Líderes indígenas do baixo Tapajós negaram, nesta quarta-feira (12), qualquer envolvimento na confusão ocorrida na COP30, em Belém. Eles afirmam que não levaram o grupo de manifestantes que entrou na área da conferência e resultou em confronto com seguranças na terça-feira (11). A COP30, que discute ações globais contra as mudanças climáticas, segue até o dia 21 de novembro. Reportagem: Patrícia Costa
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00:00A invasão de movimentos sociais na área exclusiva da COP30 em Belém constrangeu o governo.
00:06Os indígenas do Baixo Tapajós, responsáveis pela manifestação que terminou em confusão,
00:13vieram a público para dar a versão deles sobre os acontecimentos da noite de terça-feira.
00:18A Patrícia Costa conta como foi.
00:21No terceiro dia de conferência, a segurança foi reforçada.
00:25A Força Nacional ocupou pela primeira vez, desde o início da COP, a parte externa da blusone.
00:31Houve também um novo protocolo de entrada no pavilhão.
00:34O reforço veio para evitar confrontos como este, que deixou um segurança ferido
00:39e quebrou portas da entrada, consertadas ainda pela manhã.
00:43Líderes indígenas convocaram uma coletiva para explicar o episódio.
00:48Segundo eles, o protesto não era para ser violento, mas fugiu ao controle.
00:53Como explica a Arissé Arapinhum, da tribo Baixo Tapajós.
00:57O fato é que fomos com os nossos cantos, com os nossos rituais,
01:02e acompanhou uma massa de movimentos sociais, a nossa marcha, né?
01:08Nós não podíamos dizer para ou...
01:10E quando chegou na blusone, né, fugiu assim de controle, nós não tivemos responsabilidade com o que as pessoas fizeram ali de entrar forçado.
01:26O manifesto foi para pedir agilidade na demarcação de terras, impedir a privatização dos rios Tapajós, Madeira e Tocantins,
01:34e ter mais voz dentro da COP30.
01:38Eles classificaram o ato como resistência e não violência,
01:42e reforçaram que a tensão aumentou por falta de diálogo e de espaço real nas negociações.
01:48Os povos originários lembraram que vivem na Amazônia há mais de 10 mil anos,
01:53e continuam cercados por pressões de madeireiros, grileiros e pecuaristas.
01:58Entre as reivindicações, os indígenas querem entrar ali, na blusone, e participar das mesas de negociação.
02:06Hoje, 360 deles estão credenciados e podem acessar a COP30,
02:12mas eles ficam apenas em painéis, e agora eles querem ter o poder de decisão.
02:18Segundo o cacique Gilson Tupinambá, a maior contradição da COP em Belém
02:22é realizar o evento no coração da Amazônia, sem garantir poder de decisão a quem protege a floresta.
02:30Não dá para falar de clima sem nos consultar, sem respeitar a Convenção 69,
02:37sem ter o respeito dos povos que originalmente ocupam aquele espaço e somos os donos por herança.
02:44Essa lei 12.600 aí, que privatiza o Rio Tapajós, sem nos ouvir com que direito o Estado ou o mundo tem direito de decidir por nós.
02:56Ninguém tem o direito de decidir por nós. É nós que temos que falar por nós.
03:01Esse rio é nosso porque os nossos antepassados deixaram para nós.
03:05Então nós é que zelamos por esse rio e nós não vamos admitir.
03:08Ninguém vem a tomar decisão por nós.
03:10Quem tem que tomar decisão somos nós.
03:12O nosso território não está à venda.
03:15Enquanto isso, nos espaços oficiais, o terceiro dia da COP avançou em temas da justiça climática, saúde, empregos, verdes e educação.
03:24A presidência divulgou as primeiras entregas.
03:26A iniciativa global de empregos e habilidades para a nova economia,
03:31que pode gerar milhões de oportunidades e novas adesões à agenda de integridade da informação.
03:37Como explicou Bruno Kiki, diretor técnico do SEBRAE Nacional.
03:42A ciência vai mostrar formas muito mais rentáveis de usar os recursos naturais sem destruí-los.
03:53O barul, a cúrcuma, o piqui, que só como alimentos já tem mercado e devidamente trabalhados podem gerar uma renda.
04:02A fruticultura, outras culturas que elas são menos agressivas, que são menos extensivas e podem dar maior retorno econômico.
04:14O que é muito importante, para não falar desta camada de cima, que é conectar ciência com insumos contidos nesses e outros produtos para fármacos, cosméticos, superalimentos.
04:28O dia também teve debate sobre conhecimento tradicional, adaptação, financiamento e compras públicas sustentáveis.
04:37Pontos essenciais para transformar discurso em implementação.
04:40No clima geral, predominou uma mistura de avanço técnico e pressão política.
04:45De um lado, anúncios positivos.
04:48De outro, a cobrança de que, sem participação efetiva e financiamento real, as metas não saem do papel.
04:54Pela primeira vez, uma COP colocou as fake news no centro do debate.
04:59O negacionismo foi apontado como um dos fatores que atrasam a ação climática.
05:03Para a ciência, não há dúvida.
05:06O aquecimento do planeta é provocado por atividade humana.
05:10Como explicou Carlos Nobre em entrevista exclusiva ao Jornal da Jovem Pan.
05:14Sem dúvida.
05:15Tudo isso é fator humano.
05:19Mas é lógico, nós precisamos tomar muito cuidado, porque se nós continuarmos com o aquecimento global,
05:26se a temperatura passar de 2 graus, atingir 2,5 graus,
05:30e nós passarmos do ponto de um retorno, como eu falei, em 30, 50 anos, nós vamos perder até 70% da Amazônia,
05:41vai virar um sistema super degradado, com poucas árvores, uma savana, mas super degradada,
05:47não é a mesma savana tropical ou cerrada, não, vai ser super degradada.
05:52Então, isso não tem volta, mesmo que a gente depois pare o aquecimento global, vamos dizer assim, lá por 2100 ou mais,
06:03ainda assim nós vamos ter que passar mais de mil anos, mil, dois mil anos para a floresta voltar à Amazônia.
06:11A COP avança, mas a distância entre as negociações e quem vive os impactos do clima ainda é grande.
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