né?
07:00Menos no TikTok do que, por exemplo, no Instagram,
07:03mas é uma tendência geral desse mercado de estar declinando lentamente.
07:07Bom, tá certo.
07:09Bom, hoje falamos de redes sociais.
07:11E na semana que vem teremos mais tantos assuntos bacanas
07:15para discutir aqui no nosso quadro Olhar do Amanhã.
07:19Doutor Álvaro Machado Dias, muitíssimo obrigada.
07:21É sempre um prazer tê-lo conosco aqui nos nossos estúdios.
07:25Eu que agradeço a você que nos acompanhou até quarta quinta.
07:28Até.
07:29Boa noite e excelente semana para você.
07:32Tá aí, pessoal.
07:33Doutor Álvaro Machado Dias, em mais um Olhar do Amanhã para vocês.
07:38Doutor Álvaro, que é professor da Unifesp, futurista colunista do Olhar Digital.
07:43Como vocês já sabem, toda quarta-feira o Olhar do Amanhã,
07:47aqui discutindo momentos da nossa vida digital,
07:51tanto em medicina, quanto também em inteligência artificial e por aí vai.
07:56Então, semana que vem tem mais.
07:59Tchau.
08:00Tchau.
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